Qualquer ditadura, seja de direita, seja de esquerda, é uma conjugação de estupidez e brutalidade. Infelizmente nós, brasileiros, fomos obrigados a conviver com ditaduras em, pelo menos, dois períodos da nossa história: durante o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937 a 1945) e durante o tenebroso regime militar, que afundou o país no obscurantismo entre de 1964 e 1986.
A segunda ditadura brasileira seguiu um movimento histórico no qual o embate entre as superpotências (EUA e União Soviética) fazia dos países periféricos mero joguete de sua geopolítica. Na América Latina dos anos 60 e 70, os Estados Unidos financiaram ou apoiaram ostensivamente uma série de Golpes de Estado, que apearam do poder governos eleitos democraticamente e culminaram na implantação de ditaduras em países como El Salvador, Nicarágua, Bolívia, Peru, Brasil, Chile e Argentina. Os ridículos tiranos e seus asseclas davam as cartas.
A ditadura argentina foi, de longe, a mais perversa e brutal. Ali, cerca de 30 mil pessoas pereceram sob as mãos do regime militar. Tortura, seqüestro, assassinato, tudo cometido em nome de um Estado sanguinário e cruel. Ninguém estava a salvo. Nem mesmo um músico consagrado como o pianista carioca Francisco Tenório Cerqueira Júnior. Para os amigos, simplesmente Tenorinho.
Tenório Júnior acompanhava Vinícius de Moraes e Toquinho em uma excursão a Buenos Aires quando, na madrugada de 18 de março de 1976, foi detido após deixar o Hotel Normandie, onde o grupo estava hospedado. Havia saído para comprar remédios e cigarro quando foi seqüestrado por agentes da repressão oficial e desapareceu sem deixar pistas.
Os motivos da sua prisão, até hoje, são obscuros. Era um músico brasileiro, que acompanhava um cantor/compositor extremamente querido e conhecido na Argentina. Não tinha nenhuma vinculação com a luta armada ou com os movimentos de esquerda, então na clandestinidade. A hipótese mais provável é a de que tenha sido confundido com algum militante de esquerda e, descoberto o erro, tenha sido morto como “queima de arquivo”. Os cabelos e a barba compridos que usava na época podem ter contribuído para o sinistro equívoco.
Vinícius, Toquinho e o poeta Ferreira Gullar, então exilado em Buenos Aires, empreenderam uma busca desesperada e inútil. Vagaram por hospitais e delegacias. Recorreram à embaixada brasileira. Ninguém sabia de nada. O governo brasileiro, também comandado por militares, não empreendeu qualquer esforço para localizar o músico desaparecido.
Apenas em 1986, um ex-integrante do Serviço de Informação Naval da Argentina, chamado Claudio Vallejos, apresentou na imprensa brasileira diversos documentos que davam conta do destino de alguns brasileiros presos pela repressão portenha. Dentre eles, Tenório Jr. Nos documentos apresentados por Vallejos, cujo conteúdo está reproduzido no site do movimento Tortura Nunca Mais, pode-se ler:
“Do dia 20 de março de 1976 – quando o Capitão Acosta solicita ao Contra-Almirante Chamorro autorização ‘para estabelecer contato com o agente de ligação, código de guerra 003, letra C, do SNI do Brasil’, para que informasse a central do SNI no Brasil que o grupo de tarefa chefiado por Acosta estava ‘interessado na colaboração para a identificação e informações sobre a pessoa do detido brasileiro Francisco Tenório Jr.’”
Em outro documento oficial, desta feita dirigido ao embaixador brasileiro na Argentina, ainda no mês de março de 1976, as informações veiculadas são estarrecedoras e revelam o absoluto descaso com que a prisão de Tenório foi tratada pelas autoridades brasileiras:
“Lamentamos informar a essa representação diplomática o falecimento do cidadão brasileiro Francisco Tenório Júnior, Passaporte n° 197803, de 35 anos, músico de profissão, residente na cidade do Rio de Janeiro. O mesmo encontrava-se detido à disposição do Poder Executivo Nacional, o que foi oportunamente informado a esta Embaixada. O cadáver encontra-se à disposição da embaixada na morgue judicial da cidade de Buenos Aires, onde foi remetido para a devida autópsia.”
