De 1920 até 1933, o governo dos Estados Unidos impôs aos seus cidadãos a mais estúpida e ineficiente política de controle de substâncias entorpecentes de todos os tempos. A chamada “Lei Seca”, criada com pompa e circunstância em 16 de janeiro de 1920, por meio da Emenda Constitucional nº 18, proibia a fabricação, o comércio e o transporte de bebidas alcoólicas em todo o território estadunidense. De matriz extremamente conservadora, essa medida redundou em um fracasso retumbante, ocasionando a desmoralização quase total da polícia e do poder judiciário, ante o alto grau de corrupção que o mercado negro de bebidas estimulava.
As principais metrópoles americanas, como Chicago, Los Angeles e Nova York, viraram feudos do crime organizado, que empanturrava seus cofres graças ao contrabando de álcool. Boates, clubes e casas noturnas pagavam fortunas à máfia para manter elevados os seus estoques de Bourbon. Os speakeasies (bares clandestinos, geralmente situados no subsolo, onde se costumava falar baixo, para não atrair a atenção da polícia) floresciam. A fabricação clandestina de fundo de quintal, responsável por lançar no mercado produtos de péssima qualidade, também fez lá as suas vítimas – talvez a mais célebre delas tenha sido Bix Beiderbecke – durante os loucos anos 20, período que mereceu de Scott Fitzgerald o inesquecível apelido de “A Era do Jazz”.
Al Capone reinava absoluto na Chicago dos anos 20. Construiu, à base de generosas rajadas de metralhadora Thompson, um verdadeiro império do crime, com um portfólio que ia do contrabando de bebida à exploração do jogo, passando pela prostituição e por homicídios a granel. Talvez Capone estivesse até mesmo praticando o tiro ao alvo em algum desavisado adversário ou extraindo-lhe o cérebro a marretadas quando, no dia 13 de outubro de 1927, nasceu, na mesma Chicago infestada de mafiosos, um dos mais inventivos músicos do jazz: Lee Konitz.
Não obstante, o capo ficaria bastante contente de saber que ali, em seu território, nascia um dos mais originais e talentosos saxofonistas de todos os tempos. Fã de jazz e, sobretudo, do estilo esfuziante de Fats Waller, é conhecida a história de que teria mandado seqüestrar o pianista, que ficou sob sua guarda por quase uma semana, em uma nababesca rotina de festas, comidas, bebidas e mulheres – não necessariamente nessa ordem. Ao final da epopéia, Waller saiu alguns quilos mais gordo e muitos dólares mais rico, tantas foram as notas de cem dólares que o gângster, extasiado com as performances do “hóspede”, enfiava nos bolsos do seu paletó.
Voltemos a Konitz. Aos oito anos, encantado com o som da orquestra de Benny Goodman, o garoto – também de origem judia, como o primeiro ídolo – começou a tomar as primeiras aulas de clarinete. Por volta dos 12 anos, passou ao sax tenor e, finalmente, fixou-se no sax alto. Com 16 anos fazia as primeiras aparições como profissional, na banda do guitarrista Teddy Powell. Em seguida, permaneceu cerca de dois anos na banda do clarinetista Jerry Wald, até juntar-se à orquestra de Claude Thornhill, em 1947.
Nesse período, Konitz começou a ouvir com assiduidade o bebop praticado por Charlie Parker e Dizzy Gillespie, amalgamando a essas novas informações sonoras a influência do delicado Lester Young. Encontrou em Lennie Tristano, renomado pianista de Chicago, a inspiração para seguir em frente com as suas ousadas concepções harmônicas, na tentativa de explorar os caminhos abertos por Bird. Durante o tempo em que colaborou com Tristano, conheceu o saxofonista tenor Warne Marsh, futuro parceiro e grande amigo.
Em 1949, já estabelecido em Nova Iorque, Konitz participou da gravação do histórico álbum “Birth of the Cool”, de Miles Davis, com arranjos de Gil Evans e John Lewis. No início dos anos 50, tocou com vários músicos ligados à West Coast, como Shelly Manne, Gerry Mulligan e Chet Baker. Sua abordagem pouco ortodoxa rendeu-lhe um convite para ingressar na orquestra do modernista Stan Kenton, de onde saiu em 1954 para construir uma das obras mais prolíficas e originais do jazz, incluindo-se o maravilhoso álbum “Motion”, de 1961, ao lado do baixista Sonny Dallas e do explosivo baterista Elvin Jones.
