Amigos do jazz + bossa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

THEY TRIED TO MAKE ME GO TO REHAB AND I SAID “YES, YES, YES”


A recuperação de um adicto é sempre uma experiência dolorosa – traumatizante, até. O dependente e sua família passam momentos terríveis e, muitas vezes, o resultado é frustrante. Não são poucas as ocasiões em que o tratamento é interrompido ou simplesmente abandonado. Também não é raro constatar, ao final de meses ou anos de tratamento, que a situação do doente pouco ou nada melhorou. As drogas põem em risco muita coisa: saúde, dinheiro, auto-estima, prestígio, carreira, amigos, família, dignidade.

O mundo do jazz está repleto de dependentes químicos. Alguns deles, como Bud Powell, Charlie Parker ou Bill Evans sucumbiram ante o poder devastador das drogas e perderam tudo, inclusive a vida. Outros, como Philly Joe Jones, Art Pepper ou Chet Baker passaram o resto da existência lutando contra os efeitos poderosamente destrutivos dos narcóticos. E houve aqueles para quem as drogas foram um tenebroso pesadelo mas que, felizmente, conseguiram dar a volta por cima e viveram um final feliz na vida e na carreira. Joe Pass é um exemplo dessa luta hercúlea e, no seu caso, vitoriosa.

Filho de imigrantes italianos, Joseph Anthony Jacobi Passalacqua nasceu no dia 13 de janeiro de 1929, em New Brunswick, Nova Jérsei, e foi criado na cidade de Johnstown, Pensilvânia. Seu pai, o siciliano Mariano Passalacqua, era operário da indústria siderúrgica e não tinha qualquer aptidão musical. Não obstante, assistindo aos filmes do ator Gene Autry, um cowboy que cantava e tocava violão, o pequeno Joseph logo demonstrou um enorme desejo de tocar o instrumento.

Aos nove anos, ganhou do pai a sua primeira guitarra, da marca Harmony, comprada por 17 dólares. Em seguida, começou seus estudos musicais, pelas mãos de um certo Nick Gemus, amigo da família, e levou tão a sério os estudos que em bem pouco tempo já demonstrava um assombroso domínio do instrumento. O orgulhoso Mariano incentivava o filho a se aperfeiçoar cada vez mais e demonstrava muito orgulho do seu talento.

O garoto, que costumava praticar seis horas por dia, correspondia às expectativas do pai e caminhava para se tornar um verdadeiro fenômeno da guitarra. Apaixonado pela música de Django Reinhardt e Charles Christian, o jovem guitarrista, que já usava o nome artístico de Joe Pass, formou um grupo nos moldes do celebrado Quinteto do Hot Club de France, chamado “Gentlemen Of Rhythm”, que se apresentava em festas e em clubes da região de Johnstown. Quando descobriu o bebop, Pass imediatamente adotou o idioma proposto por Charlie Parker e Dizzy Gillespie e orientou sua abordagem para o estilo.

Com apenas 14 anos e ainda na escola, iniciou a carreira profissional, acompanhando a orquestra de Tony Pastor. Aos 18 anos, abandonou a escola para se dedicar à carreira musical e, pouco tempo depois, se mudou para Nova Iorque, onde pôde assistir de perto as performances dos ídolos Parker, Gillespie e Bud Powell. Na Meca do Jazz, estudou teoria musical com o guitarrrista Harry Volpe e atuou por algum tempo nas big bands de Charlie Barnet e Ray McKinley. Também trabalhou como freelancer, tocando em clubes de Manhatan e Nova Jérsei, até ser convocado para a marinha, onde passou cerca de um ano.

Como muitos músicos daquele período, Pass também sucumbiu à perigosa tentação das drogas – no caso, a heroína – e atravessou toda a década de 50 sem ter feito nada relevante do ponto de vista musical e pior: tornou-se um nome não confiável. Na época, ele, que havia sido considerado um dos nomes mais promissores da guitarra jazzística, tinha que se contentar em ver guitarristas como Billy Bauer, Herb Ellis, Mundell Lowe ou Johnny Smith disputando a preferência de crítica e público.

