Amigos do jazz + bossa

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A DISCRETA ELOQÜÊNCIA DE UM MESTRE DA GUITARRA


Poucas vezes na história do jazz a capa de um disco disse tão pouco acerca de seu conteúdo quanto a deste extraordinário “A”. Um emaranhado de arame farpado paira, ameaçador, diante de um fundo azul celeste. Talvez a imagem, sombria ao extremo, fosse mais adequada a estampar a capa de um disco de heavy metal. Ou, talvez, a idéia por trás do uso de tão emblemático ícone, que de imediato se associa a prisões ou campos de concentração, seja alertar o ouvinte: cuidado! Por trás do fraseado sutil e relaxado do líder da gravação se esconde um dos músicos mais versáteis e bem dotados, do ponto de vista técnico, que já caminharam pela face da terra. Um verdadeiro lobo em pele de cordeiro ou um ferocíssimo tubarão branco fantasiado de afável golfinho. A se observar a capa por essa perspectiva, então talvez ela diga bastante acerca do álbum e do músico em questão.


Se é certo que a guitarra jazzística tem em Barney Kessel, Wes Montgomery e Joe Pass a sua Santíssima Trindade, não é menos verdade que Jimmy Raney, Jim Hall e Tal Farlow estão bem ali, coladinhos aos três primeiros, disputando cabeça a cabeça uma vaga nesse Olimpo. Aplicadíssimo discípulo do pai fundador Charlie Christian, Raney é um virtuose na mais completa acepção do termo, com total autoridade e absoluto domínio de todas as nuances do seu instrumento, tendo se consagrado como o mais completo dos guitarristas ligados ao cool jazz. De quebra, ainda é um compositor de grande inventividade, com uma obra bastante significativa, que inclui “Minor”, “The Flag Is Up”, “Jim’s Tune”, entre outras.


Da linhagem a que pertencem alguns dos músicos mais melodiosos do jazz, como os saxofonistas Paul Desmond e Lester Young, os pianistas Tommy Flanagan e Hank Jones e os trompetistas Art Farmer e Enrico Rava, Raney agrega a seu fraseado lírico e fluente uma agilidade incomum. Sobre sua maneira de tocar, é necessário que se diga que o guitarrista nunca soube o que é extrair uma nota áspera do seu instrumento. Transitando do mais feérico bebop à mais lânguida das baladas, há uma doçura natural em seu fraseado, que envolve a música tão ternamente quanto um macio chumaço de algodão envolve um precioso conjunto de cristais da Boêmia. Outra característica marcante é a eloqüência de suas frases, calcada em uma aparentemente contraditória economia de notas: Raney é daqueles músicos que privilegia os substantivos e dispensa os adjetivos inúteis, conseguindo, com isso, dizer muito falando bem pouco.


Nascido em 20 de agosto de 1927 em Louisville, Kentucky, James Elbert Raney começou a tocar profissionalmente bastante cedo. Aos 19 anos pontuava no combo do pianista e vibrafonista Max Miller, em Chicago. Em seguida, breves passagens por orquestras de swing – Woody Herman e Artie Shaw – e colaborações com artistas como Buddy DeFranco, Terry Gibbs, Al Haig e Jimmy Lyon. Permaneceu alguns anos com Stan Getz (de 1951 a 1952 e, novamente, de 1962 a 1963) e substituiu Tal Farlow no trio de Red Norvo (de 1953 a 1955). Ao mesmo tempo, desenvolveu uma carreira solo primorosa, com direito a ótimos álbuns, como “2 Guitars” (no qual divide o estúdio com o não menos talentoso Kenny Burrell) e “Jimmy Raney Featuring Bob Brookmeyer”, ao lado do trombonista preferido de dez entre dez músicos do West Coast jazz. De semelhante estirpe, “A” se inscreve com galhardia entre os melhores trabalhos de Raney.


Nas gravações do álbum, Raney contou com a preciosa participação de Hall Overton (piano), Teddy Kotick (baixo) e Art Mardigan (bateria) nas faixas “Minor”, “Some Other Spring”, “Double Image” e “On The Square”. As demais sessões contam com o eficiente trompete de John Wilson, sendo que Nick Stabulas substitui Mardigan na bateria. No repertório, algumas composições do líder e vários standards, que ganham versões que variam do soberbo ao sublime. O disco foi gravado nos dias 28 de maio de 1954 (faixas 1 a 4), 18 de fevereiro de 1955 (faixas 5 a 8) e 08 de março de 1955 (faixas 9 a 12) e é considerado um dos pontos culminantes da carreira do guitarrista.


Não é para menos. Bebop de excelente safra pode ser ouvido nas faixas “Minor” (de autoria do próprio Raney, mas baseada na incandescente “Bernie’s Tune”, de Bernie Miller, Jerry Lieber e Mike Stoler), “Double Image” (que evoca “There Will Never Be Another You” em alguns momentos) e “On The Square”. O guitarrista dedilha seu instrumento com precisão e criatividade, elaborando solos que encantam tanto pela velocidade quanto pela articulação das frases e o diálogo que mantém com Overton, pianista de formação clássica e de grandes recursos técnicos (chegou a elaborar arranjos para ninguém menos que Thelonious Monk), é dos mais fluentes.


Emérito baladeiro, em “You Dont Know What Love Is”, “Whats New” e “Someone To Watch Over Me”, quem dá as caras é o lado romântico de Raney, que extravasa lirismo e delicadeza a cada acorde. Nessas três músicas o diálogo mais veemente é travado com o trompetista Wilson, egresso da orquestra de Les Elgart, que exibe um elevado senso melódico e um inegável bom gosto. Belíssimo trabalho de Stabulas, enquanto o piano de Overton funciona como um discreto interlocutor, mantendo o eixo harmônico centrado nas intervenções da guitarra e do trompete. Na deliciosa “One More For The Mode”, talvez a melhor faixa do disco, o guitarrista faz uma releitura de um tema de Bach, mostrando que a distância entre o autor dos célebres Concertos de Brandenburgo e Charlie Parker não é tão grande assim.


Em “Tomorrow Fairly Cloudy”, um bebop classudo e nada óbvio de autoria de Raney, Wilson demonstra a sua habilidade também na execuções em andamento mais rápidos, o que se confirma ao se ouvir o seu excelente solo em “Cross Your Heart”. “A Foggy Day”, dos irmãos Gershwin, e “Spring Is Here”, da dupla Rodgers e Hart, também ganham versões mais aceleradas, com ênfase, desta feita, no piano de Overton, embora, em ambas, os solos do líder e do trompetista também sejam muito bonitos. Importa salientar que durante todas as 12 faixas as mãos firmes e eficientes de Kotick se encarregam de mostrar porque ele é um dos baixistas mais confiáveis (sempre foi um dos preferidos de Bird) da história do jazz – apesar de habilíssimo, pouco solava, concentrando sua energia na marcação.