Seis anos antes, Konitz juntou-se ao velho amigo Warne Marsh para gravar o antológico “Lee Konitz With Warne Marsh”, para a Atlantic. Um repertório que vai do swing ao cool, do blues ao nascente hard bop, é executado de maneira impecável. O fraseado algo frágil de Konitz se concatena perfeitamente com a sonoridade cristalina de Marsh, um aplicado discípulo de Lester Young. Completam o sexteto o pianista Sal Mosca, o guitarrista Billy Bauer, o baixista Oscar Pettiford e o baterista Kenny Clarke, sendo que em “Ronnie’s Line” Mosca é substituído por Ronnie Ball.
O álbum, gravado em junho de 1955, tem vários momentos sublimes, como a emocionante versão de “I Can’t Get Started”, na qual os saxofones de Konitz e Marsh dialogam em uníssono, criando um clima de absoluta cumplicidade. O blues “Don’t Squawk”, de Pettiford, é bastante heterodoxo, sinuoso como uma composição de Monk, e o baixista se esmera tanto na parte rítmica quanto no magistral solo. A abordagem bastante peculiar dos saxofonistas em “Topsy” dá um novo frescor a essa antiga composição da década de 30, verdadeiro cavalo de batalha dos músicos vinculados à West Coast, com a curiosidade adicional de ser executada sem a participação do piano.
“There Will Never Be Another You”, imortalizada na voz de Chet Baker, ganha um arranjo mais impetuoso, eminentemente bopper, com Konitz evocando – como raramente faria em toda a sua carreira – o ídolo Charlie Parker. O compositor Bird comparece com “Donna Lee”, outro ponto alto, no qual o piano de Mosca se responsabiliza por um dos solos mais velozes e intrigantes do disco, digno de um Bud Powell.
O antigo mentor dos líderes não foi esquecido. “Two Not One”, cujo título parece ter sido feito para incensar a dupla de saxofonistas, paga um merecido tributo a Tristano. É complexa, assimétrica e altamente cool. “Ronnie’s Line” (de Ball) e “Background Music” (de Marsh) encerram o álbum em alto estilo, a primeira fazendo uma excelente reverência ao bebop dos anos 40 e a segunda saudando, ainda que discretamente, o hard bop que então se anunciava. Um álbum que é um verdadeiro marco na construção do jazz moderno e que, da primeira à última faixa, mantém um olhar respeitoso para com a tradição e bastante sequioso para com as possibilidades do futuro.
Marsh foi um saxofonista viril, altamente criativo e extremamente técnico. Reza a lenda que, certa feita, o já consagrado Stan Getz teria se recusado a participar de uma jam, com receio de ter que enfrentar o aguerrido tenorista. Integrou a orquestra “Supersax” nos anos 70 e gravou com grandes nomes, como Bill Evans, Red Mitchell, Art Pepper e Hank Jones. Em sua pequena discografia como líder, há, pelo menos, uma pérola preciosíssima: o extraordinário “Berlin 1980”, ao lado de Eddie Gomes (b) e dos velhos camaradas Kenny Clarke e Sal Mosca. Faleceu em 17 de dezembro de 1987, em decorrência de um infarto fulminante, em pleno palco do clube Donte’s, enquanto tocava “Out Of Nowhere”, na mesma Los Angeles onde nasceu. Jamais deixou de acreditar que o jazz fosse, de fato, o som da surpresa.
Konitz, cidadão do mundo, permanece em plena atividade. Residiu muitos anos na Europa e nunca perdeu o espírito desbravador e nem a avidez pela busca de novos caminhos, o que inclui regulares incursões pelo free e por outras correntes ligadas à vanguarda. Desde os anos 50, vem gravando incessantemente, sendo responsável por uma discografia das mais extensas, por selos como Verve, Enja, Steeplechasde, Lonehill, Milestone e Candid. Lançou pela Blue Note, em 1997, os ótimos “Alone Together” e “Another Shade Of Blue”, ao lado dos incensados Charlie Haden e Brad Mehldau. Sua intensa atividade traduz aquilo que ele sempre afirmou ser: um caixeiro-viajante a serviço da improvisação.
47 comentários:
Érico, gosto desse som aberto que Lee konitz produz.
Valeu pela divulgação do Jazz da Gema.
Um abração!
Os trabalhos de Konitz, Marsh e Tristano são antológicos. Formam um capítulo e tanto da história do jazz. Como eu dou umas arranhadas no alto e no tenor, esses dois não poderiam deixar de estar no panteão dos meus heróis prediletos.
Caramba, de primeiríssima abrir a caixa de comentários e me deparar com as participações dos queridos Salsa e Celi!!!
Muito legal começar o dia assim.
Um triozinho bem bacana esse: Marsh, Konitz e Tristano.
E o Jazz da Gema vai ser um grande sucesso.
Abração!!!!