Na tentativa de dar um norte à vida e à carreira, Pass se mudou para New Orleans, onde chegou a tocar em uma boate de strip-tease para sobreviver. A estratégia não deu certo e o guitarrista afundou ainda mais no submundo das drogas – a ponto de ter um colapso, por conta da quantidade de drogas que costumava ingerir.

Joe foi preso em 1954, por porte de entorpecentes, e ficou quatro anos internado no U. S. Public Health Service Hospital, em Fort Worth, Texas. Quando saiu, resolveu tentar reerguer a combalida carreira profissional. Fixou-se em Las Vegas e juntou-se ao trio de acordeonista Dick Contino e passou a tocar na noite, em clubes e hotéis da cidade. Todavia, não conseguiu ficar longe das drogas e, mais uma vez, mergulhou no tenebroso mundo da heroína. O agravante é que, para sustentar o vício, Pass começou a roubar instrumentos musicais dos colegas, vendendo-os em lojas de penhores da região.

Não demorou muito e o músico acabou sendo preso outra vez, em Sacramento, no final dos anos 50. Sobre aquele período, considerado por ele como a “década perdida”, Pass confessou ao jornalista Robert Palmer: “Ficar chapado era a minha prioridade número um. Depois vinham, nessa ordem, a música e as garotas. Só que as drogas minavam todo o meu dinheiro e energia”.

Mais uma vez, submeteu-se ao doloroso processo de reabilitação, desta feita no Synanon Center, onde passou cerca de três anos. Naquela instituição, Pass se juntou ao pianista Arnold Ross e a outros músicos que também lutavam para se recuperar do vício e gravou o álbum “Sounds Of Synanon”, lançado em 1962 pela Pacific Jazz. O disco teve uma ótima repercussão no meio jazzístico e permitiu que Pass, agora definitivamente curado, voltasse a retomar as rédeas da carreira musical.

De início, fixou residência em Santa Monica, Los Angeles, realizando trabalhos ao lado de gente como Bud Shank, Chet Baker, Clare Fisher, Julie London, Della Reese, Bobby Troup, Johnny Mathis, Gerald Wilson, Sarah Vaughan, Page Cavanough, Benny Goodman, Richard “Groove” Holmes, Nancy Wilson, Earl Bostic, Les McCann, Louis Bellson, Frank Sinatra, Bill Perkins, Joe Williams, Johnny Mathis, Joe Newman, Roger Kellaway, Carmen McRae e muitos outros artistas importantes.

Tornou-se o guitarrista de confiança da gravadora Pacific Jazz e participou de dezenas de gravações naquela casa, inclusive lançando ali o seu primeiro disco como líder: “Catch Me!”, de 1963. Trabalhou em programas televisivos como “The Tonight Show”, do apresentador Johnny Carson, “The Merv Griffin Show” e “The Steve Allen Show”, o que lhe assegurava a indispensável segurança financeira.

Aos 34 anos, livre das drogas, saudável, de bem com a vida e no auge da forma técnica, o reconhecimento não demorou a chegar. No mesmo ano em que lançou o primeiro álbum solo, 1963, Pass foi agraciado com o prêmio de “New Star”, pela revista Down Beat. O crítico Leonard Feather saudou-o como “o mais espetacular guitarrista a surgir na cena jazzística, desde o aparecimento de Wes Montgomery, no final dos anos 50”.

Apelidado de “Charlie Parker da guitarra”, Pass certa vez perguntou a Wes Montgomery quem era o seu guitarrista favorito. Sem hesitar, Wes respondeu: “é o guitarrista da sua banda”. A complexidade harmônica do bebop exige dos guitarristas articulação, destreza e técnica extremadas e Pass, dotado de todas essas características, fazia com que a sua música soasse como a coisa mais simples do mundo. Segundo os críticos Richard Cook e Brian Morton, “Pass suavizava o nervosismo do bebop e impunha à obviedade do swing uma complexidade avessa a hermetismos”.

Uma formidável amostra de suas habilidades pode ser apreciada no álbum “Joy Spring”, gravado ao vivo no dia 06 de fevereiro de 1964, no Encore Theatre, em Los Angeles. Lançado pela Pacific Jazz, com produção Richard Bock e capa de William Claxton, o disco traz o guitarrista em um ambiente de total relaxamento, típico dos melhores momentos do jazz californiano. A seu lado, os pouco conhecidos Mike Wofford (pianista que tocou com Kenny Burrell, Zoot Sims, Ella Fitzgerald e Slelly Manne, entre outros), Jim Hughart (contrabaixo) e Colin Bailey (bateria).