Tenório foi torturado e, em seguida, morto com um tiro na cabeça, no dia 27 de março, segundo os informes de Vallejos, ele próprio um ex-torturador. O que causa mais revolta é que, mesmo ciente do assassinato de Tenório Jr., o governo brasileiro não teve a decência de comunicar o fato à família, muito menos de se empenhar para a recuperação do seu corpo. O Brasil perdia um dos seus músicos mais talentosos e criativos, de uma forma estúpida e brutal. Como qualquer ditadura.
Qual uma Antígona moderna, a brava Elis Regina promoveu, no final dos anos 70, uma frenética busca pelos restos mortais do amigo. Viajou até a Argentina, deu entrevistas, ouviu pessoas, mas os resultados foram nulos. Em outubro de 2006, a justiça brasileira reconheceu a omissão estatal e condenou a União ao pagamento de indenização por danos morais e materiais. Na sentença proferida pelo juiz federal Alfredo França Neto, lê-se:
“Demonstrada que está a omissão das Autoridades Brasileiras na defesa do cidadão brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, ou, quando menos, na busca mais eficaz por informações sobre o seu paradeiro ou o seu destino, exsurge o dever da compensação pela angústia e pelo sofrimento que a passividade dos representantes diplomáticos e militares da Ré, diante da situação, causa à sua mulher e aos seus filhos, não somente a título dos danos morais, inquestionáveis, como também em razão das agruras materiais, que a falta injustificada e prematura do provedor, por certo, causa aos Autores.”
Tenório destilou sua arte ainda durante a fase inicial da bossa nova e do samba-jazz, nas incontáveis noites do Beco das Garrafas, no início dos anos 60. Dono de um estilo vibrante e de muito swing, com uma percussividade que lembra Horace Silver, ele era também um alentado compositor e apaixonado pelo jazz – chegou a tocar com Bud Shank, em 1963, curiosamente na mesma Argentina em que perderia a vida dez anos depois. Tenorinho chegou a cursar Medicina, mas trancou a faculdade por causa da música.
Acompanhante requisitado, cujo talento já havia sido registrado em álbuns históricos como “Vagamente”, de Wanda Sá, ele deixou um único registro como líder, o excepcional “Embalo”, gravado entre fevereiro e março de 1964, pela RGE, no qual aparece ao lado de velhos companheiros do Beco das Garrafas, como os saxofonistas Hector Costita, Paulo Moura e J. T. Meirelles. Completavam o time de craques os trombonistas Raul de Souza e Edson Maciel, os trompetistas Pedro Paulo e Maurílio, os bateristas Ronnie Mesquita e Milton Banana, os baixistas Sérgio Barrozo e Zezinho Alves, os violonistas Celso Brando e Neco e Rubens Bassini, que na ocasião pilotava o atabaque.
Tenório e seus pares navegam pelas águas da bossa-nova, do samba de gafieira e do jazz, com muita maestria e inventividade. A faixa título, que abre o disco, é de autoria do pianista e revela seu estilo alegre e jovial de compor, além de sua rematada paixão pelo jazz. A releitura de “Inútil Paisagem”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, e uma música pouco conhecida de Johnny Alf (“Fim de semana em Eldorado”) são dois outros grandes momentos do álbum.
Outra composição de Tenório, “Nebulosa”, talvez seja o ponto alto do disco, com sua atmosfera intimista mas sem abrir mão do swing – seu andamento lembra um pouco os experimentalismos harmônicos de Dave Brubeck. O parceiro Zezinho Alves, que divide o contrabaixo com o lendário Sérgio Barrozo, contribui com a belíssima “Carnaval sem assunto”. Há ainda grandes versões de “Clouds” (Durval Ferreira e Maurício Einhorn), “Consolação” (Baden Powell e Vinícius) e “Sambinha” (Bud Shank), além de outras faixas compostas por Tenório: “Samadhi”, “Néctar” e “Estou nessa agora”.