No final da década de 60, desiludido com a escassa oferta de trabalho e imerso em problemas com álcool, Raney voltou à cidade natal e passou quase dez anos sem gravar. Em 1975, foi contratado pela gravadora Xanadu, pela qual lançou alguns ótimos discos. Nos anos 80, passou a gravar pela Criss Cross, tendo produzido excelentes álbuns, sempre no formato de trio ou quarteto. Seu filho Doug, além do sobrenome, herdou do pai o enorme talento e é um dos maiores nomes da guitarra jazzística em atividade. Jimmy sofreu, a partir de meados da década de 70, uma rara doença degenerativa, chamada Síndrome de Meniére, que provocava perda progressiva de audição, vertigens constantes e labirintite. Juntou-se à grande orquestra celestial (onde, diz-se, os neons nunca se apagam e o bourbon jamais termina) no dia 10 de maio de 1995, mas deixou uma obra respeitável, na qual “A” se destaca como um dos momentos mais encantadores.


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PS.: Post dedicado ao meu querido amigo Jarbas Couto e Lima, cuja presença luminosa é um oásis de inteligência e lucidez nas vidas daqueles que, como eu, têm a honra de privar de sua amizade.

40 comentários:

O Pescador disse...

Viva Érico.

Você não dá ponto sem nó!
Brilhante escrito sobre "Raney pai" e a guitarra jazz. Mas, cá para mim, esqueceu-se propositadamente de fazer referência a um dos meus guitarristas preferidos, Grant Green. Estou certo?
Deixo aqui uma sugestão para apreciar os talentos de "Raney filho": o CD "The touch of your lips", onde toca em trio com Chet Baker e NHOP.
Ah... E estava brincando ao querer estabelecer um paralelo entre Parker e João Sebastião, hem? :-)

Saudações amigas do Pescador.

Érico Cordeiro disse...

Caro Pescador,
É sempre um prazer tê-lo aqui no JAZZ + BOSSA. Saudações transatlânticas.
É verdade, cometi uma omissão quanto ao Gree (que é, certamente, o guiterrista de quem possuo mais material e um dos que mais gosto). Mas é que há um certo consenso entre os três nomes que citei - e creio que o Kenny Burrell, além do Green, também pode brigar por uma vaga nessa constelação!
Quanto ao Doug, anotei a sugestão e haverei de procurá-lo - NHOP e Baker, ainda por cima!!!!!!!!!
Quanto à ponte entre Bach e e Bird, creio não ser algo tão impossível assim.
O meu amigo André Tandeta, em um comentário sobre o disco do Charles McPherson também compartilha essa mesma opinião. Imagina só o que esses dois não estão aprontando lá nas jams celestiais!
Um abraço fraterno do lado de cá do Atlântico!

Salsa disse...

A guitarra é um instrumento que me fascina. Desde tenra infância admiro sua sonoridade. Raney é um deses caras que fazem certos desejos retornarem. Se, hoje, eu não toco guitarra isso se deve às neuras relacionadas a um acidente (também na infância) que imobilizou parcialmente dois dedos da minha mão esquerda (não imaginava que poderia tocar só com o dedão, a la Montgomery, ou como Django...). Tenho me virado com o saxofone, mas ainda dá tempo para tirar um sonzinho daquela caixa sinuosa e esquia.

José Domingos Raffaelli disse...

Erico,

Excepcional a escolha de Jimmy Raney, que a meu ver nunca foi devidamente valorizado, apesar de muitos músicos e conhecedores reconhecerem suas excelsas qualidade. Nos anos 70, a pedido de meu amigo Jonas Silva, diretor da gravadora Imagem, numa viagem a New York visitei Don Schlitten, proprietário da gravadora Xanadu, a fim de tentar conseguir a representação do seu consagrado selo no Brasil. Após cerca de duas hora de conversa, Don e eu nos identificamos devido ao nosso gosto pelo jazz e o pré-contrato foi redigido, sendo o documento oficial assinado posteriormente por Jonas e devolvido a Don.
Feito o acordo, a Imagem lançou cerca de 15 ou 20 LPs da Xanadu (não lembro exatamente quantos) e Don ficou contentíssimo quando enviei-lhe recortes do Jornal do Brasil com as críticas que escrevi sobre os lançamentos Xanadu.
Naquele encontro com Don, após as demarches para sacramentar a representação da Xanadu pela Imagem, a convite dele fomos almoçar e durante cerca de quatro horas o ágape transformou-se num papo tão alegre e descontarido sobre jazz que parecíamos velhos amigos. No almoço ele disse-me que Jimmy Raney era o maior guitarrista de jazz de todos os tempos.

A história da guitarra no jazz é riquíssima de talentosos músicos que escreveram musicalmente seus caminhos, do pioneiro Eddie Lang a Django, Eddie Duhram e Charlie Christian, este desbravando novos horizontes juntamente com os pioneiros do bebop.
Poderia mencionar dezenas de guitarristas que contribuiram para a evolução e a consolidação do instrumento em várias etapas da história do jazz, mas os confrades deste blog conhecem de sobra quais são, além de uma plêiade de jovens que despontaram a partir dos anos 80 e 90.

Em junho de 1998 fui a New York cobrir o JVC Jazz Festival pra o Globo. Uma das maiores atrações foi a noite do "Tributo a Barney Kessel", abrilhantada por 17guitarristas, entre eles Tal Farlow (que faleceu um mês depois), Doug Raney, o veteraníssimo Les Paul, Kenny Burrrel, Pat Martino, Rodney Jones, Mark Whitfield, Peter Bernstein, Jim Hall, Joe Diorio, Kurt Rosenwinkel, Jimmy Bruno e outros que não lembro agora.
Antes do número final, a esposa de Barney Kessel adentrou ao palco empurrando a cadeira de rodas do marido, que, devido ao seu estado de vida vegetativa, não falava e estava inteiramente alheio ao que se passava. Dava pena vê-lo naquele estado. Sua esposa agradeceu a homenagem e, com Kessel ainda no palco, os 17 guitarristas, formando uma semi-círculo, encerraram a noite em grande estilo tocando "Salute to Charlie Christian", composição de Barney kessel. Embora o homenageado estivesse alheio a tudo, sua esposa caiu em pranto convulsivo quando reconheceu o tema, tendo sido confortada e emparada por alguns guitarristas.
Foi uma noite emotiva e muitos espectadores também não se contiveram, deixando a sala com os olhos marejados de lágriams.



Keep swinging,
Raffaelli

Salsa disse...

PS - Soube que estás à cata de discos do McPherson. Tive notícias de alguns discos dos anos setenta: Today's man (73), Siku Ya Bibi (72)
Encontrei o "Charles McPherson" (71) na rede: http://uploading.com/files/NPTGDDK8/CharlesMcPherson_CharlesMcPherson.zip.html
O jazzlover indicou outro endereço em que é possível achar um disco interessante em que McPherson é convidado de Barry Harris - Newer than new: http://rapidshare.com/files/94750649/bh1077ntn.rar

Érico Cordeiro disse...

