Amigos do jazz + bossa

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ÊXITO FUGAZ



Harold Floyd Brooks nasceu em Fayetteville, Carolina do Norte, no dia 07 de junho de 1932, juntamente com o irmão gêmeo, Harry. Juntavam-se a uma família já bastante numerosa e eram, respectivamente, o sétimo e o oitavo filhos de David e Cornelia Brooks. O porte físico franzino de Harold fez com que os colegas da escola o apelidassem de Tina (pronuncia-se “Teena”, uma corruptela de “tiny”, que significa muito pequeno).


Ainda na cidade natal, começou o aprendizado do saxofone e o seu primeiro instrumento foi um sax “C-melody”, bastante comum nos anos 30 e 40, mas que atualmente é muito pouco usado no jazz ou na música em geral. Também chamado de tenor afinado em dó, era o saxofone favorito de alguns músicos da era do swing, como Frank Trumbauer. Grandes nomes do jazz chegaram a usar esse curioso instrumento, cujas características mecânicas e sonoras o situam entre o sax alto e o tenor, como Coleman Hawkins e Benny Carter, mas hoje em dia apenas Anthony Braxton, Joe Lovano e outros poucos saxofonistas o utilizam com alguma regularidade.


Em 1944, a família Brooks se mudou para Nova Iorque, estabelecendo-se no Bronx e, na ocasião, o jovem Tina trocou o “C-melody” pelo sax tenor. Um dos seus irmãos mais velhos, o também saxofonista David “Bubba” Brooks (ligado ao R&B, tocou com Sonny Thompson, Jimmy McCracklin, Charles Williams, Don Pullen, Jimmy McGriff e Bill Doggett e era um confesso discípulo do estilo viril de Arnett Cobb), o auxiliou na transição. Curiosamente, a principal influência do Brooks mais jovem era o lírico Lester Young.


Em 1950, Bubba Brooks deixou a banda de Sonny Thompson e Tina o substituiu por alguns meses, tendo então participado de sua primeira gravação, em 1951. Em seguida, vieram trabalhos em diversas outras bandas de R&B, como as dos pianistas Charles Brown e Amos Milburn e a do trompetista Joe Morris. Nesse período, complementou sua educação musical com aulas de harmonia ministradas por Herbert Bourne, com quem estudou por cerca de um ano.


Em 1955 foi contratado por Lionel Hampton para uma excursão, mas não chegou a gravar com o vibrafonista. Em compensação, o convívio com outros músicos de jazz despertou-lhe o interesse pela música que Dexter Gordon, Sonny Rollins e outros tenoristas estavam fazendo. Contribuiu para incrementar esse interesse o trabalho como integrante da banda do Blue Morocco, um clube situado no Bronx. Ali, Tina conheceu e fez amizade com o pianista Elmo Hope e com o trompetista Benny Harris, que posteriormente o apresentaria a Alfred Lion.


O principal executivo da Blue Note ficou vivamente impressionado com os dotes musicais do jovem saxofonista e o incluiu entre os músicos que acompanhavam o organista Jimmy Smith – Lou Donaldson, Lee Morgan, Kenny Burrell e Art Blakey – na gravação de “House Party”, em 25 fevereiro de 1958. As sessões foram tão proveitosas que acabaram rendendo mais dois álbuns: “The Sermon” e “Confirmation”, sendo que em algumas faixas Smith lidera um combo com a seguinte formação: Lee Morgan, George Coleman, Curtis Fuller, Eddie McFadden, Kenny Burrell e Donald Bailey.


De qualquer forma, a semente estava plantada. Após as gravações com Jimmy Smith, Tina Brooks fez diversos trabalhos para a Blue Note, sob a liderança de Kenny Burrell, Freddie Hubbard (de quem se tornaria grande amigo epara quem compôs “Gypsy Blue” e “Open Sesame”), Freddie Redd e Jackie McLean. Infelizmente, o saxofonista já havia mergulhado no tenebroso mundo das drogas, o que o tornava pouco confiável para qualquer gravadora – mesmo a Blue Note, onde além do carrinho de Lion, também contava com a amizade e a proteção de Ike Quebec, então produtor da companhia.


Não que o mítico selo da Nota Azul fosse desprezar um talento colossal por conta de sua dependência química. Afinal de contas, ali pontuavam malucaços da estirpe de Lee Morgan, Sonny Clark e Art Blakey – curiosamente, três músicos que acompanhariam Brooks em um dos seus melhores álbuns. Portanto, a Blue Note não era nenhum convento de adoráveis freirinhas!


