Amigos do jazz + bossa

domingo, 13 de dezembro de 2009

O SAXOFONE ACADÊMICO DE GERRY MULLIGAN


Fosse um pintor e Gerry Mulligan estaria mais para o academicismo exuberante de um Rembrandt que para o vanguardismo abstracionista de um Jackson Pollock. Como o autor de “A lição de Anatomia do Dr. Tulp”, também Mulligan viveu uma sucessão de revezes e teve, por diversas ocasiões, o próprio talento questionado. Mas felizmente, em um universo marcado por injustiças históricas, ele pôde desfrutar em vida de prestígio e popularidade à altura de sua importância para o jazz.

Mulligan não foi apenas um dos fundadores do cool jazz e um dos mais destacados nomes do West Coast. Foi também um compositor personalíssimo (são dele, por exemplo, “Jeru” e “Line For Lyons”), arranjador inventivo e bandleader de elevada competência, além de ter sido um dos principais nomes do sax barítono, rivalizando, em técnica e habilidade, com os maiores do instrumento, como Serge Chaloff, Pepper Adams e Sahib Shihab.

Não bastassem essas qualidades, foi um dos músicos norte-americanos mais entusiasmados com a bossa nova, tendo acolhido como um irmão o nosso maestro Tom Jobim, quando este foi tentar “fazer a América”, no início dos anos 60. Mulligan, até o fim da vida, foi um dos grandes divulgadores da música brasileira nos EUA, tendo gravado composições de diversos autores brasileiros em seus discos (chegou a gravar um álbum ao lado da cantora Jane Duboc).

A história de Gerald Joseph Mulligan, nascido em Nova Iorque, no dia 06 de abril de 1927, é bastante curiosa. Seu primeiro instrumento foi o piano, tendo recebido as primeiras lições aos sete anos. Aos onze, ganhou de presente uma clarineta e passou a se dedicar, exclusivamente, aos instrumentos de sopro. Aos dezesseis, mudou-se com a família para a Filadélfia, onde conseguiu o primeiro emprego, como auxiliar de escritório.

O suado dinheirinho, economizado por meses a fio, foi suficiente para adquirir um saxofone tenor. Além das aulas na escola, do trabalho e dos treinos ao saxofone, o jovem Gerry encontrava tempo para fazer os arranjos da orquestra da West Philadelphia Catholic High School. Em pouco tempo, estaria fazendo arranjos para as orquestras das rádios locais, a convite do pianista Elliot Lawrence. Como boa parte dos adolescentes da época, nutria uma verdadeira adoração pelo bebop e por seus principais representantes: Charlie Parker e Dizzy Gillespie.

Nessa época, o inesperado resolveu fazer-lhe uma boa surpresa. Parker e Gillespie fariam alguns shows em Filadélfia, cuja abertura ficaria a cargo da orquestra em que Mulligan tocava. Ocorre que o saxofonista que acompanhava Bird e Dizzy sofreu um acidente e o embevecido Gerry foi convidado a substituí-lo. Durante duas noites, o jovem conheceu o Nirvana musical, tocando com os ídolos.

Em 1946, de volta a Nova Iorque, foi contratado pela orquestra de Gene Krupa, ao lado de quem viajou pelo país, até se fixar em Los Angeles. No ano seguinte, após desentender-se com Krupa, Mulligan uniu-se à orquestra de Claude Thornhill e voltou para Nova Iorque. Por volta de 1948, dois fatos marcaram a vida do saxofonista: a opção definitiva pelo sax barítono e as reuniões no apartamento de Gil Evans, que então iniciava a sua vitoriosa carreira de arranjador.

Participavam dessas reuniões, além de Mulligan e Evans, alguns dos músicos mais importantes das décadas vindouras, como os pianistas John Lewis e George Russell, e o trompetista Miles Davis. Este, aliás, foi o catalisador das complexas idéias harmônicas do grupo, tendo gravado, em 21 de janeiro de 1949 o fabuloso “Birth of the Cool”. Integravam o célebre noneto: Miles Davis (trompete), Lee Konitz (sax alto), Al Haig (piano), Gerry Mulligan (sax barítono), Joe Schulman (baixo), Kai Winding (trombone), Max Roach (bateria), John Barber (tuba) e Junior Collins (trompa).

Houve outras versões do noneto e outras gravações foram incluídas nesse álbum histórico (em 22 de abril de 1949 e em 09 de março de 1950), com a participação de músicos como Al McKibbon, Kenny Clark, Nelson Boyd, J. J. Johnson, e outros. De qualquer forma, o cool jazz ganhou força como movimento estético e todos os seus líderes, de uma forma ou de outra, firmaram seus nomes na concorrida cena jazzística de então.