Caros Salsa e Raffaelli,
É muito prazeroso encontrá-los aqui no JAZZ + BOSSA. Obrigado pela visita.
No caso da guitarra, também gosto muito da sonoridade desse instrumento no jazz. Além da "Santíssima Trindade", Raney, Hall, Farlow, Green, Burrell, Pizzarelli (pai e filho), Coryell (quando se dedica a tocar jazz é maravilhoso), Ellis (outro craque!!!) e Bireli Lagrene (acho que da nova geração, é o que mais gosto) são sempre muito bem vindos na minha vitrola. No Brasil, adoro o Hélio Delmiro (que não fica nada a dever a esses mestres todos) e o Roberto Menescal (o disco Bossa Evergreen, em que ele toca só guitarra elétrica é uma aula magna sobre o instrumento).
Mestre Raffaelli, a homenagem a Kessel deve ter sido emocionante - que seleção de craques!!!
Dentre os pais fundadores, também é de se destacar o Oscar Moore, de quem, infelizmente tenho pouquíssima coisa.
Mestre Salsa, o Newer Than New é lindíssimo - está bem aqui no célebre montinho das futuras postagens. Mas os outros não conheço - situação que não haverá de perdurar por muito tempo, é claro!!!!!
Obrigado pelas dicas e um fraterno abraço aos dois!!!!

Érico Cordeiro disse...

Caros Salsa e Raffaelli, permitam-me um post scriptum:
1 - Mr. Salsa, o que o impede de tentar adentrar nos sinuosos territórios da guitarra jazzística e, assim, nos deliciar com a sua habilidade musical (não creio que o rigoroso Mr. Lester fosse tecer entusiasmados elogios aos seus predicados se isso não fosse verdade).
2 - Mestre Raffaelli, existe alguma possibilidade do Sr. Jonas, outro grande cruzado pela boa música nesse país, reeditar em cd o antigo catálogo da gravadora Imagem. Pelo que sei, além da Xanadu, também distribuía álbuns maravilhosa Steeplechase.
Acho que nós da comunidade blog-jazzística poderíamos nos unir em torno desse projeto, conseguir patrocínios e tentar viabilizar o retorno às lojas desse precioso selo, ainda que com tiragens pequenas.
Sônico, Lester, Salsa, Edú, Pitta, Apóstolo, Lula, Tandeta, Beto, que tal nos unirmos nessa cruzada?
Creio que não teríamos problemas de divulgação em mídia - além da internet, tenho certeza de que veículos da imprensa escrita (a começar pela Jazz +, além de jornais como a Folha de São Paulo, JB e o Globo) veriam com bons olhos a iniciativa.
Mestre Raffaelli, você poderia encaminhar os contatos com o Sr. Jonas? Se tudo der certo, você vai ficar encarregado (sugestão minha) da elaboração das liner notes ou da tradução das mesmas, acaso existentes. Que tal?
Vamos tocar esse projeto prá frente?
Da minha parte já estou de chuteiras, meião, caneleiras e uniforme, pronto prá entrar em campo!!!!
Creio que o Tandeta, um músico respeitado e querido, com um bom relacionamento com o pessoal da Modern Sound, pode levar para aquela casa a idéia. São muitas as possibilidades.
Um carinhoso abraço e, por favor, vamos pensar com carinho nessa idéia - não creio que seja uma quimera, mas algo possível de ser feito!!!!

APÓSTOLO disse...

Prezado ÉRICO:

Como indicação sobre guitarrista, sugiro percorrer o site "http://www.myspace.com/hotclubdepiracicaba", que hospeda alguma dezenas de cultores da guitarra, particularmente no que se refere a DJANGO REINHARDT.
O "HOT CLUB DE PIRACICABA" é uma criação do Juiz da Vara de Família de Piracicaba / SP, JOSÉ FERNANDO, cidadão da mais alta simpatia e cultor de DJANGO e de JAZZ.
Tive a honra de apresentar o grupo em Piracicaba, quando do lançamento do CD inaugural do grupo.
Não se trata de uma formação fixa, mas de um "espaço" onde músicos se encontram para "jam's" (estão apresentando-se nesta 6ª feira, 26/06, na Livraria Cultura da Avenida Paulista, em conjunto com a "Traditional Jazz Band").
É visitar o site e conferir a iniciativa dos "meninos" de Piracicaba.

Érico Cordeiro disse...

Caro Apóstolo,
Já tinha ouvido falar do Hot Club de Piracicaba, creio que no próprio CJUB, mas nunca tive a oportunidade de ver/ouvir nada deles. Inclusive, fiquei bastante interessado por esse cd. Vou dar uma procurada.
Obrigado pela dica. Não obstante, o que você achou da idéia de tentarmos "resgatar" o selo Imagem, com um catálogo interessante, tiragem pequena e preços acessíveis? Acho que é bastante viável - e o pessoal do CJUB pode ser de enorme valia nessa luta.
Grande abraço.

José Domingos Raffaelli disse...

Érico,

Sua idéia é ótima, porém há muitos anos Jonas Silva não mais detém os direitos de representação dos selos Xanadu e SteepleChase. Esses contratos foram encerrados há anos. Além disso, com os contratos cancelados, a Imagem obrigou-se a devolver os tapes masters para copiar a prensagem brasileira, de acordo com cláusulas contratuais. Por outro lado, tal como a Imagem, a Xanadu encerrou suas atividades há muito tempo e Don Schiliten já recusou um monte de ofertas para ceder seus direitos a gravadoras americanas e européias. Motivo: ele sempre declarou que de forma alguma queria que seus discos fossem editados em formato de CD porque "TODOS OS DISCOS TRANSPOSTOS PARA CD JAMAIS SOAM COMO OS ORIGINAIS, O QUE PREJUDICARIA A IMAGEM DA XANADU QUE ELE SEMPRE PRESERVARÁ."
Certo ou errado, é a decisão dele.
É pena, mas é a realidade, além do fato de a gravadora Imagem não existir mais juridamente porque há muito deu baixa nos respectivos órgãos que controlam as atividades comerciais das empresas.

