Imagine alguém ser obrigado a interromper uma carreira brilhante e, durante quase 30 anos, amargar um inferno pessoal feito de abusos de drogas, internações, tratamentos dolorosos e prisões. Agora imagine a força interior de alguém que passa por tudo isso e consegue sacudir a poeira, dar a volta por cima e se tornar um ícone naquilo que faz. Receber as flores em vida, como cantou Nélson Cavaquinho, não é para qualquer um. Frank Morgan as recebeu.
Assim pode ser resumida a incrível história de Frank Morgan, um verdadeiro documento da crueza e da grandeza da vida. Este saxofonista alto norte-americano, nascido no dia 23 de dezembro de 1933, em Minneapolis, estado de Minnesota, viveu o bastante para reescrever a sua própria história. Sua dramática trajetória pessoal, recheada de provações, sofrimentos e tragédias, é um dos capítulos mais tocantes da história do jazz – felizmente, com um final digno e feliz.
Tudo começou quando Frank ainda estava no conforto da barriga da mamãe. Segundo ele, “quando minha mãe estava grávida, papai costumava sentar ao lado dela e tocava sua guitarra bem pertinho da barriga dela. Assim começou o meu contato com os acordes”. O pai, no caso, era Stanley Morgan, um guitarrista profissional que tocava com o grupo vocal “Ink Spots”, um dos mais populares dos anos 30 a 50. Foi ele que ensinou ao garoto, mal saído das fraldas, os rudimentos da guitarra – o aprendizado à vera começou quando Frank tinha inacreditáveis três anos.
Apesar de tocar com um grupo de grande sucesso de público, Stanley gostava mesmo de tocar jazz e sempre que podia, dava um jeito de participar de alguma jam session. Quando o menino estava com 06 anos, sua família mudou-se para a cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin. Pouco tempo depois, os pais se separaram e o garoto ficou sob a guarda paterna. Os estudos com a guitarra persistiam e tudo levava a crer que a família Morgan iria dar ao mundo mais um guitarrista.
Em 1940, pai e filho se encontravam em Detroit, onde assistiram a uma apresentação da big band de Jay McShann, na qual atuava um altoísta chamado Charlie Parker, então com 19 anos. Quando o altoísta executou o seu primeiro solo em “Hootie Blues”, o garoto virou-se para o pai e disse: “Escuta, pai, é isso que eu quero tocar e não guitarra”.
Ao final da apresentação, o pai levou o garoto até os bastidores e conseguiu conversar com Parker. Apresentou a ele o precoce Frank, que disse a Parker querer tocar como ele. Bird aconselhou o garoto a dedicar-se ao clarinete, porque isso iria ajudar a sua embocadura e a sua respiração, dando-lhe suporte maior para um eventual aprendizado no sax alto. Os estudos do instrumento perduraram até que Frank completasse 10 anos.
Ter conhecido Parker foi um divisor de águas na vida e na futura carreira do garoto. Segundo ele, “Bird era uma pessoa maravilhosa e são as lembranças dele e de sua música que têm ajudado a sustentar a minha vida e a minha carreira. Ele foi, sem dúvida alguma, um fator primordial para que eu desenvolvesse tamanho amor pela música”.
Após vencer diversos concursos de calouros, ganhou do pai um sax alto e dedicou-se ao novo instrumento com maior afinco, estudando com um saxofonista chamado Leonard Gay. Ele teve uma breve experiência com o sax soprano, mas não gostou da sonoridade e continuou com o slto. Fazendo jus ao título de gênio precoce, Frank era um habitual participante de concursos de calouro e, invariavelmente, vencia todas aqueles que disputava.
No verão de 1947, quando tinha apenas 14 anos, o jovem saxofonista mudou-se, juntamente com o pai, para Los Angeles, na Califórnia, indo estudar na “Jefferson High School”. O pai entrou em contato com Benny Carter, para que desse algumas aulas a Frank, mas Benny informou que não lecionava e indicou Merle Johnston. Este era um saxofonista profissional e professor renomado, que já havia ensinado Jimmy Dorsey e outros grandes nomes do cenário californiano. Morgan atribui grande importância aos ensinamentos de Johnston, especialmente no aprimoramento de sua técnica para os solos.