Durante algum tempo, Mulligan tocou com George Russell, Brew Moore e Kai Winding, mas não estava satisfeito com a pouca repercussão do seu trabalho. Em 1952, mudou-se para a Califórnia, onde fez alguns arranjos para a orquestra de Stan Kenton. Ali pôde, pela primeira vez, montar um combo à sua imagem e semelhança. Arregimentou o baixista Bob Whitlock, o baterista Chico Hamilton e um jovem trompetista que vinha causando furor na cena jazzística da Costa Oeste: Chet Baker. Era o primeiro dos seus (muitos) grupos sem piano – e certamente o mais mítico deles.

Baker e Mulligan se odiaram à primeira vista. O primeiro era desorganizado, intuitivo, irresponsável e genial. O segundo compensava o menor talento (que, embora considerável não merecia, de forma alguma, o adjetivo “genial”) com uma seriedade e uma dedicação férreas. Nos shows, um não falava com o outro e ambos chafurdavam no pantanoso mundo das drogas. A comunicação se dava ao nível do inconsciente – e nada poderia ser mais cool.

Enormes filas se formavam em frente ao Haig, clube onde o quarteto se apresentava e, na audiência, era comum verem-se astros e estrelas de Hollywood. Os discos vendiam horrores (pelo menos para os padrões do mercado jazzístico) e Mulligan e Baker abiscoitavam prêmios nas revistas especializadas. No ano seguinte, o inferno pareceu desabar sobre a cabeça do saxofonista. As brigas constantes com Baker desfizeram a parceria e uma prisão, por porte de heroína, deixou-o longe da ribalta por três longos meses.

Ao sair da cadeia, o ambiente era inóspito para Mulligan. Tido como não confiável, teve que recomeçar do zero. Montou um novo quarteto, com Bob Brookmeyer, em 1954, ampliado para sexteto no ano seguinte, com a entrada do fabuloso Zoot Sims. Em 1957, montou uma orquestra de relativo sucesso, com a qual se apresentou, com bastante regularidade, até o início dos anos 60.

Nesse ínterim, a Columbia, maior gravadora de jazz da época (ou, pelo menos, a mais rica e onde pontuavam luminares como Duke Ellington, Miles Davis, Thelonious Monk e Charlie Mingus), resolveu fazer uma aposta arriscada. Contratou Mulligan e lhe deu carta branca para gravar um disco do jeito que quisesse. E ele não decepcionou. O resultado, que recebeu o insolente título “What Is There To Say?” (algo como “O que mais há para dizer?”), realmente calou a boca dos detratores e é um marco na carreira do saxofonista.

A escolha dos acompanhantes foi o primeiro dos muitos acertos. Art Farmer (trompete), Bill Crow (baixo) e Dave Bailey (bateria) formam uma trinca coesa e experiente, capaz de dar asas aos modernos conceitos harmônicos do líder mas, ao mesmo tempo, hábil o suficiente para fazê-lo com um swing autêntico (e, por vezes, incontido). O repertório, mesclando standards e composições de Mulligan, Farmer e Crow, também é outro acerto. O terceiro foi a escolha do produtor, o polivalente Teo Macero.

O diálogo de abertura da primeira faixa, que dá nome ao disco, é um exemplo da sofisticação quase minimalista de Mullligan. Ele e Farmer se comunicam como velhos camaradas, um fazendo o contraponto ao outro e ambos abusando do lirismo e da delicadeza. “Just In Time”, de Jule Styne, Betty Comden e Adolph Green, recebe um arranjo swingado, mas nada esfuziante, epíteto do estilo cool, com um maravilhoso trabalho da dupla Crow e Bailey.

“News From Blueport” é um mergulho nas águas do Mississipi, ao estilo Mulligan. Ou seja, o tema, composto por Farmer, é executado com doses generosas de elegância e sofisticação. O trompetista e o saxofonista travam verdadeiras batalhas em seus solos, desafiando-se reciprocamente, sem que haja um vencedor – este é, certamente, o ouvinte, extasiado com tamanha exibição de talento e criatividade.

Nas três composições de sua autoria (“Festive Minor”, “As Catch Can” e “Utter Chaos”), observa-se melhhor a preocupação estilística que revela o acadêmico Mulligan. Nada aqui é óbvio, com falsos começos, reviravoltas, notas espaçadas e todos os recursos que só um verdadeiro mestre é capaz de manusear com brilho e distinção. Em “As Catch Can”, deve-se atentar para o lancinante solo de Farmer e o vigoroso trabalho de Bailey. Em “Utter Chaos”, o conhecimento enciclopédico de Mulligan permite-lhe trafegar pelo dixieland, pelo cool e até pelo jazz modal do antigo companheiro George Russell.