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
É uma notícia bastante triste, pois acho que seria uma boa idéia. Creio que além da Warner (com seus lançamentos bissextos pelo selo Warner Jazz), da Universal(que também nos dá a honra ocasional de ver lançados por aqui discos dos selos Verve e Impulse), da Sony BMG (que até disponibilizou muita coisa dos catálogos da Columbia e OJC) e da EMI (com mais bissextos ainda lançamento de discos da Blue Note), nenhuma outra gravadora se aventura a lançar por aqui discos de jazz. O que chega é de artistas "do momento", como Brad Mehldau ou Jammie Cullum (nada contra, mas precisava ser tão minguada a oferta?).
Já faz tempo que o ouvinte de jazz brasileiro está órfão. Se quiser comprar discos, tem que apelar para importadoras cujos preços são proibitivos ou comprar diretamente nas lojas estrangeiras, mas pagando fretes bastante elevados e impostos idem.
Acho que há um nicho de pessoas com bom conhecimento musical e razoável poder aquisitivo que poderiam manter em atividade uma gravadora de pequeno porte, com tiragens pequenas, estrutura enxuta e catálogo de qualidade.
Se a Imagem não pode mais desempenhar esse papel, porque outras não se arriscam nessa empreitada? Representar um selo pequeno, mas de qualidade (e o jazz talvez seja o estilo em que mais atuem gravadoras com esse perfil), para além da satisfação pessoal de quem enveredasse por esse caminho, tambbém poderia ser uma excelente oportunidade de negócios.
Repito: há um mercado ávido por consumir música de qualidade a preços razoáveis. Os executivos das gravadoras querem vendagens astronômicas, com artistas efêmeros. Ora, o público que eles mesmos criaram é bastante infiel, o que não é o caso de quem gosta de jazz. O sujeito que ouve ivete hoje amanhã ouvirá bruno e marrone, trocando uma porcaria pela outra sem qualquer remorso.
O ouvinte de jazz, embora se disponha a ouvir coisas novas, sempre faz a opção pela qualidade. Nunca vai deixar de ouvir Parker, Davis, Garland, Evans.
É esse ouvinte/consumidor que está órfão, refém de importadoras que cobram preços escorchantes.
Continuo achando que é possível e viável, aconomicamente, um empreendimento dessa natureza.
Senhores empresários, por favor, arrisquem-se!!!!
Um abração, mestre e desculpe a verborragia!!!

edú disse...

Prezado Èrico , desculpe interferir no papo.Apesar de ter prestado uma pequena ajuda na edição de dois lps históricos a se tornarem cds.E ter me disposto - um pouco antes da morte do Moacyr -a pagar de meu bolso a produção física de 3 mil cópias de alguns registros q ele havia gravado num restaurante paulista com o trio,percebi,pela experiência, q esse é um trabalho absolutamente desmotivador a quem preza realmente música.Meu amigos Charles Gavin e Ronaldo Bastos q tem os contatos, iniciativa, energia e ,principalmente, vontade em não renunciar nas imensas dificuldades se encarregaram com competência a fazer isso.O mercado de música , infelizmente, esta aniquilado, entre outras razões pela pratica abusiva, desregrada e absolutamente ilegal do download .Foi um tiro no próprio pé.

Érico Cordeiro disse...

Caro Edú,
Infelizmente o panorama que você descreveu é desolador. Todavia, creio que ainda é possível encontrar um nicho mercadológico (pequeno, por certo, mas fiel) que mantenha com a música e com seus discos uma relação lúdica.
Pessoas que como eu (e acredito que como você) fazem do ato de comprar um cd um verdeiro ritual. Pessoas para quem abrir a caixinha e ler a ficha técnica são atos tão prazerosos quanto a audição do próprio disco.
Não tenho nada contra os downloads - acho válido, sobretudo quando se trata de conhecer um artista (foi assim que descobri o Michael Mossman, o Eugene Maslov e o Danny Gatton e confesso que não apenas gostei bastente dos três como fiquei interessado em conhecer mais de suas respectivas produções) ou para adquirir um cd raro, como sucedeu com um disco do Horace Tapscot (certamente irei baixar os discos do Kenny Drew para a Xanadu, pois segundo o Mestre Raffaelli não há a menor possibilidade daquela gravadora disponibilizar em cd as obras de seus artistas - o que creio ser um erro, pois evita que as novas gerações tenham acesso a essas obras).
Agora, confesso que não gosto muito desse formato, pois o som nunca fica com a perfeição do cd e você não tem as linner notes e a ficha técnica (acho que todo jazzófilo é chato - parece que um disco sem liner notes, ficha técnica, data de gravação, relação dos músicos é incompleto, capenga).
Pergunto a você, que tem trânsito com os jornalistas da área cultural, músicos e produtores (em especial com o Charles Gavin): quantos discos a Warner vendeu com o (re)lançamento de discos da Atlantic (Sonny Stitt, Coltrane, MJQ, Bill Evans, etc). há alguns anos? Será que você podia conseguir esssas informações, para que possamos ter um parâmetro?
Eram edições caprichadas, com faixas bônus, linner notes, fotos, etc. e a preço muito razoáveis - comprei pelo menos uns quinze discos dessa série, com preços entre R$ 15,00 a R$ 20,00. Um valor que creio ser justo, para a qualidade do produto.
Pergunto, ainda: será que os gênios das gravadoras não perceberam que dificilmente vão encontrar um artista capaz de vender um milhão de cópias? Não seria mais inteligente ter um público fiel, relativamente conservador do ponto de vista dos downloads, com poder aquisitivo que lhe permita adquirir uns 10 ou 20 discos por mês, nessa faixa de R$ 15,00 a R$ 20,00?
Será que no Brasil inteiro não temos aí umas duas mil pessoas com esse perfil? Seriam então 20 a 40 mil discos vendidos por mês para esse público, o que no ano significa quase 500 mil cópias.
Para um mercado em crise e um estilo que historicamente possui uma fatia insignificante do mercado como o jazz, acho que esses valores são expressivos.
Repito e tenho convicção: um catálogo como o da Blue Note, da Verve, da Atlantic (e da Colectables), da Impulse, da OJC (que vinha sendo distribuído com certa regularidade pela Sony/BMG), da Columbia não ser distribuído no Brasil, nessas proporções, com um trabalho de mídia inteligente, de acordo com o perfil do possível consumidor (revistas e jornais, TV por assinatura), é burrice.
Isso obriga esse consumidor a recorrer às importadoras e adquirir cds que, acaso fossem lançados aqui, custariam um terço do preço. O mesmo ocorre com quem se dispusesse a distribuir os catálogos das pequenas gravadoras, pois num mundo prenhe de banalidade e vulgaridade o jazz ainda tem uma certa aura de produto "sofisticado" - vamos aproveitar isso!!!!!!!
Torço para que os executivos da indústria fonográfica descubram esse ovo de Colombo.
Agora: é importante o trabalho de divulgação na mídia e, sobretudo, nos sites das lojas virtuais, como Americanas, Submarino, Livraria Cultura, etc.

Mudando de assunto, fiquei interessado no cd do Moacyr Peixoto. Como faço para adquiri-lo?

Um afetuoso abraço e, por favor, se você puder, checa essa informação sobre as vendas dos discos de jazz. Acho que a partir dos blogs podemos levantar essa discussão e achar saídas (tô cansado de pagar R$ 50,00 a R$ 60,00 em um disco que poderia me sair por R$ 15,00!!!!!)

Salsa disse...

