Amigos do jazz + bossa

domingo, 8 de janeiro de 2012

A VOLTA AO MUNDO EM 88 TECLAS


Vinte mil libras! Foi esse o valor da aposta feita por Phileas Fogg com os membros do Reform Club. Estamos no dia 02 de outubro de 1872 e o objeto da aposta era dar a volta ao mundo em 80 dias – um verdadeiro absurdo. Hoje em dia, com o desenvolvimento da aviação, é possível fazer-se esse percurso em relativamente poucas horas. Mas naquela época não. O automóvel ainda não havia sido inventado. Muito menos o avião.

Os meios de transporte, precários, resumiam-se a navios (a vela ou a vapor), trens e coches. Claro, e a animais os mais variados, desde o prosaico cavalo, passando por mulas, até chegar a montarias bastante improváveis como dromedários e elefantes.  O bravo Phileas haveria de valer-se de todos os meios disponíveis para passar por cidades como Paris, Turim, Suez, Bombaim, Calcutá, Cingapura, Hong Kong, Yokohama, San Francisco e Nova Iorque. Sempre secundado por seu valente secretário, o atrapalhado Jean Passepartout, o aventureiro inglês inicia a sua viagem.

Muitos seriam os perigos e obstáculos enfrentados pela dupla, inclusive uma falsa acusação de roubo a banco, a fúria de centenas de hindus, tempestades e toda a sorte de contratempos. O final da epopéia ainda reservaria uma surpresa a Phileas Fogg, que consegue chegar a Londres, mas imagina ter perdido a aposta. Somente no dia seguinte, quando se dá conta que havia viajado sempre em direção ao oriente, é que ele percebe que havia conseguido lograr o seu intento. Ele então consegue receber o valor apostado e, ainda por cima, ganha o coração da princesa Aouda, cuja vida havia salvo durante a viagem.

Bem, mas alguém poderia perguntar: o que mesmo o livro de Júlio Verne, “A volta ao mundo em 80 dias”, tem a ver com o jazz? A rigor, nada. Mas a associação entre seu personagem principal e um dos maiores pianistas  da história do jazz sempre me vem à mente quando ponho para tocar algum disco de Phineas Newborn Jr. Se é certo que o primeiro deu a volta ao mundo em 80 dias, também é possível se dizer que o segundo deu a volta ao mundo em 88 teclas!

Newborn nasceu na cidade de Whiteville, Tennessee, no dia 14 de dezembro de 1931. A música ocupava amplo espaço na vida da família, pois seu pai era baterista e dirigente de banda, sua mãe era pianista e cantora e seu irmão mais moço, Calvin, iria se tornar guitarrista. Desde muito pequeno Phineas se dedicou ao estudo musical e além do piano, tocava trompete, sax tenor, sax barítono e trompa. As primeiras influências do futuro pianistas foram Art Tatum, Oscar Peterson e Bud Powell

Newborn Jr. estreou como músico profissional na banda de rhythm & blues liderada por seu pai, tendo o irmão Calvin ficado com a guitarra e Tuff Green, o contrabaixo. Pelo grupo, passariam músicos renomados do cenário musical do Meio-Oeste, como o saxofonista Ben Branch, seu irmão, o trompetista Thomas Branch, e o também trompetista “Papa” Willie Mitchell, futuro bandleader, produtor musical (foi um dos fundadores da Hi-records) e descobridor de talentos como Booker Little, George Coleman e Charles Lloyd.

Newborn sênior era amigo de ninguém menos que Count Basie, que logo apelidou o jovem pianista de “Bright Eyes” (Olhos Brilhantes), porque, segundo o bandleader, os olhos do garoto brilhavam toda vez que ele ouvia os primeiros compassos de uma música. De 1947 até 1951 o grupo era atração fixa de clubes da Beale Street, rua boêmia de Memphis, e tocava com regularidade no então famoso “Plantation Inn Club”, no Arkansas. Esse mesmo grupo participou da primeira gravação de B. B. King, em 1949, para a Bullet Records.

A banda também realizou algumas gravações para a “Sun Records”, em 1950 e em 1951 serviu de apoio para os “Delta Cats”, do saxofonista tenor e cantor Jackie Brenston. “Rocket 88”, gravada em Memphis, para o selo “Chess Records” e com produção do lendário Sam Phillips, é considerada por muitos como a primeira gravação de “rock and roll” e alcançou o primeiro lugar na parada da revista “Billboard”.