Juan Trasmonte, blogueiro e agitador cultural argentino, postou em seu blog um depoimento emocionado sobre o eloqüente silêncio que o Brasil tem feito desde aquela fatídica noite de 16 de março, ajudando a manter no ostracismo do tempo a vida e a obra de Tenorinho. Leia-se:
“Bem antes de ter o desejo que motorizou o Samba no pé, meu primeiro projeto de documentário relacionado com o Brasil e sua música, foi a trágica história de Francisco Tenório Cerqueira Junior, o Tenório Jr, o grande pianista seqüestrado e desaparecido na conturbada Buenos Aires de 1976.
Quando tive as primeiras notícias sobre o desaparecimento de Tenório e as suas circunstâncias, o que primeiro chamou minha atenção foi como eu, que na época já tinha interesse na cultura do Brasil, não havia conhecido esse fato através de alguma fonte brasileira. Afinal, Tenorinho não só era um cidadão brasileiro desaparecido na Argentina mas um músico que tinha viajado acompanhando ninguém menos que Vinicius de Moraes. Mas os brasileiros que eu consultei nem sabiam da tragédia ou meramente tinham “ouvido falar”. Tenório Jr. desapareceu duas vezes, a primeira nas mãos dos seus algozes e a segunda no silêncio do Brasil.”
Esperamos que esse silêncio deixe de ensurdecer os ouvidos do Brasil, para que o nosso país possa, a partir de agora, se deleitar com a música extraordinária do inesquecível Tenorinho e se indignar com toda a infâmia que cerca a sua morte. Ele merece e a nação que pretendemos ser um dia também!
33 comentários:
Belo texto, mano. A brutalidade do regime autoritário não poupa ninguém, principalmente os inocentes.
Quanto ao post da Diana Krall eu não sei o que aconteceu; estava salvo na minha cpu do gabinete e quando abri em casa tinha sumido do wordpress, junto com uma homenagem a Antonio Vieira; agora só vou poder corrigir na quarta feira, quando acabar o feriadão, pois o texto ficou na cpu de lá. abs
JM
Molosso-Mor,
Ave!!! Folgo em vê-lo, ainda que virtualmente.
Não podemos esquecer e nem calar babáries como essa.
Abração, mano!!!!!!!
Sobre a história do Tenorinho já confessei minha total ignorância: só vim saber do ocorrido há um ou dois anos, lendo algo a respeito n'O Globo. O nome de Tenório Jr., obviamente foi citado na matéria, mas, tanto caiu novamente no esquecimento q acabo de postar um álbum no sônico sem mais saber/lembrar tratar-se do mesmo Tenório desse caso escabroso.
Já sobre o sumiço de uma postagem do James Magno - acabo de visitar-lhe o blog e não me pareceu o caso já que não vi links em nenhuma postagem para baixar álbuns. Mas se houve no post a inclusão de um link pro álbum, eu tenho um palpite quase certeza: Já ouviu falar nos implacáveis agentes de repressão da DMCA, James Magno?
Se estiver certo, nem adianta re-postar mesmo sem o link. Aconteceu comigo e mesmo repostando só o texto, ele foi apagado mais uma vez.
Enfim, sendo ou não o caso, nunca é demais lembrar que agora existe uma força policial (agora de mercado) silenciosa infiltrada na rede que, se não tortura, aniquila algumas iniciativas de disseminar cultura aos economicamente menos favorecidos.
Mais uma aula, Don Érico.
Mr. Sonic-boy,
Assino embaixo da sua indignação com essa nova modalidade de censura.
Se estivéssemos falando de artistas na crista da onda, que vendem milhões de discos e estampam seus rostinhos na mídia de forma acintosa e onipresente, até não diria nada - a indústria cultura tem o direito de proteger as suas (poucas) galinhas de ovos de ouro.
Mas artistas de jazz? Discos fora de catálogo há anos?
Isso é burrice. É estupidez.
Estamos formando ouvintes ou possíveis ouvintes - uma hora dessas essess ouvintes vão virar consumidores.