A discussão vinilxcd dá pano pra manga. Um bom lp tem sonoridade peculiar. As promessas em torno do cd ainda não me convencem. Arrependo-me de ter dispensado minha pequena discoteca de lps.
Quanto o download, é possível encontrar excelentes discos por preços irrisórios em sites especializados (eu pagava US$12,00 para baixar até sessenta faixas - tudo devidamente legalizado) - o problema está na ausência de capas e notas (a qualidade também não é lá essas coisas, mas convence).

Érico Cordeiro disse...

Caro Salsa,
Confesso que sou um adroroso fã do cd. Acho o formato perfeito (mesmo a parte gráfica, hoje em dia, já não deixa tanto a desejar em comparação com os bolachões).
E a qualidade do som é bem melhor (não sei se porque nunca tive um equipamento prá tocar vinil top de linha, mas todos os meus equipametos prá cd, desde o meu primeiro Panasonic portátil - tipo discman - sempre me deram um retorno bastante satisfatório).
Quanto aos downloads, confesso que não sou muito fã, exatamente por conta dessa deficiência: a qualidade do som, via de regra é apenas mediana (lamentável em alguns casos) e a ausência das notas, capa e ficha técnica também compromete!!
Mas, voltando ao assunto distribuição de discos de jazz no Brasil, você não acha que seria viável, nos moldes que eu falei acima, uma gravadora que distribuísse o catálogo de pequenos selos tipo Criss Cross, Steeplechase, Concord, Candid, Savoy, Lonehill, Bethelehem e outras? A preços razoáveis e com um trabalho de mídia bacana?
E também que as grandes gravadoras lançassem seus respectivos catálogos de jazz de forma contínua e séria?
Pode não ser a solução para a crise do mercado fonográfico, mas creio serr uma alternativa válida!
Abração!

Edinho disse...

Caro Érico,
Como diz as famosas escrituras, " Ninguém é tão rico que não possa mandar e EU ,( que não sou tão pobre, e nem soberbo) que não possa receber..." os discos maravilhosos que você tem mandado. Fiquei muito feliz com o Ultimo Pando ( Vc tem razão. Bichinho bom esse .! ) que me mandou, ainda mais com aval do Mr.Lester . Quando tiver e quiser, pode mandar mais , pois pelo que percebi , ninguém é tão abalizado ...( Será que puxei demais ! ?! hehehe )
Abraços,
PS: desculpe por atrapalhar o papo acima para colocar esse recado : Isso é briga de cachorro grande !

Érico Cordeiro disse...

Caro Edinho, prazer em tê-lo por aqui - estava sentindo a sua falta.
Que bbom que você gostou dos "mimos".
Agradeço as palavras gentis, mas você exagera bastante - sou só um modesto (mas muito esforçado) aprendiz, que deu a sorte de poder estar rodeado de amigos bacanas e com um volume de informações enciclopédico sobre o jazz - como é o seu caso e dos mestres Apóstolo, Edú, Fig, Guzz, Lester, Lula, Raffaelli, Salsa, Tandeta, entre tantos outros.
O grande presenteado nessa história toda sou eu, que tenho a honra de privar do mesmo espaço que essas feras todas.
Um abração!

edú disse...

Prezado Èrico,
tenho alguns contatos no jornalismo cultural em virtude das peregrinações q fazia desde meus 13 anos de idade pelas lojas paulistanas nos finais de semana.Mais tarde, quando morei em Londres(por um ano) e depois em Boston (por quase quatro) estendi esse saudável – pra mim - hábito por outros continentes.Nas minúcias do mercado fonográfico, consegui visitar,por curiosidade, em Miami o estoque da maior distribuidora de cds dos EUA(q já encerrou as atividades) chamada Basin.Queria vasculhar os títulos,farejar raridades.O gerente me disse: “o sr vai ter tempo disponível de manusear mais de dez milhões de títulos?Foi o local mais monitorado q estive na vida.Com portas de aço, dezenas de segurança e senhas de entrada a cada 10 metros.Acho q nem o Federal Reserve possui tamanha vigilância.Cheguei a checar um relatório de vendas da Universal Brasileira(Verve).Um cd de jazz é considerado êxito quando a venda supera 500 cópias.Já q não se produz mais q 1000 de cada título - por menos, nem compensa ativar o sistema industrial.A média, segundo o relatório ,não chegava a 300 cópias de cada um dos lançamentos anuais.O mercado fonográfico mundial,principalmente o brasileiro, jamais foi devidamente profissional visando o lucro e perenidade.Se isso acontecia era pela ocasionalidade ou um “ventaval da moda”.Era dirigido por uma parcela de irresponsáveis intelectuais e outra por executivos oportunistas q empregavam - sem constrangimento - "o teste do sofá" .As grandes gravadoras são ou eram braços de grandes organizações financeiras q tinham outras finalidades comerciais.O custo do cd brasileiro tem "n" justificativas.Desde a carga fiscal alta até o decréscimo do mercado q chegou a ser o quinto do mundo na época dos lps.Por essa enormidade de contingências,detalhes e dificuldades não se aproximar de meu entendimento jamais me atrevi a entrar nesse ramo.Mesmo convidado algumas vezes pelas mesmas iniciativas q vc sugere.Se somar tudo q o Charles gastou em :viagens, telefones, aborrecimentos,contatos,procura dos masters, localização de pessoas e horas em estúdio do que, em contrapartida, recebeu como gratificação pelo processo de relançamento das centenas de obras caprichadas em cd que produziu - não paga mais q dois jantares num restaurante de referencia.Um dia lhe perguntei porque prosseguia nisso.Me disse:"se eu que tenho alguma facilidade não fazer , quem fará?".A paixão falou mais alto.Mas ele mesmo quase q abandonou essa insanidade para retornar a carreira de músico pop.Finalizando,o som do lp é mais profundo e detalhista q o do cd.Vide os lps da Concord – q era sustentada em mecenato pela mega rede de concessionárias de veículos q Carl Jefferson – o dono - tinha e são indiscutivelmente melhores q suas edições em cd.Tenho quase uma dúzia de cds da Xanadu.O próprio dono – parece - foi obrigado a verter-se na sobrevivência do mercado.O disco do Moacyr esta indo pra check in.

Érico Cordeiro disse...

É Mr. Edú,
Parece que eu (e alguns outros poucos entusiastas do cd) vou ter que continuar comprando discos a escorchantes 50 "pilas". Fazer o quê!!!!
Postagem feita ao som do ótimo The Rainbow Connection - Kenny Drew Jr, gravadora Evidence (sem representação no Brasil, assim como a Telarc, Criss Cross, Steeplechase, Concord, Candid, Savoy, Lonehill, Bethelehem, Xanadu, Enja, Chess, LRC).
Pobres de nós!!!
Um afetuoso abraço e que o cd do Moacyr Peixoto venha logo!!!

edú disse...

