Antigamente, no tempo em que os bichos falavam, havia o
chamado jogador polivalente, aquele que atuava em diversas posições do campo e
cumpria um monte de funções táticas diferentes. Talvez o mais célebre desses
jogadores tenha sido Paulo Isidoro, que despontou para o mundo do futebol no
Atlético Mineiro, vice-campeão brasileiro de 1977, em um time que tinha craques
como Reinaldo, Marcelo e Toninho Cerezo. Isidoro era, em sua origem, um
habilidoso ponta-de-lança, mas também atuava como meia armador, ponta direita
e, mais raramente, até como cabeça-de-área.
Espécie de xodó de Telê Santana, que o descobriu ainda nas
categorias de base do Atlético Mineiro, Isidoro foi um dos integrantes da
seleção que encantou o mundo na Copa do Mundo de 1982. Fez poucos jogos, porque
disputava posição com craques como Zico, Sócrates e Éder, todos no auge da
forma física e técnica. Em sua vitoriosa carreira, passou por times como Santos,
onde conquistou o Paulistão de 1984, Guarani e Grêmio, onde sagrou-se campeão
brasileiro em 1981.
Bom, se o jazz tem um músico polivalente, o seu nome é James
Peter Giuffre. Jimmy, para os íntimos. Duvida? Como intérprete ele dominava
toda a família dos saxofones, com especial predileção pelo tenor e o barítono,
e mais a flauta e o clarinete. Atuou em grandes orquestras do swing nos anos 40
e foi um dos precursores de pequenos grupos sem piano na década seguinte, uma
novidade para a época. Compositor, arranjador e educador musical, ele inscreveu
seu nome em praticamente todas as vertentes do jazz.
Compôs e arranjou a célebre “Four Brothers” para a
orquestra de Woody Herman, que além de ter feito grande sucesso, ainda serviu
para denominar os quatro saxofonistas que atuavam na big band: Zoot Sims, Stan
Getz, Herbie Steward e Serge Chaloff. Outra composição sua, “The Train and The
River”, também fez bonito nas paradas de sucesso dos anos 50. Figura de proa do
chamado West Coast Jazz, Giuffre não hesitou em mergulhar de cabeça nas
enigmáticas águas do free jazz e seu álbum “Free Fall” (Columbia, 1962),
continua sendo, 50 anos depois de sua gravação, uma referência obrigatória dessa
vertente tão polêmica.
Para que se tenha uma idéia da sua importância, basta
conhecer a opinião do guitarrista Jim Hall, integrante do trio de Giuffre
durante boa parte da segunda metade da década de 50: “Eu provavelmente aprendi
mais com ele, em todos os sentidos, do que com qualquer outro músico com quem
toquei. Jimmy era um estudioso, um músico extremamente sério e dedicado. E muito
generoso. Ele possuía um senso de trio incomum, jamais reservando aos seus
parceiros um papel secundário de meros acompanhantes”.
Nascido no dia 26 de abril de 1921, em Dallas, no Texas,
Giuffre era filho de uma família de ítalo-americanos e desde cedo mostrou uma
aptidão incomum para a música. Seus primeiros passos foram dados na Dallas
Technical High School, onde, aos nove anos, iniciou-se nos estudos do
clarinete. Aos onze, já participava de concertos e recitais de música erudita
na cidade natal. Aos dezessete, já era um virtuose também ao sax tenor,
instrumento que habitualmente tocava em bandas e orquestras de baile da região
de Dallas.
Na mesma época, começou a freqüentar o curso de música da
North Texas State Teachers College, em Denton, onde teve como colegas craques
como o contrabaixista Harry Babasin e o guitarrista Herb Ellis, com quem
dividia o alojamento. Giuffre era um apaixonado pelas orquestras do swing e
tinha especial predileção pela big band de Jimmie Lunceford. Em 1942, em plena
II Guerra Mundial, Jimmy, já com o diploma nas mãos, se alistou no exército,
mas não chegou a entrar em combate.
Dispensado no final de 1945, ele atuou em algumas
orquestras, como as de Boyd Raeburn, Red Norvo (com quem fez suas primeiras
gravações, em 1946, numa formação que incluía o notável Dexter Gordon), Jimmy
Dorsey e Buddy Rich. Em 1947 ele aportou na orquestra de Woody Herman, como
saxofonista, mas foi essencialmente por seu trabalho como arranjador e
compositor que ele se tornou conhecido no mundo do jazz. Seus arranjos pouco
ortodoxos ajudaram a big band a se firmar como uma das mais peculiares da
época, com uma sonoridade moderna e cheia de personalidade.