A faixa-título, uma das mais conhecidas composições de Clifford Brown, abre os trabalhos com tamanho grau de energia e vivacidade que é impossível ao ouvinte permanecer indiferente. O brilhantismo de Pass, explorando novas possibilidades harmônicas, contagia o grupo. Seu dedilhado, ora frenético, ora melódico, exige dos acompanhantes uma entrega absoluta e todos correspondem à altura, em especial o baterista Bailey. Hughart possui o jogo de cintura típico dos grandes baixistas da Costa Oeste – Curtis Counce e Leroy Vinnegar, em especial – e seu acompanhamento é leve como o vôo de uma gaivota.

O quarteto desenvolve a balada “Some Time Ago”, do compositor argentino Sergio Mihanovic, com uma delicada atmosfera de valsa. Pass passeia entre os registros mais graves e os mais agudos do instrumento com uma competência estarrecedora. Seu fraseado se pauta por uma conjunção mágica de delicadeza e sobriedade, com destaque também para a não menos cativante performance de Wofford. O diálogo entre guitarra e piano lembra os célebres duetos entre Jim Hall e Bill Evans, só que aqui há a luxuosíssima presença de baixo e bateria, ambos discretíssimos.

O standard “The Night Has A Thousand Eyes”, de Jerry Brainin e Buddy Bernier, ganha um arranjo em tempo médio, impregnada de harmonias bop. A guitarra de Pass soa límpida, cristalina, como se não exigisse qualquer esforço para ser tocada. A sessão rítmica providencia um acompanhamento refinado, com direito a um solo dos mais criativos por parte de Wofford, merecendo destaque também o contagiante approach rítmico de Bailey.

A releitura da parkeriana “Relaxin' At Camarillo” é empolgante, com quase 11 minutos de energia e inventividade. Pass aplica doses substanciais de blues ao tema e improvisa com rara maestria e muito vigor. Wofford desenvolve o tema de maneira ousada, entrecortando as notas e percutindo as teclas do piano com uma fúria criativa que remete às imprevisíveis escalas monkianas.

Para fechar, uma versão poderosa de “There Is No Greater Love”, acelerada e repleta de swing. Os solos de Pass são audaciosos, elegantes e sempre muito bem elaborados. Abusando de sua técnica superior, o guitarrista desconstrói e recria a melodia, como somente os grandes são capazes de fazer. A destacar, o acompanhamento primoroso da sessão rítmica, especialmente do baterista Bailey. Um disco dos mais consistentes e representativos da sensacional produção de Pass.

Entre 1965 e 1967, o guitarrista integrou o grupo do pianista George Shearing, ao lado de quem excursionou pelo mundo. A década de 70 encontrou o Pass em plena forma, com gravações para o selo alemão MPS, participação festivais como Monterrey, Northsea, Concord, Newport e Montreux, atuação em álbuns de jazzistas europeus como o acordeonista Art Van Damme, o violinista Stéphane Grappelli e o gaitista Toots Thielemans e um duo de guitarra que resultou em álbum histórico: “Jazz Concord”, de 1973, ao lado do amigo Herb Ellis, parceiro nas noites do tradicional clube Donte’s, com o suporte dos extraordinários Ray Brown e Jake Hanna.

Contratado pelo produtor Norman Granz para a Pablo Records, Pass se tornou o guitarrista por excelência daquele selo, acompanhando astros do quilate de J. J. Johnson, Count Basie, Benny Carter, Milt Jackson, Buddy DeFranco, Duke Ellington, Dizzy Gillespie, Johnny Griffin, Jimmy Rowles, Roy Eldridge, Red Mitchell, Clark Terry, Zoot Sims e Ella Fitzgerald.

Além disso, gravou diversos álbuns em seu próprio nome, sob os mais diversos formatos (solos, duetos, trios e quartetos), incluindo tributos a Duke Ellington (“Portraits Of Duke Ellington”, 1974), a Charlie Parker (“I Remember Charlie Parker”, de 1979) e aos irmãos Gershwin (“Ira, George And Joe”, de 1981).