Phineas ainda tentou escapar do seu destino musical, matriculando-se na Tennessee Agricultural and Industrial State University, em Nashville, mas não chegou a concluir o curso de agronomia. Durante o seu período na cidade, conhecida por ser a capital da música country, Newborn mergulhou com entusiasmo na obra do pianista húngaro Franz Liszt, que passou a ser uma influência tão marcante quanto a que exerciam os grandes mestres do piano jazzístico.

Ainda no início da década de 50, Phineas tocou com o guitarrista Saunders King, com o bandleader Lou Sargent, com o saxofonista Willis “Gator” Jackson e acompanhou o cantor de blues Big Walter Horton. Também trabalhou exaustivamente como músico de estúdio de Memphis, fez parte do grupo “Tennessee State Collegians” e, entre 1950 e 1952, integrou a orquestra de Lionel Hampton. Naquele período, ingressou no Lemoyne College, em Memphis, para cursar música.

Recrutado pelo exército em agosto de 1953, Phineas teve que abandonar os estudos. Ele permaneceria nas forças armadas até junho de 1955 e durante o período na caserna, acrescentaria ao seu nada modesto rol de instrumentos o vibrafone e a tuba. De volta à vida civil, ele trabalhou um tempo na orquestra do pai, além de tocar em clubes da Flórida e em alguns programas de rádio e televisão. Por influência de Count Basie, o pianista afastava-se cada vez mais do “R&B”, até então a base de seu trabalho, para mergulhar nas caudalosas e imprevisíveis águas do jazz.

A partir da segunda metade dos anos 50, seu nome ia se espalhando para além das fronteiras de Memphis, sendo apontado como o novo Art Tatum. O produtor George Wein recorda um fenômeno curioso acerca desses pianistas obscuros: “Durante muito tempo, pessoas vinham até a mim para falar de fantásticos pianistas que haviam descoberto. Diziam coisas como ‘Ele é maior que Bud’, ‘Oscar não é páreo para ele’ ou ainda ‘Ele deixa Tatum no chinelo’. Mas toda vez que eu ia ouvir um desses ‘fenômenos’, saía desapontado. Invariavelmente, esses pianistas eram, na melhor das hipóteses, talentos menores. Na pior das hipóteses, eram apenas pálidas cópias de gigantes como Bud, Oscar ou Tatum”.

Wein continua: “Cerca de um ano atrás comecei a ouvir relatos sobre um fabuloso pianista de Memphis, que atendia pelo estranho nome de Phineas Newborn Jr. Pessoas que eu respeito bastante, como John Hammond, Willard Alexander e, claro, Count Basie, diziam que eu tinha que ouvir esse cara. Por conta de minhas experiências anteriores, que não tinham sido nada felizes, eu não estava nem um pouco curioso para conhecê-lo. No entanto, tive a chance de ouvir Phineas tocar no Storyville, um clube de Boston do qual eu era sócio. Foi a primeira vez que eu não me decepcionei com um desses ‘pianistas desconhecidos’. Phineas era, exatamente, tudo aquilo que se dizia dele”.

Cercado por uma enorme expectativa e recomendado por músicos e críticos respeitáveis, Phineas decidiu se mudar para Nova Iorque, em 1956. Apesar de ter bastante experiência em palcos e estúdios, até então ele não havia gravado em seu próprio nome. Finalmente, em maio de 1956, fez a sua estréia como líder, ao lado de ninguém menos que Oscar Pettiford e de Kenny Clarke, no disco “Here Is Phineas” (Atlantic), com participação do irmão, Calvin, em algumas faixas.

Pouco depois, em outubro daquele ano, lideraria um quarteto integrado por Calvin Newborn (guitarra), George Joyner (contrabaixo) e Philly Joe Jones (bateria) e com esse grupo gravou o álbum que o projetou inicialmente, “Phineas Rainbow”, para o selo RCA. Ao mesmo tempo, ele e seu trio eram atração fixa do clube Basin Street e a receptividade ao seu trabalho apenas crescia. Em 1957 o pianista grava os álbuns “While My Lady Sleeps”, acompanhado pela orquestra de Dennis Farnon, e “Plays Harold Arlen's Music From Jamaica”, com a orquestra de A. K. Salim, ambos para a RCA.

