Todos sabem que os Estados Unidos são a pátria do
jazz, motivo porque a ambição dos
músicos de jazz de todo o mundo é lá se estabelecerem para seguir suas
carreiras de jazzmen. Muitos deles, especialmente os mais talentosos,
realizaram esse objetivo com sucesso e a lista é quase interminável, entre eles
George Mraz, Toshiko Akyioshi, Atila Zoller, Dave Holland, Valery Ponomarev,
George Shearing, Paquito D’Rivera, Claudio Roditi, Anat Cohen, Arturo Sandoval,
Sylvia Cuenca, Luis Bonilla, Papo Vasquez, Nestor Torres, entre muitos outros,
e nosso focalizado de hoje, o clarinetista sueco Ake Stan Hasselgard
(10/4/1922-23/11/1948), que gravara em seu país com o trombonista Tyree Glenn e
o baixista Simon Brehm, entre outros.
Hasselgard tinha 24 anos quando foi para os Estados
Unidos em julho de 1947 com o objetivo de matricular-se na Universidade
Columbia para um curso da História da Arte Universal. Como tocava jazz, em New
York logo interessou-se pelo ambiente jazzístico da cidade, ficando
profundamente impressionado pelo conjunto de Dizzy Gillespie, então no auge do
movimento bebop. Todavia, quando acabou seu dinheiro, Stan decidiu viajar para
a Costa Oeste americana, mais precisamente em Los Angeles, onde logo
entrosou-se com os músicos locais, entre eles o guitarrista Barney Kessel, que
no início de 1947 participara das históricas gravações de Charlie Parker para a Dial. Logo ficaram
amigos e Barney Kessel ensinou os segredos do idioma bebop a Stan, que ficou
empolgado pelo então novo estilo.
Entrosado no ambiente musical de Los Angeles, Stan
participou de uma jam session em Hollywood, em 29 de abril de 1947, que foi
gravada, ao lado de Wardell Gray (sax-tenor), Howard McGhee (trompete), Sonny
Criss (sax-alto), Dodo Marmarosa (piano), Charles Drayton (baixo) e Jackie
Mills (bateria), resultando em longas interpretações de “How Hiogh the Moon” e
“C Jam Blues”.
A essa altura, o famoso clarinetista Benny Goodman
ouviu Stan Hasselgard e ficou tão impressionado com seu talento que convidou-o
na hora para tocar no seu conjunto, tonando-se o único clarinetista solista a
tocar com Goodman, que o tinha na mais alta estima declarando que ele poderia
ter sido o maior de todos os clarinetistas do jazz moderno.
Assistindo uma gravação da orquestra do maestro
Frank Devol, bastante entusiasmado ele propôs gravar com Kessel e outros
músicos quatro composições, ideia prontamente aceita pelo diretor da gravadora
Capitol, perpetuando em 28 de Novembro de 1947 ”I’ll Never Be the Same”,
“Swedish Pastry” (de Kessel), “Sweet and Hot Mop” (baseada nas harmonias de
“Sweet and Lovely”), “Who Sleeps” (baseada nas harmonias de “Jeepers Creepers”
e “Bop” (de Red Norvo e Shorty Rogers). Além de Stan e Barney Kessel, tocaram
Red Norvo (vibrafone), Ray Linn (trompete), Jimmy Giuffre (sax-tenor), Dexter
Gordon (sax-tenor), Red Callender (baixo) e Jackie Mills (bateria). Dois dias
depois, em 30 de Novembro de 1947 os mesmos, com o pianista Dodo Marmarosa,
gravaram “I’ll Follow You”.
Essas foram as únicas gravações de Hasselgard em
estúdio e através delas ficou claro que
ele encontrara sua maneira de tocar com improvisações criativas, sonoridade
clara, fluente e com muito suingue, como comprovam seus solos brilhantes em “Swedish
Pastry”, “Who Sleeps”, “I’ll Never Be the Same” e “I’ll Follow You”.