No ano seguinte, o garoto fez a sua estréia como profissional, tocando no clube “Casablanca”, de propriedade de seu pai. Frank liderava uma banda com 20 integrantes e sua perícia ao instrumento deixava admirados mesmo os músicos mais experientes. Para que se tenha uma idéia da ousadia do garoto, certa feita este procurou ninguém menos que Duke Ellington, oferecendo-se para fazer um teste, a fim de ingressar na banda do genial maestro.
O teste foi realizado momentos antes de uma apresentação da orquestra de Ellington no “Shrine Auditorium” e o jovem de apenas 15 anos foi aprovado com louvor. No entanto, apesar de ter tocado naquela noite, Frank não pôde integrar-se em definitivo à orquestra, onde substituiria o mitológico Johnny Hodges, que na época estava saindo da banda, por conta da idade. Além disso o pai fazia questão que ele concluísse os estudos e a vida de excursões e shows seria um empecilho para a vida estudantil do jovem.
De qualquer forma, a idade não era impedimento para que o jovem Morgan fizesse história na região de Los Angeles. Aos domingos, ele era um dos mais assíduos participante das jams realizadas no “Club Alabam”, onde teve oportunidade de tocar com figuras do gabarito de Dexter Gordon, Wardell Gray, Conte Candoli, Carl Perkins, Larance Marable, Leroy Vinegar, Josephine Baker e Billie Holiday.
Ainda naquele vitorioso ano de 1948, foi o vencedor de um concurso de jovens músicos, o que lhe permitiu gravar para a RCA Victor, ao lado da orquestra de Freddy Martin. No final da década de 40, Morgan reencontrou Parker, que então passava uma conturbada temporada californiana. O pupilo recorda daquele período: “Ele era uma estrela, era como os Beatles. Nós tocamos juntos em várias ocasiões. Bird sempre era chamado para tocar nas mansões de astros de Hollywood e eu cheguei a participar de algumas dessas gigs”.
O reencontro com Parker não teve repercussões apenas musicais. Como muitos músicos daquela época, Frank também supunha, equivocadamente, que a genialidade de Bird tivesse uma estreita relação com as drogas e o pupilo mergulhou fundo na dependência química. Em uma entrevista ao crítico Gary Giddins, em 1986, Morgan declarou: “Eu imaginava que o estilo de vida do músico de bebop exigia o uso de heroína para ser autêntico”.
Ao saber que seu discípulo estava enveredando pelo perigoso caminho das Parker o repreendeu duramente e se afastou de Morgan. Mas pouco tempo depois, não apenas retomou a amizade como costumava compartilhar com o pupilo agulhas e seringas. Frank lembra da primeira vez que ele e o ídolo se drogaram juntos: “depois que nós estávamos viajando, Bird me falou sobre a morte. Em um sentido trágico, eu acredito que ele pensava que a sua morte poderia ser o melhor exemplo para evitar que os músicos mais jovens sucumbissem às drogas”.
Frank desceu a tal ponto no submundo dos narcóticos que se viu obrigado a traficar e cometer pequenos furtos, apenas para suprir sua necessidade diária de heroína. O alto custo da droga, que às vezes exigia que ele desembolsasse mais de mil dólares por dia, também o impeliu para o estelionato, e nessa época Frank costumava emitir cheques sem fundos às dezenas. Em 1955, foi condenado por esse crime e por porte de entorpecentes, cumprindo a primeira de várias penas na penitenciária de San Quentin. O prejuízo com os cheques sem fundos andava na casa dos 600.000 dólares.
A carreira, que até pouco tempo atrás disparava rupo ao estrelato, agora declinava assombrosamente. O jovem que em 1953 acompanhou o astro Ray Charles em várias ocasiões e que havia tocado com monumentos do naipe de Lionel Hampton, Teddy Charles, Milt Jackson e de Kenny Clarke era agora um homem destruído física e psicologicamente. 1955 foi um torvelinho de emoções. Seu grande ídolo Charlie Parker havia morrido e, da prisão, Morgan tomou ciência do sucesso do seu álbum de estréia, gravado para o selo GNP, nos meios jazzísticos.
Saudado como “o novo Charlie Parker”, Morgan não pôde desfrutar do sucesso de suas gravações e, pouco a pouco, foi se tornando um personagem obscuro e pouco lembrado no cenário musical. Mas no estreito espaço entre os muros e grades do presídio, Morgan era considerado uma espécie de celebridade. Em 1962, ele fez amizade com o grande Art Pepper, que também cumpria pena por posse de narcóticos em San Quentin.
