Amigos do jazz + bossa

domingo, 7 de junho de 2009

O IRMÃO MAIS VELHO DE "KIND OF BLUE"


Certa feita, perguntaram para Charlie Watts, titular das baquetas dos Rolling Stones (grande fã de Charlie Parker e autor de alguns bons discos de jazz, inclusive com a participação de respeitados músicos ingleses como Evan Parker), quem era o maior baterista do mundo. Ele, sem qualquer resquício de falsa modéstia, foi brilhantemente preciso: “Em minha banda, o maior baterista do mundo sou eu”.


O mesmo pode ser dito de Miles Davis. Ali, naquele exíguo espaço dos palcos e estúdios, preenchido pelos cinco ou seis caras de sua banda, ele é o maior trompetista do mundo. E olha que nas incontáveis formações de seus combos, pontuaram gigantes como John Coltrane, Bill Evans, Ron Carter, Red Garland, Paul Chambers, Horace Silver, Wayne Shorter, entre muitos outros. Mas Miles é “o” líder e esses gênios todos sempre tiveram que se curvar à sua personalidade magnética. Ao posicionar a embocadura do trompete, colocar surdina e começar a soprar, Miles Davis deixa de ser um músico e se transforma em um mito.


Alguns iconoclastas haverão de insurgir-se contra essa afirmação e, certamente, dirão: “Gillespie era muito melhor que Miles” ou “Clifford Brown punha Miles no bolso”! Mas Davis, que decerto não era um virtuose, tampouco era apenas um músico. Ele era o chefe, o patrão, o sujeito que com um único olhar ou um grunhido ininteligível enquadrava todos os caras da sua banda – fossem eles uma lenda viva como Oscar Pettiford ou um quase iniciante como Herbie Hancock. Miles tocava de costas para platéias que pagavam fortunas para lhe assistir, por um único motivo: porque ele podia fazê-lo!


O soco dado em Coltrane em uma determinada oportunidade é emblemático: afundado nas drogas, o saxofonista desperdiçava seu talento e seus parcos recursos em uma vertiginosa descida aos infernos. Miles, descontente com a apatia do seu tenorista, o despediu com um vigoroso soco na cabeça – e olha que Coltrane tinha quase o dobro do seu tamanho. A amizade ficou abalada e John foi tocar com Monk, aperfeiçoando o seu estilo. Abandonou as drogas e, algum tempo depois, não apenas a paz foi selada como foi reintegrado à banda, participando das gravações do magistral “Kind Of Blue”.


Mas porque falar tanto de Miles, se o líder e primeiro nome nos créditos do disco “Something Else” é o do rechonchudo Julian “Cannonball” Adderley? Por que não dizer logo que esse maravilhoso saxofonista alto, irmão do também ótimo trompetista Nat Adderley, nasceu em 15 de setembro de 1928, em Tampa, na Flórida? Porque não informar ao leitor que, após estabelecer-se em Nova York, em 1955, o talentosíssimo Cannonball chegou a ser chamado de “The New Bird”? Porque demorar tanto para dizer que Adderley agregou sua exuberância técnica à banda de Davis em 1957 e ali permaneceu até o final de 1959, contribuindo para tornar imortais gemas como “Porgy And Bess” ou “Milestones”? Porque não falar que além de transitar com absoluta maestria entre as mais variadas escolas jazzísticas, do bebop ao cool, passando pelo hard bop, Adderley ainda foi um dos mais bem-sucedidos jazzistas, explorando com habilidade incomum as possibilidades comerciais do chamado “soul jazz”?


A resposta é simples: porque o disco de que estamos tratando se chama “Somethin’ Else” e, apesar do nome em destaque nos créditos, Cannonball Adderley aqui é, em verdade, um coadjuvante de luxo para o verdadeiro dono da festa: ele mesmo, o trompetista de órbitas salientes e língua afiada, Miles Dewey Davis III. Até o título do álbum foi tirado de uma canção sua e não será exagero afirmar que este disco é uma espécie de irmão mais velho do incensado “Kind Of Blue”, gravado pelo sexteto de Davis no ano seguinte e com a valiosa colaboração de Adderley no sax alto.


É bem verdade que Davis era proprietário de um ego muito maior que o gigantesco talento e quando reclamava para si a paternidade do cool jazz ou do jazz modal, é preciso se dar um desconto à sua megalomania e ter em conta que, embora sua participação nesses movimentos fosse emblemática, ele não estava sozinho na empreitada. Com efeito, George Russell, a cabeça pensante por trás de Ezz-thetics, já havia intuído as primeiras trilhas para o jazz modal em meados dos anos 50. Quanto ao cool, o noneto montado no final dos anos 40 incluía quatro outros possíveis “pais” da criança – Gerry Mulligan, John Lewis, Gil Evans e Lee Konitz – haja exame de DNA. Mas ninguém pode negar a importância de Miles como catalisador – e, sobretudo, disseminador – dessas correntes.


Voltando ao o disco, gravado em sessão única no dia 9 de março de 1958, para a Blue Note, ele apresenta, além dos mencionados Davis e Adderley, o piano etéreo de Hank Jones, o baixo pulsante de Sam Jones e um Art Blakey surpreendentemente contido – diria quase delicado – na bateria. Aqui talvez comece o flerte de Davis com as estruturas modais, que iria resultar em um badalado casamento, pouco mais de um ano depois. Percebe-se isso logo na primeira faixa, uma preciosa versão de “Autumn Leaves”, onde Davis explora, com seus agudos, as mais improváveis possibilidades harmônicas da canção, sempre escudado pelo veemente sax de Cannonball. Em outro standard, o trompete límpido de Miles dá um tratamento mais ortodoxo à lindíssima “Dancing In The Dark”, mas ainda assim permite-nos perceber certos vislumbres da carpintaria modal, da qual em breve seria o artífice mor.