Bill Crow assina a animada “Blueport”, cujo destaque é a fabulosa integração entre trompete e saxofone, navegando com a maior segurança em um sinuoso bop-blues, com citações aos heróicos tempos do swing. O arranjo, desta que é a mais longa faixa do álbum, é nada menos que soberbo, com espaço para que todos brilhem, inclusive o discreto compositor.

E, finalmente, há “My Funny Valentine”. Não há outra explicação para que essa música tenha sido incluída no álbum, a não ser o fato de que Mulligan, que não havia digerido a saída de Chet Baker do seu grupo, desejava provar, a todo custo, que poderia ir muito longe, mesmo sem o Anjo Caído do jazz. Bom, temos no trompete o lírico (e baladeiro até a medula) Art Farmer e a pergunta que se faz é: Chet quem?

Um disco que atesta a maturidade de um grande artista e revela bastante sobre os seus múltiplos talentos: uma vez posto à prova, Mulligan conseguiu perpetrar uma pequena obra-prima do jazz, à altura do que melhor se fez nos imorredouros anos 50. Não é à toa que guias respeitáveis como o Allmusic e o Penguin dediquem ao álbum tantas (e merecidas) estrelas.

O exigente Mulligan gravou discos antológicos, ao lado de lendas vivas do jazz, como Duke Ellington, Thelonious Monk, Ben Webster, Dave Brubeck, Paul Desmond, Johnny Hodges e Stan Getz. Era capaz de dialogar, fluentemente, tanto com músicos historicamente ligados ao swing quanto com os boppers mais arrojados. Dentre os selos para os quais trabalhou, destacam-se: Prestige, Pacific Jazz, Capitol, Columbia, Verve, CTI, Chiaroscuro, Concord e Telarc, entre outros.

Ainda na década de 50, participou, interpretando a si próprio, do filme “I Want To Live”, de Robert Wise, que renderia a Susan Hayward o Oscar de melhor atriz e ao próprio Mulligan um dos seus melhores discos (executando, ao lado de grandes nomes do West Coast, a maravilhosa trilha sonora de Johnny Mandell). Outra trilha sonora da qual participou foi a do filme “The Subterraneans”, esta composta por Andre Prévin.

Foi um dos músicos mais ativos dos anos 60 aos 90, gravando incessantemente e participando de concertos e festivais ao redor do mundo. Em 1974, lançou “Summit”, gravado na Itália, ao lado do extraordinário Astor Piazzolla e, em novembro do mesmo, reencontrou o antigo parceiro e desafeto Chet Baker para um concerto antológico no Carnegie Hall, o qual foi lançado em disco pela CTI – um belo e emocionante acerto de contas com o passado dos dois.

Gerry Mulligan morreu no dia 20 de janeiro de 1996, devido às complicações causadas por uma infecção no joelho, após ser submetido a várias cirurgias. Tinha 68 anos. Sobre ele, o amigo Dave Brubeck disse a célebre frase: “Em Mulligan, ouvimos o passado, o presente e o futuro do jazz”. Alguém aí vai querer contestar as palavras do mestre?


43 comentários:

John Lester disse...

Finalmente! Finalmente consegui ser o primeiro a efetuar um comentário por aqui. E isso, vejam só, mesmo estando fora de combate: os computadores do Jazzseen queimaram com o apagão, o que nos tem obrigado a trabalhar na lan da esquina. E que lugares estranhos essas lans...

Bem, passei apenas para repetir-me: excelente resenha, excelente seleção musical. Aguardamos a próxima.

Grande abraço, JL.

HotBeatJazz disse...

Ô¬Ô

Mr. Érico,
pego carona nas palavras do Lester.
keep writing!!

Abraço, bom domingo e ótima semana

Ô¬Ô

Érico Cordeiro disse...

Ganhei o Domingo!
Ilustríssimas presenças dos mestres John Lester e Mauro!!!
Obrigado pelas presenças e palas palavras gentis. As últimas semanas foram complicadas, daí porque dei uma reduzidas no ritmo das postagens. Espero, em breve, voltar à rotina original.
Enquanto isso, ouçamos Mulligan!!!!
Abração aos dois!

Celijon Ramos disse...

Não contesto, antes as atesto e de corona em corona... Que venham mais sons sublimes de notas e palavras!

Érico Cordeiro disse...

Seu Mr. Compadre, com quem degustei ontem uma nababesca caranguejada,
Valeu mesmo. Seja sempre bem-vindo e estou no aguardo da resenha sobre a JurisCultura!
Beijo grande na comadre e nos meninos!

Grijó disse...

Camarada Érico, isso é uma aula - e das boas, sem as chatices professorais nem as piadinhas típicas de professor de cursinho (que é o que sou). Grande texto e, como o adjetivo está preposto, não me refiro a extensões. É bom mesmo, daqueles de boquiabrir.