Érico,
dá uma corrigida no mome odo quarteto. É "Bom Tom". Eu inverti as bolas.
Desculpe.
Falou, compadre!!!
Beijo grande!
Érico, antes do "a que vim": caramba! Ainda nem li a postagem anterior!...
Agora sim, de uma olhada nisso aqui:
http://www.cdworld.com.br/Asp/Principal.asp
Claro q deve-se considerar a máxima do barato sai caro, mas deve haver um meio termo confiável. É só afinar a pesquisa. E esse negócio de CD/DVD de grife tbm não tem aquela relação tão Louis Vuitton como no caso das bolsas.
Abraços!
Excelente disco Érico. Com uma também excelente fotografia de William Claxton.
Tal como o LP, uma prensagem germânica que aqui por casa continua a girar, Konitz não é homem para ficar parado. O seu percurso musical é invejável e faz sombra a muitos jazzmen actuais.
Também tem passado aqui por Portugal, onde ainda há pouco tempo gravou com a Orquestra de Jazz de Matosinhos o CD Portology (link: http://www.ojm.pt/gca/?id=36). Mas que tem pouco ou nada que ver com os fabulosos fifties.
Saudações calorosas, como o Verão que por aqui se faz sentir :-)
Outro link q me pediu:
http://rapidshare.com/files/244258337/Aziza_Mustafa_Zadeh_-_1995_-_Dance_of_Fire.zip
Caros Sérgio e Pescador,
Sejam bem vindos. No que tange ao Konitz, também gosto muito do Motion e do Jazz Nocturne (com Kenny Barron no piano).
Vou dar uma conferida no trabalho com a Orquestra de Matosinhos.
Mr. Sônico, vou procurar os DVD's e dar uma sacada na Srta. Zadeh.
Obrigado e abraços aos dois!!!!
Meu caro, Érico, como disse ainda não li nem a postasgem anterior. Mas esse disco q vc me indicou deu tempo de ler, digo ouvir. E é bom, meu amigo... Você não tem noção do quanto é bom.
http://www.4shared.com/file/119696853/8ee3dbe9/Stephane_Grapelli__Philip_Catherine__Young_Django__1979.html
Seu Sônico,
não tô em casa. Tô na casa dos meus velhos.
Quando chegar dou uma sacada.
Brigadão!!!!
Abraços!
Sobre Warne Marsh: ele gravou junto com o tambem saxofonista tenor Peter Christlieb o sensacional disco "Apogee". Foi na decada de 80 e tambem foi lançado no Brasil. Maravilhoso.
Abraço
érico,
passei, ouvi e curti(poec...rs)
fraseado invocado e sopro preciso do konitz...junto marsh, rola um 'mood' musical piramidal.
tô ouvindo aqui...aliás a galera toda tá tocando pacas...valeô o disco.
agora,
naquele tempo de lei seca(embora eu não beba)o crime deveria compensar...rs?
amplexossonoros
Caros Tandeta e Pituco,
Sejam bem vindos.
Pois é, Mr. Tandeta, o Apogee eu tenho - é muito bom e saiu aqui bem baratinho, pela Atlantic / Warner Jazz.
Mr. Pituco, o problema daquela época, para os Capones da vida, era um sujeito chamado Eliott Ness!
Abração a ambos!!!
Érico,
Sua excelente escolha desse CD não menos excelente oferece uma maravilhosa sessão das mais inventivas e afinadas duplas de saxofonistas de jazz.
Caso possua o não menos excelente e indispensável "Lennie Tristano and Warne Marsh", lançado em CD pela Blue Note contendo material de LPs originalmente editados em nome de Marsh em dupla com o também excelente tenorista Ted Brown (salvo erro, gravado para a Imperial) e do sexteto de Tristano do final dos anos 40 (gravado para a Capitol) do qual faziam parte Konitz e Marsh.
São 19 faixas, sendo as 12 primeiras de Marsh-Brown e as demais do sexteto de Tristano.
Destas, a faixa #13, intitulada "Wow", a meu ver contém uma das passagens mais eletrizantes de toda história do jazz.
Explico: Konitz e Marsh tocam em perfeito uníssono o tema (baseado nas harmonias de "You Can Depend on Me", de Earl Hines) e na bridge, em velocidade supersônica absolutamente inenarrável, tocam de um fôlego só um turbilhão (seria melhor dizer um tsunami) de notas incrivelmente sequenciadas sem qualquer falha, que nos tira o fôlego e toda vez que ouço fico embasbacado.
Em 1997, quando Konitz tocou no Free Jazz, falei-lhe sobre essa passagem inacreditável que sempre causou-me espanto e também aos meus amigos. Em meus cursos sobre a história do jazz apresento essa passagem e todos os alunos ficam literalmente petrificados.