Exatamente por conta disso, o saxofonista acabou por gravar quatro discos como líder: “Minor Move” (de 1958), “True Blue” (de 1960, e que seria o único lançado durante sua vida), “Back To The Tracks” (também de 1960) e “The Waiting Game” (de 1961). Todos são de uma qualidade assombrosa, e entre os acompanhantes, músicos da estatura de Johnny Coles, Kenny Drew, Philly Joe Jones, Art Taylor, Paul Chambers, Sam Jones, Duke Jordan e outros luminares.


Difícil tarefa, a de destacar apenas um deles. Logo, a escolha do álbum resenhado se deu por métodos absolutamente científicos: “mamãe mandou eu escolher esse daqui...”. Felizmente, qualquer resultado redundaria em um disco esplendoroso e o vencedor dessa disputa foi... “Minor Move” – o primeiro álbum gravado por Brooks na qualidade de líder.


Exatamente o disco que contou com os pirados e talentosos Lee Morgan (trompete), Sonny Clark (piano) e Art Blakey (bateria), e mais o certinho e tão talentoso quanto Doug Watkins (baixo). Como se dizia antigamente, um quinteto do balacobaco! As gravações foram feitas no dia 16 de março de 1958, sob a batuta do mago Rudy Van Gelder, mas somente em 1980 essa jóia veria a luz do sol, graças a um lançamento da Blue Note japonesa. Para júbilo dos fãs de jazz do resto do planeta, o cd foi posteriormente lançado pela série Connoisseur, em 2000.


Exibindo uma potência sonora e uma vitalidade ímpares, o grupo abre os trabalhos com “Nutville”, composição epopéica de Brooks. Trata-se de um blues em tempo médio, irrigado com altas doses de histamina. O piano de Clark é energético e cheio de groove, com direito a solos sensacionais. A influência de Sonny Rollins, com sua vitalidade e criatividade incessantes, fica patente nos solos de Brooks e o “enfant terrible” Morgan, do alto dos seus 19 anos, incendeia a sessão.


“The Way You Look Tonight”, de Jerome Kern e Dorothy Fields, recebe um arranjo acelerado, mas que respeita as estruturas melódicas da canção e mantém o seu inato lirismo. O líder agrega fluência e inventividade ao tema, dando-lhe um frescor que enternece os ouvidos. Morgan, absoluto, é o retrato da exuberância: seus solos são complexos, ricos, sendo quase possível tocar o som que se espalha a partir das caixas acústicas e a inabalável dobradinha Watkins-Blakey é segura como poucas.


Mais um standard executado em tempo médio, “Star Eyes” era um dos temas preferidos de Charlie Parker e Brooks paga um soberbo tributo ao mestre de todos os mestres do sax alto, com solos de extremo bom gosto e elevada combustividade. Primorosa a intervenção de Clark, tanto no acompanhamento quanto nos solos, que pode mostrar o vigoroso improvisador que sempre foi. Morgan faz parecer fáceis as mais impressionantes peripécias ao trompete, tamanha a sua intimidade com o instrumento.


Brooks também é o autor da faixa que dá nome ao disco, outro petardo sonoro no qual os sopros do líder e de Morgan dão um sentido exponencial ao termo “em estado de ebulição”. Destaque para a forma como o baixo aveludado de Watkins, herdeiro direto de Oscar Pettiford, dialoga com o piano de Clark e a bateria de Blakey, numa demonstração de entrosamento e sincronismo impressionantes.


A versão do quinteto para “Everything Happens to Me” é nada menos que sublime. Uma balada altamente lírica, onde Brooks demonstra sua reverência ao genial Lester Young. O solo de Morgan é breve e desconcertante e Blakey parece ter forrado com veludo as suas baquetas, ttamanha a delicadeza dde sua percussão. Impossível não se emocionar com a atmosfera de três da madrugada, que remete a amantes insones, cigarros acesos e gelo se liquefazendo no copo de whisky. Discaço!


Apesar das circunstâncias favoráveis, a instabilidade emocional de Brooks devastou-lhe a possibilidade de uma carreira bem sucedida. No meio do ano em que gravou esse disco, por exemplo, ele simplesmente desapareceu da cena musical por quase um ano, somente vindo a dar as caras em agosto de 1959, para participar de algumas faixas do álbum “Swingin’”, de Kenny Burrell.