A convivência estendeu-se até 1949, quando Herman desfez a
orquestra. No ano seguinte, Jimmy se muda para Los Angeles, a fim de fazer o
mestrado na University of Southern California. Ali, conheceu o maestro e
compositor Wesley La Violette, que se tornaria uma de suas principais
referências não apenas musicais, mas também intelectuais. Culto, profundo
conhecedor da filosofia oriental e autor de diversos livros na área de teoria
musical, La Violette era também um respeitado poeta e sob sua orientação o
trabalho de Giuffre tornou-se ainda mais ousado.
Durante esse período, o saxofonista ingressa na banda de
Shorty Rogers, outro célebre aluno de La Violette, ao mesmo tempo em que passa
a tocar com freqüência no Lighthouse Café, Hermosa Beach. O local era uma
espécie de quartel-general do West Coast Jazz, e virtualmente todos os grandes
nomes do estilo passaram por seu palco. Um dos donos do clube era o baixista Howard
Rumsey, cuja banda, o Howard Rumsey's Lighthouse All Stars, congregava
portentos como Shorty Rogers, Shelly Manne e o próprio Giuffre, que além do
saxofone era responsável pelos arranjos e, eventualmente, por algumas
composições. Uma delas, “Big Boy”, feita em parceria com Rogers, chegou a fazer
algum sucesso nas paradas de jazz da época.
Em 1955, ainda na condição de membro da banda de Rogers,
apropriadamente chamada “Shorty Rogers and His Giants”, Giuffre deu uma nova
ênfase em sua busca por novos caminhos musicais. Sua estréia como líder aconteceu
naquele ano, com a gravação de “Tangents in Jazz” (Atlantic), cuja atmosfera
camerística, aliada à ausência do piano, mereceu muitos elogios por parte da
crítica especializada.
Cada vez mais respeitado como compositor e arranjador, ele
também se consolidou como um disputado acompanhante, tendo participado de
gravações sob a liderança de sumidades como Gerry Mulligan, Maynard Ferguson, Buddy
DeFranco, Marty Paich, Shelly Manne (Jimmy participa do audacioso disco “The
Three and the Two”, gravado para a Contemporary em 1954), Charles Mingus, Herb
Ellis, John Lewis e Teddy Charles, entre outros.
Ele então desfrutava da ótima repercussão de seu disco “The
Jimmy Giuffre Clarinet” (Atlantic, 1956), onde interpreta standards e
composições próprias, em formações inusitadas, incluindo uma faixa apenas ao
clarinete solo. Considerado ousado para a época, o disco incorporava
instrumentos pouco utilizados no jazz, como a celeste (a cargo do pianista
Jimmy Rowles), o oboé, o fagote e o clarinete baixo. A seu lado, alguns dos
mais brilhantes expoentes do jazz californiano, como Shelly Manne, Shorty
Rogers, Bob Cooper, Jack Sheldon, Bud Shank e Stan Levey, além do veterano
trompetista Harry “Sweets” Edison.
Em 1957, Giuffre já havia deixado os Giants e formou um
quarteto com o pianista Jimmy Rowles, o baixista Red Mitchell e o baterista
Lawrence Marable. O grupo não durou muito tempo e deixou apenas um registro, o
álbum “Ad Lib”, para a Verve, gravado naquele mesmo ano. Logo em seguida, Jimmy
monta o seu primeiro trio, uma formação nada usual, que incluía o guitarrista
Jim Hall e o contrabaixista Ralph Pena, que futuramente daria lugar a Jim Atlas.
O grupo fez um considerável sucesso no circuito de clubes
de Los Angeles e logo estava gravando seus primeiros discos. A sorte deu uma
mãozinha e Giuffre foi um dos escolhidos para participar do programa televisivo
The Sound of Jazz. Levado ao ar pela rede CBS, o programa enfocava a história e
a evolução do jazz, levando aos estúdios veteranos como Count Basie, Coleman
Hawkins, Roy Eldridge, Milt Hinton e Rex Stewart e músicos da nova geração,
como Bob Brookmeyer, Mal Waldron e Nat Pierce.