Em “Somethin’ Else”, Miles sugere os caminhos que mais tarde iria percorrer com maior intensidade, criando uma canção climática, com destaque para o piano de Jones, que soa metálico, bem de acordo com a atmosfera cool pretendida por Davis. Um nada melancólico Cole Porter emerge da versão de “Love For Sale”, com direito a uma lindíssima introdução, a cargo de Jones, e a um maravilhoso solo de Adderley, enquanto o trompete de Davis pontua a canção o tempo todo. O grande momento de Cannonball talvez seja em “One For Daddy-O”, composição do seu irmão Nat, na qual o saxofonista elabora uma delicada arquitetura sonora, com destaque para o respeitoso diálogo mantido com o trompete. A sacolejante “Bangoon” (faixa bônus no CD relançado em 1999 através da série RVG Edition) permite a Blakey que se solte um pouco mais, sobressaindo-se, também, o piano de Jones (autor da música).


Um álbum clássico, enfim! Um finíssimo petisco musical, capaz de agradar aos paladares mais refinados, à altura dos grandes clássicos perpetrados por Davis como líder, como Miles Ahead, Milestones, Seven Steps To Heaven e o próprio Kind Of Blue. Esqueça o ego que não cabia em um álbum triplo, o péssimo humor e o proverbial “mau-caratismo” de Miles. Nos quase 43 minutos de prazer que “Somethin’ Else” proporciona aos ouvidos, quem se apresenta é ele, o maior trompetista do mundo.



***********************


PS 1.: Post dedicado aos amigos d’além mar Pescador, Miguel Ângelo, Elisa (do blog bebedeiras de jazz), Cigarrajazz e Carlos Azevedo (do blog The Cat Scats).
PS 2.: Postagem efetuada ao som de "I Remember Miles", de Benny Golson (sax tenor), com o auxílio luxuoso de Eddie Henderson (trompete), Curtis Fuller (trombone), Tony Reedus (bateria), Mulgrew Miller (piano) e Ray Drummond (baixo).

50 comentários:

pituco disse...

érico,
invariavelmente seus textos são 'uma delícia' de serem lidos...recheado de informação,histórias e toques de bom humor muito bem costurados...curto pacas...parabéns.

só pecou em afirmar que mr.miles davis não seja músico...rs.
assim como muitos afirmam que joão gilberto não é cantor e violonista.

mas,tudo bem...chega de polêmicas...hehehe

os amigos mais bem informados poderiam afirmar se de fato o 'fusion' é obra e graça da 'veneta' do trompetista???

lembrando que o 'mundo é de quem o conquista e não dos que pensam em conquistá-lo,mesmo estando com a razão'(fernando pessoa)

obrigado pelo post...e vista lá no blogdopituco

amplexossonoros desse lado do planeta.
namaste

Érico Cordeiro disse...

Caro Pituco,
Bom receber a sua oriental visita. Obrigado pelas palavras gentis (pelo que pude perceber, você, assim como eu, se filia à corrente milesista).
Mas há um pequeno equívoco em sua observação. Não disse que Miles não é músico, disse apenas que ele não é um virtuose (aquele sujeito capaz de fazer malabarismos e arabescos sonoros, tocando a uma velocidade estonteante e usando e abusando das notas).
Acho que a grande característica do Miles (e ele vivia dizendo ter aprendido isso com Monk) é a economia de notas, usando apenas o estritamente necessário - uma forma de sabedoria musical que só os muito grandes possuem.
Grande abraço e não esquici daquela história sobre o resgate dos grandes músicos brasileiros - achei uma grande idéia, que pode ser posta em prática nestes tempos de informação em tempo real.
PS 1.: Deixei um comentário no seu blog sobre o Keith Jarrett, acreio que ante-ontem!
PS 2.: Milesistas 1 x 0 Antimilesistas.

O Pescador disse...

Caro e estimado Érico,

Que dedicatória!
Não resisti! De imediato tirei o LP da estante e o pus a girar, desfrutando das glórias do velho som analógico. Tantas pérolas que jazzem esquecidas nas prateleiras por causa do nefasto, mas de fácil manuseio, formato do CD.
Estes modernismos da era digital… Perderam-se as grandes fotografias e as liner notes com tamanho de letra para olhos de todas as idades, perdeu-se o ritual de cuidadosamente retirar a poeira da superfície do vinil, aquela forma de segurar a capa com as duas mãos e analisar…

Sempre grato por estes magníficos posts que nos conduzem à redescoberta de tesouros menos lembrados.
E também por apreciar particularmente o Miles do final dos anos 50.

Érico Cordeiro disse...

Caro Pescador,
Quanto lirismo o mero ato de por prá tocar um velho LP envolvia. O ritual era esse mesmo e o trabalho gráfico, ficha técnica, liner notes eram muito mais de visualizar.
Que bom que você gostou do post e do disco! É um dos meus favoritos também e a cada audição, uma nova descoberta, por pequena que seja.
Grande abraço do lado de cá do Atlântico.
PS.: Milesistas 2 x 0 Antimilesistas.

James Magno Farias disse...

Mestre Molosso,
concordo quanto à observação sobre meu guru Miles; sua grande característica foi a elegância do fraseado, sem exageros, sem açúcar, mas preciso e marcante.
a abertura de 'generique', do filme de Louis Malle é símbolo disso.
abração
James

Érico Cordeiro disse...

Super, Hiper, Mega Molosso (molossus molossorum, molosorae est - uma vez molosso sempre molosso!!!).
Domingo pela manhã e ainda deparar com um comentário seu é algo prá ganhar o dia. Melhor que isso só se você tivesse vindo ontem aqui em casa prá me ajudar na arrumação dos cds (esqueceu, né seu furão!!!).
Mas tudo bem. Acho que essa arrumação vai ser mais demorada que a Catedral da Sagrada Família (ainda mais considerando os "ajudantes" que eu fui arranjar!!!!).
Grande beijo, cara!
PS.: Milesistas 3 x 0 Antimilesistas.

APÓSTOLO disse...