Vão querer ter pelo menos um ou dois álbuns desses artistas.
Irão aos shows e pagarão ingressos.
A Globo passou anos e anos dominando o mercado televisivo. Passava o que queria e todo mundo assistia.
Cuidou de formar telespectadores com um mínimo de criticidade? Não.
Ajudou na formação intelectual desses telespectadores? Certamente não.
No mais das vezes exibia uma programação rasteira e de qualidade artística nula. Ajudou a construir a imensa massa de ignaros que sustenta a indústria de dejetos culturais que pare, todos os anos, imbecilidades do tipo "Rocê não rale nada mas eu gosto de rocê". Aliás, pôs essa excrescência em horário nobre, tocando em alto e péssimo som para todo o país.
Agora reclama da Record, que vende a mesmíssima porcaria e regurgita o mesmíssimo lixo cultural que, por anos a fio, a Vênus Platinada impingiu à sua assistência.
Não haverá dificuldade para que o público da Globo migre para a Record - a porcaria é a mesma!!!
Enquanto isso, os poucos focos de resistência, que prezam por um mínimo de bom gosto no que se ouve, que zelam pela memória de artistas desconhecidos ou pouco lembrados - esses são as vítimas das novas formas de censura.
Dia sete de setembro.
Libertas, quae sera tamem!!!!!
Puxa, seu Érico, dessa vez, o nosso diapasão da revolta saiu afinadinho! Enquanto o mr. da elegância escrevia o texto mais (puto não) aborrecido q já li, eu por minha vez e ao meu modo, mandavavê nesse aqui:
http://sergiosonico.blogspot.com/2009/09/tenorio-jr-embalo-1964.html
Considero esse o melhor disco da geração sambajazz. Tenório estava na ponta do casco. E o time que o acompanha não é brinquedo não.
Quanto ao "sete de setembro", o pior desse processo maluco de redemocratização foi a tal da Anistia para governantes. Todo o aparelho do Estado estava a serviço da infâmia: tortura,perseguição (mesmo quando não havia "razão política" para tal - aquele lance de funicar com um só pra ficar com o espólio) e misérias outras. Fico com inveja dos nossos vizinhos, que estão mandando a corja pra cadeia.
Concordo com tudo, Seu Mr. Salsa.
Ainda circulam entre nós toda uma corja de torturadores covardes e cruéis, e seus respectivos comandantes, que não prestaram contas de seus atos com a sociedade brasileira.
E vão ficando, ficando, ficando...
Lamentável.
E seu Mr. Sonic Boy, já estou indo dar uma sacada!!!!!
Abração aos dois.
Erico esta eh sem duvida uma das historias mais tristes q conhezo com alguem.
Este periodo obscuro da historia nao deve jamais ser esquecido para que nao se repita.
O seu texto esta super.
A musica q rola melhor ainda.
Bela memoria ao grande Tenorio.
Abs
Paul
Caro Paul,
Seja bem-vindo.
Uma história chocante e trágica. Os governos autoritários não podem trazer nada de bom. São indefensáveis, sob qualquer ponto de vista.
De fato, não podemos deixar que fatos como esse se repitam. É preciso lembrar sempre.
Abração!!!!
Caro Érico,
azar e absurdo... Puzt..esses detalhes do desaparecimento não sabia..muito menos o seu caráter absurdo! A tarefa de mártir já não é fácil...sob signo do absurdo.
Meu amigo... Seu fôlego de escrita é algo colossal. Rsssssssss
Ave Mestre Chico,
Absurdo e brutal - uma espécie de surrealismo da indignidade.
Desde que ouvi falar nessa história (e aí vão já alguns bons 20 anos) fiquei indignado.
A violência do Estado em seu estado mais primitivo.
Valeu aa presença, compadre!!!!!