Na sua calma habitual, Konitz ouviu-me atentamenre e sorridente, com voz baixa e pausada, disse-me: "Foi uma dessas coisas que acontecem uma vez na vida e nunca mais conseguimos tocar aquela passagem daquela maneira".
Outro ponto importantíssimo dessas gravações reside nas faixas "Intuition" e "Digression", que são os primeiros exemplos gravados de free jazz (isso em 1949, quando ninguém utilizava essa designação). Na ocasião da gravação, os executivos da Capitol a consideraram tão louca, tão sem pé nem cabeça, que a colocaram na geladeira, ou seja, não a editaram em disco. Isso somente ocorreu em 1972, quando integraram um LP de uma série de jazz de discos Capitol lançada na Holanda.
Segue a relação das faixas desse CD com as sessões de Marsh-Brown e Tristano. Caso não tenham, humildemente cometo a ousadia de recomendâ-lo com a certeza de que todos o apreciarão.
Keep swinging,
Raffaelli
Marsh-Brown:
1 Smog Eyes
2 Ear Conditioning
3 Lover Man
4 Quintessence
5 Jazz Of Two Cities
6 Dixies Dilemma
7 Tschaikovsky's Opus #42 Third Movement
8 I Never Knew
9 Ear Conditioning (Mono Master)
10 Lover Man (Mono Master)
11 Jazz of Two Cities (Mono Take)
12 I Never Knew (Mono Take)
Tristano:
13 Wow
14 Cross Current
15 Yesterdays
16 Marionette
17 Sax Of A Kind
18 Intuition
19 Digression
Mestre Raffaelli,
Possuo o disco de que você fala, o qual, não sei porque cargas d'água, recebeu o nome Intuition.
Inclusive ouço agora mesmo a faixa Wow e é belíssima.
Yesterdays idem!!!
E que guitarrista esse Billy Bauer (pena que não tenha nada dele como líder).
Um excelente álbum, verdadeiramente indispensável.
Grande abraço!
Caramba! Não... e a memória desse ser humano!... Como diria o meu amigo Pesca: impsionante.
Érico, tou atento. E claro, não tou à toa.
Falou, Mr. Sônico.
Esse disco é o máximo - vale uma garimpada, mas se quiser te mando!
Deixei um recado pra você no sonic-blog.
Abração!!
Pois é. E finalmente tive tempo de responder à altura do comentário. Se relevares as vírgulas fora do lugar - tenho a maior preguiça de varrê-las depois q escrevo - entenderá tudo.
Outra coisa. Guarde esse nome: "Pesca"! citado aí encima, ele será personagem de uma postagem no blog. Uma história (como sempre real) melhor do que a do Fossa Perfumada - o meu bar temático.
Ah! O disco em questão já tou baixando. E o Billy Bauer (24 hrs?) idem idem.
Érico, eu não durmo no ponto não, pacero.
Mr. Sônico,
Já postei um comentário no sonic-blog e dei uma sacada na pousada que você linkou. É bem bacana, deve ser muito legal passar uns dias por lá.
Tô na fila pelo Bauer, viu?
Abraços.
Érico san, muito bom esse disco do Lee Konitz. Amo esse jazz acetinado da 1ª faixa Topsy, depois o álbum parece que ganha uma aspereza, não? Já o estou baixando pra ouvir com calma.
Amigo, pintou um freela (sempre pra ser desenvolvido em casa) mas o tempo pra ouvir música diminui muito quando esses trabalhos acontecem, mesmo podendo até ouvi-la, a atenção naturalmente se dispersa.
Mas não podia te deixar de falar da descoberta atual, última. Que ouço enquanto escrevo. Muito bom o trompetista, creio q russo - o nome apareceu na busca do Vagif Mustafa Zadeh - o trompetista é Valery Ponomarev (nascido em 1943). Disquinho de 1ª linha o "The Mesenger" (2001) dele. No allmusic o cara tem uns 7 ou 8 álbuns todos bem cotadíssimos, se não me falha, pelo Yanow! Enfim, esse tal de jazz é um túnel muito do reluzente, porém sem chance de encontrar uma saída!
E no enfim 2 a missão, mais uma super aquisição para a discoteca virtual sônica. E, claro, vai tudo no pacote, pode acreditar.
Valeu, Sonic-Boy!!!
E o Zadeh, é bom mesmo?
Abração!
Não tão bom quanto o Ponomarev. Veja a tréplica q deixei reservada para vc:
Em tempo: vou postá-lo (o Ponomarev moscovita) agora! Esse cara não pode esperar um segundo. É um "pare as prensas" legítimo! E vc me dirá se é mero entusiasmo de principiante."