Prezado ÉRICO:

Ser "milesista" ou "antimilesista" é algo que escapa á minha humilde percepção.
Miles não foi, evidentemente, um virtuose em seu instrumento (e não estamos falando que ser virtuose é executar pirotecnias, mas sim dominar totalmente a digitação, a técnica de respiração, a perfeição do fraseado, a totalidade dos recursos do trumpete etc etc = nisso, convenhamos, Clifford, Lee Morgan, Clark Terry e tantos outros, superam folgadamente Miles).
Miles tocou JAZZ, e muito bom, até 1959, a partir de quando escondeu-se em belos rótulos e num marketing pessoal de alta e inigualável qualidade.
Sempre foi, desde o primeiro grupo que liderou, e ai um mérito que nenhum outro lhe tira, um perfeito arregimentador: soube cercar-se dos melhores, o que é muito mais do que a imensa maioria soube ou sabe fazer.
Mas o melhor de tudo é a sua resenha e a escolha de uma gravação antológica, com Miles pré-1959.
Mais uma vez, PARABÉNS pelo bom gosto.

Érico Cordeiro disse...

Caro Apóstolo, seja bem vindo. Faço eco às suas sábias palavras: como persona musical Miles foi insuperável - sinceramente não conheço ninguém com tamanha capacidade de arregimentação e nem com uma discografia tão extensa do ponto de vista qualitativo. Estendo a minha admiração a ele por um período um pouco mais extenso - até 68/69, quando então parou de fazer JAZZ (adoro os discos do período Shorter, Hancock, Carter e Williams).
Não obstante, no grande desafio milesistas versus antimilesistas não é permitido ficar "em cima do muro" (rs, rs, rs).
Como o Arnaldo César Coelho não passou aqui prá dizer que "a regra é clara" e considerando o chumbo grossíssimo que me aguarda por parte do pessoal do Clube das Terças (ouvi falar em uma reunião extraordinária na casa do Lester, regada a hectolitros de Romanee Conti e que acabou às seis da manhã), vou contabilizar sua manifestação como pró-Miles.
Grande abraço e, por favor, se você conhecer mais algum entusiasta do Miles entre os queridos amigos do CJUB, por favor, peça-lhe o voto, ok? (rs, rs, rs)!!!!
PS.: Milesistas 4 x 0 Antimilesistas.

Salsa disse...

Pelo jeito Predador amarelou e voltou para vênus. E eu, aqui, esperando a contenda. Placar W0.

Quanto ao disco, é sensacional! está em destaque na discoteca.
Tem algumas coisas de Miles até o iniciozinho dos anos sesenta que me agradam - os anos 50 foram mais ricos. E fica por aí.

O lance do marketing apontado pelo Apóstolo é uma fato que hoje ninguém questiona. Miles poderia sobreviver, na ayualidade, como marqueteiro.

Salsa disse...

Afff, troquei um monte letras. Efeito das moquecas de sioba e de siri.

Érico Cordeiro disse...

Caro Salsa, a regra é clara!!! Comentou, votou. Conjugando as frases "Tem algumas coisas de Miles até o iniciozinho dos anos sesenta que me agradam" e "Quanto ao disco, é sensacional! está em destaque na discoteca." chega-se à singela conclusão de que você, ó mestre das tessituras sonoras, é um milesista (discreto, ora pois, mas ainda um milesista).
Logo: Milesistas 5 x 0 Antimilesistas.
Grande abraço!!!!!

Sergio disse...

Já q introduziste o assunto na seara rock – gostei disso! -, um bom exemplo é o Robert Fripp. Dá pra imaginar o King Crimson com um guitarrista mais criativo e genial do que o próprio? Com todos os Becks, Plants... até Hendrixs, claro que não! Então, questão fechada. Tanto o Miles é o melhor do mundo, em sua obra, como todos os gênios só se propõem (ou deveriam se propor) ser os melhores no terreno onde pisam. Nota mil, Érico, mais uma vez. A maneira como abriu uma questão, recorrente entre os blogs que visito, da discutível (?!) genialidade de mr. Davis, é de uma simplicidade lógica acachapante. Tou contigo e, com todo respeito, desfecho.

Ps.: sabe q isso me lembrou uma frase do Chico Science, desgraçada de óbvia mas que sempre me leva uma infinidade de direções? “É só dar um passo à frente e já não estará no mesmo lugar”. Quantos dirão “Dã!“ estacionados numa vaga vitalícia?

Érico Cordeiro disse...

Caro Sérgio,
Você foi preciso como um relógio suíço. Nada mais há para ser dito, apenas: Milesistas 6 x 0 Antimilesistas.
Grande abraço, garimpeiro mor de todos os sons!!!!

Sergio disse...

Nem tão preciso, Érico, quando grafo "Hendrixs". Assim como Miles e Fripp, basta um de cada.
Abraços (no plural).

Vagner Pitta disse...

Bem...Miles, Miles...sempre Miles!


Meu compositor, trompetista, músico, jazzista e bandleader favorito de toda a história do jazz é, claro, Wynton Marsalis. Todos meus amigos sabem disso!

E as pessoas sempre associam os fãs de Wynton como inimigos do som de Miles, haja vista as farpas que Wynton Marsalis trocou com o "poderoso chefão do jazz modal" que depois virou "o michael jackson do jazz". Na verdade, eu curto muito a "arrogância" de Miles no sentido dele ter sido um músico negro que impôs respeito diante do mercado e da platéia branca. Em se tratando da sua música, porém, eu curto apenas uma pequena fase que começa em 1958 com Milestones e este disco postado pelo Érico, até 1968 com In a Silent Way, Files of Kilimanjaro e Paraphernália (gravado em 29, na França): esse período compreende do começo da fase modal até os discos iniciais do fusion. Esse é o período pelo qual Miles deveria ser louvado como um real protagonista por vários motivos:

* criou o primeiro álbum totalmente modal, popularizando o conceito criado por George Russell

* seus solos e seu modo de improvisar evoluiram extraordinarimante com seu Segundo Grande Quinteto. Ele deixou de ser apenas cool e se tornou um solista de primeira grandeza!