Giuffre, acompanhado por Hall e Atlas, executou “The Train
and the River”, uma composição de sua autoria em que misturava jazz com folk e
uma pitada de blues, e o sucesso foi imediato. O tema passou um longo período
entre as mais executadas nas paradas de jazz e chamou a atenção do público para
o trabalho daquele jovem compositor, arranjador e que, além do sax tenor, ainda
era um ás na clarineta e no sax barítono. Além disso, durante as gravações do
programa, Jimmy pôde conhecer pessoalmente e tocar ao lado de ídolos como Pee
Wee Russell e Lester Young.
Em 1958, uma nova e ousada reformulação do trio. Sai Atlas
e, em seu lugar, entra o trombonista Bob Brookmeyer. Inspirado pela música
contemporânea do compositor Aaron Copland, o grupo foi um dos destaques do Newport
Jazz Festival daquele ano. Uma frase atribuída a Stan Getz é mais do que
adequada para entender as concepções estéticas de Jimmy: “Um músico de jazz
deve ter quatro características essenciais: irreverência, bom gosto, coragem e
personalidade”. Em Giuffre e seus parceiros, tais características eram
abundantes.
Como uma trinca de missionários musicais e inspirados
pelos ideais da Geração Beat, Giuffre, Hall e Brookmeyer cruzaram os Estados
Unidos, a bordo de um furgão, se apresentando em todos os locais e para todas
as platéias dispostas a ouvir aquela sonoridade “repleta de elementos pastorais
e enriquecida com inflexões de blues”, na análise do crítico Ted Gioia. Essa
formação deixou dois registros, ambos gravados em 1958 para a Atlantic:
“Travlin’ Light” e “Western Suite”.
No ano seguinte, Brookmeyer deixa o grupo para se dedicar
a outros projetos musicais e Giuffre chama um baixista para se juntar a ele e a
Hall em sua nova incursão fonográfica: o excelente Ray Brown, então membro do
trio de Oscar Peterson. É exatamente com essa formação que Jimmy grava o
fabuloso “The Easy Way”. Nas notas do disco, gravado para a Verve nos dias 06 e
07 de agosto de 1959, o clarinetista (que aqui também toca saxes tenor e
barítono), informa que “o clima da sessão estava tão relaxado e as coisas
fluíam de maneira tão natural que o nome do disco só poderia ser esse”.
E é exatamente “The Easy Way”, composta pelo líder no
intervalo entre as gravações, que abre o álbum, com a sua sofisticada
confluência de música erudita, blues, jazz e folk. O clima é reflexivo, remetendo
à música de câmera, com o clarinete de Jimmy atingindo timbres inusitados e,
por vezes, sombrios. A melodia tem algo de hipnótico, mas não segue um padrão
linear. Ao contrário, é oblíqua, dissonante, e o contraponto entre a sonoridade
volumosa do contrabaixo e o minimalismo da guitarra de Hall torna a audição uma
experiência transcendente.
A originalidade do trio se revela em sua inteireza na
estupenda versão de “Mack The Knife”, de Bertold Brecht e Kurt Weill. O
arranjo, sofisticado e simples, dá à canção um inédito ingrediente lírico,
acentuado pelo sopro despojado de Giuffre. Hall está particularmente inspirado
e sua abordagem classuda e ao mesmo tempo econômica é uma prova irrefutável de
que é possível atingir a excelência usando poucas notas.
Em “Come Rain Or Come Shine”, de Harold Arlen e Johnny
Mercer, a interpretação do trio é etérea, repleta de pausas e intervalos inesperados
e recheada de momentos pungentes. Giuffre talvez seja o clarinetista mais
lírico do jazz, com uma verve onde técnica apurada e sensibilidade se misturam
na mesma medida. Brown conduz a marcação com habitual lucidez, mas deixa de
lado a pegada exuberante que é uma de suas principais características, para
adotar uma postura contemplativa e sóbria.
Outro tema de Giuffre, “Careful” é um blues intrincado,
com harmonias heterodoxas e um clima abstracionista, que encontra algum
paralelo com o trabalho do Modern Jazz Quartet. A atuação de Hall talvez seja o
maior destaque individual, mas o que chama a atenção é o incrível entrosamento
dos três, que se entendem e se comunicam quase telepaticamente. A bordo do sax tenor,
o líder exibe a mesma destreza e a mesma capacidade de criar texturas sonoras
de rara beleza.