Sentio o poder do moço, né? Se tiver tempo leva o nome no soulseek pra consulta prévia.
Correção Sentiu e trocar soulseek por allmusic.
Valeu, Sonic-boy.
Tô curioso prá ouvir o Ponomarev.
Abração!!!
Tou vendo o jogo. O galo nem é tudo aquilo - no máximo umas graminhas a mais -, e o flusin tbm não é (ou ainda não tá) pinto. Mas, amigo Érico, o que é aquela faixa diagonal na camisa do meu Tricolaço?! Ensaio pra virar Vasco, ano que vem?
É uma abacalhação!
1 a zero. avascalhou divez. Fui.
É, Sonic-boy,
A coisa tá feia. 2 a 1!!! Olha a segundona aí, gente!!!!!!
Somente uma vez na vida consegui ver Lee Konitz tocando ao vivo.Foi na primeira edição do Heineken Festival(depois transformado para Chivas) no teatro Alpha dentro dos domínios do hotel Transamérica em 1999.Não foi um acontecimento memorável.A proposta da direção artística do festival era coloca-lo ao lado do Zimbo trio.O resultado foi uma apresentação fria e absolutamente esquecível.Algum tempo depois encontrei 2/3 do Zimbo na loja de um amigo em q participava semanalmente de uma reunião de apreciadores de jazz por cinco anos - como a turma do clube das terças em Vitória.Questionei-os ,por curiosidade, a razão da ausência de química do encontro e se concordavam com minha opinião.Segundo os músicos o clima já azedara no ensaio.Levaram lps de Konitz para autógrafos e o saxofonista,friamente, limitou-se a assinar burocraticamente seu nome sem dedicatória alguma: quanto mais afetiva.Em 2007 , Konitz retornou para apresentações em São Paulo ,segundo minhas informações, muito boas.Era semana coincidente com a Toots Thilemans pela cidade.Konitz arrumou jeito de dar uma canja numa das noites do gaitista belga.
Caro Edú,
Vi um trecho da apresentação do Konitz com o Zimbo Trio no Heineken Festival, no blog Apenas Jazz (extraído do You Tube.
Me pareceu um encontro bastante alvissareiro, com uma delicadíssima versão de "A Felicidade" - fiquei com água na boca.
Pena que o show, como um todo, não esteve à altura desse delicioso aperitivo e pena que o Konitz tenha sido tão arrogante.
Por outro lado, embora o show tenha sido frio, talvez o resultado em cd tenha sido melhor. Você sabe se foi lançado algum disco após esse show?
O Zimbo Trio é espetacular - tenho alguns discos (Decisão, Tributos aa Elis e Milton, o comemorativo aos 35 anos de carreira, entre outros, além do solo do Luís Chaves).
Grande abraço!!!!
Mr. Érico, Valery Ponomarev "The Messenger" safra 2001 na área.
Nunca!, em termos de uma descoberta própria da 'casa' (importante esclarecer), 42 minutos e 17 segundos passaram tão breves e intensos.
Simplesmente, imperdívelessencial. Vá e veja!
Caros companheiros jazzófilos,
O russo Valery Ponomarev tocou no Rio duas vezes: com os Jazz Messngers, em 1977, e com o sexteto de Benny Golson, no Free Jazz de 2001, num tributo a Art Blakey. Em ambas ocasiões deixou muito boa impressão das suas qualidades.
Na sua vinda ao Brasil com os Messengers ocorreu um fato tão pitoresco quanto bizarro em relação a Ponomarev, que preciso contar. Penso que vocês darão ótimas gargalhadas.
Na época, o Brasil não mantinha relações diplomáticas com a União Soviética, por isso nosso consulado em New York não deu o visto no passaporte de Ponomarev, gerando um sério problema, pois Blakey disse que não viria sem ele.
Mas, como o empresário brasileiro que contratou Blakey era um notório contrabandista que tinha trânsito livre na Polícia Federal e outros departamentos governamentais, não se fez de rogado. Disse a Blakey que fizesse a viagem ao Brasil com Ponomarev, pois ele viria junto e garantia que o trompetista entraria no país sem qualquer problema, pois tinha contatos com o alto escalão governamental do nosso país.
Assim, viajaram os músicos acompanhados pelo fiel escudeiro, o contrabandista. Ao desembarcarem no Rio, o contrabandista vinha na frente do grupo com todos os passaportes na mão. Dirigiu-se ao funcionário do guichê, que, por sinal, era seu velho conhecido, dizendo: "Carimba esses passaportes de músicos que estou trasendo ao Brasil". Não deu outra e o passaporte de Ponomarev, sem visto diplomático, levou o carimbo ade entrada no Brasil sem qualquer problema.