* foi a fase que ele descobriu e impulsinou alguns dos músicos mais peculiares e astronômicos do jazz: Coltrane, Adderley, Bill Evans que, já conhecidos, foram mais ainda impulsionados pelo sucesso de Miles e Tonny Willians, Herbie Hancock e Wayne Shorter que foram praticamente revelados em seu Segundo Quinteto.

* Por fim, em termos de peculiaridade e criação, o Segundo Quinteto de Miles foi o verdadeiro protagonista dos anos 60 ao lado do quarteto de Ornette Coleman. O Hard Bop acabou a partir do primeiro album de Miles com segundo quinteto: inicia-se,e então, o periodo do post-bop.


Bem...quanto às outras épocas (cool e hard bop) eu prefiro deixar os créditos para outros músicos e combos que realmente merecem como alguns listados abaixo:

Gil Evans, Lennie Tristano, Gerry Mulligan, Chet na fase cool (de 1948 à 1953)

Art blakey'jazz Messengers, Max Roach Quintet, Horace Silver Quintet, Charles Mingus, Dave Brubeck são os verdadeiros heróis da década de 50...nessa fase, em 1954, Miles ressurge do ostracismo, mas, na minha opinião, seu Primeiro Quinteto apenas ajudou a engrossar o caldo dos hard boppers...mas o grande líder dessa época foi Art Blakey, a banda mais peculiar foi o quinteto de Max Roach com Sonny Rollins, Clifford Brown e Ray Draper na Tuba e, por, fim a banda mais estelar foi o quarteto de Dave Brubeck, do qual Miles tinha um tiquinho de inveja !

Pronto, aí esta o que eu acho de Miles!

PREDADOR.- disse...

Não amarelei nem voltei para meu planeta, na quinta constelação de Orion. É que o sr.Cordeiro, um perfeito "gentleman", deixou-me até certo ponto desarmado, com seu senso de humor em relação aos meus comentários sôbre Miles no post do Jazzseen. E assim que deveria ser, pois não estamos aqui para brigar nem fazer guerra. O que existe são pontos de vista e gosto musical diferentes no tocante ao músico Miles Davis. Na verdade, para mim, Miles sempre foi um bom organizador de eventos, acercando-se de músicos de primeira linha na formação de conjuntos, os quais extranhamente liderava. Não passava de um trumpetista comum, todos nós sabemos. Foi endeusado por críticos ditos de jazz que o transformaram em um "falso mito" e a "galera dos entendidos de jazz" acompahou. A fase boa do Miles, sem ser nenhuma sumidade, pois existiam vários trumpetistas melhor que ele, abrangeu o início de 49 até os anos 56 e uns poucos discos de 57 até 1961, alguns mencionados por você: cookin', walkin', relaxin', the musing of MD, someday my prince will come, steamin' etc... Inclusive tenho a caixa CHRONICLES (8 Cds) e, de vez em quando até escuto. Agora, quanto a ser KIND OF BLUE um disco fenomenal e ser Miles Davis o melhor trumpetista do mundo, existe uma distância muito grande. Perdi o prazo dado pelo sr.Cordeiro, mas,como disse, meu intuito não é "guerrear" nem dizer que estou certo, pois não sou o dono da verdade. Explanei apenas meu ponto de vista, após muitos anos vivenciando o JAZZ. Me queira bem sr.Cordeiro! Para finalizar e sem puxar o saco, gostei muito do seu BLOG, que fala de músicos como Leroy Vinnegar, Paul Desmond, Duke Jordan, do esquecido e pouco conhecido Barney Willen, etc...Congratulations!

John Lester disse...

Prezado Mr. Cordeiro, bom ouvir um clássico do jazz, inda mais com Miles como sideman.

Como eu sempre digo: Miles daria um excelente cafetão.

E que sacanagem comparar um gênio como João Gilberto com um charlatão como Miles Davis. Sem contar que, até onde sei, João Gilberto nunca se promoveu as custas dos outros, conquistando o mundo com SUA voz e SEU violão, apenas. Nem roubou músicas, como Miles roubou de Hermeto Pascoal.

Se em sonho pudéssemos trocar Miles por Clifford, talvez estivéssemos diante do melhor álbum de jazz de todos os tempos.

Grande abraço, JL.

Salsa disse...

Rs, esse é Lester, o carbonário.
Prezado Cordeiro,
Prefiro que não me inclua entre os "milistas". Como disse, eu tenho bons discos dele, mas não o considero o melhor. Não jogo pedra (a não ser na parte hevy metal), mas não é um frequentador constante do meu toca-disco.
Creio que até já postei alguma coisa dele.

figbatera disse...

O que mais dizer? Todos os "mestres" aqui já compareceram e emitiram suas opiniões, apontando os "prós" e "contras" do músico.

Eu tb só aprecio o Miles Davis do período em que ele tocava JAZZ e tb não o considero "o melhor", mesmo durante aquela época.
Ponto.

ps.:então, Érico, como ficou o "placar"? rs...

Érico Cordeiro disse...

Caro Figbatera, tô calculando.
Valendo a regra (clara) do comentou, votou, tenho aqui mais um voto pró-Miles, do glorioso Vagner Pitta, o antenado timoneiro do Farofa Moderna.
Dois votos bastante previsíveis, dos declarados antimilesistas Mr. Lester e Mr. Predador e vou considerar, meu querido Figbatera, o seu voto como mais um pró-Miles, afinal disseste "Eu tb só aprecio o Miles Davis do período em que ele tocava JAZZ" - ou seja, embora não seja um entusiasta és certamente um apreciador do talento do rapaz. Portanto, se minha matemática estiver correta, temos agora: Milesistas 8 x 2 Antimilesistas.
Até que a nossa tropa não está se saindo tão mal.
Brincadeiras à parte, só fato de estarmos aqui, em pleno dominngo, expondo nossos gostos e preferências nesse bate-papo agradável e super enriquecedor já faz valer a pena a existência do JAZZ + BOSSA, meu filho mais novo e que tanto orgulho me tem dado.
Mr. Predador, seja muito bem vindo - a casa é sua também. Faça as críticas e dê as sugestões que entender pertinentes, pois como bem consta em uma bela ilustração do MELObateroMANIA, um blog se alimenta dos comentários dos seus visitantes.
Saúdo a todos os amigos e só lamento que ainda não tenham inventado o chopp virtual. Não obstante, bridemos todos ao jazz, à amizade, ao debate respeitoso e à multiplicidade de pontos de vista.
Um fraternal abraço!!!!