Em 1961 Tina gravou seu último disco para a Blue Note e passou a viver de forma errática, a reboque da dependência química que lhe roubava a carreira, a saúde e a dignidade. Chegou a participar de shows e jams na região do Bronx e a sua última performance conhecida foi ao lado de Ray Charles, em 1963. Depois disso, as notícias sobre sua vida são incertas. Sabe-se apenas que no dia 13 de agosto de 1974 Brooks faleceu, em virtude de falência dos rins e do fígado, e que há alguns anos já não conseguia tocar.


Uma grande perda para o jazz, não apenas pelo que efetivamente fez – e que, apesar da discografia rarefeita, foi muito do ponto de vista qualitativo – mas também pelo que poderia ter feito. Sobre o talento de Brooks e sua forma personalíssima de tocar, escreveu o crítico Eric Novod: “Suas improvisações inspiradas, fruto da combinação de linhas graciosas do blues com o mais complexo bebop, faziam dele um dos maiores nomes do sax tenor”.


========================================


32 comentários:

Sergio disse...

Pois é, seu san, entre os 4 do Brooks não há mesmo escapatória. Ou se apela pro "mamãe mandou" ou cai-se numa regressão ainda mais em regra no "unidunitê".

Bela resenha recorrendo ao humor pra compensar uma vida tão pouco aproveitada.

Érico Cordeiro disse...

Mr. San,
Parada duríssima escolher um disco - todos são nota 1000.
Felizmente, ele deixou essas gemas - e assim ele se eterniza em sua arte!
Abração!

Salsa disse...

Também curto mr. Brooks. Discografia pequena mas expressiva. Creio que o primeiro disco no qual eu o ouvi foi um do Burrell, gravado ao vivo - excelente.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Salsa,
Além dos quatro discos como líder, o Brooks gravou com Freddie Hubbard, Jimmy Smith e Kenny Burrell (eu falei sobre esse disco aqui no jazz + bossa, no post sobre o Kenny - fantástico mesmo).
Valeu!!!

PREDADOR.- disse...

Dizia um amigo meu: Tina Brooks só gravou 4 discos como líder. Todos difíceis de encontrar. Eu então pensei, estou "por cima da carne sêca", pois tenho os quatro. Lenda pura, todo mundo tem estes discos, inclusive meus conterrâneos jazzófilos lá de "Predatória". Isto não tira o mérito de todos os quatro serem muito bons. Ótima resenha mr.Cordeiro, aprendí mais algumas "coisinhas" sôbre o Tina. Excelente tenorista!

Érico Cordeiro disse...

Seu Mr. Predador,
Mas é o tipo da coisa: quem viu viu, quem não viu, não vai ver mais (rs, rs, rs). Pelo menos o "Waiting Game" vai ser complicado, porque ele tá a inacreditáveis 262 dólares no Amazon.
Os outros estão mais "baratinhos", na faixa de 30 verdinhas. Ou seja, fizemos ótimos negócios, Mr. Predador! Melhor que investir em ações, é investir em Tina Brooks (rs, rs, rs).
Abração!

Esther disse...

Caro Eric, você é um poeta em tudo que fizer,

Eu realmente gostei de ler sobre Tina.

Um grande abraço!

Érico Cordeiro disse...

Cara Esther,
É sempre uma honra tê-la aqui no barzinho! Seja muito bem-vinda e obrigado pelas palavras generosas!
Você é que faz poesia com as imagens!!
Um fraterno abraço, diretamente do Brasil!

Sergio disse...

Vc reparou de cara, mr. Érico (a 1ª vista, quis dizer), como na foto de "Back to the Tracks", compondo com a curvatura e a ponta da palheta do sax, Tina Brooks está encarnado o Tinhoso? Até pelo o rosto angular com aquelas entradas dos cabelos... A composição é calaro q é proposital, certo?

E, enfim, Tina Brooks merecia esse destino! Ábuns tão valiosos quanto grandes lotes de ação da Microsoft.

Érico Cordeiro disse...

Pô, Mr. Sérgio,
Tudo bem que o cabra é meio feinho, mas parecido com o Tinhoso?
Sei não. Achei ele mais parecido com o Odvan, becão do Vasco (rs, rs, rs)!

Sergio disse...

Não, sério, seu san. Olha essa capa direito, prertenção no silviço. Por isso te perguntei se tinha reparado de cara, parece q a foto/produção teve o propósito. Né nem questão de feio o bonito, na boa repare o sax fazendo o rabo do cramulha, é sério, dessa vz não tou brincando não. rs...