érico,
pelo que entendi,o governo militar brasileiro à época omitiu-se em participar a família de tenório jr.sobre sua morte e em que circunstâncias ocorreram?...
os milicos brazucas já sabiam do caso e 'abafaram'...é isso?
omissão, nesse caso, é considerado crime também?
tirante os horrores e absurdos de nossa estória recente latino americana, tô curtindo a swingueira do embalo...
valeô érico
abraçsons pacíficos
ps.à guisa de curiosidade...samadhi é a meditação transcendental...o último(oitavo)degrau da raja(asthanga)yoga.
ps2.esse teu podcast é um tesouro musical...parabéns
Ô Seu Mr. Pituco-San,
Valeu mesmo. Você é parte fundamental no JAZZ + BOSSA - é o embaixador no oriente e também ícone da minha adolescência, embora eu só tenha descoberto sua identidade secreta recentemente (rs, rs, rs).
Pois é, o governo brasileiro sabia da morte do Tenório. Não há certeza de que soubesse do seqüestro, mas do assassinato sim.
Essa omissão é imperdoável, pois até hoje a família não pode enterrar o seu ente querido.
Pena!
Um abração!
Érico
Bela, apesar de triste, essa postagem,para lá de pertinente e os fatos estão vivos em nossa memória.
É uma forma legítima de pensarmos nossa liberdade e democracia. É uma forma de expressarmos que Independência queremos!
Faço parte do GTMN-RJ e foi gratificante ver que a página do grupo, traz conteúdo para ser trabalhado no nosso cotidiano.
Beijão
Maysa
Essa história é de arrepiar, que este tipo de coisa jamais aconteça novamente e que a arte do Tenório Jr continue viva, pela eternidade. Belo post, obrigado!
Mestre, Érico, vc sabe q pra mim, cada nome que citas dando conteúdo as suas resenhas soam como dicas pra mim, ontem ouvi Wanda Sá no qual o piano de Tenorinho, nem observei tanto - ou está discreto ou a voz de Wanda rouca e sexy as pampas da moça falou muito mais alto, porque amei esse disco (nada) "Vagamente"! Valeu a dica (quase) sem querer. Detalhe, por tabela corrigi o erro de não ter nada da cantora.
Outra atenção que te convido a prestar está no blog, listado ao lado, Jazz & Afins... Vida trágica o dessa moça Melody Gardot. É claro que não são as tragédias pessoais que me chamam atenção em 1º plano pros artistas, mas essa garota tem poder! Se não conheces, recomendo uma ouvidela.
Bravo,Maestro !
infelizmente é ,e foi,assim.
A musica que Tenorio fez é muito pouco conhecida e voce esta fazendo sua parte mostrando nem que seja só um pouco.
Voce resumiu esplendidamente o papel(nada higienico,pelo contrario) da televisão no Brasil,especialmente a Globo com seu poder quase imperial.
Lembro que quando eu era garoto, na decada de 60 e inicio da de 70, havia muita musica ao vivo na televisão,e de qualidade. Orquestras ,inclusive. Devo alguma vez ate ter visto o Tenorio ,assim como vi inumeras vezes o Zimbo Trio,Tamba Trio e inumeros grupos instrumentais . Alem de programas de musica classica,"Concertos Para a Juventude" todos os domingos, eu nunca deixava de ver.Tenho certeza que isso foi definitivo em minha formação ,e na de muitos outros,independente da profissão que acabaram seguindo.
Musica é muito mais importante na formação das pessoas do que em geral se pensa,ou se tenta fazer acreditar. Jogaram só lixo durante anos seguidos na cabeça do povo e o resultado é que o lixo foi ficando cada vez pior, ate dar nisso que vemos hoje.
Abraço
Textos como este ajudam a memória do excepcional músico a permanecer viva. Sua história tinha que ser reverberada. Mais cedo ou mais tarde, vão fazer um filme... ou escrever um livro. É um caso extraordinário. Ah, sim, e sua música e seu talento eram absolutamente dignos dos mais rasgados elogios. E "Embalo", em minha opinião, é um dos melhores discos de samba-jazz já gravados.
Prezado ÉRICO:
Antes de mais nada parabéns pela homenagem mais que super-merecida ao grande TENÓRIO Jr. (Francisco Tenório Cerqueira Jr., nascido em 1943).