Érico Cordeiro disse...

Caro Salsa, retificação de voto não vale: a regra é clara - prá contar como antimilesista só se cair matando e não percebi esse "animus necandi" em seu comentário (me pareceu muito simpático ao mau e velho Davis).
Não obstante, se é essa a sua intenção, temos o seguinte placar: Milesistas 7 x 3 Antimilesistas (mas que foi um voto/comentário com a maior cara de milesista isso foi - e olha que o mineiro aqui, até onde eu sei, é o Figbatera!!).
Abração!!!

Salsa disse...

Vaseliiiiina,
e nem sou candidato a nada...

edú disse...

Já q todas às opiniões, ate o presente instante , foram emitidas vai a minha.Relegar Miles um papel desimportante no Jazz e como sair de casa sem usar o elevador ou escada ( não tentem para aqueles ,como eu, já morou no 16º andar) , ou até mesmo a porta de saída .Não tem jeito, o sujeito coletivamente ,no papel de líder, inspirador, oportunista, seja como, guinou quatro modificações na corrente evolutiva da história do jazz.Quando Max Roach esteve no Brasil para uma das primeiras edições do Free Jazz veio a tiracolo com a recente edição da autobiografia de Miles( q foi traduzida para o português e lançada pela Editora Campus).Cheguei a ver um retrato fotografado por um rapaz( q mencionarei mais tarde) de Max Roach com o referido livro nas mãos.Roach não parava de afirmar – às gargalhadas – como ele escreve “mentiras e fala mal de amigos”.O caráter de Miles já deixou de ser modelar há muito q se varre aspectos menos nobres de sua vida.Nem vale a pena menciona-los .Para um sujeito q tinha ambição de ser um músico próximo a Clark Terry(seu grande ídolo )Miles adquiriu , por mérito ou o sujeito certo na hora certa(mas quatro vezes?) - um lugar de absoluto relevo no jazz(mesmo com discos aborrecidos e até mesmo superestimados como particularmente sua versão de Porgy and Bess).Para finalizar, há muito tempo tenho ensaiado encontrar o rapaz q fotografou Roach.Ele foi colaborador do jornal “ O Estado de São Paulo” em seu caderno cultural e possui o mais impressionante álbum de fotos ao lado de personalidades do jazz q vi em vida.Nenhuma pose de “papagaio de pirata”.Quando Miles esteve pela ultima vez no pais,em 1986, ele conseguiu o número do telefone da suíte do hotel e ligou.Atendeu o empresário.Foi direto, queria entrevistar Miles.O conselho do manager foi o seguinte : “não decido nada, ele atende se quiser”.Tomado de coragem e ansiedade em conhecer mais uma personalidade do jazz, foi até o hotel.Subiu, bateu na porta e falou: quero falar com Miles Davis.Moral da história,passou a tarde inteira conversando com o “príncipe das trevas”, como ele gostava de se apelidar.O relato foi feito num almoço,cerca de dez anos, e esse rapaz mais indagava minha opinião a respeito dos músicos porquê surpreendido, na opinião dele, identificava com rapidez as personalidades das fotos.Eu lembro q ele havia dito q levara diversos lps para Davis autografar e foi o único instante q o músico demonstrou contrariedade – “vc me traz essas velharias para eu assinar”.Vi dezenas de fotos - um ao lado do outro.Quem sabe um dia eu consiga encontra-lo e escreva como foi essa experiencia.Boa semana a todos.

pituco disse...

érico,
já havia agradecido em meu primeiro comentário,mas reitero poraqui,também...valeô tua visita lá no blogdopituco.

sim,entendi tua definição sobre mr.miles davis...contudo,definição de virtuose (domínio técnico como atributo primordial de um artista) é relativo.
creio que o mais importante é ser sincero no que se faz(em música popular)conforme o 'tamanho'das possibilidades técnicas de cada um...ser criativo.

e,convenhamos,música não é olimpiada pra se ver quem toca mais rápido,não concordas?

amplexosonoros
namaste

José Domingos Raffaelli disse...