Infelizmente, Stan nunca ouviu essas gravações
porque morreu tragicamente num desastre de automóvel poucos dias depois de
completar 26 anos, marcando o fim de uma das mais fugazes passagens pelo jazz
de um jovem que tinha tudo para projetar-se definitivamente no país do jazz.
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De volta à ativa, após um longo período de
hibernação, o blog tem a honra de trazer aos amigos mais um brilhante texto do
nosso querido e admirado José Domingos Raffaelli, uma das maiores autoridades
em jazz de qualquer época. Na radiola, alguns temas de Hasselgard, extraídos do
álbum “Stan Hasselgård & Benny Goodman” (1948), gravado ao vivo no clube
Click, Filadélfia, e conta com as participações de Teddy Wilson (piano),
Wardell Gray (sax tenor), Arnold Fishkind (contrabaixo), Billy Bauer (guitarra)
e Mel Zelnick (bateria). Espero que vocês curtam e tenham um pouquinho de
paciência, até que as postagens voltem ao ritmo habitual. Grande abraço a
todos.
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8 comentários:
Pensei que era mais um blog de jazz a ir "para o espaço". Aliás, neste período de inatividade, fui umas 30 vêzes a "Predatoria" e nada de postagens. Quanto ao texo enfocado, por falta de tempo, deixarei para opinar mais tarde. Duas coisas mais: alegria pelo seu retôrno mr.Cordeiro e, de antemão, nem precisaria comentar sobre o texo de mr.Raffaelli envolvendo músicos do naipe de Teddy Wilson, Wardell Gray, Bille Bauer......todos ótimos.
Eita, tava de férias ou intupido de coisas heim???
Estavamos com saudade de passar por aqui e ouvir coisinhas boas como essas que você acabou de postar.
um beijo de todas nós.
Agora sim, com mais calma pude ler o texto e ouvir as músicas da radiola. Muito bom o clarinetista Hasselgard, que não conhecia. Possívelmente seria um músico sueco a se destacar no mundo jazzístico. Pena ter falecido tão cedo. Músicas e arranjos ótimos, do disco postado, com várias "feras" do jazz. Só mesmo mr.Raffaelli para "desenterrar" essas preciosidades.
Estimado MESTRE ÉRICO:
Feliz com seu retorno aos textos e parece-me que agora terei algum tempo para dedicar à ARTE MAIOR.
Boa escolha a do texto de JDR, sendo certo destacar que do Hasselgard sómente possuo 04 faixas (STAN HASSELGARD AND HIS ALL STARS SIX em "Swedish Pastry", "I'll Never Be The Same", "Sweet And Hot Mop" e "Who Sleeps?", todas do volume 4 da série de LP's "Capitol Jazz Classics). É clarinetista de estilo brilhante, digitação perfeitamente articulada e técnica de respiração dos bem dotados.
APÓSTOLO
Caríssimos amigos,
Ainda na correria, agradeço as presenças de todos e, sobretudo, a generosidade do nosso guru Raffaelli por ter disponibilizado o belíssimo texto que só enriquece o barzinho.
Até o fim desta semana, nova postagem, enfocando um trompetista mais do que "caliente"!
Grande abraço a todos!
Excelente musica soy fanatico del jazz, es uno de mis hobbies
Érico,
esta já é uma volta em grande estilo! Depois de sua belíssima resenha, um outro presente dessa nossa estrela maior, o doce, gentil, delicado e elegante, Mestre Raffaelli. Só me resta agradecer, agradecer, agradecer... Não há paga possível a este nosso encontro, aqui, com vocês. Vida longa, muito longa, aos dois!
Tio Faria
Carlos e Tio Faria,
Sejam muito bem vincos.
A saudade da Cidade Maravilhosa e das pessoas maravilhosas daí é enorme.
Abração, meu tio querido!
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