Na faixa mais agitada do disco, “Ray's Time”, o trio adota
uma postura descontraída, criando uma verdadeira atmosfera de jam session.
Composta por Giuffre em homenagem ao baixista da sessão, é um refinado blues em
tempo médio e o líder novamente utiliza o sax tenor. Embora seu andamento seja
mais rápido que o da maioria das faixas, não se espere aqui uma abordagem eletrizante
ou exibições gratuitas de virtuosismo. O tema se desenvolve com naturalidade,
mas sempre de maneira bastante fiel à lógica do cool jazz, uma estética baseada
na sobriedade, no bom gosto e na clareza de idéias.
Parceria de Giuffre e Johnny Mercer, “A Dream” é
praticamente uma vinheta, com pouco mais de dois minutos, executada ao
clarinete, sem outro acompanhamento. Sua estrutura se aproxima bastante do
repertório erudito, com ecos de Igor Stravinsky e Bela Bártok, mas também
sinaliza em direção ao jazz de vanguarda, estilo que Jimmy abraçaria com fervor
e obstinação em um futuro bastante próximo. A fantasmagórica “Montage”, uma
inusitada parceria entre o clarinetista, Duke Ellington e Charles Mingus, segue
a mesma linha, inclusive no tempo de duração (não chega a dois minutos) e conta
com as presenças de Hall e Brown, em performances minimalistas.
Também composto pelo líder, “Off Center” é um tema
introspectivo, ondulante, com uma visível influência de Thelonious Monk. Os
diálogos entre Hall e Giuffre, novamente ao clarinete, são breves, quase
sussurrados, e pontuados de dissonâncias. Brown incorpora elementos do blues em
sua abordagem e seu dedilhado imponente e profundo soa como uma espécie de força
vital, autêntica e primitiva, incapaz de ser subjugada.
O encerramento fica a cargo de “Time Enough”, mais uma
composição do líder. A bordo do sax barítono, Jimmy e seus homens compõem um
verdadeiro mosaico de timbres. A cadência rítmica imposta por Brown é notável e
os acordes preciosos de Hall, cheio de nuances e alternâncias harmônicas. Um
disco que foge aos cânones do mainstream e mostra um artista no auge maduro,
mas também inquieto, sempre pronto para trilhar novos caminhos e encarar
desafios.
No final dos anos 50, Jimmy seria um dos professores da
cultuada Lenox School of Jazz, no Massachussets, onde estudou o profeta do free
jazz Ornette Coleman. É possível que a convivência com o aluno Coleman, que
mais tarde também seria professor daquela instituição, tenha tido algum impacto
nas futuras escolhas de Giuffre. Importante ressaltar que o pianista John
Lewis, que também dava aulas em Lenox e além de amigo de Giuffre tinha bastante
afinidade musical com o clarinetista, era um grande admirador das concepções
musicais de Ornette.
Ainda em 1959, Jimmy participou das gravações de quatro
álbuns notáveis: “Cool Heat”, da cantora Anita O’Day, “Lee Konitz Meets Jimmy
Giuffre”, do saxofonista Lee Konitz (com participações de Warne Marsh, Ray
Brown e Bill Evans), “Sonny Stitt Plays Jimmy Giuffre Arrangements”, do
saxofonista Sonny Stitt, e “Herb Ellis Meets Jimmy Giuffre”, do guitarrista
Herb Ellis. Lançados pela Verve, os discos têm em comum os arranjos elaborados
por Giuffre e foram muito bem recebidos pela crítica.
No ano seguinte, Jimmy montou um novo trio, com o pianista
canadense Paul Bley e o jovem contrabaixista Steve Swallow. As investigações
harmônicas e melódicas anunciadas em seus trabalhos anteriores ganharam
contornos ainda mais radicais e o grupo mergulhou de cabeça jazz experimental.
Todavia, os dois primeiros trabalhos do trio, “Fusion” (1961) e “Thesis” (1962),
ambos gravados para a Verve, obtiveram pouca repercussão por parte do público e
da crítica.
Já o mesmo não aconteceu com o terceiro, “Free Fall”,
gravado entre julho e novembro de 1962 e lançado pela Columbia, que embora
tenha sido virtualmente ignorado pelo público, foi saudado pelos críticos como
uma obra revolucionária. O disco possui uma atmosfera melancólica,
introspectiva, muito distante do trabalho mais agressivo de músicos como o
próprio Ornette Coleman, Archie Shepp ou Albert Ayler, guardando alguma
proximidade com a obra de compositores da vanguarda erudita, em especial com as
de Darius Milhaud e Karlheinz
Stockhausen.