Em segundo lugar e mais uma vez parabéns pelo comentário relativo à Rede Globo (com a Record a reboque, colhendo e vomitando o mesmo nível de porcarias).
Tenório Jr. foi sequestrado por agentes da marinha argentina em Buenos Aires, no dia 18/março/1976, véspera do golpe militar que derrubou a Presidente Isabelita Perón e empossou o ditador Jorge Videla; foi torturado e no dia 27/março/1976 executado com um tiro na cabeça pelo Tenente Alfredo Astiz ("queima de arquivo" na Operação Condor).
Pior que a omissão das "autoridades" brasileiras à época, é o contínuo incensar de bandidos, assaltantes, assassinos e corruptos que seguem assolando nossa pobre América Latina: basta ver o permanente aplauso para nossos atuais governantes e ex-guerrilheiros à soldo da extinta e falida URSS, para "Che" Guevara, para Fidel Castro (o maior assassino de todos os tempos na América Latrina, fazendo fuzilar dezenas de milhares no "Paredón",superando largamente Fulgêncio Batista, o extinto DOI/CODI e Videla), a permanência de Guantânamo e todas essas mazelas que andam por ai.
Como seu espaço é dedicado ao JAZZ e afins, ficamos por aqui e sem fazer coro com a eterna esquerda festiva, sempre parcial em suas colocações.
Abraços!!!
Concordo em GNG com o Apóstolo. O problema da já senil esquerda é acreditar (tanto quanto os cardeais da inquisição) que estará sempre torturando e matando por uma boa causa e pelo bem comum. O que, cá entre nós, é muito mais pernicioso.
Gostei da coragem do Apóstolo de fazer Fidel virar farinha - do mesmo saco.
Geralmente não se diz essas “heresias” – numa mesa de bar, por exemplo –, impunemente. Não é lá, nos Jobis da vida (aqui), que os “festivos” se reúnem? Eu só arrumo grita quando tento. Mas discuto! Ah, discuto!... No mínimo pelo bem do bom combate.
O grande baixista argentino Jorge Gonzalez foi a última pessoa a ver Tenório Junior vivo.
Tenório foi a Buenos Aires integrando o conjunto de Vinicius de Moraes. Ele já conhecia Jorge Gonzalez, com quem tocara numa viagem anterior. Gonzalez foi visitá-lo no hotel onde estava hospedado e, ao chegar no saguão avistou Tenório, que disse-lhe "iria comprar cigarros e voltaria em seguida". Como sabemos, não voltou. O guitarrista Fredera escreveu um livro sobre o desaparecimento de Tenório - livro esse que causou muita polêmica.
Fui amigo de Tenório. Ele freqüentava meu apartamento, onde ouvíamos disco juntos. Lá em casa ele ouviu BILL EVANS e CHARLIE PARKER PELA PRIMEIRA VEZ, ficando literalmente assombrado com ambos.
Bem, acabo de constatar e me certificar q seu Érico san ainda não está a caminho do Tudo é Jazz de Ouro Preto, então vou aproveitar que este aqui encima, q esqueceu de assinar me parece ser mr. Edu (a enciclopédia!)... acho q ele não gosta muito dessa brincadeira, mas perco o amigo mas nunca a piada, Enfim, além da ajuda dos enciclopédicos Edu e Érico Cordeiro, dos demais para uma ajudinha:
Quero presentear um amigo q todos aqui conhecem, essa uma certeza absoluta! O conhecem como Bond, James Bond, na pele de Sean Connery, Roger Moore, Timothy Dalton e outros; como o dr Spock; James Garner, no antigo seriado, Arquivo Confidencial; o Renato de Ugo Tognazzi, a bichona alto astral da Gaiola das Loucas; o Leslie Nielsen, em Corra que a Polícia Vem aí... E só não fico aqui citando, pq acho q já criei intimidade suficiente para conseguir a vossa colaboração. Quero presenteá-lo com uma coletânea de Willow Weep For Me, que o cara ama o tema. Mas o dublador, que foi por muito tempo a voz (locutor) da Rádio Jornal do Brasil, me pediu uma versão do tema q ele nunca mais ouviu e que precisa resgatar do passado. É com um cantor, segundo ele, com uma voz miúda a Chet Baker, mas q ele tem certeza que não é Chet Baker... Bem, resumindo o drama, eu tenho, nos meus álbuns de Jazz 50 versões, entre instrumentais e cantadas de WWFM. A grande maioria cantada, é interpretada por mulheres e as poucas com vozes masculinas (Andy Bay, Chad & Jeremy, Frank Sinatra, Lou Rawls) sequer se aproximou dessa descrição. Considerando que era uma versão que tocava na Rádio JB, portanto, comercial e nos anos 70/80s, essa é toda a informação que posso dividir com o próximo. Alguém tem um palpite feliz?