Para evitar suspresas, o contrabandista disse a Blekey que em dois dias regularizaria a situação de Ponomarev, mas até que isso ocorresse, o nome dele deveria ser Earl Gardner (nome de outro trompetista). Feito isto, o nome Earl Gardner figurou na imprensa brasileira nos dias que antecederam aos concertos. O pobre do Ponomarev tremia de pavor só em pensar que pudesse ser preso e deportado, escondendo-se no hotel e no intervalo do set corria para o banheiro do Teatro Carlos Gomes.
Aí reside o pitoresco e o bizarro. Na noite da estréia, Blakey apresentou ao público os músicos do seu conjunto. Como sempre, dizia o intrumento do músico, a cidade e o estado de seu nascimento e finalmente seu nome.
Com aquela voz roufenha muito conhecida dos fãs, assim dirigiu-se ao público:
"Ladies and gentlemen, we are so glad to play in Brasil for the first time. We are the Jazz Messengers and hope you'll like our music. Bur we don't play rock & roll, we play jazz, only jazz, only great jazz.
On alto sax, from Lawrence, Kansas, Bobby Watson; on tenor sax, from Newark, New Jersey, David Schnitter; on piano, from Richmond, Virginia, Walter Davis Jr.; on bass, from Birmingham, Alabama, Dennie Irwin; on trumpet, FROM HARLEM, NEW YORK, VALERY PONOMAREV.
Os músicos riram tanto por uns três ou quatro minutos a ponto de Ponomarev urinar de tanto curvar-se rindo a bandeiras despregadas.
Quando começou o tema seguinte, Walter Davis, Dennis Irwin e Ponomarev ainda riam.
Bom fim de semana e keep swinging,
Raffaelli
P.S. Esse é um fato verídico, não é piada.
Caro Èrico,
não existe gravação em forma de cd.Existe uma gravação integral da apresentação em forma de vídeo gravada pela TV Cultura de São Paulo (tv educativa estadual administrada pela Fundação Padre Anchieta).Quanto ao Zimbo trio, não vou discorrer sobre sua opinião.Na minha opinião,o melhor trio instrumental brasileiro é o Tamba.O Tandeta fica indignado mas - não resisto – li não sei aonde, q a Convenção de Genebra proíbe a audição de discos do Zimbo na totalidade em interrogatórios privados com prisioneiros de guerra(rs,rs,rs).
Prezado Mestre Raffaelli, agradecido por mais uma verídica e deliciosa história.No entanto, o Brasil já tinha relações diplomáticas(distantes na verdade) com a então URSS em 1977.Foi época em q o esquecível ministro da justiça proibiu a exibição da gravação do Lago dos Cisnes pelo balé Bolshoi na rede Globo (no programa Concertos Internacionais) pela influência ideológica nociva q isso poderia trazer aos telespectadores.Ponomarev poderia justificar seu sotaque como munícipe de Moscou – cidade homônima do estado de Nova Iorque.
Que história, senhores!...
Sempre, ver o artista humanizado sem aquela distância mesmo a distância de quando assistimos a ele em telas ou sob as luzes da ribalta, é o q me dá mais prazer. Agora Ponomarev tornou-se mais real pra mim. E com ele, claro Art Blakey... e o que dizer do contrabandista que se é capaz de formar uma imagem, que seja clichê na idéia?
Excelente! O legal dos blogs é isso também, o “dono” deixa a porta destrancada e as pessoas entram contam suas histórias e assim vai-se aprendendo.
Abraços a todos.
Art Blakey e os Jazz Messengers tocaram no Rio em 1977 no Teatro João Caetano,não no Carlos Gomes. Eu estava la. Claro que esse detalhe em nada muda essa engraçada historia contada pelo Raffaelli. Lembro bem de outra coisa que por envolver substancias proibidas pela lei prefiro não contar. Mas deu pra ver tudo.
O importante foi a musica: sensacional. Todos eram excepcionais musicos de jazz e pra mim isso é a recordação que acho importante desse concerto. Eu ja era musico profissional,iniciante claro ,tinha 19 anos, e conhecia varios discos de Blakey e ele ao vivo era melhor ainda. A partir dai passei a "escarafunchar" os discos do Mestre.
Tambem lembro de um vizinho ,bem mais velho que eu,metido a grande conhecedor de jazz,mas que era na verdade um tremendo bicão.Ao me encontrar na rua uns dias apos o concerto de Blakey ele me perguntou com a maior cara de pau: "voce não achou que aquele baterista fez muito barulho?" Fiquei olhando pra cara dele sem dizer uma palavra,o silencio era a unica resposta possivel para o bicão.