Todavia, desencantado com a indiferença do público em
relação ao seu trabalho, Giuffre desfez o trio no ano seguinte. O crítico Thom Jurek
narra como foi melancólica a separação: “O disco trazia uma música extremamente
radical e ninguém, literalmente ninguém estava preparado para aquilo. O trio se
separou pouco tempo depois, após um concerto em um clube, no qual cada um recebeu
um cachê de apenas 35 centavos por um set”.
Em meados daquela década, Jimmy fez uma nova tentativa com
um trio nos moldes do anterior, agora com Don Friedman no piano e Barre
Phillips no contrabaixo. Novamente, houve algum reconhecimento por parte da
crítica mas bem pouca repercussão junto ao público, tanto que esse grupo sequer
chegou a gravar, limitando-se a apresentações em clubes.
Foram dez anos sem gravar como líder e durante aquele
período Giuffre se concentrou no ofício de arranjador e compositor, embora
tenha feito alguns trabalhos com a bandleader Carla Bley. Também enveredou pela
educação musical, ministrando aulas de teoria musical, regência e composição em
instituições como a New York University, Rutgers University, Manhattanville
College, the Creative Music Studio, New School of Social Research e New England
Conservatory. Em 1969 lançou um livro, “Jazz phrasing and
interpretation: Aspects of jazz performance, analyzed for the player”, pela Associated
Music Publishers.
Sua volta aos estúdios ocorreu em 1972, com o álbum “Music
for People, Birds, Butterflies and Mosquitos” (Choice). Naquela época Giuffre liderava
um novo trio, agora com o baixista Kiyoshi Tokunaga (mais tarde substituído por
Bob Nieske) e o baterista Randy Kaye, e havia desenvolvido enorme interesse
pela flauta baixo e pelo sax soprano. No final da década, com a adição do
tecladista Marc Rossi, além de utilizar em sua banda instrumentos
eletrificados, como o sintetizador e o contrabaixo elétrico, Jimmy enveredou
pela vertente fusion, lançando alguns discos pelo selo italiano Soul Note.
Nos anos 80, ainda bastante envolvido com a educação
musical, Giuffre grava pouco, mesmo como sideman. A maior parte de seu trabalho
como compositor é direcionada a trilhas para o teatro, balé e comerciais de TV.
Em 1984, recebeu uma merecida homenage, ao ter seu nome inscrito no NARAS Hall
of Fame. A grande novidade daquele período foi a sua volta ao formato acústico,
com o lançamento de dois álbuns em duo com o pianista francês Andre Jaume:
“Eiffel: Live in Paris” (CELP, 1987) e “Momentum” (Hatology, 1988), ambos
bastante impregnados da estética free.
Nos anos 90, Jimmy retoma a parceria com Paul Bley e Steve
Swallow, lançando o excelente “Fly Away Little Bird” (Sunny Side, 1992), que
embora contenha muitos elementos de livre improvisação, não é um trabalho
hermético ou pretensioso, com direito a belas versões de standards como “I Can't
Get Started”, “All the Things You Are”, “Sweet And Lovely” e “Lover Man”. Além
disso, com o relançamento em CD de “Free Fall”, as idéias propostas no disco
foram melhor compreendidas e ele finalmente despertou o interesse do público,
especialmente das novas gerações de fãs do jazz.
Em 1995 Giuffre foi diagnosticado como portador do Mal de Parkinson,
doença degenerativa que compromete gravemente os movimentos, e se afastou,
paulatinamente, dos palcos, estúdios e salas de aula. Ele se recolheu à sua
casa, em West Stockbridge, na área rural do Massachusetts, sob os cuidados da
esposa Juanita Giuffre. Jimmy faleceu no dia 24 de abril de 2008, na cidade de
Pittsfield, também em Massachusetts, a poucos dias de completar 87 anos, em
conseqüência de uma pneumonia.