E por incrível que possa parecer, sua resenha estimulou-me a ouvir Pepper Adams, o grande sax- barítono que ouvi em companhia de Don Byrd alguns meses antes de ser surpreendido pela avalanche musical que é o disco "Mulligan Meets Monk". A partir de então, naquela tarde luminosa, meio aparvalhado e surpreso, pude perceber quem dava as cartas nesse instrumento.

Valeu, camarada.
Um dia o Ipsis aprende a resenhar assim.
Abraço.

Érico Cordeiro disse...

Prezado Grijó,
É sempre uma honra e um enorme prazer contar com sua excelsa presença no jazz + bossa.
O Ipsis Litteris é uma das minhas casas virtuais preferidas e, certamente, uma das maiores influências deste modesto escriba (quando o jazz + bossa crescer, quer ser igualzinho ao seu irmão mais velho).
Eu é que agradeço as constantes e permanentes dicas sobre tudo o que é bom e que importa: música, literatura, cinema, artes plásticas. O Ipsis Litteris é mais que obrigatório - é indispensável!
Abração e valeu mesmo!!!

pituco disse...

érico san,

texto dinâmico, informativo e invariavelmente, piramidal...

segue link de um vídeo postado há tempo no youtube (talvez conheças) de mr.mulligan tocando junto com o maestro jobim...

http://www.youtube.com/watch?v=I33Ox1l8kOg

abraçsons pacíficos

figbatera disse...

Eu tive o grande prazer de ver/ouvir Gerry Mulligan ao vivo no falecido Free Jazz Festival, no Rio.
Inesquecível!
Parabéns, Érico, por mais esta ótima aula!

Érico Cordeiro disse...

Grandes mestres Pituco e Fig (que teve a honra de verr o Mulligan ao vivo!!!),
Obrigado pelas presenças!
Esse é maneiríssimo!!!!
O encontro de dois músicos do outro mundo, não é mesmo?
Grande abraço aos dois!!!!

PREDADOR.- disse...

Podes até diminuir o rítimo de suas postagens que não vou "disparar" contra você, mr.Cordeiro, desde que mantenhas textos semelhantes a este do Mulligan. Ótima postagem sôbre um dos maiores baritonistas do jazz. "Girando" o assunto e aproveitando a deixa de sua caranguejada, precisavas ver e participar da "feijoada do jazz", promovida neste final de semana por mr.Lester. Coisa do outro mundo, comida de primeira, bebidas para todos os gostos e música de jazz ao vivo, com mr.Lester e Colibrí no sax alto, Pedro na guitarra e Steve Lacy do Maranhão no sax soprano. Só participando, vendo e ouvindo para crer. Foi sensacional!
Obs.: "Steve Lacy do Maranhão", como é conhecido mr. Salsa.

Salsa disse...

Creio que um dos primeiro discos de jazz que eu comprei foi de Mulligan (acho que com Farmer). Sonzaço-aço-açu-real.
Sobre o feijão: o calor avassalador afetou-me e não pude devorar a panela que restou em função da ausência do mestre Grijó. Se fosse uma caranguejada a história seria outra e não teria fim tão rápido.
Aguarde-me, Maranhão

Érico Cordeiro disse...

Mr. Predador e Mr. Steve Lacy do Maranhão (ex-Salsa),
Sejam mais que bem-vindos e que delicioso relato etílico-musical-gastronômica!
Pena que não pude estar aí, para desfrutar da célebre feijoada do Lester!
Abração aos dois!

APÓSTOLO disse...

Prezados figbatera e ÉRICO CORDEIRO:

Na mesma noite em que o primeiro teve o prazer de assistir GERRY MULLIGAN ("Jeru") ao vivo no "falecido" Free Jazz, também teve a oportunidade de assistir previamente o grupo do grande IDRISS BOUDRIOUA (com CLAUDIO RODITI a tiracolo) e o MANHATTAN TRANSFER (com repertório calcado em seu LP "Vocalese"). Foi, sem dúvida alguma, a melhor noite do Free Jazz de 1986 e eu, como nosso prezado figbatera, desfrutei dessa noite.
MULLIGAN foi incansável em suas turnês, temporadas, jam's, gravações, concertos, apresentações; conseguí, em 201 folhas, cobrir o período de 1945 (com a banda de ELLIOT LAWRENCE) até 11 de abril de 1995(quarteto de MULLIGAN em cruzeiro no SSNorway) de participações de MULLIGAN.
Ai se incluem 97 gravações originais como titular, 196 compilações e regravações, 25 cópias (direitos cedidos a diversos selos), 39 participações em outros grupos, 12 vídeos, 21 participações em trilhas sonoras (ai incluida a de Johnny Mandell para "I Want To Live" de 1958) e mais 57 LP's e CD's com diversos titulares.
O único encontro musical de GERRY MULLIGAN com CHARLIE PARKER ocorreu na noite do dia 05 de junho de 1945 no "Down Beat Club"(Filadélfia / Pensilvania), DIZZY GILLESPIE também presente.
Prezado ÉRICO: mesmo com grande parte da crítica comparando MULLIGAN e outros saxofonistas barítonos, a obra, a sucessão de formações, a contínua busca pelo melhor, o fraseado como muitos e muitos executantes de sax.alto e sax.tenor nem sonharam alcançar e a musicalidade de MULLIGAN, dificilmente podem ser "comparáveis".
Sua resenha resgata uma história de alto e contínuo valor. Dificil acrescentar algo mais.
A gravação escolhida é atestado de PhD em JAZZ: parabéns, como sempre ! ! !