Zuza Homem de Mello recorda que, ao desembarcar em Nova Iorque, em 1957, sua primeira providência foi correr para o Birdland, a fim de assistir o programa da noite. Ali, pôde ver o quarteto de Newborn, que dividia o set com a big band do trompetista Maynard Ferguson. Em 1958, além de liderar o próprio trio, Phineas atuou em duo com Charles Mingus e participou, juntamente com Mingus, Jimmy Knepper, Shafi Hadi e Dannie Richmond, da trilha sonora do clássico “Shadows”, com direção de John Cassavetes.

Entre março e abril daquele ano, o piasiata gravou o álbum “Fabulous Phineas” para a RCA. Pouco depois, fez uma bem sucedida temporada européia, dentro da caravana denominada “Jazz From Carnegie Hall”, que se apresentou em países como França, Inglaterra e Itália, entre outros.  Na capital italiana, tocou com o grupo “Mills Brothers” e gravou com uma sessão rítmica local – Carlos Lofredo no contrabaixo e Sérgio Pisi na bateria – o elogiado álbum “Phineas Newborn, Jr. Plays Again!” (Blue Moon), recheado de clássicos  como “Night In Tunisia”, “Nica's Dream”, “Airegin”, “Bag's Groove” e “C Jam Blues”.

Durante essa temporada, Newborn teve a chance de atuar ao lado de outro ícone do piano, Red Garland, em um concerto em Estocolmo, na Suécia. O espetáculo, realizado no dia 22 de setembro contou ainda com as participações de expoentes do jazz como J. J. Johnson, Kai Winding, Lee Konitz, Zoot Sims, Benny Bailey, Oscar Pettiford e Kenny Clarke, todos integrantes da caravana “Jazz From Carnegie Hall”.

De volta aos Estados Unidos, Phineas monta um novo trio, desta feita com John Simons no contrabaixo e Roy Haynes na bateria. Em novembro de 1958, ele entra no estúdio de Rudy Van Gelder para gravar o fabuloso álbum “We Three” (New Jazz), sob a liderança de Roy Haynes e com Paul Chambers no lugar de Simons.

No ano seguinte, Newborn grava o álbum “Young Men From Memphis – Down Home Reunion” (United Artists), onde lidera um grupo de jovens músicos de Memphis, como os trompetistas Booker Little e Louis Smith, os saxofonistas Frank Strozier e George Coleman, além do seu irmão Calvin Newborn na guitarra, George Joyner no contrabaixo e Charles Crosby na bateria.  O destaque do disco é a versão do clássico “Star Eyes”, que atinge a excelência.

Em 1960, Phineas muda-se para Los Angeles e em pouquíssimo tempo  se torna uma das mais reluzentes estrelas do selo californiano “Contemporary”. O primeiro álbum em seu nome foi “A World of Piano!”, de 1961, no qual divide o estúdio com duas sessões rítmicas distintas: Paul Chambers e Philly Joe Jones em quatro faixas e Sam Jones e Louis Hayes nas quatro restantes. Como sideman, ele participou de discos de Howard McGhee, Teddy Edwards e da cantora Helyne Stewart.

A receptividade de público e crítica a seu trabalho foi imediata e Newborn tornou-se figurinha carimbada nos clubes de Los Angeles, em especial no The Manne Hole, de propriedade do baterista Shelly Manne e localizado em Hollywood. Seu trio, na época, era integrado pelo baixista Jimmy Bond e pelo baterista Milt Turner, posteriormente substituído por Frank Butler. Sua habilidade levou o grande Gene Harris declarar: “Phineas é a melhor coisa que aconteceu no jazz nos últimos anos. Ele é o maior pianista em atividade hoje”.

No dia primeiro de abril de 1964, Phineas e Butler, acompanhados do contrabaixista Leroy Vinnegar, entraram nos estúdios da Contemporary para a gravação do estupendo “The Newborn Touch”. Com produção de Lester Koenig, o disco insere-se, sem dúvida alguma, entre os pontos culminantes da carreira fonográfica do pianista. “A Walkin’ Thing”, de Benny Carter, abre o disco, com uma atmosfera blueseira. Usando toda a extensão do teclado, Phineas possui um controle absoluto do tempo, alternando passagens nervosas com momentos bastante relaxados.

“Double Play” é um tema do pianista Russ Freeman, composto para execução em duo de pianos (a gravação original foi feita por ele e pelo grande André Previn). A técnica soberba de Newborn dá a impressão, em vários momentos, de que neste disco foram usados dois pianos. O blues “The Sermon”, de Hampton Hawes, ganha uma versão sombria, com um impressionante trabalho de Vinnegar e um claustrofóbico uso dos registros graves por parte do líder.