Sergio disse...

E, só pra esclarecer q as vzs a gente lê com pressa: eu tou falando da capa do Back to the tracks, não do Minor move. V lá q né possivi q nego não tenha feito aquilo de propósito, até pq o som do cara é diabólico mesmo.

APÓSTOLO disse...

Estimado ÉRICO:

Escolha superior de um músico "top", na linha dos tenoristas.
Resenha mais que fiel e essencial e um album em que, além do "efêmero" TINA, alinha outro dos efêmeros geniais, LEE MORGAN, tão jovem quanto em veterano estado de graça.
Mais uma vez você assina uma resenha nota dez !
Obrigado.

figbatera disse...

É...nota 10!

Érico Cordeiro disse...

Caros Sérgio (agora eu vi e, meio que forçando a barra dá prá fazer essa associação com o mau e velho cramulha na capa do Back To the Tracks - rs, rs, rs), Apóstolo (welcome back, my great Master) e Fig,
Efêmero e genial - essas duas palavras resumem a passagem do Brooks por esse plano existencial.
Quatro álbuns apenas, mas que quatro álbuns!!!! Deixou, sem dúvida alguma, a sua marca no jazz e merece ser mais conhecido - outro monstro underrated.
Geande abraço aos três amigos!

Sergio disse...

Seu san, e se eu lhe dissesse q a faixa "BTTT" do citado LP, tocada ao contrário, está cheia de msgs subliminares?

Xá pra lá. Continue em sua santa inucência...

pituco disse...

érico san,

resenha piramidal...tenho apenas o 'true blue' (baixado na sta.net e saravado à exaustão no hd...pra desespero dos vizinhos...rs)

e,signore,facilita pra gente...perfavore...tá difícil acessar tua página e no caso desse tópico, não consigo acessar a radiola...mamma mia (que script é esse que torna lento o acesso de teu blog???)

abraçsons
ps.e como não consigo ouvir aqui, será que poderias pandear-me-lo, onegaitashimassu...rs

Érico Cordeiro disse...

Mr. Seu Sérgio,
Não brinca com essas coisas, que o bicho pega - literalmente!
Mr. Seu Pituco,
Aqui tudo ok! Não sei o que passa!?!?
Mas vou estar anteciPando os 3 Tinas, ok?
Saraveie bastante, porque ele merece!
Abração aos dois!!!

Salsa disse...

É, tá lento. Pensei que era só comigo, mas tamém acontece com Pituco. Agora está pedindo para instalar um tal ietag.dll. Como eu não sei que diabo é isso, deixo de lado.

pituco disse...

primeiramente,
signore érico, grazie pelo pando...tá rolando aqui no headphone...piramidal

salsa,
vc consegue ouvir os aúdios na radiola dessa postagem???...curioso, que é alternado...uma post ok, outro imediante seguinte, negativo...rsrsrs...facilita pra gente sir érico san...perfavore

abraçsons

Érico Cordeiro disse...

Caros Salsa e Pituco,
Ontem de madrugada, a radiola simplesmente apagou. Mas hoje está tudo normal. Talvez seja o tréfego no DivShare, não sei...
Mandei um e-mail pro Mauro e espero que ele consiga me ajudar. Também dei uma "limpada" lo lay-out, tirei alguns links e chamadas (do Johnny Alf e do Helvius Vilela) e tomara que agora o bbichinho rode melhor.
Valeu!

John Lester disse...

Saxofonista injustamente pouco festejado, embora plenamente maduro, como um robusto cabernet do Napa sobrepujado por corpulentos Bordeauxs.

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

Mestre John Lester,
É uma honra tê-lo a bordo. O Brooks evoca as melhores emanações enológicas - vinhos robustos e corpulentos, à altura de sua sonoridade singular!
Abração!!!

Hector Aguilera S. disse...

Poco conozco a este saxofonista, no lo he escuchado lo bastante para opinar, pero me has motivado para hacerlo.
Un saludo afectuoso caro Érico

Érico Cordeiro disse...

Caro Hector,
Ele possui 4 discos como líder e todos sensacionais. Além disso, arrebenta em álbuns do Jimmy Smith (House Party), do Freddie Hubbard (Open Sesame), do Kenny Burrell (Blue Lights), Jckie McLean (Jackie's Bag) e do Freddie Redd (Red's Blues).
Qualquer um desses álbuns é artigo de primeira!
Abraços!!!

ABEL HURTADO disse...