Os dois montaram um grupo, do qual faziam parte outros presidiários como o trompetista Dupree Bolton e o baterista Frank Butler, que costumava se apresentar no presídio, para outros detentos e para os visitantes que, aos sábados, costumavam freqüentar as dependências do presídio. Muitos iam para rever os parentes detidos, mas boa parte dos visitantes queria apenas conhecer detalhes da vida prisional – e ouvir jazz de ótima cepa.
Como recompensa, os músicos recebiam prêmios, como doces, maconha, cortes de cabelo, revistas, boquilhas para os saxofones, discos e até dinheiro por suas apresentações. Frank recorda daquele período difícil: “A melhor banda com a qual toquei na prisão foi a de San Quentin. Art Pepper e eu tínhamos muito orgulho daquela banda. Havia Jimmy Bunn, Frank Butler e muitos outros músicos, alguns conhecidos e outros anônimos. Nós tocávamos todas as noites de sábado, numa programação que chamávamos de “Warden's Tour”. Muitos visitantes pagavam para conhecer as celas, os refeitórios e as salas de exercício, mas a maioria deles ia lá apenas para ouvir a nossa banda”.
Morgan passou quase 30 anos encarcerado. Entradas e saídas de presídios sucederam-se até 1985, quando finalmente ele conseguiu se livrar das drogas. Ele assentiu em participar de um programa de recuperação baseado no uso de metadona e em novembro daquele ano estava formalmente livre tanto do vício quanto de outras repercussões criminais decorrentes de seu envolvimento com as drogas. Nesse doloroso percurso, o apoio da esposa, Rosalinda Kolb, foi fundamental.
O retorno à música foi dos mais auspiciosos e a singularidade de sua trajetória despertou grande interesse da mídia. Ele participou de diversas edições do programa televisivo “Today Show” e sua vida foi contada no programa “Real Life”, produzido pela rede NBC em 1990, com apresentação de Jane Pauley. Suas histórias renderam também um espetáculo musical denominado “Prison-Made Tuxedos”, que ele mesmo estrelou em 1987. A experiência mostrou-se dolorosa demais, pois o obrigava a recordar os infindáveis dias de sofrimento na prisão.
Por causa das circunstâncias que envolveram seu retorno, a visibilidade recebida por Frank era muito mais acentuada que aquela que, habitualmente, está reservada a um músico de jazz. O saxofonista mereceu até um perfil na revista People, espécie de bíblia das celebridades norte-americanas. Sua primeira temporada em Nova Iorque foi um enorme sucesso de público, que durante três semanas lotou as dependências do Village Vanguard, em 1986.
A tarefa de se readaptar à vida livre não deixou de ser penosa para Frank. Ele conta que temporada no Vanguard foi bastante estranha: “O medo que eu sentia no período em que estive na cadeia desapareceu e eu sentia como se a prisão é que fosse o meu paraíso. Demorou muito tempo para que eu me sentisse confortável em liberdade e pudesse encarar a vida de frente. Depois do meu primeiro solo no Village Vanguard as pessoas aplaudiam tão alto que eu me assustei. Se alguém chegasse ali e gritasse ‘Bu!’, eu provavelmente teria saído correndo, implorando para voltar para San Quentin”.
Passada a fase de readaptação, graças ao trabalho intensivo e à recepção calorosa que teve por parte dos colegas, Frank se tornou um dos mais disputados altoístas do final dos anos 80 e de toda a década seguinte. Para fugir à agitação da cidade grande, estabeleceu-se em Taos, no Novo México, saindo de lá apenas para concertos e gravações. Como que para coroar tamanho sucesso, foi eleito, em votação da crítica, o melhor saxofonista alto, em votação feita pela revista Downbeat, em 1991.
Em pouco mais de vinte anos desde o seu retorno, Frank gravou mais de uma dúzia de ótimos álbuns, para selos como Contemporary, Antilles, Telarc e HighNote Records, por onde lançou seus últimos discos, incluindo aí os elogiadíssimos “City Nights” e “Raising the Standard”.
O primeiro disco gravado por Morgan, como líder, foi “Easy Living” (Contemporary, 1985), à frente de um quarteto que inclui o pianista Cedar Walton, o baixista Tony Dumas e o baterista Billy Higgins. Nas palavras do crítico Robert Palmer, do New York Times, o disco era “uma das maiores surpresas daquele ano e um verdadeiro deleite musical”.