Embora seja um pianista vibrante e bastante fluente nos temas mais acelerados, Phineas é também um exímio executante de baladas. “Diane”, de Art Pepper, e “Grooveyard”, de Carl Perkins, são uma prova da habilidade do pianista em construir atmosferas românticas. A primeira é uma balada reflexiva e a interpretação do trio deixou Pepper, que também fazia parte do cast da Contemporary, assombrado com o talento de Newborn. A segunda tem um andamento mais ligeiro e possui um inegável acento de blues.

Composta em 1952, a cativante “The Blessing” mostra a veia bop do inventor do free jazz, Ornette Coleman. Animado e cheio de swing, o tema é bastante diferente daquilo que o saxofonista faria no final da década de 50. A execução do trio é profundamente inserida na tradição do bebop, com destaque para a blitzkrieg percussiva de Butler e para a velocidade supersônica do dedilhado de Newborn.

“Blue Daniel”, de autoria de Frank Rosolino, é uma balada em tempo médio com elementos de valsa. Aqui o piano de Newborn parece flutuar, em uma prazerosa mistura de delicadeza, sentido harmônico apurado e lirismo. Em seguida, é a vez da inebriante “Hard To Find”, blues nada ortodoxo composto por Vinnegar. O autor do tema constrói uma linha de baixo irresistível e o pianista trafega por ela com encantadora maestria, usando os registros agudos do piano com naturalidade e paixão.

A enigmática “Pazmuerte”, do saxofonista Jimmy Woods, é um tema inclassificável, que conjuga elementos de música erudita e trechos visivelmente calcados no flamenco espanhol. Interessante frisar que a batida da percussão foi uma idéia de Newborn, que sentou-se à bateria para mostrar a Butler exatamente o que desejava. O pianista tem uma atuação inflamada, sublinhando as passagens de maior conteúdo dramático com um dedilhado suntuoso e fluido.

“Be Deedle Dee Do” é um blues de Barney Kessell, que havia gravado o tema anteriormente em um dos seus discos com os Poll Winners. A versão de Newborn e seus comandados é relaxada, nem um pouco solene, com uma atuação bastante coesa da dupla Butler-Vinnegar. Um take alternativo do tema foi disponibilizado como faixa-bônus.

Outra faixa-bônus é a exuberante “Good Lil’ Man”, de Marvin Jenkins, na qual Phineas faz uma deliciosa volta ao seu passado de pianista de R&B, adotando uma pegada vibrante e sempre surpreendente. Um grande disco, de um verdadeiro mestre do piano jazzístico, que merece ser conhecido e reverenciado pelas novas gerações de fãs do jazz.

Quando o pianista finalmente parecia que iria obter o prestígio e o reconhecimento proporcionais ao seu enorme talento, Newborn sofreu um grave colapso nervoso, causado pelo excesso de álcool e pelo fim do casamento. O pianista foi obrigado a interromper a carreira e foi internado no “Camarillo State Mental Hospital”, em meados de 1964. A instituição psiquiátrica foi a mesma em que esteve internado Charlie Parker, que permaneceu ali de agosto de 1946 a janeiro de 1947, quando foi liberado sob a custódia de Ross Russell, proprietário da “Dial Records”.

Para completar o quadro desolador, Phineas também sofreu uma grave lesão na mão direita e precisou passar por um doloroso regime de exercícios, a fim de recuperar a digitação.  Somente em 1965 ele recebeu alta e durante algum tempo liderou um trio na região de Los Angeles. Todavia, ainda bastante deprimido e emocionalmente instável, Newborn voltou diversas vezes ao Camarillo.

O tratamento psiquiátrico não foi bem sucedido e ele passou a perambular de hospital em hospital, até ser internado em uma instituição denominada “Brentwood”. Ali, sob um regime de severa vigilância, ele somente podia praticar ao piano nos intervalos para entretenimento. Somente em 1969 ele pôde retomar as rédeas da vida e da carreira e nesse momento, o apoio do baixista Ray Brown foi decisivo.

Graças a Brown o pianista pôde voltar a gravar, o que ocorreu em fevereiro daquele ano. Foram dois álbuns, feitos em seqüência nos dias 12 e 13: “Please Send Me Someone To Love” e “Harlem Blues”, ambos para a antiga casa Contemporary Records. O baterista das sessões foi o explosivo Elvin Jones e o repertório dos discos traz clássicos como “Stella By Starlight”, “Black Coffee” e “Little Girl Blue”, em versões de alto padrão técnico e de rara sensibilidade, demonstrando que o pianista havia reencontrado a velha forma.