edú disse...

Senhor Cordeiro costumeiramente mirando sua poderosa lupa para amplitude de preciosos detalhes em mais uma grande personalidade do cenário jazzístico. A despeito de Pepper Adams ter sido o mais competente baritonista do jazz, Mulligan se encontra no rol dos lendários músicos de jazz que no contato pessoal demonstraram ser também pessoas de enorme simpatia e carisma como Milt Hinton , Max Roach e Roy Haynes.Peço permissão para acrescentar meros detalhes ao pesquisado informativo.O disco abordado foi a única experiência dentro do ambiente de estúdio entre Mulligan e o trompetista Art Farmer na carreira de ambos.Mulligan esteve presente em duas edições do Free Jazz Festival , na primeira, citada por Denny Zeitlin , melhor dizendo , seu Olney, em 1986 e na segunda em 1992 – ocasião em que fui honrado em conhece-lo de forma pessoal e relativamente próxima em virtude de trabalhar como temporário na assistência de produção daquele evento.Mulligan foi marido da atriz e bissexta cantora Judy Holliday cuja carreira teve brutal interrupção e dano pela política macartista dos estúdios de Hollywood nos anos cinquenta .Numa demonstração de caráter e quilate como ser humano,Mulligan foi sempre companheiro leal e presente mesmo após a separação oficial do casal e apoio solidário à atriz em seu agônico sofrimento pela ação implacável e dolorosa de um câncer e morte aos 43 anos. N a faixa de demonstração aos visitantes Gerry faz uma citação de Love For Sale.Quem da mais?

Érico Cordeiro disse...

Mestres Apóstolo e Edú,
É sempre uma grande honra e um enorme prazer tê-los a bordo.
Sejam bem-vindos e a uni-los, além do gosto impecável, a característica de serem ambos testemunhas oculares e auditivas do que de melhor aconteceu na cena jazzística do país.
São centenas (quiçá milhares) de shows e concertos, de vários dentre os maiores nomes do jazz que aportaram por estas plagas!
É muito bom contar com suas excelsas pressenças.
Mulligan é craque. Não tem erro - todos os discos que tenho (inclusive os com Hodges, Monk, Webster, etc. são fantásticos).
É o tipo de músico que estabeleceu um padrão de qualidade bastante elevado e sempre se manteve nesse patamar, sem concessões!
E o Pepper Adams, outro grande baritonista, qualquer hora dessas pinta por aqui.
Abração aos dois!

Valéria Martins disse...

Obrigada pelas preciosas informações, querido Erico. Vou procurar conhecer melhor a obra do Gerry. Beijos, ótima semana para ti.

Érico Cordeiro disse...

Cara Valéria,
Dei uma passada no A Pausa do Tempo, mas como ainda estou a fazer a minha lista de musas (Billie, certamente, estará nela), ainda não pus comentário!
E o Gerry é aposta certa - não tem como errar!!!
Uma ótima semana para você também e tudo de bom!!!!

APÓSTOLO disse...

Em tempo:

A apresentação de GERRY MULLIGAN (em quarteto) a que assistí foi a do Rio de janeiro, 04/setembro/1986.
Ele havia se apresentado no Anhembí / São Paulo antes (29/agosto).
A de 1992, em que o EDÚ conheceu-o pessoalmente, eu perdí.

Érico Cordeiro disse...

Mestre Apóstolo,
De qualquer forma, deve ter sido um concerto memorável!!!
Que inveja!!!
Um fraterno abraço!

A n d r e a disse...

Érico, é bom saber q alguem de bom gosto musical, como vc, gostou do meu blog. : ) Passe pra dizer oi, ok!
o seu blog é demais, virei seguidora.
abçs!

Sergio disse...

Embora preguiçoso profissional, eu sempre me forço a devorar os seus tratados sobre os músicos de jazz. Ao fim dessa leitura, o meu lado Manuel Carlos, não pode deixar de visualizar uma cena: seu Érico san na mesa de jantar ou do escritório doméstico, um spot aceso iluminando o entorno do pesquisador, rodeado de publicações no adiantadaço da noite, e a esposa impaciente aparece na porta e... "Larga esses livros, amor e vamos dormir!"