A Telarc chegou a ter representação aqui em São Paulo.Cheguei a comprar discos diretamente.Houve uma loja paulistana,em determinada época, q vendia cds importados de jazz e música clássica - inclusive lançamentos - a preço menor q dos EUA.Principalmente os da Telarc e da OJC.Era uma filial da existente no Rio de Janeiro e chamava-se Gramophone.Era a loja favorita do Carlos Conde.Todavia, a loja encerrou as atividades há uns sete anos.Quando viajo, nem passo perto dos lançamentos.Vou direto nas pequenas lojas especificas e nas promoções.O segredo de comprar discos em conta , na minha opinião, era pesquisar e bater pé atrás.Hoje, infelizmente , conforma-se com os downloads.Certos portais, inclusive oferecem a capa, contracapa e o encarte na totalidade no arquivo.Lester nos informou, ano passado, q a Amazon colocou mais de 150 mil títulos de jazz e afins a preço abaixo de 3 dólares.Chequei alguns títulos e tinha muita coisa boa.O endereço da resenha é http://jazzseen.blogspot.com/2008/05/pula-no.html
Retribuo o abraço.

Érico Cordeiro disse...

Caro Edú,
Você é dos meus! Também adorava ficar horas garimpando as prateleiras das lojas (no tempo em que elas existiam e ofereciam um espectro bem largo de opções musicais). Sempre achava coisas interessantes. Hoje, tirando a Livraria Cultura, a Laserland e a FNAC (que sequer possuem filiais em São Luís) e os sites tipo Submarino, Saraiva, etc., é praticamente impossível encontrar boas opções de discos de jazz.
Falando nisso, algum dos amigos conhece alguma boa loja de cds em Brasília, de preferência que tenha um bom cardápio de jazz? Estarei por lá na semana que vem e já "esgotei" o catálogo da FNAC e da Cultura (rs, rs, rs). Pode ser um sebo também - sempre se acha boas opções, a preços razoáveis!
Quem souber, por favor, me informe (sempre que vou lá é muito corrido - chego num dia e volto no outro, não tenho tempo de "flanar" pela cidade à procura de raridades).
Um forte abraço!

Salsa disse...

Edú traçou um quadro e tanto. Perspectiva que, de outro modo, já me foi comentado por uma figura do ramo. Infelizmente, a produção de um cd, mesmo quando não precisamos ir a um estúdio para gravar, parece envolver tal estrutura logística (da cópia à distribuição - essa é a pior parte) que desanima qualquer um. De qualquer modo, fica a pergunta: por que o preço fica tão baixo nas promoções? O que justifica um cd de US$15,00 ser vendido por menos de US$5,00? Estão retirando apenas a faixa do lucro? Essa conta precisa ser feita: quanto se gasta entre pagamentos de direitos autorais, remasterização, cópias (com capa e tudo) para se lançar mil cópias de um disco antigo?

Érico Cordeiro disse...

É isso aí, Mr. Salsa. Também me faço a mesmíssima indagação. E a comparação com a pirataria também deve ser feita, especialmente no caso de discos antigos: porque o camelô consegue vender um cd a R$ 4,00 e uma grande gravadora vende um cd que não é lançamento (ou seja, um disco que está "encostado" em seu catálogo há tempos) a R$ 30,00?
Má gestão? Incompetência? Excessiva carga tributária (a desculpa mais esfarrapada, mas Lobão vendia seus discos a R$ 12,00 nas bancas e ainda vinha com uma revista!!!)?
Enquanto isso, o consumidor é quem fica no preju compra pelo triplo um disco que poderia lhe sair a preços bastante módicos.
Não é possível formar ouvintes desse jeito - quando eu economizava dinheiro do lanche para comprar um suado vinil, há alguns bons anos, os preços eram acessíveis até para um estudante sem fonte de renda como eu. Hoje, quem é que faz isso?
Como dizem na França - C'est Rousseau!!!
Abração!

Sergio disse...

Esses comentários um a um vão sendo tão prazerosos de ler como seria a apreciação de um bom livro. Parei na parte em q o sr. Raffaelli, expondo a dura realidade dos fatos - do cruel/frio/insensível (sou um romântico) universo dos negócios - despejou um pote (pote por educação) de água gelada no levante proposto por Érico. É por isso q creio q essa revolução proposta, q dirá no jazz!, deve se dar nos blogs. Só os blogs podem trazer de volta, às novas gerações, um interesse no jazz. Mas para isso, é necessário encontrar uma linguagem (não a musical, mas a usada aqui) mais abrangente. Uma não tão pomposa, não tanto elitista. Sei q o q estou dizendo tem tudo para ferir suscetibilidades. Declaro q não é essa a intenção. A música está acima de vaidades, carapuças e picuinhas. Ou, para fechar no meu estilo, “carapinhas”.

Voltando ao romântico mundo da fantasia, a minha idéia é q, assim como existem, em dois extremos do gosto (de classe média), os emos e os manguebeats, porque não poderia existir uma corrente jazzy na juventude? Viajei demais?... Acho que nem. Deixo a idéia pra quem ler pensar.

Érico, mergulhado no abissal oceano da Grande Rede, é natural que eu imagine que você não conheça, por exemplo, este músico que vou citar. Acredito q deva ler todas as publicações sobre o jazz q lhe caem na mão e que não estejas demasiadamente desatualizado, claro. Mas são tantos músicos excelentes que aparecem em todo planeta q vou arriscar, à telemarquetingue, estar te apresentando: o nome é Antonio Forcione. Acho q - tenho quase certeza - ser natural da Itália. Assim q o conheci, baixei o que encontrei dele. Foram 3 discos. Um com Charlie Haden (como viaja esse moço!) “Heartplay”; o 2ª com uma excelente cantora Sabina Sciubba, “Meet me in London” e um solo, “Dedicato”. Forcione é um grande guitarrista.

Érico Cordeiro disse...

Caro Sérgio.
Compartilho de suas idéias, inclusive no que toca ao romantismo de nossa relação com a música.
Creio que também é possível formar uma nova geração de ouvintes - basta apresentar de um jeito espontâneo e não professoral ou impositivo. A avidez pela descoberta vai depender da própria pessoa, mas creio que os blogs tenham essa natureza de divulgação para novos públicos e não apenas para ouvintes mais acostumados com o estilo.
E quanto ao Forcione, você está certo: não o conheço, mas vindo de você, devo iniciar brevemente as buscas. O bom de ter um amigo garimpeiro é que posso ficar só ouvindo o que já conheço e mergulhar nas novidades "na boa", sem perder tempo (rs, rs, rs) - afinal, nunca topei com um mísero cascalho em suas garimpagens - só ouro, diamante, rubi, etc.
Abração!

edú disse...