Em 1971 Newborn voltou a Memphis, mas as atribulações em sua vida pessoal continuariam. Os problemas psiquiátricos persistiam e em 1974, durante um assalto, o pianista foi agredido e sofreu fraturas em vários dedos das mãos. Mais uma vez a carreira foi prejudicada e somente no ano seguinte ele voltaria aos estúdios, desta feita para gravar um álbum de piano solo para a Atlantic.

Em 1976 foi a vez de “Look Out! Phineas Is Back”, para a Pablo, no qual o pianista mais uma vez se vê acompanhado pelo amigo Ray Brown, além do baterista Jimmie Smith. O grande destaque do álbum é a estonteante interpretação de “Just In Time”, mas também merece elogio a versão de “You Are The Sunshine Of My Life”, de Stevie Wonder. No ano seguinte, Phineas excursionou pelo Japão, juntamente com o baixista Allen Jackson e o baterista Frank Gant. O resultado pode ser conferido no disco “Phineas Is a Genius”, gravado ao vivo no Sankei Hall, em Osaka, para a Philips japonesa.

Newborn ensaiou um retorno a Nova Iorque em 1978, fazendo uma temporada no Village Gate e recebendo elogios entusiasmados do jornal The New York Times. Em julho de 1979 ele foi uma das atrações do festival de Montreux, na Suíça, atuando em solo, em trio (com Ray Brown e Dannie Richmond) e duo com uma série de astros do piano como Chick Corea, Herbie Hancock, Jay McShann, Hank Jones e John Lewis. Na ocasião, também se apresentou no Jazzhus Slukefter, tradicional festival de jazz da Dinamarca, na companhia do baixista Jesper Lundgaard e do baterista Bjarne Rostvold.

Phineas alternava longos períodos de inatividade, por conta dos problemas mentais, com uma extensa agenda de shows, quando a saúde permitia. Em 1986 ele excursionou pelos Estados Unidos com o excepcional pianista Adam Makowicz, acompanhados por uma sessão rítmica de peso: Jamil Nasser (contrabaixo) e Joey Baron (bateria). Essa formação chegou a gravar algumas faixas, mas o álbum nunca foi lançado no mercado.

O último disco de Newborn foi “I've Something To Say”, gravado para a EmArcy em novembro de 1987, tendo como acompanhantes o baixista Jamil Nasser e o baterista Tony Reedus. O pianista faleceria pouco mais de um ano depois, no dia 26 de maio de 1989, em decorrência de um câncer no pulmão. Na época, ele estava se preparando para gravar composições do compositor erudito Alexander Scriabin. Seu corpo foi enterrado no Memphis National Cemetery e seus últimos meses de vida foram bastante sofridos, por conta dos problemas de saúde e da sua precária situação financeira. Os gastos com o tratamento médico e com os remédios, por exemplo, foram assumidos pela Jazz Foundation of America.

Segundo Pedro “Apóstolo” Cardoso, Phineas era “um pianista ardente, virtuoso, que se exprime em estilo “bebop” acentuadamente “bluesy”, base de sua inspiração harmônica.   Sua técnica com a mão esquerda é superior, caminha com autoridade pelas “block-chords”, recorre a baixos alternados com a mão esquerda, dialoga frases entre as duas mãos com intervalos de duas oitavas,  sabe ser percussivo, suas frases possuem brilho, fulgor e são baseadas na ambivalência rítmica.   Improvisa com autoridade e fluidez, com frases em “legato” e uma digitação irrepreensível, articulada, sólida”.

Para o crítico Leonard Feather, Phineas “nos primeiros anos de sua carreira era, certamente, um dos três maiores pianistas do mundo, ao lado de Bud Powell e Art Tatum”. Outro grande virtuose do piano, Oscar Peterson, comentou em uma entrevista: “Se eu tivesse que escolher o melhor pianista em atividade, dentre aqueles que, cronologicamente, apareceram depois de mim, sem dúvida alguma eu escolheria Phineas Newborn Jr.”.

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31 comentários:

Edison Waetge Jr disse...

Caro Érico, conheci seu blog através de um comentário que você deixou no Cartum do Biratan. Estou lendo aos poucos e gostei bastante. Acho que vai levar um tempão para conhecer tudo. Ótimo trabalho, cara!

Érico Cordeiro disse...