Pois é, seu Érico, cada menino com o seu brinquedo. Uns preferem o carro, outros, sei lá, o aeromodelismo e você, aqui jazz na saúde e na doença.

Abraços!

Ah!, vou ter que cobrar: não esqueça o meu "Piano"!

E por falar no "Piano", observe como uma coleção virtual é tudo mais prática: para achar um álbum entre os meus 10.977 discos, recorro aquele arquivinho MP3 e em segundos encontro, agora veja vc, o trabalho que dá encontrá-lo na estante...

Anônimo disse...

Atenção baixadores de discos:

It's official, Verge is gone*
I'm not sure how many here were still buying from Verge, but they were a source of some real bargains over the years (maybe that's why they will no longer be with us?).

Here's the email I got, I hope Daniel doesn't mind me posting it.

Verge Music Distribution

December 10, 2009

Dear Verge Customer,

It is with great regret that we inform you that after nearly 15 years Verge Music must close its doors. Our situation has been very difficult over the last few years and we are very grateful for the support of our customers over the years.

On a happier note we are pleased to announce that Squidco will be taking over the domain and Verge customer base. Squidco will contact you for two reasons: 1) to welcome you to use their service and 2) if you have any backorders they will advise you on which items they can supply now and which they can source for you. Any backorders that cannot be sourced by Squidco will be forwarded to the labels. I would not like to see the labels whom need your support lose these sales! I hope you agree.

Please be advised that no sensitive data will be released to Squidco, only what is necessary to make contact with you. Your relationship with Squidco is voluntary and you can of course opt out at anytime. I would strongly encourage you to work with Squidco. They are a very similar company to Verge in that they are based on a strong love for the music, and like Verge are not just a business but also an advocate.

Verge has worked hard over the years to make a connection between customers and labels and artists. It would be a shame if that connection were broken. Labels and artists would suffer. So working with Squidco will honour the special relationship Verge has had with you and the labels and build on that for the future.

Finally I would just like to say that it has been a great pleasure to serve you over the years. Many of you I have gotten to know quite well and consider you friends. I will miss this contact that was often enlightening and fascinating. Even though money changed hands we interacted as a community of common interest. This music, which defies category and is hard to give a name to, depends upon a small alternative network that you are all a part of. Verge was only a small part of this. Please work with Squidco to continue supporting great music.

Sincerely,

Daniel Kernohan
Verge Music Distribution

Érico Cordeiro disse...

Caros de@ e Sérgio,
Sejam bem-vindos. À primeira, por favor, sinta-se em casa e agregue-se à nossa confraria virtual.
Seu San, você acertou na mosca. A imagem corresponde bem à verdade!
Grande abraço aos dois - e tem um piano viajando nos ares do cyberespaço, viu Seu San!!!!!

Érico Peixoto disse...

Não cansas de ser uma enciclopédia do Jazz, hein xará? Excelente, como sempre. Sou suspeito quando o assunto é Gerry Mulligan. Adoro esse cara. Um grande abraço e até a próxima!

Érico Cordeiro disse...

Prezado Xará,
Sua presença aqui é sempre alvissareira.
Tinha certeza de que Mulligan estava entre os seus preferidos - o cara é chique "prá dedéu" e não "bota boneco" (rs, rs, rs - ainda se usam essas expressões aí na ensolarada Fortaleza? E o Cais Bar, de ótima memória etílico-musical, ainda funciona?).
Abração!!!!

pituco disse...

érico san,

valeô visita no 'rancho virtual'...inclusive o reforço dos apelos aos srs.johnny e helvius...que sina de quem vive pra entreter a humanidade, não é mesmo?

abraçsonoros e saúde a tutte

Andre Tandeta disse...

Erico,
em primeiro lugar muito obrigado por divulgar a campanha de ajuda ao grande musico Helvius Villela que realmente esta precisando de uma força,valeu mesmo!
E merece ser festejada a volta do nosso querido Edú,sempre com a verve afiadissima e informações preciosas. E concordo com ele discordando de muitos aqui e, infelizmente ,pela primeira vez do amigo Apostolo. Sou um grande admirador de Mulligan mas pra mim no sax baritono só da um : Pepper Adams,um de meus musicos preferidos,independente do instrumento. Mas uma coisa não exclui a outra: Mulligan deve ser sempre reverenciado por sua gigantesca contribuição ao jazz.
Abraço

Érico Cordeiro disse...