Seu legado ainda não foi completamente aquilatado pelos
estudiosos, mas é indiscutível que ele tenha escrito algumas das mais belas
páginas do grande livro do jazz. Sobre o seu envolvimento com o free jazz e a
livre improvisação, as palavras do crítico Ted Gioia exprimem com clareza e um
raro senso de oportunidade, o papel que coube a Giuffre no desenvolvimento
desse estilo: “Sua caminhada dentro do free jazz se assemelha às jornadas de
personagens como Huck Finn ou Phileas Fogg, nas quais as aventuras ao longo do
caminho são bem mais interessantes do que o destino final”.
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20 comentários:
Esse tá no lojinha. Chique demais esse disco. Tou ouvindo e lenu. Seu Sam tá indócil nas postagens. E... salvo um grande engano, mestre Predador, terá grande trabalho na jornada pra recarregar sua munição laser em baterias de lítio encontradas a anos luz da nossa galaxia.
Chique mesmo!
Tô dando um tempo nas postagens mais "heterodoxas" :-)
Mas daqui a pouco ele volta a ser o mau e velho Predador de sempre. Predador que não detona é fake!
Abração, meu Garimpeiro!
É mr.Sergio, já estou ficando estafado de carregar, descarregar e recarregar meu "detonador atômico". O "homem" não dá descanso, é uma resenha atrás da outra. Mas isto é bom, força-nos cada vez mais interessar-mo-nos pelo jazz, pesquisando, ouvindo e dando "pitaco". Mas, chega de "escrivinhação", pois como já dizia o provério "quem fala muito dá bom dia a cavalo". Jimmy Giuffre, mr.Cordeiro, é um dos meus multinstrumentistas favoritos. Presença sempre marcante, tanto em gravações liderando ou como sideman. Exceção feita àquela época em que se aprofundou no fusion/experimental, principalmente dos anos 1961/2 ("Fusion", "Thesis", "Free Fall" e alguns outros mais). ..."ninguem estava preparado para aquilo"... Eu não estou preparado até hoje. Don Friedman, Barre Phillips, Paul Bley, Steve Swallow ????(sai fora!). O importante é que Giuffre fez, em sua grande maioria, excelentes trabalhos e, permita-me destacar, "Jimmy Giuffre 3" (Atlantic-1957) e "The Complete Capitol & Atlantic Recordings" box com 6 CDs (Mosaic), incluindo, no meu entendimento, as melhores gravaçãos de Giuffre. Como já está tornando-se rotina, parabenizo-o, mais uma vez, mr.Cordeiro, pela escolha do músico e do disco apresentado em sua ótima resenha.
(Nota: Estou chegando a conclusão que você achou o caminho certo na condução de seu blog e estou preparando a revisão e desmonte de meu "detonador atômico". Será isto verdade???). Vamos aguardar!
Mr. Predador, sem querer explorar, mas já explorando os conhecimentos q vc nega, mas todo o mundo sabe q tens, estou colando um comentário da postagem logo abaixo pra ver se sabes algo sobre o que já estou considerando "essa alma perdida" (no q há de melhor dos sentidos claro):
“ Anônimo disse...
Sem mais delongas: Adrian Acea. Como pode um pianista que tocou com esse time: Joe Newman, Zoot Sims, Oscar Petiford e Osie Johnson, pode evaporar até no google???
O disco da descoberta de Acea foi: Joe Newman & Zoot Sims (Locking Horns) 1957.
Mais um out-of-print, precioso, que depois da audição, na pesquisa descobri que... "apertem os cintos, o pianista sumiu!"
“
Mr.Sergio, pedindo permissão mais uma vez a mr.Cordeiro, posso lhe dizer que o único pianista que conheço com o sobrenome Acea é John ou Johnny Adriano Acea (1917-1963) que tocou com várias "feras" do jazz, inclusive Joe Newman/Zoot Sims. Os discos dele que conheço são "Rollin' with Leo" (sideman do baritonista Leo Parker, gravação da Blue Note-1961) e "Elder Don" (sideman do tenorista Don Wilkerson, gravação Blue Note-1962). Na gravação que você se refere "Locking Horns" (Roulette e Fresh Sound - 1957) ele participa como sideman de Joe Newman & Zoot Sims mais Oscar Pettiford e Osie Johnson, com o nome de Adrian Acea (que nada mais é do que o "famoso" John Adriano Acea) mas esse disco eu não conheço. É isso!
Resolvido o mistério, viu seu Sam? Este blog é o verdadeiro Inhotim do Jazz. É mais que o Louvre que á só um museu! O seu blog é uma cidade inteira de cultura jazzistica! Fico muito feliz por participar disso!