Ah, claro, o nome do dublador/locutor amigo é Marcio Seixas. Desde já, grato por quem queimar a mufa por mim.
quimar a mufa 'por mim' não, please, é comigo. Tanx.
Prezado Mr. Érico, já tivemos a oportunidade, lá no Jazzseen, de expor, resumidamente, os fatos tristes narrados em sua resenha.
A democracia, por mais imperfeita que seja, parece ser nossa única saída. E, certamente, absurdos brutais assim seriam raros, prontamente denunciados e severamente punidos.
Parabéns e grande abraço, JL.
Prezados amigos,
Prazer tê-los a bordo do JAZZ + BOSSA.
Os amigos Apóstolo, Lester, Sérgio, Tandeta, IendiS e Maysa já são de casa, razão pela qual deixo-os à vontade.
Um seja bem vindo especial ao W. Doug, eis que é a primeira vez que posta um comentário aqui. Sinta-se em casa e, por favor, agruegue-se à nossa confraria virtual.
Saudações especiais também ao "anônimo" que postou um comentário acima, relatando a sua amizade pessoal com o grande Tenório Jr. Gostaria que você se identificasse e que compartilhasse conosco esse amor pelo jazz que suas palvras permitem intuir. Seja bem vindo e volte sempre.
Pois é, demorei para postar ass respostas aos comentários porque estou, digamos, "isolado". Tenho acessado o blog e até consigo ler os comentários, mas só posso postar comentários quando estou em alguma lan house.
Felizmente hoje já estou de volta a São Luís e aproveito para matar as saudades doss amigos.
Ao Sérgio, vou logo dizendo que não conheço a versão de Willlow Weep For Me com esse cantor de voz miúda. Sugestão: que tal procurar algo do Jackie Paris ou do Little Jimmy Scott (também pode ser que tenha sido o Mose Allison ou até mesmo o Bob Dorough).
Mestre Tandeta, assino embaixo - o contato com a música de qualidade vai além do mero entretenimento, é verdadeira medida de cidadania. E seu Mr. John Lester, assino embaixo. Churchill já dizia que a democracia é a pior das formas de governo, exceção feita a todas ass outras espécies já experimentadas pela humanidade - e é isso aí. Com todas ass suas imperfeições e eventuais distorções, a vida sob a égide de um regime democrático é bem melhor que sob uma ditadura.
E Apóstolo e Sérgio, há um certo tipo de esquerda deslumbrada com o poder que uma vez ali instalada repete os mesmos erros e abusos daqueles que combatiam quando eram oposição - o Brasil está infestado desse tipo de gente, infelizmente. Mas não podemos nos deixar abater - afinal, amanhã vai ser outro dia.
E o Fidel é hoje uma caricatura de di mesmo, um velho ditador latino-americano, com os mesmos vícios dos Fulgêncios, Somozas, Pinochets e outros tirano de triste memória em nossa América Latina.
Maysa, parabéns a você e a todos que fazem o Grupo Tortura Nunca mais (legal saber que você faz parte dele - vocês prestam um serviço importantíssimo à memória e à cidadania, pois episódios tão lamentáveis como os advindos com a ditadura militar não podem ser esquecidos).
Um fraterno abraço a todos!!!!
