Amigos do jazz + bossa

domingo, 26 de abril de 2009

FAMÍLIA QUE TOCA, COMPÕE, ARRANJA, PRODUZ UNIDA...




Se há uma família que enobrece e dignifica o jazz, essa é a família Marsalis. É claro que não se pode esquecer dos irmãos Powell (Richie e Bud), Montgomery (Wes, Monk e Buddy) ou Adderley (Cannonball e Nat), além de muitos outros exemplos. Mas a família Marsalis é especial, porque ali pontificam, além do pianista Ellis, o trompetista Wynton, o saxofonista Branford, o trombonista Delfeayo e, mais recentemente, o baterista Jason.

Todos mestres em seus respectivos instrumentos. Todos, além de exímios músicos, compõem, produzem e arranjam seus próprios discos e de outros grandes nomes do jazz atual. Ironicamente, o patriarca da família, o grande Ellis, somente ganhou uma certa notoriedade depois do estouro do seu filho mais velho, Wynton, a partir de meados dos anos 80. Até hoje Ellis se mantém como um respeitado professor em Nova Orleans e, além dos filhos, alguns dos seus destacados alunos no New Orleans Center for Creative Arts foram o pianista Harry Connick Jr. e o trompetista Nicholas Payton.

O membro mais célebre da família, Wynton, ainda é muito criticado por seu apego à tradição e por seu suposto academicismo excessivo. Bobagem! Os amantes do jazz têm para com Wynton uma dívida impagável, afinal ele é o Santo Guerreiro que lutou contra – e venceu – o Dragão da Maldade Fusion e trouxe o jazz de volta ao bom caminho. Quem acha que ele não sabe improvisar ou que possui somente técnica e nenhum feeling, recomendo a audição do box “Live at the Village Vanguard”. São 7 cd’s espetaculares e que atualmente podem ser encontrados a preços bastante razoáveis, onde técnica e swing se aliam em uma série memorável de concertos.

Voltando ao Ellis, sua produção discográfica é bissexta, mas de uma qualidade assombrosa, inclusive com um excelente tributo a Thelonious Monk, chamado “An Open Letter To Thelonious”. Contudo, gostaria de falar de um disco em especial, intitulado “Twelve’s It”, cujo destaque é, além do piano do Marsalis sênior, a bateria do caçula Jason. O rapaz honra a tradição da família e confirma o velho ditado popular “quem sai aos seus não degenera”. Além disso, assina a produção do disco, gravado entre março de 1996 e janeiro de 1998.

O piano de Ellis é refinado, econômico, fluido, sem pirotecnias ou exibições gratuitas de velocidade – um verdadeiro deleite para os ouvidos. Seu estilo lembra (eu disse lembra, não imita) Bill Evans – um toque delicado, mas com personalidade. Artífice da sutileza, se fosse um jogador de futebol, Ellis estaria mais para o elegante Ademir da Guia que para o intempestivo Robinho. O disco traz gravações ao vivo e em estúdio e boa parte do repertório é do próprio Ellis. A exceção fica por conta dos standards “I’ve Grown Accustomed to her Face” (Lerner/Lowe), “The Surrey With the Fringe on Top” (Rodgers/Hammerstein) e “The Party’s Over” (Comden/Greene/Styne), todas tocadas de maneira irrepreensível. Fazendo o discreto e eficiente acompanhamento, estão os baixistas Roland Guerin – nas faixas ao vivo – e Bill Hunttington – nas faixas em estúdio.

Na primeira faixa, que dá nome ao disco, o pianista logo diz a que veio. Cria um belíssimo clima no início e, à medida em que os outros instrumentos vão se agregando, a atmosfera idílica vai cativando o ouvinte até o fim da melodia. São 5min13s de puro enlevo. Outro destaque é a bela “Homecoming”, uma delicada balada com leve tintura de blues, onde o talento do baterista se revela em toda a sua extensão. “Zee Blues” é bebop da melhor qualidade, sintetizando o entrosamento entre piano, contrabaixo e bateria presente em todas as faixas. Um disco para ouvir a dois, de preferência com o auxílio luxuoso de uma boa garrafa de vinho.

10 comentários:

Salsa disse...

Ô, Érico, põe uma raiola pra gente ouvir o som.
Uma sugestão: a lista de blogs não precisa criada exclusivamente para cada um dos blogs que você aprecia. Você pode acrescentar blogs em apenas uma lista.
Abraços,

Érico Cordeiro disse...

Grande Salsa, a minha idéia é exatamente essa - disponibilizar uma ou duas músicas de cada álbum comentado. O problema: não sei como fazê-lo. Peço a sua ajuda para isso!!!!
Uma amiga prometeu me mostrar como faz, mas até agora necas (Estou esperando, viu comadre)!!!
Além disso, não sei como acrescentar mais de um blog por lista - preciso de um curso urgente para aprender a mexer com esse trem.
Valeu mesmo e, por favor, manda um "passso a passo" de como colocar uma raiola no blog. Abração!!!

John Lester disse...

Prezado Mr. Cordeiro, arabéns pela excelência do texto, além do bom gosto e da fluidez com que fala sobre o jazz.

Vida longa ao blog.

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Lester,
Obrigado pelas palavras gentis. Você, o Salsa, o Vinyl, o Edu, o Scardua e outros tantos confrades virtuais são um pouco autores deste blog. Sejam sempre bem-vindos. A opinião de vocês é muito importante - são uma influência e uma inspiração para o que escrevo. Forte abraço!

João Bouères disse...

O Jazz + Bossa..., estão de parabens! Ganharam um adepto por excelência em Érico Cordeiro, com este blog muito bem elaborado, como tudo que é feito por alguém apaixonado pela boa música.
Conheço Érico há umas duas décadas e sei da sua sensibilidade musical.Apesar de não ser músico,tem um ouvido privilegiado e é de um bom gosto ímpar. Um grande descobridor do que há de melhor no universo musical!
Um abraço!

Érico Cordeiro disse...

Mestre João,
Espero estar à altura dos seus ensinamentos - você tem sido uma pessoa fundamental na minha educação musical.
Forte abraço e apareça sempre.

edú disse...

Quem cita Buddy Montgomery "manja" muito de jazz.Parabéns.Nem tudo no Maranhão esta perdido.Surge um belo blog de jazz.

Érico Cordeiro disse...

Edú,
sua presença abrilhanta qualquer blog. Sou apenas um curioso - mas a paixão pelo jazz é verdadeira. Abs

Internauta Véia disse...

Numa passagem de ano, no Blue Note, tive a sorte de ver Jason Marsalis tocando...
Parabéns pelo blog! Longa vida!

Érico Cordeiro disse...

Que inveja!!!
Seja bem vinda e espero que você goste dos posts e das músicas.
Um fraterno abraço!

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