Em suas empreitadas fonográficas, o saxofonista teve a seu lado alguns dos maiores nomes do jazz, das mais diversas gerações: Terry Gibbs, Joe Henderson, McCoy Tynner, George Cables, Cedar Walton, Wynton Marsalis, Red Rodney, Monty Alexander, Hank Jones, Kenny Burrell, Rufus Reid, Roy Haynes, Mulgrew Miller, Ron Carter, Al Foster, Billy Higgins, Curtis Lundy, Lewis Nash, Buster Williams, Roy Hargrove e muitos outros.
Uma ótima oportunidade para se comprovar as qualidades de Morgan é no estupendo “Yardbird Suite”, homenagem feita por ele ao eterno ídolo e que está disponível em cd. Gravado nos dias 10 e 11 de janeiro de 1988, para a Contemporary, este é um dos pontos altos da carreira do saxofonista. No auge da forma técnica, ele lidera um quarteto do mais alto gabarito, com Mulgrew Miller no piano, Ron Carter no contrabaixo e Al Foster na bateria.
O repertório é excepcional, com composições de autoria de Bird ou temas que ele tocava habitualmente. E é exatamente com “Yardbird Suite” que o grupo inicia os trabalhos, em uma interpretação feérica e explosiva. A sonoridade de Wess é menos crua ou adstringente que a de Parker, mas seus improvisos são igualmente caudalosos. O entusiasmo de Miller, o caçula da turma e que então despontava para o mundo do jazz nos indefectíveis Jazz Messengers, é quase palpável. Seguros e muito bem entrosados, Carter e Foster garantem uma base das mais sólidas, além de se arriscarem em solos apoteóticos.
“A Night in Tunisia”, de Dizzy Gillespie e Frank Paparelli, vem a seguir e traz à memória a seminal parceria entre Bird e Diz. Despindo o tema de sua veia “oriental”, o arranjo prioriza o conteúdo eminentemente bopper. A velocidade que Morgan imprime à sua execução é impressionante e o trabalho da sessão rítmica consegue harmonizar-se com tamanho dinamismo, sem prejuízo da fluidez e da inventividade. O formidável domínio que Miller possui do idioma bop merece ser apreciada com atenção redobrada.
“Billie's Bounce” é outro tema parkeriano e sua estrutura é cadenciada e firmemente arrimada no blues. Muito swing por parte dos quatro, com interpretações sensacionais de Carter e de Miller. “Star Eyes”, balada de Don Raye e Gene DePaul, recebe uma versão onde o flerte com a bossa nova é bem pronunciado. Exibindo enorme fluência e a articulação típica de quem domina todas as nuances do instrumento, Morgan navega por águas tranqüilas. Seu fraseado é sutil e melodioso, na linha de um Benny Carter, e passa ao ouvinte uma atmosfera de paz e relaxamento.
“Scrapple from the Apple” é mais um petardo da vigorosa oficina de Bird. Com um leve tempero de samba e rápidas citações a “Stranger In Paradise” e “Milestone”, a interpretação do quarto é um dos pontos altos do álbum. Morgan improvisa com a ferocidade de quem desceu ao inferno e voltou para contar a história, e seus solos possuem aquela caudalosa força motriz que torna o jazz uma forma de expressão musical tão visceral. Miller, exibe a autoridade e a ousadia de quem, em pouquíssimo tempo, se tornaria um dos nomes mais importantes do piano contemporâneo, conjugando ímpeto criativo e fluidez de idéias em uma execução irretocável.
Parker jamais gravou “Skylark”, esplendorosa parceria dos geniais Hoagy Carmichael e Johnny Mercer. Ao gravá-la, Morgan consegue passar ao ouvinte a sensação que qualquer tributo digno desse nome deveria ter como uma regra de ouro: o homenageado certamente assinaria embaixo e aprovaria sem pestanejar a versão do quinteto. O sopro cálido e gentil do líder revela alguém que não se deixou abater pelos percalços da vida e jamais perdeu a sensibilidade. Sua doçura é comovente e o lirismo da sua performance é como uma delicada carícia sonora.