Caro Edison,
Seja muito bem-vindo e junte-se à nossa confraria.
Além de proporcionar acesso a informação, a internet também ajuda a fazer novos amigos - espero vê-lo sempre aqui no barzinho, ok?
Obrigado pelas palavras generosas e até breve!

Edison Waetge Jr disse...

Virei sempre, com muito prazer. Aproveito para convidá-lo a conhecer o meu cantinho também. Tem de tudo um pouco, inclusive música.

Érico Cordeiro disse...

Caro Edison,
Já conhecia o Jazz e Rock, inclusive sou seguidor do seu blog.
Colocarei um link aqui, ok?
Abração!

Fred Monteiro da Cruz disse...

Mestre Érico.. Ano novo e eu por aqui há muito tempo não vinha na área dos comentários. Mas sempre dando uma passadinha para ouvir essas maravilhas que você põe nos podcasts, como esse Do Phineas Newborn Jr, um pianista fantástico que eu ainda não tinha o prazer de conhecer. Mais uma vez viajei com Phileas Fogg e Phineas Jr nesse seu bem tratado post. Uma honra e um prazer tê-lo como amigo. Um Ano Novo muito feliz pra vc e seus familiares, recheado de Alegria, Paz, Saúde, Sucesso e muito Jazz !!

Érico Cordeiro disse...

Meu caro Fred,
Seja mais que bem-vindo.
Pode ir fundo na obra do Phineas porque o cidadão mandava muito bem!
Retribuindo os votos e que possamos, ao longo de 2012, trocar muitas figurinhas, ouvindo muito jazz e bossa nova!
Um fraterno abraço!

José Domingos Raffaelli disse...

Dear Gran Master Boss Érico e demais amigos,

PHINEAS NEWBORN foi um músico fenomenal em todos os sentidos e, se analisarmos seus solos atentamente, chegaremos à conclusão que bem poucos igualaram-se a ele em termos de idéias, técnica, invenção, fluência, balanço e impressionante facilidade em fazer o difícil parecer fácil mesmo nos andamentos supersônicos.
Desde que o ouvi pela primeira vez, ele faz parte da minha lista dos 10 maiores pianistas de jazz de todos os tempos.

Uma observação: a composição DOUBLE PLAY foi plagiada no Brasil por Sérgio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim), que deu-lhe o título de MODINHA (que obteve grande sucesso de público e crítica ??????- Ah, esses "compositores" brasileiros plagiadores são mesmo incorrigíveis....)

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Bom tê-lo a bordo!
O Phineas é um pianista formidável. Seus discos são todos de alto nível, incluindo o We Three, onde ele simplesmente arrasa.
Quanto aos plágios, de vez em quqndo me pego ouvindo um tema que guarda enorme semelhança com algum clássico da MPB - vai ver é só coincidência... :-)
Gtande abraço, Mestre!

José Domingos Raffaelli disse...

Dear Gran Master Érico,

Desde o início da minha vida de jazzófilo comecei a descobrir semelhanças entre determinadas músicas brasileiras com estrangeiras. Como sempre tive um ouvido atento, com o passar dos anos fui colecionando e documentando os plágios com as gravações da verdadeira obra e seu respectivo plágio. Nesses anos todos de vida ligada à música documentei em gravações mais de 400 plágios. Certa ocasião, conversando a respeito com meu então subeditor no Globo, este solicitou que eu escrevesse um artigo a respeito, que declinei imediatamente, pois a relação interminável de plagiadores brasileiros desencadearia uma revolta dos ditos "compositores" e seus séquitos de admiradores. A começar por "Cidade Maravilhosa", "Oh! Minas Gerais", "Teresa da Praia" e um mundo mais, além do que os fanáticos patrioteiros me atacariam de todo jeito e os plagiadores me processariam, sem dúvida alguma.

Por isso, nada escrevi, mas alguns amigos e conhecidos ouviram essas gravações e a maioria saiu incrédula da minha casa pois jamais poderia supor que parte da nata dos nossos compositores populares cometessem tais desatinos....

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Se Deus quiser, em março estarei aí para ouvir essa compliação (ou seria "compilaplagiação").
E ainda tem o hino do América, Copacabana... vários hits com uma mais que suspeita coincidência :-)
Abração!

José Domingos Raffaelli disse...

Dear Gran Master Érico,

Você sabe das coisas ao mencionar, en passant, Copacabana e Hino do América. Aliás, todos os hinos dos clubes cariocas são plágios. Mas, para não provocar a ira de algum leitor patrioteiro, o Hino do América é plágio de "Row, row, row My Boat", hino que os universitários americanos cantam quando competem em jogos esportivos contra outra universidade.