Edú:
ja falei varias vezes que pra nos musicos brasileiros o Zimbo Trio é motivo de orgulho.Estudei na escola deles,o CLAM, em 1978,voce devia estar de fraldas ainda, e foi muito bom pra mim. Sei que voce não gosta de um deles mas assim é a vida : desfrutamos da arte mas devemos esquecer o artista.
Abraço
Caros Sérgio, Raffaelli, Edú e Tandeta,
É uma grande honra para o JAZZ + BOSSA receber visitantes tão ilustres. Obrigado pelas presenças calorosas.
E a história do Ponomarev é ótima (tão boa quanto o seu disco The Messenger). Duas faixas excepcionais, antológicas - Escape From Gorki Park e Messenger From Russia, mas as outras também são ótimas.
Seu Sônico, grave esse nome: Dado Moroni. Não preciso dizer mais nada, né? E, se possível, consiga para nós o disco Ilumination, do Walter Davis jr. sobre o qual ouvi falar maravilhas (saiu pela Denon e tá só 89 dólares no Amazon - é brincadeira, né???)
Quanto ao Zimbo Trio, seu Edú, não sabiaa dessa sua, digamos, pouca afinidade com o som dos caras.
Pô, eles são maravilhosos. Tanto quanto o Tamba Trio, de quem, infelizmente, possuo bem pouca coisa.
E concordo com o Tandeta. Às vezes a gente tem que esquecer o artista e focar só na suaa obra (o que, decerto, é algo um pouco difícil).
Abraços fraternos aos quatro!!!!
Independente da minha opinião a respeito particularmente de um determinado integrante daquele grupo jamais esqueci de um programa q apresentaram na TV Culura naquela época em q meu irmão mais velho - André Tandeta - estudava no Clam.Eles promoviam jams com diversos músicos de diversas formações e tendências e diretamente com meus seis anos de idade foram uma espécie de bússola de orientação na busca do caminho q se leva ao jazz - estilo musical q amo.Mais tarde, tive chance de conhecer o Luiz Chaves, o músico brasileiro mais fidalgo e generoso q conheci em vida.Tenho opinião q os discos do grupo são, fora raras exceções, um imenso tédio (excluiria as gravaçoes com Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim no teatro João Caetano).Ao vivo,todavia,fazem um espetáculo bem razoável e bastante profissional.O Clam é ainda um importante centro de aprendizado e formação musical.De suas salas e estudios surgiram além do estimado Tandeta,Eliane Elias ,Nico Assumpção e diversos músicos de primeira linha q fazem importante carreira aqui ou lá fora.Prezado Èrico em breve trataremos de corrigir essa desinformação sobre o Tamba se assim o permitir.
Edú,
lamento pelo erro de calculo em relação a sua idade,imperdoavel.Em 1978 quando eu estudava no CLAM, em com o saudoso Chumbinho,em voce despertava esse saudavel interesse pela musica e pelo jazz. Respeito muito sua opinião mesmo discordando totalmente,mas é dai que surgem discussões interessantes. Como memoria afetiva e musical eu acrescentaria que o disco ao vivo com Jacob e Elizeth era o que meus pais mais ouviam justamente na epoca que comecei a tocar bateria,40 anos atras.Pela insistencia ainda vou aprender,e conto com a sua ajuda e dos demais amigos (Erico,Lester,a turma do CJUB...)
Abraço
Mestres Edú e Tandeta,
Em primeiro lugar, estou à disposição para receber todos os ensinamentos possíveis (sobretudo auditivos), do Tamba Trio, cujos discos hoje são verdadeiras raridades (só tenho duas coletâneas, com muitas algumas músicas repetidas).
Pô, Seu Mr. Edú, sei que você deve conhecer o Decisão, do Zimbo + Metais, mas dá uma ouvidinha com carinho - talvez você o acrescente à sua lista de exceções.
Pois é, Sr. Modesto Tandeta, enquanto você não aprende a tocar bateria, pode continuar nos brindando com preciosidades como o "Uma guitarra no Tom". Estou aguardando ansiosamente o lançaamento do disco da Jane Duboc, onde ela interpreta canções do repertório de Ella Fitzgerald e onde os genetosos e talentosos Victor Biglione, Sérgio Barrozo, Pantico Rocha e Marco Tommaso "deixaram" o "aprendiz" Tandeta brincar com bateria lá no set de gravação!!!!
E, Mr. Edú, valeu pela dica da Pops Discos - dei uma passada lá e achei coisas bem interessantes, com um preço bem melhor que o da Cd Point e da Laserland.