Obrigado pela sua visita mucas meu amigo Eric! Um grande abraço do México. Estamos articulados na celebração de 1000. Muito obrigado por sua boa vontade

Érico Cordeiro disse...

Abel,
Mais uma vez, parabéns.
1000 postagens é uma marca importantíssima e merece ser comemorada!
Abraços do Brasil!!!!

Érico Cordeiro disse...

Obrigado pelo convite, Elaine.
Vou dar uma passada por lá agora mesmo.
Valeu!

Anônimo disse...

Caro Érico e correligionários,

É fantástica a sua produção em massa, como registrei anteriormente com o endosso de vários amigos jazzófilos freqüentadores deste blog.

Por vezes hesito em relatar certos acontecimentos que testemunhei de uma forma ou de outra para não ser considerado pernóstico ou megalômano pelos demais escribas do "nosso" barzinho (êpa, apropriei-me indevidamnete do local!).

Todavia, embora correndo o risco de ser tachado como "inventor de histórias", não resisto ao impulso em relatar um epísódio ocorrido com Tina Brooks por ocasião de sua vinda ao Rio, em 1963, com a orquestra de Ray Charles.

Houve uma época em que morava no Rio um jazzófilo francês chamado Robert Celerier, um fanático que respirava jazz de dia e de noite. Inclusive, ele dava aulas de jazz nas areias de Ipanema a um grupo de garotões playboys que passavam o dia na praia. Celerier tinha o hábito de a cada 30 dias mudar de opinião sobre quem era "a maior revelação do jazz". Numa dessas ocasiões, ele "descobriu" Tina Brooks. Ao saber que Tina Brooks viria do Rio com Ray Charles, Celerier e seu séquito de amigos compraram antecipadamente quase todas as poltranas da primeira fila do Teatro Municipal.
Quando os músicos de RC entraram no palco, Celerier levantou-se aplaudindo e gritando a plenos pulmões: "TINA BROOKS", acompanhado pelos amigos-alunos que gritavam e aplaudiam delirantemente. Em 30 segundos todo o público do Municipal, pensando que aplaudiam Ray Charles (provavelmente a imensa maioria nem sabia quem era Ray Charles, pois 90% dos freqüentadores do teatro eram os apreciadores de música clássica, embora fossem a todos os eventos no tradicional teatro) grande maoioria , iniciaram uma gritaria sem fim, emocionando Tina Brooks a ponto deste dizer mais tarde que ignorava ser tão popular no Brasil. Terminado o concerto, Celerier e sua gang foram aos camarins felicitar o novo ídolo e Tina Brooks disse que ficaria no Brasil, onde foi ovacionado de pé por toda platéia.
Conclusão: foi um custo convencerem-no que o público ovacionou-o pensando aplaudirem RC.
Após ser esclarecido, triste e desiludido Tina Brooks desistiu de ficar no Brasil.

A partir desse dia, todos gozavam Celerier e a cada atração de jazz que vinha ao Rio perguntavam-lhe quem era a "maior revelação do jazz atual"....

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Bom, Mestre Raffaelli,
Pelo menos ninguém vai poder dizer que o Celerier não tinha um tremendo bom gosto (pelo menos em termos de tenoristas)!!!
E quanto ao barzinho, você sabe que é sócio de carteirinha, proprietário de camarote VIP e tudo mais. Salvo engano o Brooks aparece no dvd do Ray Charles gravado no Brasil (eu nunca assisti, mas acho que li algo a respeito em algum lugar).
Abração!

José Domingos Raffaelli disse...

Caro Érico,

A formação que Ray Charles trouxe ao Brasil, em 1963, era magnífica, quase todos integrantes eram feras:

Ray Charles(piano, vocal @ alto sax)- Sonny Forrest(g)- Edgar Willis(baixo) e Wilbur Hogan(bateria)

Hank Crawford, Tina Brooks, Leroy Cooper, Bill Pearson & Dave Newman(saxes)

Keg Johnson, Julian Priester, Henderson Chambers & Jim Herbert(trombones)-

John Hunt, Phillip Gilbeau, Wallace Davenport & Oliver Beener(trompetes)

The Raeletts (grupo vocal)

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Uma seleção de craques mesmo, sendo que Hank Crawford, Tina Brooks e Julian Priester são do primeiro time.
Certamente uma experiência única para quem assistiu. Não é à toa que o homem era chamado de "The Genius"!!!
Valeu mesmo e um grande abraço!

Google Analytics