Grandes Pituco e Tandeta,
Valeu pelas presenças musicais (que tal uma jam? - só faltaria pôr o Salsa - o Steve Lacy do Maranhão - e o Lester - o Art Pepper brasileiro).
Pois é, o que nós pudermos fazer, nesse pequeno espaço, para ajudar esses grandes músicos, faremos! É o mínimo do mínimo, quase nada diante da alegria e da emoção que eles nos proporcionam diariamente!!
E o Pepper Adams tá na mira para uma futura postagem, ok? Adoro o trabalho dele ao lado do Donald Byrd - é o típico casamento musical perfeito!
Tomara que Seu Mr. Edú não fique tanto tempo sem pintar por aqui, afinal ele é o Raffaelli da nossa geração!!!
Abraços aos dois!

Érico Peixoto disse...

Hehehehe. Meu amigo, "botar boneco" é praticamente uma incorporação vernacular por estas plagas. "Pra dedéu" ainda é utilizado, embora se escute menos. Enviar-te-ei um e-mail que recebi ontem. Trata-se de uma mensagem de natal toda escrita em "cearês".

E sim, quanto ao Cais Bair, a última notícia que tive foi que havia fechado. Depois reabriu, fechou novamente... Sem aquele brilho do passado, sabe? Excelente local. Gostava muito de lá. Aquele painel com os grandes nomes da música brasileira encantava a todos.

Qual a última vez que esteve em Fortaleza? Um grande abraço!

Érico Cordeiro disse...

Grande Xará,
Faz muuuuuuuito tempo (acho que foi em 91)!
Mas qualquer hora dessas eu pinto por aí! Pena que o Cais Bar tenha fechado, era um barzinho muito gostoso,
E o painel era mesmo muito bacana!
Grande abraço.

Paul Constantinides disse...

erico o som eh bueno, buenissimo mi caro!! kk
mira!
olha!
ah antes de mas nada....gostei da comparazao usando dois mestres da pintura....

voltando ao ah!!
nao descolei os cds do don jordan..mas como os tenho
posso enviar via email os files dos cds ..q achas:
meu email
paulphoto@live.com
abs
musa musicais
agora do Brasil Varonil
paul

Érico Cordeiro disse...

Valeu, Mr. Paul!!
Seja bem vindo às terras brazucas - acabo de dar uma passada no Muza e deparei-me com quatro espécimes de grandes e maravilhosos malucos (falando nisso, você sabe o que é Baurete? É uma definição do Tim Maia para uma espécie de cigarro, digamos, menos ortodoxa que o Carlton e o Hollywood - rs, rs, rs).
Aproveite sua esstada por aqui e já já te mando ume e-mail (adoraria conhecer o som do Mr. Jordan).
Abração!!!!!

Anônimo disse...

Com relação à trilha do filme "I Want to Live", que teve grande repercussão na época, ouçam com atenção o tema "Barbara's Theme" e digam de qual composição de Milt Jackson o mesmo foi plagiado.
Atenção e boa sorte.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Anônimo,
Valeu pela presença, mas dê uma dica sobre a composição supostamente plagiada.
E, por favor, identifique-se e se junte à nossa confraria.
Grande abraço!

APÓSTOLO disse...

Prezado "ANÔNIMO":
Essa me pegou de surpresa.
Foram editados 02 LP's com músicas do clássico do diretor Robert Wise, "I Want To Live", que proporcionou o OSCAR de melhor atriz para a grande SUSAN HAYWARD (mais que merecido).
Um deles foi com o "Gerry Mulligan's Jazz Combo" (Mulligan, Art Farmer, Bud Shank, Frank Rosolino, Pete Jolly, Red Mitchell e Shelly Manne). Já possuí esse LP, mas confesso que não me lembro de uma faixa com o título de "Barbara's Theme".
O outro, que ainda possuo ("Johnny Mandel's Great Jazz Score", United Artists, UAS-5006), tem como última faixa do lado "A" o tema "Barbara Surrender", com algumas "conotações musicais" (não de harmonia) do clássico de Milt Jackson "Basg's Groove"; não me ocorre como plágio, ainda que com alguma semelhança na repetição da linha melódica.
De todas as formas é um album que recomendo (caso seja encontrado em CD), por uma série de motivos:
(1º) os 16 temas foram editados na exata sequência da trilha sonora do filme (desde o jogo de pôquer até a cena da execução);
(2º) o time de craques da "West Coast" é de primeira linha (Jack Sheldon, Al Porcino e Ed Leddy nos trumpetes; Frank Rosolino, Milt Bernhart e Dave Wells nos trombones; Vince De Rosa, Sinclair Lott, John Cave e Dick Parisi nos french horns; Harry Klee, Abe Most, Joe Maini, Bill Holman - que é o solista de sax.barítono no tema "Barbara Surrenders" - Marty Berman e Chuck Gentry nas palhetas; mais a cozinha com Pete Jolly / Red Mitchell / Al Hendrickson;
(3º) Johnny Mandel foi o arranjador e colocou Shelly Manne na bateria e mais 03 de primeira na percussão - Larry Bunker, Mel Lewis, Milt Holland e Mike Pacheco (congas etc);
(4º) as notas de contra-capa (John Tynan da Down Beat) são um verdadeiro "making of" do trabalho de Johnny Mandel, desde a concepção dos temas baseados nas cenas do filme, até o tratamento com as nuances musicais para cada uma dessas cenas (em particular para a da câmara de gás).
Enfim, prezado ANÔNIMO, aguardo que nos desvende o mistério do plágio.