Keep swinging,
Raffaelli

Sérgio Sônico disse...

... Na 1ª vez em que o amigo esteve no Rio, eu, havia semanas antes começado a conhecer o Phineas. Lembro que conversamos entusiasmados sobre o toque de gênio do cara e até, lá no Largo do Machado, com que olhos brilhantes, o nosso mestre Raffaelli demonstrou, quando teceu comentários sobre Newborn Jr.. Na época, pouco antes, baixei tudo q encontrei do pianista e uma música que me marcou está num álbum solo de 1974. Esse disco eu conhecia pela capa, quando adolescente ainda, de ter visto nas lojas no tempo do LP. Não é uma capa q marca pela belezura, é até meio feia, a imagem é a de uma paisagem de deserto com um piano de cauda ao centro emendado numa esfinge com a cara do Phineas. Enfim, a música não é nenhum standard clássico do jazz e sim um clássico do rythm & blues, defendido por gente como Roberta Flack & Donnie Hathaway, Sergio Mendes & Brasil 77 (no álbum "Love Music") e até mais recentemente pelos Black Eyed Peas... Mas meu amigo, a defesa dessa faixa Where is the Love”, que o Phineas reinventa no seu álbum solo de 1974, é algo de emocionar às lágrimas!

Lembro q comentei sobre a canção contigo aqui e até cantarolei a música e vc disse desconhecer. Claro q a culpa foi do meu cantarolar. Não é possível q não conheças, daí q pra resolver a questão vou fazer 1 link com as duas faixas emendadas com a música da forma digamos “careta” e linda defendida por Flack & Hathaway e outra com ao modo “Phineas” de ser – Ah, a bem da verdade, no álbum solo de 74, “Where is the Love”. Não abre mais tem duas versões, fechando dois medleys no mesmo disco, a segunda fecha o disco a outra é a faixa 2 que vem iniciada pelo este sim standard clássico, “Serenade in blue”/”Where is the Love”. o LINK:

http://www.megaupload.com/?d=FCUBUR42

... E Se não conseguires baixar aí (acho q esse troço não funcionou), tou te mandando as faixas separadas por e-mail.

PREDADOR.- disse...

Agora sim, a qualidade do músico melhorou significativamente nessa sua postagem mr.Cordeiro: ótima escolha, com dados e minúcias preciosas sôbre um valoroso pianista. Não sou nenhum crítico musical, arranjador ou coisa que o valha( sou apenas um apreciador de longa data do "velho e bom JAZZ) e não temo em dizer, Phineas igualava-se a Bud Powell, era melhor que Oscar Peterson e realmente deixava Art Tatum "no chinelo". Os albums citados em seus comentários são todos bons, mas, não deixem de conhecer/ouvir também, se possível, "Piano Artistry" (1956), "Here is Phineas"(1958) e "The Great Jazz Piano of Phineas Newborn Jr"(1962). Todos ótimos. É isso!

Unknown disse...

Olá, Érico! Muito interessante seu blog!!! Parabéns!!
Gostaria que comentasse e seguisse meu blog, o "Entretenha a Mente!" , pois já sigo o seu. Comenta:
--->> http://artes-e-entretenimento.blogspot.com
Postei uma crítica sobre a série "Two and a Half Men", e gostaria de ler sua opinião sobre ela! ^^
Conto com você!! ^^

Mil beijos,
Mari.

Érico Cordeiro disse...

Caros Raffaelli, Sérgio, Predador e Maria Rosa,
Se alguém duvida de que o hino do América é plágio de Row, row, row My Boat, tem vários vídeos no Youtube.
Mestre Sérgio, conheço a música - faz parte da memória afetiva, junto com coisas de Al Green, Barry White, Smokey Robinson, Manhatans, Billy Paul, Marvin Gaye... bons tempos. Conheço a capa do disco do Phineas, mas não o conteúdo - não sou lá grande fã de piano solo :-)
Detonador de mundos, esse negócio de ser melhor é meio complicado. Os grandes discos de Peterson se alinham entgre o que de melhor se fez no piano trio. E o Tatum era genial - aquela série de 8 discos em combos é de fazer chorar! Tudo bem que tem hora que ele exagera, mas é outra figura seminal. E se Leonard Feather acha ele um dos 3 maiores pianistas de todos os tempos, quem sou eu pra duvidar?
Maria Rosa, já sou seguidor do seu blog e estou passeando por ele neste momento. Obrigado pelo convite e prometo visitá-la sempre, ok? Obrigado pelas palavras gentis!
Grande abraço a todos!