Só mais uma curiosidade: Johnny Acea ou Adrian Acea, compõe a maioria das músicas do referido "Locking Horns". O detalhe é que na capa do LP está escrito Adrian Acea, mas no interior, como autor, está Jonny Acea, vai entender...
Perdoe a intromissão com outro assunto, grato pelos esclarecimentos, e voltemos ao Giuffre - q é bom demai da conta, sô.
Só observando.
Nem tenho coragem de dar pitaco.
Mas pelo menos fui no rumo. O Acea, realmente, era pianista que acompanhava o Leo Parker.
Abraços aos dois.
PS.: Mr. Predador, se eu fosse você não desativava o detonador atômico. Olha que tem muito Cecil Taylor, Don Friedman, Barre Phillips, Anthony Braxton, Paul Bley, Steve Swallow e Andrew Hill pra pintar por aqui!
érico san,
piramidal ao cubo...esse não é um trio...é um triunvirato...e o encontro só poderia ser um disco chique pacas, conforme classificou sérgiosan...
obrigadão e abrsonoros
Grande Mr. Pituco, o nosso mais que querido embaixador na Terra do Sol Nascente!
Discaço, de um mestre multifacetado e supertalentoso!
Abração!
Dear Gran Master Boss,
Jimmy Giuffre foi um dos arquitetos do chamado Jazz WEst Coast, um compositor ousado e avançado para o seu tempo. Deixou gravados discos provocantes ao lado de outros excelentes músicos.
Naqueles anos 50, um conhecido trombonista carioca ia ouvir discos em minha casa freqüentemente não gostava dele empregando uma expressão depreciativa à sua sonoridade: "Lá vem o Jimmy Giuffre com seu clarinete ventania..." porque Jimmy extraía um som peculiar em, alguns solos.
A propósito, em 1982 ouvi Jimmy Giuffre pela primeira e única vez ao vivo no JVC Jazz Festival, em New YOrk, no Carnegie Hall, na chamada Noite dos "Four Brothers", ao lado de Al Cohn, Zoot Sims, Stan Getz, Herbie Steward e Buddy Tate (nunca entendi a razão de Buddy Tate tocar com esse pessoal).
Essa apresentação foi um tributo a Jimmy Giuffre, autor da composição "Four Brothers".
Ao entrar no palco sobressando seu sax tenor e recebido por longa ovação do público e dos músicos, , Jimmy não conseguiu dissimular o tremor que lhe assaltava o Mal de Parkinson, falecendo pouco tempo depois, mas na hora de tocar segurou o tenor com firmeza.
Ao terminar, Giuffre não conteve as lágrimas, sendo imediatamente abraçado pelos demais saxofonistas sob delirantes aplausos da platéia.
Keep swinging,
Raffaelli
Mestre Raffaelli, é uma honra tê-lo a bordo.
E, para nosso deleite, sempre com histórias saborosas sobre as maiores personalidades do jazz!
Grande abraço!
PS.: "Clarinete ventania" é ótimo!!!!
Meu amigo Érico, gostei muito de vir visitar a sua música. Vou mais alegre.
Abração do falcão
Giuffre eu não conhecia...
Dear Gran Master Boss,
Sobre o trombonista brasileiro que chamava Jimmy Giuffre de "Clarinete Ventania", na época em que o Brasil mandava para shows à Rússia a tal "Caravana Humberto Teixeira", compositor e vereador no Rio, numa das viagens ele viajou com o grupo e, sendo esquerdinha que odiava americanos, voltou maravilhado tecendo loas infindáveis a tudo que viu e ouviu. No tocante aos músicos, afirmou que todos os instrumentistas russos que ouviu davam banhos e mais banhos de categoria nos melhores músicos americanos de jazzz e que todos os trompetistas eram infinitamente melhores que Gillespie e todas saxofonistas davam banho em Parker.
Todavia, sua maior "pérola" pós-viagem foi contar-me inteiramente empolgado que, após um dos shows num teatro de Moscou,no qual ele tocou, Nikita Krutshov, então o grande chefe da nação russa pediu ao intérprete que desejava felicitar o trombonista brasileiro
(o próprio) porque "FOI O MELHOR MÚSICO QUE OUVIU EM SUA VIDA"......