Em sua primeira vinda ao Brasil, Miles Davis estreou no Teatro Municipal do Rio dia 24 de maio de 1974. Sua apresentação foi catastrófica, tocou (pessimamente)trompete eletrificado, sempre de costas para a platéia e cuspindo seguidamente no cháo. A certa altura, foi para o piano elétrico, limitando-se a pressionar repetida e enfadonhamente duas teclas com os dedos indicador é médio, num "solo" (?) sem qualquer nexo. Com dois guitarristas de rock, dois percussionistas e um baixista elétrico, fez uma apresentação pífia, sem sentido, apenas com um barulho ensurdecedor cada vez maior. O título da minha crítica no Jornal do Brasil foi "Miles Davis desencadeia a hecatombe universal sonora".
Terminado o concerto, fui aos camarins em busca dos autógrafos dos músicos. Miles trancara-se no camarim, mas conversei com o baterista Al Foster e o saxofonista Dave Liebman. A certa altura, Foster mencionou que Duke Ellingron estava doente, ao que corrigi informando que ele morrera naquela manhã. Incrédulo, Foster pediu mais detalhes, que forneci tudo que sabia a respeito. Ele então entrou no camarim para informar Miles sobre a morte de Ellington. Cerca de meia hora depois, completamenre drogado e amparado por dois homens (um deles era seu empresário), Miles mal abria os olhos enquanto carregavam-no para um carro que o levaria ao Hotel Glória. Nesse momento, um rapaz com cerca de 18/20 anos adiantou-se com um LP de Miles para pedir-lhe um autógrafo, mas o trompetista gritou alguma coisa e deu-lhe um soco no rosto.
Para colocar Miles no banco traseiro do carro foi preciso que quatro homens o segurassem em posição horizontal (dois nos braços e dois nas pernas). Triste e melancólica figura que deixou péssima impressão na sua lamentável estréia.
Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli, que saudades, estávamos sentindo a sua falta!!!!
Grande Edú, obrigado pela manifestação - tamanha autoridade é difícil de ser contestada (e tomara que você possa descobrir o endereço do fotógrafo e compartilhar conosco esse acervo que suponho fenomenal - depois te mando um e-mail (ontem fui dormir mais cedo que o habitual e não pude responder o seu).
Pituco, meu caro, você tem toda razão - virtuosismo e velocidade não significam a mesma coisa, só coloquei essa "característica" prá enfatizar o argumento.
Mr. Salsa, o capixaba mais mineiro do Brasil!
Caros amigos, parece que o placar está assim: Milesistas 8 x Antimilesistas 4 (Mestre Raffaelli, vou computar nessa coluna a sua manifestação, mas sei que o senhor tem um elevado apreço pelo polêmico trompetista).
E, Mestre, quando for ficar tanto tempo sem aparecer, por favor, lembre sempre daquela passagem d'O Pequeno Príncipe, que fala que você é responsável por aquilo que cativa (rs, rs, rs).
Lamentável o espetáculo do Miles no Teatro Municipal - já li algo a respeito e o Ruy Castro diz que o show deveria ter sido feito num porão do DOI-CODI!!!!
Abraços fraternos a todos.

José Domingos Raffaelli disse...

Caros amigos correligionários,

Antes de entrar no adendo que farei em relação ao indispensável "Something Else", informo aos amigos que o propósito do meu post anterior não foi denegrir Miles Davis, mas unicamente relatar o que foi sua catastrófica apresentação no Rio, em 1974.

Com relação a "Something Else", algo inusitado sempre intrigou-me sobremaneira na faixa "One for Daddy-o". Desde que comprei seu LP, ouvi-o dezenas e dezenas de vezes, mas até hoje não encontrei uma explicação sobre o que aconteceu durante a interpretação de "One for Daddy-o".
Explico: o que me chamou a atenção particularmente nesse blues em tom menor foi o fato de o baixista Sam Jones tocar todo o tempo em tom maior. O que teria acontecido ? Alguém poderia explicar ?

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Caros Salsa, Figbatera e Lester, vocês que são músicos, por favor, manifestem-se.
Ao que tudo indica, o mistério que envolve disco não é só esse. A faixa "Bangoon" foi durante muito tempo creditada a Nat Adderley, sob o nome "Allison's Uncle" e ficou perdida nos acervos da Blue Note (não haviaa indicação da data ou dos músicos que a gravaram e ela não foi lançada no LP original. A composição é Hank Jones e somente muito depoie é que foi incluída no cd (Série RVG).
Um fraterno abraço, Mestre (e essa história de Milesistas x Antimilesistas é só uma brincadeira entre amigos - rs, rs, rs).

figbatera disse...

Pessoal, eu não sei nada dessa estória sobre a faixa "One for Daddy-O" que, aliás, nem conheço; e eu não sou músico, apenas instrumentista, portanto, fico tb aguardando alguém que possa decifrar essa questão.

Érico Cordeiro disse...

Caro Figbatera, quanta modéstia!!!
As suas fotos ao lado de Jamil Joanes, Kiko Continentino e outras "feras", porém, o desmentem.
Você é músico e dos bons.
Grande abraço!

John Lester disse...

Prezado Mr. Cordeiro, como jubilado da Escola de Música da UFES, perdi exatamente essa aula, em que o PhD em Miles explicaria a brincadeira de Sam Jones na faixa pinçada por Mr. Raffaelli.

No entanto, a observação do mestre parece ter algo a ver com um dos aspectos mais fundamentais do jazz, as relações entre o foreground e o background, conforme explicitadas no excelente livro Understanding Jazz, de Tom Piazza, Random House, New York, 2005, com prefácio de Wynton Marsalis. Na página 16 ele fala sobre fenômeno semelhante, em que os solos de Stan Getz (foreground) na faixa I Can't Get Started dialogam com os de Kenny Barron (background), numa espécie de call and response das igrejas batistas, e onde as contribuições de cada um dos músicos alteram-se quanto ao registro, acordes e estruturas melódica e harmônica.

Piazza complementa que em gravações como Moritat, de Sonny Rollins ou Footprints, de Miles Davis, a coisa também acontece, assim como em diversas gravações de John Coltrane, Ornette Coleman, Charles Mingus na década de 1960.

As relações entre instrumentos solistas (foreground) e a seção rítimica (background) são um, e apenas um, dos elementos caracterizadores do jazz e, penso, devem receber nossa atenção em resenhas futuras.

E a coisa já era bem manjada no jazz. É como nos ensina Barry Kernfeld em seu What to Listen for in Jazz, Yale University Press, New Haven, 1995, página 172: "Just as clarity of pitch is an underappreciated component of the Basie orchestra's rhythmic precision, so a purposefully dense tone, together with purposefully imprecise pitch (resulting from an extreme approach to vibrato, from blue notes, and from an "out-of-tune" conception), contributes to the essential sludge in the sound of bands.