José Domingos Raffaelli disse...

Dear Gran Master Boss Érico e demais confrades jazzófilos,


Este email é para desfazer um lamentável erro meu num dos posts anteriores abordando o assunto dos plágios, que me desculpo e aqui vai a ERRATA:

No trecho "Nesses anos todos de vida ligada à música documentei em gravações mais de 400 plágios"!

Leia-se: "Nesses anos todos de vida ligada à música documentei em gravações mais de 200 (DUZENTOS) PLÁGIOS" E NÃO 400.

Depois desse erro, é com profunda tristeza que constato a chegada da minha idade senil.....

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Fique tranqüilo - quiséramos nós chegarmos a essa "idade senil" com dez por cento de sua disposição, fluência, memória e sabedoria!
E que tal um Quiz - você vai dizendo alguns originais e a gente vai tentando advinhar qual a música plagiada? Aquela do Zoot Sims eu descobri :-)
Um fraterno abraço!!!!

José Domingos Raffaelli disse...

Dear Gran Master Boss Érico,

Devido à sua sugestão, aí vai o primeiro Quiz de plágios:

I Wanna Be Around - ???
Johnny One Note - ???
Night and Day - ???
May Be You'll Be There - ???
Makin' Whoopee - ???
Vieni Sul Mare - ???
Paramount on Parade - ???
Cielito Lindo - ???
The Most Beautiful Girl in the World - ???
Chopin's Prelude on E Minor Opus 28 -???

Por hoje é só, divirtam-se.
Keep swinging
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Ih, Mestre!
Acho que as respostas vão ser uma verdadeira "Insensatez"!
De qualquer forma, "Tá chegando a hora" da galera participar do desafio, não é mesmo?
Grande abraço e, aos pouquinhos, as respostas vão aparecendo :-)

APÓSTOLO disse...

Estimado ÉRICO:

Magnífica resenha e bela escolha de gravação tão bem descrita de um músico superior (esse é de minha "mesinha de cabeceira").
Quanto ao "Quiz" de JDR são tantas emoções plagiadas, que sómente vivendo noite com uma nota só podemos avaliar.

Érico Cordeiro disse...

Mestre Apóstolo!
Que alegria tê-lo a bordo!
Isso é um ótimo sinal e saiba que a torcida maranhense é grande!!!
Eu quero estar por perto de você sempre, viu?
Quanto à resenha, digamos que eu tenha "me apropriado" (no bom sentido) do texto de um certo catedrático do jazz que se "esconde" em uma certa "toca" na Paulista!
Grande abraço e muita saúde para você e nossa querida Matilde!!!!!!

pituco disse...

érico san,

já me presenteaste, anos atrás, com alguns discos do homi...bom pacas...obrigadão...leio a resenha depois

abrçsonoros

Érico Cordeiro disse...

Mr. Seu Pituco,
Seja mais que bem-vindo, meu Embaixador!
Ouvindo agora Miles Davis at Newport 58, com o fabuloso sexteto (Coltrane, Cannonball, Bill Evans, Paul Chambers e Jimmy Cobb).
Daqui a pouco, tem postagem nova e nobre!
Abração!

figbatera disse...

Que bom, Érico, que agora a gente pode até baixar as músicas que vc posta aqui.
Eu, como fanzoca do Phineas, aproveitei a maré...
Obrigado!

Érico Cordeiro disse...

Cortesia do nosso amigo Renajazz, que sempre disponibiliza links pra rapaziada!
Agora, ouvindo Leo Parker, um sax barítono maravilhoso que em breve pinta no barzinho.
Abração, meu Embaixador nas Terras D'El Rey!

Edison Waetge Jr disse...

Graças a vocês acabei comprando um CD do Phineas Newborn, exatamente esse que capeia o post. É muito bom, valeu!
P.S. Chegou rapidíssimo pelo Amazon, me surpreendi!

Érico Cordeiro disse...

Grande Edison,
Muito bom saber disso!
Legal que essa troca permanente de informações aqui no blog já me fez conhecer um monte de artistas bacanas, pelas sugestões de mestres como o Raffaelli, Predador, Apóstolo, Coimbra, Sérgio, Lester, enfim toda a rapaziada aqui é fera e não brinca em serviço :-)
Grande abraço!

Anônimo disse...

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