Um aabração aos dois.
Mano velho, espero apenas preocupar-me em usar fraldas novamente na ocasião em q meus avós tiveram q usar(ele com 83 e ela com 88 anos)rs,rs,rs.Da discussão saudável de um assunto q apreciamos podem ocorrer às diferenças opinativas mas tb surge a admiração pela veemência e ardor com q se defendem nobres idéias.O Zimbo trio adicionou Itamar Colaço no lugar do Luiz Chaves demonstrando preocupação em alojar talentosos músicos na estrutura do grupo.Eles um “know how” profissional e artistico q provavelmente nenhum trio instrumental brasileiro detém.Isso não vem de graça é fruto de trabalho,dedicação e ,sobretudo, perseverança.Quanto a qualidade artística de seu trabalho,principalmente as gravações, tenho minhas reservas mas não impede q os respeite como abnegados na defesa da musica instrumental brasileira de qualidade por mais de quarenta anos.Lembrei agora da hora e dia dos seus programas na TV Cultura (terça às 21:00) acho q se chamava Zimbo Convida.Caro Èrico, não vamos fazer publicidade da loja daquela senhora irascível sem concessão de algum desconto na hora das compras rs,rs,rs.Abraço e bom final de semana aos amigos.
Valeu, Seu Mr. Edú,
Vou dizer lá na loja que já fiz referência a ela no meu modesto bloguinho (talvez isso me garanta um bom desconto, não é?).
Grande abraço!!!
Erico,
nda tenho de modesto ou humilde. Humildade e modestia são qualidades para os santos da igreja catolica.Eu como tenho outra fé acredito na inteligencia, no talento e sobretudo no esforço,bota esforço nisso. Desde que comecei a frequentar os blogs dedicados ao jazz,começando pelo CJUB uns 3 anos atras, tenho aprendido muito e esse aprendizado tem me ajudado a desenvolver meu estudo de musica e de bateria. As suas resenhas ,as do Edú e do Lester,la no Jazzseen são verdadeiros pontapes iniciais em maratonas de estudo e pesquisa que venho desenvolvendo. No CJUB o amigo Apostolo esta pra recomeçar sua serie de biografias/ discografias de grandes nomes do jazz. As que foram postadas ate agora pra mim foram verdadeiras lanternas apontando os tesouros a serem descobertos com estudos musicais mais tecnicos.
Só posso dizer como meu Mestre e amigo wilson Das Neves:Oh Sorte!
Abraço
Mais uma coisa: Wilson Das Neves ira lançar mais um disco com suas maravilhosas composições ainda no segundo semestre.Estou nele.
Abraço
Grande Tandeta,
Aguardemos o disco do Mestre Wilson das Neves e que o Grande Apóstolo volte a escrever com regularidade as biografias dos nossos adorados jazzistas - o CJUB é uma verdadeira universidade, fonte permanente de consulta e troca de informações (como também são o jazzseen e o jazzbackyard).
O Edú é um lord inglês - acho que vou acrescentar o "Sir" ao nome dele - conhece tudo, é impressionante (e tem tudo!!! - até o Dado Moroni, que eu imaginei que fosse uma "descoberta" minha).
IMPORTANTE: O Celijon está produzindo o Projeto Jazz da Gema (um bar/restaurante que tem trazido grandes nomes do choro e do samba - o último foi o Nicholas Krassik - e que agora desponta como um agradável reduto do jazz.
Disponibiliza o teu e-mail ou o telefone e vamos ver se conseguimos (já estou me metendo nessa) trazer você e o Biglione ou o seu trio para um show aqui em São Luís (ia ser muito bacana se conseguíssemos).
Grande abraço!!!
Prezado Edu,
Só para esclarecer: na
ocasião, o empresário- contrabandista informou ao patrocinador da temporada dos Jazz Messengers (leia-se Jornal do Brasil, onde eu trabalhava em 1977) que o Consulado Brasileiro não dera o visto no passaporte de Valery Ponomarev porque o Brasil não mantinha relações diplomáticas com a União Soviétiva.
Keep swinging,
Raffaelli
Prezado Mestre Raffaelli,
o Brasil restabeleceu relações diplomáticas com a URSS durante os oito meses do mandato do presidente Jânio Quadros em 1961.Em 1977, ano dos meus cinco anos, alguns contrabandistas eram figuras confiáveis nos seios familiares(pelo menos no meu).Afinal abasteciam a despensa dos lares brasileiros com o garantido produto escocês engarrafado e mantido em tonéis por oito anos,pelo menos.Produto pelo qual o ex-presidente nutria insaciável predileção.Abraço.Edú.
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