Parker comparece também na faixa de encerramento, a sacolejante “Cheryl”. Morgan é perícia, é agilidade, é paixão, é jazz em estado puro. Mas o líder também é generoso e dá bastante espaço para que a sessão rítmica possa brilhar. Nesse quesito, a atuação de Miller é impecável. Referências a Monk, Tristano, Ellington e Powell podem ser percebidas em seu toque, além de um rigoroso aproveitamento dos silêncios. Revisitar a obra de um gênio não é tarefa simples. Sempre há o risco de se escorregar pelo caminho da auto-indulgência ou da obviedade, coisas que passam ao largo deste álbum, que dignifica qualquer discoteca jazzística.
Guindado à condição de monstro sagrado do jazz, Morgan não deixou que o sucesso – tardio, porém merecido – lhe subisse à cabeça. Tocou nos mais importantes festivais do mundo, teve ampla liberdade para gravar seus discos da maneira que bem entendeu e, sobretudo, desfrutou de um reconhecimento raro por parte do público, da crítica e de outros colegas de profissão. Wynton Marsalis, por exemplo, chegou a declarar que “não há por aí ninguém melhor do que Frank no sax alto. O som que ele produz é repleto de alma, ardente e atemporal”.
Quem quiser conhecer o trabalho do saxofonista em riqueza de detalhes pode assistir ao formidável DVD “A Tribute To Charlie Parker – Birdmen & Birdsongs”, lançada pela “Storyville”, com direção de Stanley Dorfman e produção de Ben Sidran e Clive Woods. Ali, ao lado do trompetista Red Rodney, do pianista Monty Alexander, do baixista Rufus Reid e do baterista Roy Haynes, Morgan interpreta diversos temas de autoria de Parker, em um concerto gravado ao vivo, em janeiro de 1990 no “Palais Des Festivais”, em Cannes.
Em 1998 Frank viveu um novo drama pessoal, ao sofrer um AVC, quando se preparava para tocar no Flint Jazz Festival, em Michigan. Os prognósticos médicos foram sombrios: ele não voltaria a tocar novamente. A doença não seria obstáculo para quem havia passado por tanto sofrimento e em apenas seis meses, Morgan já estava gravando e se apresentando em festivais pelo mundo. Sua receita: muita fisioterapia e doses ainda maiores de força de vontade.
Infelizmente, no começo de novembro de 2007, quando excursionava pela Europa em uma turnê com o pianista Rein de Graaff, Morgan recebeu o diagnóstico de um câncer no colón. Ele voltou aos Estados Unidos e começou o tratamento, mas a doença abateu-o pouco mais de um mês depois, no dia 14 de dezembro daquele ano, em Minneapolis onde morava desde meados dos anos 90.
O último álbum de Morgan é um verdadeiro canto de cisne. Trata-se do duo entre ele e John Hicks, que faleceria em maio de 2006, intitulado “Twogether” (HighNote), gravado em novembro de 2005, durante uma temporada da dupla no clube Jazz Bakery, em Los Angeles. Em uma entrevista, revelou um pouco da sabedoria musical acumulada ao longo dos anos: “Eu demorei muito para aprender que o silêncio é nosso amigo, não inimigo. O silencio é o melhor amigo de um músico. É ele que dá sentido àquilo que tocamos”.
Na mesma entrevista, revelou a sua admiração por outros grandes saxofonistas como Charles McPherson, Sonny Fortune, Kenny Garrett, Donald Harrison e James Spaulding. Para o notável Pedro Cardoso, Morgan “é um virtuose no saxofone alto, dotado de absoluto controle de respiração e de digitação mesmo em ‘up-tempo’, que domina com total autoridade técnica e de fraseado, construído com lógica e pleno respeito à linha melódica original ou parafraseada”.
Para o Apóstolo do Jazz, o estilo do saxofonista é claramente ancorado no blues, mas foi sendo “paulatinamente depurado, até alcançar o exemplo virtuoso e perfeito da construção original sempre tangente à linha melódica, que ele entrecorta com fragmentos rítmicos aumentando a tensão e a intensidade de suas interpretações”.
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30 comentários:
Caro Gran Master Boss,
O que tenho a comentar sobre outra relevante crítica do "the man who never sleeps" ?. Você disse (escreveu) tudo e nada há para acrescentar.
Frank Morgan foi um dos primeiros saxofonistas alto discípulos de Charlie Parker revelados na West Coast no início dos anos 50, tendo gravado com Wardell Gray, Hampton Hawes, Teddy Charles e outros "cobras".