Anônimo disse...

APOSTOLO,

Apesar do enorme cartaz que tem por haver recebido monte de prêmios da Academia de Cinema Americana, a grande verdade é que Johnny Mandel sempre foi plagiador.

Seus "feitos" nesse sentido foram intensamente comentados por vários músicos de jazz através dos tempos.

Exemplos não faltam. Um dos primeiros e principais aconteceu quando Stan Getz gravou para a Roost, em 1951, o tema "Hershey Bar", marca do famoso chocolate que Mandel carregava em seus bolsos e comia sempre.

Sabe de qual composição Mandel plagiou "Hershey Bar" ?
Foi de "Words to That Effect", de Neil Hafti, gravada por Harry James em 1949. Note bem: em 1949!!

Desculpe não me identificar porque, como é praxe no Brasil, logo aparecerão os contestadores de plantão que se arvoram em profundos conhecedores, criando caso pelo prazer de detonarem uma polèmica, parecendo políticos brasileiros.

Para não criar qualquer tipo de confusão (algo que detesto), este será o último comentãrio que farei nesse blog.
Grato pela atenção e desculpem a franqueza.

APÓSTOLO disse...

Prezado ANÔNIMO:

Ainda assim sigo na dúvida e recorro de sua decisão, para conhecer de que música de MILT JACKSON foi plagiado o tema da BARBARA.
Quando não sei pergunto, pesquiso, leio, busco informar-me; ainda é a melhor forma de ficar sabendo.
Quanto a JOHNNY MANDEL ser um "plagiador" de plantão tampouco discuto ou discordo, já que há tempos apontei 02 temas dele que conhecia como sendo de terceiros.
Enfim, o que me interessa é SABER e, nesse caso, como não "matei a questão", gostaria de conhecer a resposta, pelo que sou antecipadamente grato.
Como diria certo humorista, mas com muita razão, para aprender muito é fundamental, antes de tudo, ser profundamente ignorante (e essa é uma de minhas vantagens sobre os que tudo sabem).

Érico Cordeiro disse...

Amigos,
Até agora estou me beliscando prá saber se isso é verdade: UM DEBATE DESSE NÍVEL, AQUI NO JAZZ + BOSSA - acho que estou sonhando!
Caramba, não vou nem meter a minha colherzinha e nem dar pitaco - que o Apóstolo é um dos nossos Mestres isso eu já sei há muito tempo.
E agora me aparece esse anônimo com um conhecimento enciclopédico sobre jazz. Por favor, meu caro, não deixe de comentar aqui no jazz + bossa - isso é muito bom e como disse o caro Apóstolo, "para aprender muito é fundamental, antes de tudo, ser profundamente ignorante" (Sócrates dizia que tudo o que sei é que nada sei).
Se você não quiser se identificar, pode usar um pseudônimo, ok?
Mas não nos deixe curiosos - aí vai ser crueldade!!!
Mestres Apóstolo e "Anônimo", só posso agradecê-los.
Como não tenho esse disco, vou tentar localizá-lo nos Amazon da vida!
Abração!!!

APÓSTOLO disse...

Estimado ÉRICO:

Tampouco entendí onde e com quem ocorreu, se é que ocorreu com alguém e em algum momento, qualquer debate inconveniente.
Até onde percebo nosso prezado ANÔNIMO colocou uma pergunta das mais interessantes (pelo menos para mim, que vivo á cata de mais informações para meus arquivos e desconheço a solução) e que, até o momento, não obteve resposta.
De minha parte sigo curioso e torcendo para que ANÔNIMO reveja sua decisão de não mais comentar, retornando ao convívio, com ou sem identificação (o importante é a troca de informações, a soma que a todos enriquece).

Érico Cordeiro disse...

Mestre Apóstolo,
Assino embaixo!
E que o nosso novo amigo se junte à nossa alegre confraria!!!!
Abração!

Isa Meireles disse...

adoro jazz e adorei vir aqui :D
Vou voltar e seguir :P
Um bom 2010 repleto da paz do jazz

Érico Cordeiro disse...

cara Isa, seja muito bem vinda e junte-se à turma! Obrigado pelas palavras gentis e venha sempre. Um 2010 maravilhoso pra você!

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