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

Prezado Lester,
como PhD em analfabetismo teórico-musical, quedo-me a admirar seu comentário com o mesmo embasbacamento do célebre asno mencionado por vossa senhoria em passado recente.
Não obstante, deixe-me ver se entendi - o que o Sam Jones fez foi uma espécie de brincadeira, com os demais parceiros, como aqueles "call and response" típicos dos spirituals cantados nas igrejas americanas (algo como "Praise The Lord" e o outro responde um reverendíssimo "Oh Yeah!!!").
Logo, foi algo intencional o que o nosso glorioso baixista fez - e não acidental, estou correto?
Pois é, como diria o nosso amigo Sônico: Winwendders e aprendenders!
Abração!
PS.: daqui a pouco tem post sobre o Ellington - não pense que esqueci sua desfeita para com Odin, que tá quietinho lá em Asgard olhando por nós, pobres mortais; ou seria Zeus no Olimpo? (ainda bem que ele não se converteu ao islamismo, já pensou uma fattwa lançada por algum aiatolá maluco contra vossa singularíssima pessoa?).

John Lester disse...

Se há algum analfabeto em Deus, esse alguém sou eu. Se Deus for o Jazz, vamos nos dar bem.

Só gostaria de agradecer a Mr. Raffaelle por ter me obrigado a ouvir atentamente todo o álbum Something Else. Um dos melhores álbuns de jazz de todos os tempos.

Foi sim, o jazz tem disso: é uma grande brincadeira.

Deus deveria brincar mais. Ou não?

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

É possível que sim, Mr. Lester.
Se ele estiver perambulando por aí deveria aproveitar e ouvir um pouco de Sonny Rollins ou Cedar Walton, dois monstros sagrados que ainda estão entre nós.
Mas, pelo visto, parece que ele anda preferindo ouvir outras coisas - ou então essa multidão de gritadores histéricos que agora anda por aí se esgoelando em supostas "louvações" anda gastando saliva à toa - Ih, o papo tá ficando metafísico demais.
Abração!

Celijon Ramos disse...

Parece que discussão anda grande nos comentários acima. Não tive tempo de lê-los e por esse motivo vou-me eximir de considerações. De todo modo, ponto para Miles Davis cuja a linha musical, durante toda a carreira, foi fazer revolucionar a execução jazzística. Isso foi a única coisa contínua que grande músico fez. Não importa que, para tanto, alguns torçam o nariz. Por esse ponto de vista, creio que dificilmente encontraremos personalidade no mundo do jazz que impregne tanto o carater evolutivo próprio ao gênero. Seu moto é a economia de sopro e notas que constróem a mudança no modo de fazer jazz.

Érico Cordeiro disse...

Caríssimo compadre,
Sem maiores delongas: Milesistas 9 x Antimilesistas 4.
Grande beijo!

José Domingos Raffaelli disse...

Pituco,

Pituco,

Respondendo à sua indagação, Miles Davis não foi o primeiro a tocar/gravar a música conhecida como fusion, assim como não foi o primeiro a tocar/gravar jazz modal.
Pelo que há anos constatei através de um levantamento de gravações e, inclusive, escrevi num artigo publicado na revista Jazz Magazine, a primeira vez que o referido estilo foi gravado ainda em embrião surgiu no disco "Backlash", do trompetista Freddie Hubbard, de 1966, para a Atlantic.
Por outro lado, em 1967 o conjunto Blood, Sweat and Tears também incursionou nessa amálgama que tomou de assalto muitos músicos de jazz com a força de um tsunami duplo, ganhando amplo destaque na mídia, especialmente depois que Miles Davis gravou "In a Silent Way" e, posteriormente, o badalado "Bitches Brew", que vendeu toneladas de exemplares.

Como curiosidade, o produtor de Miles, Teo Macero, "montou" "Bitches Brew" emendando 38 trechos dos tapes gravados pelo grupo de Miles em quatro dias de estúdio.
Foi quando o pianista Roland Hanna declarou "o que se grava hoje nos estúdios não passa de uma grande mentira porque, ao vivo, eles não podem emendar trechos de música e muitos menos consertar seus erros".

Keep swinging,
Raffaelli

José Domingos Raffaelli disse...

Pituco,

Respondendo à sua indagação, Miles Davis não foi o primeiro a tocar/gravar a música conhecida como fusion, assim como não foi o primeiro a tocar/gravar jazz modal.
Pelo que há anos constatei através de um levantamento de gravações e, inclusive, escrevi num artigo publicado na revista Jazz Magazine, a primeira vez que o referido estilo foi gravado ainda em embrião surgiu no disco "Backlash", do trompetista Freddie Hubbard, de 1966, para a Atlantic.
Por outro lado, em 1967 o conjunto Blood, Sweat and Tears também incursionou nessa amálgama que tomou de assalto muitos músicos de jazz com a força de um tsunami duplo, ganhando amplo destaque na mídia, especialmente depois que Miles Davis gravou "In a Silent Way" e, posteriormente, o badalado "Bitches Brew", que vendeu toneladas de exemplares.

Como curiosidade, o produtor de Miles, Teo Macero, "montou" "Bitches Brew" emendando 38 trechos dos tapes gravados pelo grupo de Miles em quatro dias de estúdio.
Foi quando o pianista Roland Hanna declarou "o que se grava hoje nos estúdios não passa de uma grande mentira porque, ao vivo, eles não podem emendar trechos de música e muitos menos consertar seus erros".

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Caro Mestre,
Confesso que o fusion não faz a minha cabeça. Eu até tentei ouvir (e tenho alguns discos desse estilo), mas não me apraz muito.
Na década de 60 (final) e 70 muita gente boa aderiu a essa corrente (a gravadora CTI, do Creed Taylor vendeu muitos discos aproveitando essa onda), mas profiro o bom e velho jazz acústico.
Grande abraço!!!!

Andre Tandeta disse...

Vou ouvir com atenção ao tal blues onde o Raffaelli notou que Sam Jones troca blues menor por maior.É um otimo exercicio de percepção.Espero vir com pelo menos uma explicação teorica(obviamente não definitiva pois estou longe de ser um expert no assunto ). Esse fato a principio é bastante estranho tanto por ser Sam Jones um grande baixista como por ser uma gravação com super musicos que dificilmente deixariam passar um take com incorreções harmonicas do contrabaixo.
Abraço

Andre Tandeta disse...

