Amigos do jazz + bossa

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

STAN HASSELGARD, O EXCELENTE CLARINETISTA SUECO QUE MORREU MUITO CEDO. Um texto de osé Domingos Raffaelli.




Todos sabem que os Estados Unidos são a pátria do jazz, motivo porque a  ambição dos músicos de jazz de todo o mundo é lá se estabelecerem para seguir suas carreiras de jazzmen. Muitos deles, especialmente os mais talentosos, realizaram esse objetivo com sucesso e a lista é quase interminável, entre eles George Mraz, Toshiko Akyioshi, Atila Zoller, Dave Holland, Valery Ponomarev, George Shearing, Paquito D’Rivera, Claudio Roditi, Anat Cohen, Arturo Sandoval, Sylvia Cuenca, Luis Bonilla, Papo Vasquez, Nestor Torres, entre muitos outros, e nosso focalizado de hoje, o clarinetista sueco Ake Stan Hasselgard (10/4/1922-23/11/1948), que gravara em seu país com o trombonista Tyree Glenn e o baixista Simon Brehm, entre outros.

Hasselgard tinha 24 anos quando foi para os Estados Unidos em julho de 1947 com o objetivo de matricular-se na Universidade Columbia para um curso da História da Arte Universal. Como tocava jazz, em New York logo interessou-se pelo ambiente jazzístico da cidade, ficando profundamente impressionado pelo conjunto de Dizzy Gillespie, então no auge do movimento bebop. Todavia, quando acabou seu dinheiro, Stan decidiu viajar para a Costa Oeste americana, mais precisamente em Los Angeles, onde logo entrosou-se com os músicos locais, entre eles o guitarrista Barney Kessel, que no início de 1947 participara das históricas gravações de  Charlie Parker para a Dial. Logo ficaram amigos e Barney Kessel ensinou os segredos do idioma bebop a Stan, que ficou empolgado pelo então novo estilo.

Entrosado no ambiente musical de Los Angeles, Stan participou de uma jam session em Hollywood, em 29 de abril de 1947, que foi gravada, ao lado de Wardell Gray (sax-tenor), Howard McGhee (trompete), Sonny Criss (sax-alto), Dodo Marmarosa (piano), Charles Drayton (baixo) e Jackie Mills (bateria), resultando em longas interpretações de “How Hiogh the Moon” e “C Jam Blues”.

A essa altura, o famoso clarinetista Benny Goodman ouviu Stan Hasselgard e ficou tão impressionado com seu talento que convidou-o na hora para tocar no seu conjunto, tonando-se o único clarinetista solista a tocar com Goodman, que o tinha na mais alta estima declarando que ele poderia ter sido o maior de todos os clarinetistas do jazz moderno.

Assistindo uma gravação da orquestra do maestro Frank Devol, bastante entusiasmado ele propôs gravar com Kessel e outros músicos quatro composições, ideia prontamente aceita pelo diretor da gravadora Capitol, perpetuando em 28 de Novembro de 1947 ”I’ll Never Be the Same”, “Swedish Pastry” (de Kessel), “Sweet and Hot Mop” (baseada nas harmonias de “Sweet and Lovely”), “Who Sleeps” (baseada nas harmonias de “Jeepers Creepers” e “Bop” (de Red Norvo e Shorty Rogers). Além de Stan e Barney Kessel, tocaram Red Norvo (vibrafone), Ray Linn (trompete), Jimmy Giuffre (sax-tenor), Dexter Gordon (sax-tenor), Red Callender (baixo) e Jackie Mills (bateria). Dois dias depois, em 30 de Novembro de 1947 os mesmos, com o pianista Dodo Marmarosa, gravaram “I’ll Follow You”.

Essas foram as únicas gravações de Hasselgard em estúdio e através delas  ficou claro que ele encontrara sua maneira de tocar com improvisações criativas, sonoridade clara, fluente e com muito suingue, como comprovam seus solos brilhantes em “Swedish Pastry”, “Who Sleeps”, “I’ll Never Be the Same” e “I’ll Follow You”.    

Infelizmente, Stan nunca ouviu essas gravações porque morreu tragicamente num desastre de automóvel poucos dias depois de completar 26 anos, marcando o fim de uma das mais fugazes passagens pelo jazz de um jovem que tinha tudo para projetar-se definitivamente no país do jazz.

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De volta à ativa, após um longo período de hibernação, o blog tem a honra de trazer aos amigos mais um brilhante texto do nosso querido e admirado José Domingos Raffaelli, uma das maiores autoridades em jazz de qualquer época. Na radiola, alguns temas de Hasselgard, extraídos do álbum “Stan Hasselgård & Benny Goodman” (1948), gravado ao vivo no clube Click, Filadélfia, e conta com as participações de Teddy Wilson (piano), Wardell Gray (sax tenor), Arnold Fishkind (contrabaixo), Billy Bauer (guitarra) e Mel Zelnick (bateria). Espero que vocês curtam e tenham um pouquinho de paciência, até que as postagens voltem ao ritmo habitual. Grande abraço a todos.

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