Sem dúvida, o custo da produção industrial é o menor item no equilíbrio de preço do cd.Não temos mais os grandes varejistas.Anteriormente havia até mesmo ,no centro antigo de São Paulo, os grandes atacadistas q eu invadia na hora do almoço - menino - quando meu avô cismava de levar-me ao seu escritório para "brincar de trabalhar".Judeu aprende cedo como a coisa engrena.Quanto ao decréscimo dos custos,um cd de lançamento atual das grandes gravadoras tem preço, hoje, para o incipiente varejo na faixa de R$ 24,00 a R$ 28,00.Com todos as taxas envolvidas.As lojas Americanas (cito a contragosto pois não justifica a publicidade) foi a maior vendedora de cds no país por mais de uma década.Hoje só trabalha com ponta de estoque(cds encalhados no lote das gravadoras) e q podem ser vendidos a no máximo a quinze reais.A rede é propriedade de um trio de financistas internacionais q trabalha na causa e efeito de: quanto menor o custo, maior o lucro.O mercado encolheu , o habito de ouvir música mudou com os impessoais e ensurdecedores Mp4 e afins.Novos tempos e dias q , por vezes , deixam de nos beneficiar.Quanto a oscilação dos preços finais ela obedece a clara regra do mercado.Qual o melhor período para comprar roupas de inverno (no verão) e vice versa.Uma produção modesta e uma tiragem de cerca 3 mil cópias de um disco instrumental(minha estimativa de bate papo) sai a preço final para o músico de R$12 a R$ 13 a peça.Nos shows eles vendem diretamente por aproximadamente a R$ 20,00 ou R$22,00.Esta ai a margem de seu "lucro".Bom final de semana a todos.

Érico Cordeiro disse...

É, Mr. Edú.
Quanto mais a gente lê sobre o assunto, mais fica desesperançado!!!
Abração.

Sergio disse...

Bem, o meu prazer vai além de ouvir música. Não tenho mais espaço nem, infelizmente, tempo para fazer da maioria de discos q baixo o q faço com os q me apaixono, ou com as coletâneas q produzo na "Reco-Records". Reco-Records é a minha gravadora independente - dos fundos de quinta(l) de empregada. Mas os álbuns que amo, faço minhas próprias capas. E um CD desses sai, para minha satisfação garantida, no máximo, míseros 3 reais! Isso com a tinta de impressora (reciclada) a preço de Glenfiddich Rare Collection! E é uma cachaça, produzir as capinhas! Geralmente trabalho com mais afinco no ramo dos fora de catálogo. Pros amigos morrerem de inveja... Quando acabar essa história do direito autoral pertencer a uma ‘entidade’ e não ao autor, acaba essa angústia desesperançada, (q nem é minha mais, pq, como o dito e vale o escrito, eu me viro direitinho) dos que amam consumir a música boa numa bela embalagem.

Érico, acabo de me lembrar: eu tenho um texto muito bom sobre a crise das majors q encontrei num blog português. Quando postei num comentário no jazzseen, causou espécie. Isso foi lá nos primórdios do Jazzseen, 2007. O texto nem é tão longo assim. Se vc – vc eu sei q devorará – e os seus associados tiverem paciência de ler, ei-lo – vou colocá-lo no espaço abaixo.

Sergio disse...

O MERCADO, AS MAJORS E A INTERNET

Para um músico, na origem da crise da indústria fonográfica está, em grande parte, o tipo de música na qual se aposta: «Nós vemos que os grandes lucros da indústria são lucros com a música pop descartável para adolescentes. O pop pastilha elástica, mainstream. Estas são músicas com um prazo de validade muito curto: ou são vendidas no imediato ou na estação seguinte já passou, já ninguém compra. E o problema para as majors (que para o bem da cultura pode ser a solução) é esse. O consumo imediato, que é o que traz retorno financeiro imediato, é feito de maneira gratuita. Aquilo que podia funcionar como promoção não funciona mais, ou melhor, funciona como esgotamento do próprio produto, deixando então de funcionar em termos lucrativos.

Assim sendo, não é uma questão de qualidade, nem de redistribuição de direitos de autor. É a própria indústria, a estrutura que vem do passado. Estamos numa encruzilhada e a indústria tem de mudar se quiser sobreviver (subvertendo a lógica do mercado). A Internet tem de ser vista como uma forma de promoção como foram as rádios, [pois] vai substituir a rádio como forma de promoção, como grande aliado da indústria discográfica. A indústria tem de entender isso e encontrar outras formas de investir. Deixar de investir massivamente na música “junkfood” para adolescentes para passar a investir numa música que tenha um prazo de validade longo. Essa é uma solução óbvia. Porque é essa música que será interessante e trará o feedback financeiro com o qual a indústria se alimenta.

A Internet deve servir como uma grande biblioteca de áudio, permitindo a consulta livre aos interessados. Uma pessoa de Braga (Portugal/onde este texto foi pinçado) não tem de se deslocar a Lisboa para consultar uma Fonoteca; vai à Internet e consulta e faz os downloads que bem entender. E se houver coisas que lhe interessem, que lhe apeteça ter, sempre haverá todo um fetiche ligado ao produto que download nenhum preenche! A obra, a partir do momento em que está no mercado, é um produto muito bem acabado e a força da mercadoria, em si, já é o fetiche!

Isto vem nos livros, desde Marx: o grande poder de persuasão da mercadoria, em termos de venda, é a sua fetichização, e a fetichização da mercadoria passa pela embalagem, no caso de um CD ou DVD, do encarte, dos créditos e todas as informações adicionais contidas no produto. Não há download de algo imaterial como um mp3 que substitua o desejo fetichista de possuir a mercadoria original oficial do mercado, da posse do objecto. No tempo das rádios FM, que passavam álbuns inteiros, todos temos uma quantidade enorme de cassetes caseiras gravadas. E naquela altura, nunca nos acusaram de sermos piratas. De certo, o fetiche da mercadoria ultrapassa o conteúdo – mas, antes de tudo, é necessário que o conteúdo nos interesse.

Texto pinçado do blog portugues “Is” End./Pág.: http://intervencoes.blogspot.com/ Comments “Excertos da entrevista de Trent Reznor (Nine Inch Nails) à revista Pública de 15 de Abril de 2007”.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Sônico,
Vida longa à Reco Records, certamente a gravadora com o melhor cast e o repertório de maior qualidade do mercado!!!
E o texto sobre as majors é irretocável. Quanto mais descartável a música, menor o fetiche que o seu veículo provocará nas pessoas.
Um abração!!!

Anônimo disse...

Amigo Érico

Jimmy Raney: Como poderia não gostar? Repare, é daqueles músicos em que não adivinho a nota seguinte. São esses que me fascinam. E isto em qualquer área musical.

Um GRANDE ABRAÇO.

P.S. - No outro dia, fiz aqui um comentário ao seu post, sobre o Charlie Parker, que por algum motivo, não foi publicado. Mas juro uma coisa: o último post deste blog, será com o "YardBird".

Érico Cordeiro disse...

Caro Miguel, seja bem-vindo!
Não sei explicar o motivo do seu comentário não ter sido publicado - coisas da internet!!!
Fique à vontade e, por favor, não fique tanto tempo sem aparecer. É sempre muito bom receber visitas ddo outro lado do Atlântico. E, se depender de mim, o último post deste blog ainda vai demorar um pouquinho (rs, rs, rs).
Um fraterno abraço!!!!