Érico,
Acertar-te em cheio em homenagear a Tenório Júnior e, por tabela, ao sambajazz. Pouco se fala dos músicos desde "movimento" que em muito difere da bossa. Há grandes instrumentistas e Tenório é um deles: embalo deixa claro para quem se deixar ouvir que se tratava de um grande músico.
Um abração!
Compadre,
folgo em lê-lo. E amanhã, que tal um churrasco de carneiro especial? Vamos "reestrear" a churrasqueira?
E, por favor, mantenha contato - já estou em Upaon-Açu!!!
Beijo grande!
Grato, Érico, colei todos os nomes sugeridos, experimentarei cada um deles. Hoje com tempo fui no all muisic e descobri q só lá, estão registradas 1538 versões de WWFM, se não me engano, e há muito mais intérpretes femininos do que masculinos. Ou melhor, as mulheres são, na maioria, mais conhecidas. Mas..., eu sou 'temoso', amigo, quando encasqueto com uma coisa é ruim d'eu desistir, aí já não é nem pelo amigo Márcio...
Valeu!
Ô seu Mr. Sonic,
Mais tarde dá uma passada aqui, ok? E, por favor, não me leva a mal, mas no fim do texto do Lucky o que acabou foi o chocolate, a bebida que ele queria tanto. Acho que da forma que tá colocada lá o texto perde um pouco o sentido.
Mas fiquei muito honrado em ver o meu texto ali naquela mui digna e honrada casa virtual.
Abração!
Prezado Sérgio,
apesar de ter residido por razões profissionais em Buenos Aires - biênio de 2001-2002 - a lembrança de Tenório Junior surgia em uma ou outra ocasião quando retornava de uma noitada caminhando mais apressadamente pelas avenidas centrais portenhas e lamentando consideravelmente o tenebroso fato.Não tive a oportunidade de conviver com Tenório pela razão q nasci em 1972, portanto ignorante sob todos os aspectos no presente momento daquela tragédia em 1976.Um amigo, o pianista Ricardo Paulino, foi seu amigo e relatou-me às melhores informações a seu respeito e talento.
Mr. Edú, Prazer tê-lo de volta.
Pois é, embora o Sonic-boy tenha achado que aqquele comentário anônimo foi de sua lavra, sabia que não seria possível por conta da pouquíssima idade que teria à época.
De qualquer forma, fiquei tocado com as palavras daquela pessoa e torço para que ele volte ao JAZZ + BOSSA, se identifique e passe a freqüentar a nossa confraria, da qual você é um dos mais destacados membros.
Tenebroso é, de fato, o adjetivo mais adequado para qualificar o que houve com esse grande músico. Nós precisamos fazer por merecer a sua música e honrar a sua tragédia, pois ele não pode ficar no esquecimento - daí essa pequena homenagem.
Abração!!!!
Prezado Érico,
Quem poderia dar informações detalhadas sobre a gravação do CD de Tenório Junior é o violonista Celso Brando, seu inseparável amigo e escudeiro mór que participou da gravação do mesmo.
A edição original do LP continha um erro: a faixa que consta como "Sambinha", de autoria de Bud Shank, foi trocada por outro tema, que de cabeça não lembro, mas Celso responderia na ponta da língua. Na edição co CD, o engano foi reparado.
O guitarrista Fredera, que há anos mora em Varginha, onde é proprietário e diretor responsável de um diário local, escreveu um livro sobre o desaparecimento de Tenório, que foi duramente criticado por um advogado em entrevista concedida ao repórter João Máximo publicada há anos no Globo.
Essa entrevista deu panos para manga, merecendo dura contestação por parte de Fredera, mas não sei como terminou essa polêmica.
Keep swinging,
Raffaelli
Mestre Raffaelli,
Li em algum lugar uma referência ao livro do Fredera, mas não lembro direito onde.
Sei que foi uma coisa brutal, estúpida, o que fizeram com o Tenório.
Pena, pois ele poderia ter feito ainda tantas coisas boas.
E a família dele também, deve ter sofrido horrores. Uma tragédia mesmo.
Abraços!!!
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