Tenho um excelente CD dele com Bud Shank gravado ao vivo. Quando Shank esteve aqui, num jantar conversamos muito e levei o tal CD para ele autografar, surpreendendo-me ao dizer com todas as letras que "we hated each other, but the music went out beautifully"!!
A propósito, conhece o CD dele com o trio de McCoy Tyner ? É ouro em pó.
Keep swinging,
Raffaelli
Mr., agora fiquei louco pra conseguir o Easy Living. Tens?
Jazz pra combinar com a chuva que cai aqui,
bjkas
Caríssimos Raffaelli, Sérgio e Alê,
Sejam mais que bem-vindos. Obrigado ao Mestre, por palavras tão generosas, mas mesmo que eu me esforce, não conseguirei jamais dar testemunhos da convivência com os grandes nomes do jazz, tal como você nos presenteia em suas intervenções. Bud Shank é um grande nome e vai pintar por aqui em breve mesmo!
Infelizmente, não conheço o disco do Morgan com o McCoy Tyner Trio, sei que se chama Major Change, mas ele está a proibitivos 160 dólares no Amazon. Tem uns usados mais em conta e quem sabe em breve eu tomo coragem para pedir...
Mr. Sam, além do postado e do Easy Living, estão à sua disposição os seguintes cds: You Must Believe In Spring, Love, Lost & Found, Bop!, Reflections e A Night In The Life.
É só avisar.
Alê, dias chuvosos parecem implorar por uma trilha sonora jazzística.
Uma ótima semana a todos!
Tenho-os todos! Sou grande fã do Morgam. Agora, depois dessa lição de vida, imagina.
Outra coisa ao mesmo tempo sensacional e lamentável é a quantidade de música da melhor qualidade, sem registro, foi produzida nos presídios entre os 40s/50s e quiça 60s e 70s nos EUA. Já pensou?
Corrigindo-me: Tenho-os todos! Menos o “Easy Living”, q numa primeira olhada (porém) clínica, não se encontra nem em blogs, nem na salvação no soulseek.
Pois é, Mr. Sérgio.
Já pensou a quantidade de música de qualidade que rolava nesses presídios dos anos 50 e 60 (se contarmos as clínicas de reabilitação então é covardia).
Muitos malucos geniais andaram, como se dizia antigamente, vendo o sol nascer quadrado.
Don't worry, te mando o Easy Living hoje à noite, ok?
Abração e dá uma sacada nesse disco com o McCoy Tyner Trio - parece fabuloso!
Em tempo: esse do McCoy, tbm até então nada. Porram... o Easy Living acaba de morder a isca, e chaqualhar o linha, aqui em Soulseek Lake. Pela força acho que pesquei outro peixão.
Seu san, pode suspender o up load.
Abraços!
quis dizer "chacoalhar a" (êta nóisi!)
Como diria o gênio da lâmpada: seu desejo é uma ordem...
Boa sorte na pescaria!
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BIRD CALLS
FRANK MORGAN KENNY CLARK ALL STARS E GIGI GRYCE
SENHA melanchthon
Começou a chover na nossa horta, Mr. Sam - é por isso que eu sou fã do jazzbarzinho!
Meu caro Renato, discípulo do Mestre Raffaelli, não há como agradecer pelos seus bons préstimos!
Abração.
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FRANK MORGAN E RODNEY KENDRIKS TRIO
BOP
Great profile on Frank Morgan, Erico. Keep up the good work on your excellent blog. Steve Cerra
Caro Renato,
Mais uma vez você se mostra o gatilho mais rápido do oeste!
Dear Steve,
Coming from you, it's such a great honour for Jazz + Bossa. Thaks - you're very kind!
Abraços aos dois e keep swinging!
calma que ainda tem coisas para chegar gostaria de saber se vc ja ouvi a norma do horace parlan
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FRANK MORGAN - RAISING THE STANDARD
CAROS AMIGOS DO BARZINHO ACABEI DE TOMAR CONHECIMENTO QUE COISA DE UMA SEMANA ATRAS ESTE TAL DE RAPIDSHERE PASSOU A SER PAGO AI FICA DIFICIL ... MAIS JA CONSEGUI ENCONTRAR TRES DISCO DO NOSSO FRANK MORGAN NO EMULE E ASSIM QUE BAIXAR AVISAREI A TODOS PARA MANDAREM SEUS EMAILS QUE EU MANDAREI O DISCO COM CAPA E TUDO
Estimado ÉRICO:
Sua resenha, mais que informativa e correta no texto e no espírito, é uma "ode" perfeitamente simétrica no tempo e no espaço para um dos músicos que fizeram JAZZ.