John Lester disse...

Prezado Mr. Cordeiro, o calor do seu blog faz lembrar Os Sertões de Euclides, repleto das antíteses dessa terra incandescente atapetada por amarílis.

Conta o engenheiro poeta que as primeiras bátegas despenhadas da altura não atingem a terra. A meio caminho se evaporam, retornando às nuvens, num vai e vém que, quando acaso alguma gota toca o solo, não o umedece, pois que evapora com se tocasse em chapa incandescente.

Vivemos numa época em que a maior criação musical da história, a orquestra sinfônica, agoniza na Europa. Muitas estão sendo fechadas. Vivemos numa época em que um artista medíocre como Michael Jackson é considerado gênio da música.

Portanto, recomendo, em tom de súplica, apenas duas coisas: 1) tente ouvir jazz fora de casa, nas ruas, clubes e bares - se não encontrar encartes, converse diretamente com os músicos e tire fotografias; 2) quando falar sobre conhecedores de jazz, não coloque meu nome ao lado do nome de José Domingos Raffaelli - seria como colocar lado a lado, respectivamente, os nomes de, digamos, Kenny G e Charlie Parker.

E viva o lp!

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

E viva o LP, por certo!!! Mas que eu sou apaixonado pelas caixinhas de plástico que quebram à toa, isso eu sou!!!

E que belíssima citação ao querido Euclides da Cunha. E há o tempo das águas, quando as "nuvens volumosas abarreiam ao longe os horizontes, recortando-os em relevos imponentes de montanhas negras.

Sobem vagarosamente; incham, bolhando em lentos e desmesurados rebojos, na altura; enquanto os ventos tumultuam nos plainos, sacudindo e retorcendo as galhadas.

Embruscado em minutos, o firmamento golpeia-se de relâmpagos precípites, sucessivos, sarjando fundamente a imprimadura negra da tormenta. Reboam ruidosamente as trovoadas fortes. As bátegas de chuva tombam grossas, espaçadamente, sobre o chão, adunando-se logo em aguaceiro diluviano..."

E, Mr. Lester, por favor, quanta modéstia!!! Você e o Raffaelli são dois mestres com quem tenho a honra de manter uma saudável e prazerosa convivência virtual - um aprendizado e tanto para este modesto escriba. Pô-los na mesma frase me é tão natural quanto citar Hawkins e Young, Parker e Powell, Monk e Mingus na mesma frase.

Quanto a ouvir jazz nas ruas e nos bares, a vontade é muita, mas as circunstâncias de cá, longe demais das capitais que estamos, não nos favorecem! Tais ocasiões são tão raras...

Um afetuoso abraço!

Jarbas Couto e Lima disse...

Querido Amigo Érico,

Como sempre, seus artigos são as melhores lições de jazz para mim. Especialmente este que trata de um guitarista magistral, instrumento que tanto admiro. Alías, no Brasil, Hélio Delmiro é um nome que merece sua atenção.
Agora, sinceramente, a eloquência das frases de Raney não chegam aos pés da elgância e generosidade das suas. Sinto-me verdadeiramente honrado com sua homenagem. Obrigado!

Érico Cordeiro disse...

Caro Jarbas,
Tava com saudades de você, meu irmão. Sei que você está ocupado com um projeto muito bacana e que, certamente, vai render excelentes frutos para todos nós, que amamos tanto a música. Torço para que em breve possamos desfrutar desse novo santuário da música que se anuncia!!!!!
Também gosto muito do Hélio Delmiro - é um craque, do mesmo alto nível dos grandes nomes do jazz.
Valeu mesmo e obrigado pelas palavras gentis - você é que é um verdadeiro cavalheiro, o nosso aristocrata cordial e generoso!
Abração!!!!

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais correligionários,

Sem querer estender-me (um grave defeito meu), um adendo à questão da venda de discos (CDs). Como sabemos, durante décadas a indústria fonográfica exagerou demasiadamente nos preços e hoje está pagando por isso com uma brutal queda de vendas.

A verdade é que, no andar da carruagem, o CD está com os dias contados, quer queiram ou não os entendidos. A prova evidente é o fechamento das grandes cadeias de lojas americanas (Virgin e HMV,além da falência da malfadada Tower - a mais careira de todas -, King Carol, etc.), mais o desaparecimento das chamadas pequenas lojas.
Com a facilidade do download, hoje vende-se muitíssimo menos do que há 15/20 anos. Tenho vários amigos que possuem milhares CDs baixados, alguns com mais de 30 mil itens! Cada CD baixado é um item a menos vendido. Resultado: Donald Byrd foi a julgamento por não pagar impostos federais, alegando que nos últimos 5 anos não recebeu royalties de CDs poreque não foram vendidos e, consequentemente, tambem não recebeu royalties das suas composições constantes nos CDs que gravou. O próprio Sonny Rollins está vendendo no seu site a U$ 13.95 um dos seus CDs casado com a transcrição de um dos seuw solos.
Mesmo os músicos que gravavam CDs independentes e os vendiam nos concertos, não gravam mais porque os custos de estúdio, taxas do sindicato, engenheiro de som, fabricação e prensagem dos CDs, fotografias, mixagem, texto de apresentaão, etc, não cobrirão o desenbolso monetário despendido para uma tiragem de 1 mil exemplares.

Hoje estamos assistindo a uma corrida desesperada para o download. Nunca baixei nada e não sou contra quem faz, pois a pessoa encontra essa liberdade na internet, porém é certo que, se algo não ocorrer em contrário, as fábricas de discos também desaperecerão do mapa e o CD também terá o mesmo destino.
Nos USA estão trabalhando num novo sistema de reprodução de som que impedirá o download e a respectiva cópia nos aparelhos existentes para essa finalidade.

Não sou adivinho, nem tenho pretensão de conhecer os subterrâneos da indústria fonográfica, pois não faço parte dela, mas pela minha longa vivência e observações que sempre fiz no mundo da música, atrevo-me a redigir estas linhas, sem nenhum objetivo de causar qualquer espécie de polêmica.

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Essa é uma realidade desalentadora. Eu também sou poco afeito a baixar música - só o faço para conhecer determinado artista e, via de regra, acabo compando o respectivo cd (o fetiche do disquinho me seduz bastanta).
Gostaria apenas que os preços fossem mais decentes (acho que R$ 15,00 é mais do que justo, sobretudo daqueles que estão no catálogo das gravadoras há tempos).
E me entristece o fato de que tanto aqui como lá as lojas de discos estejam cerrando suas portas.
Abraços!!!

Anônimo disse...

thanks for this tips

Jarbas Couto e Lima disse...

Caro Érico,
Quero comunicá-lo que fiz minha primeira lição de casa, ao ler este post. Continuarei estudando. Obrigado! Abraço!

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