Uma de suas mais prolíficas associações foi com o pianista canadense Oscar Peterson, cujo trio integrou com alguma regularidade, a partir de 1973. Ali conheceu o baixista dinamarquês Niels-Henning Ørsted Pedersen, de quem se tornaria grande amigo. A trinca Peterson, Pass & Pedersen gravou diversos álbuns, incluindo os fenomenais “The Good Life” (1973) e “The Trio” (1974), vencedor do Grammy de melhor performance de jazz (grupo) daquele ano.

Dono de uma sonoridade cristalina, seu fraseado está entre os mais sofisticados entre todos os grandes guitarristas do jazz e apesar da técnica soberba, jamais resvalava para o exibicionismo, concatenando suas idéias musicais sempre com muita graciosidade. Mas seus méritos não param por aí. Como bem informa Pedro “Apóstolo” Cardoso, Pass era “possuidor de ataque perfeito, com um “drive” irresistível e uma sonoridade cálida, sensual, consegue soar como “acústico” mesmo quando executa com amplificação elétrica”.

Tocar com músicos brasileiros era uma constante na vida de Pass, que gravou ao lado de outras feras, como o maestro Moacir Santos, o percussionista Paulinho da Costa, o guitarrista Laurindo de Almeida e o grupo Azymuth. Em seus discos, podem-se encontrar interpretações de músicas de Tom Jobim, Luiz Bonfá, Ivan Lins, Milton Nascimento e muitos outros. Integrando o trio de Oscar Peterson, Pass se apresentou no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1978. Alguns anos mais tarde, em junho de 1987, ele se apresentaria no clube Blue Note, em Nova Iorque, ao lado do brasileiríssimo violonista Baden Powell.

Pass gravou diversos álbuns sem acompanhamento algum – apenas ele e sua guitarra celestial – e muitos deles integram a série “Virtuoso”, que muitos críticos apontam como verdadeiro divisor de águas na história da guitarra – Ted Gioia o coloca entre “a meia dúzia de gravações mais importantes para a moderna guitarra jazzística”. Além disso, escreveu inúmeros métodos de guitarra, com destaque para “Joe Pass Guitar Style” (em co-autoria com Bill Thrasher), considerada obra de referência.

Sobre o próprio estilo, comentou certa feita: “Sempre que eu toco um tema, procuro fazer com que ele soe diferente. Sempre procuro extrair algo novo, imprimir algo que seja somente meu naquele tema. Esse é o meu objetivo: usar tudo que vivi e aprendi e trazer à tona essas memórias, de alguma forma, através do meu instrumento”.

Ele descobriu em 1992 que sofria de câncer no fígado. Apesar de debilitado pela doença, o guitarrista jamais entregou os pontos e trabalhou, praticamente, até o fim. Um de seus derradeiros trabalhos foi uma homenagem ao cantor country Hank Williams, chamado “Roy Clark e Joe Pass Play Hank Williams”, juntamente com os guitarristas Roy Clark (com quem divide os créditos do álbum) e John Pisano e dos velhos companheiros Jim Hughart e Colin Bailey.

O câncer, finalmente, o mataria em 23 de novembro de 1994, no USC Norris Comprhensive Cancer Center, em Los Angeles, e seu corpo foi enterrado no cemitério de Piscataway, em Nova Jérsei. Havia feito seu último concerto, em um pequeno clube de Los Angeles, três semanas antes de morrer, dividindo o palco com o amigo John Pisano.

Pass deixou uma infinidade de seguidores, como George Benson, Pat Metheny, Larry Carlton, Stanley Jordan e o brasileiro Nélson Faria, que foi seu aluno. Mais uma vez, é Pedro “Apóstolo” Cardoso quem resume a sua importância para o jazz: “Foi sem sombra de dúvidas um dos maiores virtuosos da guitarra no JAZZ (e o título de “Virtuoso” que lhe foi dado é perfeitamente identificador), com um sólido “swing” e refinado gosto enquanto harmonizador; solista eficiente, pessoal, com abordagem “pianística” e improvisações elaboradas sutilmente, em muitas ocasiões interpretando as linhas melódicas com destaque para cada nota sobre base rítmica de baixos e acordes, graças ao seu toque superior da mão direita”.