A proposito: ha muita coisa de que gosto e pode ser chamado de fusion. Muito desse estilo é bastante fraco mas ha inumeros exemplos de excelente musica dentro do rotulo fusion. Claro que é só minha opinião.
Abraço

Érico Cordeiro disse...

Grande Tandeta,
Estava sentindo a sua falta, meu caro!!! Que bom tê-lo aqui no JAZZ + BOSSA e, de cara, você se dispõe a decifrar essa esfinge proposta pelo nosso mestre Raffaelli.
No que toca ao fusion, apesar da reconhecida competência técnica de muitos dos musicos envolvidos, até hoje o estilo não "bateu" em mim. Não é preconceito (longe disso - e os discos do Weather Report, Chick Corea, Stanley Clarke, Jaco Pastorius, entre outros que tenho não me deixam mentir), apenas uma questão de afinidade mesmo.
Seja bem vindo e não fique tanto tempo sem aparecer. Você e seus comentários abrilhantam qualquer blog sobre música!!
Abração!

APÓSTOLO disse...

Prezado ÉRICO:
Enquanto você tentar ouvir "fusion", "jazz-rock" e outras porcarias como JAZZ, jamais entenderá.
Quando separar o bom, velho e genuino JAZZ dessa série de rótulos que sómente pegaram "carona" (como o JAZZ consegue dar "status"!!!), mas nada tem a ver com JAZZ, ai você entenderá tudo: e deixará de ouvir os "caronas".

Érico Cordeiro disse...

Caro Apóstolo,
Confesso que até tentei ouvir o bendito fusion, sem preconceito e com o espírito aberto. Mas não teve jeito. Alguns desses cds estão empoeiradinhos, coitados, pois faz anos que não os ouço.
Grande abraço!

José Domingos Raffaelli disse...

Prezados correligionários,

Com relação ao fato de Sam Jones acompanhar um tema em tom menor tocando em tom maior, não houve erro ou falha por parte do grande baixista, pois essa prática foi feita anteriormente por Oscar Pettiford, Charles Mingus, Albert Stinson e outros big bosses do instrumento.
Com relação a "One to Daddy-O", encontrei este comentário do baixista Bill Crow: "Sam Jones plays with a full deep sound, relates his lines well to the soloists and lays the time down in a relaxed and definite manner. His tone blends well with the other instruments and he is properly balanced here. On the B-flat minor blues "One to Daddy-O" he keeps playing the major third probably because it's an open string and easier to get at, but it is only disturbing when it occasionally comes in direct conflict with the minor third in the soloists line."

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Prazer em vê-lo aqui no JAZZ + BOSSA. É sempre muito bom privar da sua excelsa companhia. Pois bem, creio que o enigma começa a ser decifrado. O Tandeta prometeu uma explicação técnica, mas até agora não se manifestou.
Como meus conhecimentos em matéria de teoria musical são precários, minha participação na discussão será como um mero aprendiz - afinal não é todo dia que podemos ter a honra de ver - ao vivo e em cores - jazzófilos de tão elevado calibre a tecer considerações sobre a matéria.
Grande abraço e, por favor, não fique tanto tempo sem aparecer. Eu e os demais viajantes do JAZZ + BOSSA já estávamos com saudades!

José Domingos Raffaelli disse...

Caros companheiros,

Sobre Miles Davis, não lembrei de relatar um episódio ligado à sua segunda vinda ao Rio, em 1986. Na ocasião, ele e Wynton Marsalis (que estava aqui para tocar no Free Jazz e apresentar-se no extinto Jazzmania por uma semana) trocaram farpas através da imprensa, cada um criticando a maneira do outro vestir-se. Parecia briguinha de crianças rabujentas....

Mas, o episódio a que me referi acima ocorreu na entrevista coletiva que Miles supostamente daria à imprensa carioca. Cerca de 20/25 jornalistas o aguardavam. Na hora marcada, ele entrou na sala acompanhado pela intérprete. Vendo os jornalistas, parou, olhou demoradamente a todos e indagou ironicamente onde estava a imprensa. A intérprete respondeu que eram aqueles que ele estava olhando. Com seu acentuado e decantado péssimo humor, disse em alto e bom som: "Não falo com brancos nojentos", e retirou-se em passos largos balbuciando algumas palavras ininteligíveis.
Curiosamente, apesar do seu recalcado racismo, ele veio ao Rio acompanhado por uma loura estonteante....

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Miles era um músico soberbo, encapsulado no corpo e na mente de um ser humano de péssimo caráter! abs.

José Domingos Raffaelli disse...

Caros correligionários,

Sem pretender fugir ao assunto principal, mas como foi mencionado o estilo fusion, lembro que os músicos de jazz avessos ao estilo chamavam jocosamente seus intérpretes de "Reis do Jacuzzi", citando entre eles George Duke, Chick Corea, Grover Washington Jr, Herbie Hancock, Larry Coryell, Miles Davis, Joe Zawinul e outros.
Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

É, uma seleção prá lá de bacana, do ponto de vista da capacidade técnica.
Pena que esses grandes músicos tenham, em muitas ocasiões, optado por uma música meio chinfrim e de fácil assimilação (nada contra o sujeito ganhar rios de dinheiro, mas que muito do que esses caras fizeram sob a égide do fusion é bem ruinzinho, isso ninguém pode negar).
O pior é que quando eles queriam tocar jazz mesmo, todos eram geniais. O Zawinul, por exemplo, tem um disco com o Ben Webster que é genial (Soulmates), além do ótimo trabalho com o Cannonball Adderley.
Larry Coryell é um guitarrista como poucos, muito fluido e melodioso (o Major Jazz Minor Blues é muito bom).
O Grover Washington tem um ótimo disco com o Kenny Burrell e era um grande melodista, na linha do Stanley Turrentine e do Ike Quebec. Mas preferiu fazer música prá elevador.
Grande abraço, mestre!!!

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