A partir da sua volta na lavagem cerebral que sofreu em Moscou, nunca mais ouviu jazz porque "os russos estão um milhão de anos-luz à frente dos americanos que tocam jazz".....
Em tempo: não é piada.
Keep swinging,
Raffaelli
Prezados M. J. Falcão e Raffaelli,
É uma enorme alegria recebê-los no barzinho, depois de quase três dias de ausência por motivos de trabalho.
À primeira, recomendo os trabalhos do Giuffre nos anos 50, todos de excelente qualidade (seus trios com o guitarrista Jim Hall são soberbos).
Ao segundo, esse é o tipo de situação em que a realidade é mais estranha do que a ficção. Se ele ainda estivesse falando de música erudita, até vá lá, mas fazer jazz melhor que os gringos é tão difícil quanto fazer samba ou choro melhor que os brasucas! Tem gênios que até conseguem se nivelar aos melhores músicos norte-americanos, como o canadense Oscar Peterson, o belga Django Reinhardt ou o dinamarquês Niels Pedersen, mas são raríssimas exceções.
Esse trombonista é da turma do Edson Maciel :-)
Gande abraço.
Dear Grand Master Boss e demais companheiros,
Lamento, mas a idade avançada prejudica-me com algumas falsetas na hora de escrever, que para muitos parecerão erros de grafia indesculpáveis (no que, lamento dizer, eu concordo...), por isso tentarei o impossível, ou seja, CORRIGIR-ME, que não acredito seja bem sucedido, mas vou assim mesmo com minhas humildes desculpas:
a) no post sobre Jimmy Giuffre escrevi sobrassando, quando deveria ser sobraçando.
b) no posto sobre o trombonista brasileiro que tocou na turnê da Caravana Humberto Teixeira, o máximo do besteirol ao escrever "numa das viagens ele viajou".........
Nem mereço desculpas, mas tais observações deixam-me preocupado com a velhice avançada......,
Keep swinging,
Raffaelli
Nem pense nisso, mestre!
Sua cabeça é muito melhor que a da maioria dos jovens que eu conheço!!! :-)
Dear Gran Master Boss,
Após mencionar as conclusões do malfadado trombonista russo-brasileiro, lembrei do que contou-me Benny Goodman quando veio em 1962 (acho que foi em 62, agora estou em dúvida).
Foi a seguinte história:
Quando a big band de Goodman estreou no Teatro de Moscou, havia um sentimento anti-americanista total e quase todos os espectadores portavam letreiros do tipo "Americans, go home". No primeiro número, iniciado sob estrepitosos urros da platéia, quando Joe Newman foi tocar seu solo no microfone um espectador "patrioteiro" atrou-lhe uma pedra, mas, por sorte não pegou e assim foi por algum tempo. Mas, com a execução de vários temas, o público foi-se acalmando e lá pelo meio do espetáculo já aplaudiam os solos. Daí em diante foi um sucesso. Entretanto, após o show o camarim foi invadido por policiais da terrível polícia KGB.,que prenderam Zoot Sims, Arvell Shaw, Phil Woods e Joe Newmman sob a acusação de serem "espiões disfarçados de músicos a serviço do Governo Americano". Conclusão: na mesma hora Goodman e os demais músicos juntaram-se aos acusados e foram todos presos, mas acionou o embaixador americano, sendo todos soltos mais tarde.
Aí Benny disse-me abrindo um largo sorriso: "Caso fossem espiões disfarçados de músicos, disfarçavam muito bem..." Eu e ele caíamos na gargalhada.
Keep swinging,
Raffaelli
Dear Gran Master Boss,
Já imaginou Joe Newman, Zoot Sims, Arvell Shaw e Phil Woods "travestidos de espiões da CIA disfarçados de músicos" ?
Quando contei ao trombonista russo-brasileiro o papo com Benny Goodman, ele, provavelmente ainda sob efeitos da brutal lavagem cerebral que recebeu na Rússia, disse-me com todas as letras: "Esse Benny Goodman deveria ficar calado em vez de dizer tantas besteiras".....
E, como diz o vulgo, durma-se com um barulho desses......
Keep swinging,
Raffaelli
Quem é louco pra contestar Benny Goodman? E o mundo seria mais pacífico se os espiões fossem sempre sujeitos do gabarito de Joe Newman, Zoot Sims, Arvell Shaw e Phil Woods!!!!
Um fraterno abraço, Mestre!
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