Grato pela música, grato pela escolha da homenagem a PARKER.
Mr. san, please, seja o primeiro a me visitar e confira se eu e o Ruy (rs) estamos exagerando nas loas ao Mooney...
Caríssimos Renato, Apóstolo e Sérgio!
o primeiro, digo que deixei uma mensagem pra você no "Jazz como nós gostamos".
Ao segundo, nem precisa dizer que você foi decisivo para que esta resenha ganhasse a rede. Não seria possível escrever sobre o Morgan sem a sua participação mais do que especial, me dando um texto primoroso para que eu apenas complementasse, aqui e acolá, as informações sobre esse monstro do jazz.
Mr. Sérgio, já passando no sonicbarzinho.
Abraços a todos!!
Érico, lembrei de você vendo a exposição sobre Miles Davis no CCBB aqui do Rio. Também um músico prejudicado pelas drogas, uma carreira incrível e a música dele presente pelos aposentos onde a exposição se espalhava. Lindo.
Ando meio longe dos amigos, a falta de tempo é um terror, mas não esqueço blogueiros como você.
Um beijo, ouvindo a saudade do Modern Sound.
Querida Dade,
É sempre muito bom tê-la no barzinho!
Sua presença é sempre encantadora e nesta data especial, em que Borges completa 112 anos e está escrevendo cada vez melhor (os argentinos gostam de dizer que Gardel está cantando cada vez melhor, então essa imagem serve para o nosso querido escritor).
A falta de tempo talvez seja o grande mal da modernidade - o dia deveria ter pelo menos 30 horas :-)
Em breve estarei na Cidade Maravilhosa, para fazer o lançamento do livro Confesso que ouvi - depois eu dou mais detalhes.
Um grande abraço!
érico san,
sobre o silêncio, eu me calo...salve mr.frank morgan...e agradeço pelo sopro bacanudo e fraseado espertíssimo...além, é claro, por mais essa aula...
abraçsonoros
Meu embaixador,
Seja mais que bem-vindo!
Você é prata da casa!
E o Morgan é um verdadeiro craque!
Abração!
Erico,
como sempre, o maximo em resenha jazzistica, nota 10,com louvor!
E ,sendo um super fã de Al Foster(esse é DANADO!!!!) acho que não seria demais pedir que voce me pandiasse o disco. E que estrago que esse negocio de "pão doce" fez entre os jazzmen , especialmente essa turma que veio ali pela decada de 50.
Abraço
Erico,
como sempre, o maximo em resenha jazzistica, nota 10,com louvor!
E ,sendo um super fã de Al Foster(esse é DANADO!!!!) acho que não seria demais pedir que voce me pandiasse o disco. E que estrago que esse negocio de "pão doce" fez entre os jazzmen , especialmente essa turma que veio ali pela decada de 50.
Abraço
MESTRE ERICO MANDE ALGUMA COISA PARA MIM PARA QUE EU POSSA COLOCAR NO BLOG E MANDAR POR EMAIL AOS MEU AMIGOS SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO
Caros Tandeta e Renato,
Descobri a fórmula pra tirar o homem da toca: é só falar de um grande baterista que ele aparece :-) Bom, já que no jazz o que não falta é baterista de alto nível, vou continuar postando esses caras!
Quanto ao Pando, nunca mais consegui instalar o programa em meu computador - vou te mandando via e-mail, ok?
Renato, te mando um e-mail dando mais detalhes - vá se programando, pois faço questão de conhecê-lo pessoalmente.
Abração aos dois!
érico san,
veja e ouça o que achei no yt...talvez até conheças, mas vale repetir o gol...
http://www.youtube.com/watch?v=CpK3SpENOfQ
a moça tinha apenas 15 aninhos...e usa um chapéu que ganhou de mr.woods...
abraçsons
Maravilha, Mr. Pituco.
A Grace Kelly vem sendo muito badalada nos últimos tempos. Li sobre ela no CJUB. Pô e a boinazinha foi presente de Phil Woods? Caramba - é um atestado de excelência!!!!
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