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42 comentários:

Salsa disse...

Pass foi um dos primeiros, se não o primeiro, dos guitarristas de jazz que ouvi e curti. Atualmente, ele não está entre meus preferidos. Seus discos estão meio largados na discoteca

APÓSTOLO disse...

Estimado ÉRICO:

Bela resenha, com magnífica escolha de gravação do mais que MESTRE Joe Pass.
A abertura com o clássico de Clifford Brown mostra todo o encanto do toque desse guitarrista-síntese, com a "vivacidade" que você tão bem define.
"Some Time Ago" é peça de conservatório, para ser rodada 03 ou 04 vezes ao dia (dose para relaxar de qualquer stress).
Parabéns, mais uma vez, com o 2º volume caminhando a passos largos.

Érico Cordeiro disse...

Caríssimos Apóstolo e Salsa,
Sejam muito bem-vindos. O Pass é genial - também foi dos primeiros que ouvi (nos discos da Ella Fitzgerald) mas, ao contrário do Salsa, ouço-o sempre, sobretudo esse postado e o Portraits Of Duke Ellington, que eu acho soberbo!
Grande abraço aos dois ilustríssimos visitantes!!!

Vagner Pitta disse...

Depois de toda a descrição de Érico, só tenho a dizer: sou fan, e até me deu vontade de ouvir as coisas que tenho guardadas desse grande guitarrista.


Além das dicas de Érico, vos deixo uma boa pedida:


After Hours - André Previn Trio


1. There'll Never Be Another You
2. I Only Have Eyes For You
3. What Am I Here For
4. Limehouse Blues
5. All Things You Are
6. Honeysuckle Pose
7. I Got It Bad And THat Ain't Good
8. Smoke Gets In Your Eyes
9. Cotton Tail
10. Laura
11. One For Bunz


André Previn - piano
Joe Pass - guitar
Ray Brown - bass


Abrax!

PREDADOR.- disse...

Respeito-o como guitarrista, mas minha preferência é por Kenny Burrell, Jim Hall, Buck Pizzarelli, Barney Kessel, Johnny Smith, Howard Roberts, Herb Ellis, Mundell Lowe, Lorne Lofsky, Ulf Wakenius. Então, prefiro não me intrometer para não causar polêmicas. É isso!

Vagner Pitta disse...

Ahh o link: http://farofamoderna.blogspot.com/2008/09/andr-previn-jazz-is-expendable-art.html


...

APÓSTOLO disse...

Prezado ÉRICO:

Em tempo (se é que o há), o texano de San Antonio MIKE WOFFORD (25/fevereiro/1938) não é muito "divulgado", mas sem dúvida é um cracaço (é só ouvir sua capacidade de exploração harmônica acompanhando PASS em "Joy Spring", multiplicando os acordes blocados).
Iniciou-se no piano clássico com 07 anos de idade, tocou e gravou com gente de peso desde 1962 (Costa Oeste), chegando a substituir o grande RUSS FREEMAN no combo de SHELLY MANNE em 1967.
As carreira, atuações e discografia de MIKE são extensas e graças à sua resenha e à gravação escolhida podemos desfrutar do toque desse mago. Notável a citação de parte do solo de CLIFFORD BROWN por MIKE no "Joy Spring".
JAZZ ! ! ! . . .

APÓSTOLO disse...

Prezado VAGNER PITTA:
Sua indicação é perfeita, podendo ser ampliada com o estojo com 03 CD's lançado pela TELARC (ANDRÉ PREVIN - Triple Play), que contem essa pérola que indicou, mais o "Songs Of Harold Arlen, Duke Ellington & Others" (PREVIN + MUNDELL LOWE + RAY BROWN) e "Old Friends" (com a mesma formação anterior).
Assim, também ficará atendido o grande PREDADOR, cujo gosto para guitarristas inclui a síntese do melhor.

Érico Cordeiro disse...

Caros Vagner, Predador e Apóstolo,
Sejam muito bem-vindos!
Realmente, esse After Hours (que ainda conta com o grande Ray Brown) é fabuloso e o André Previn é outro que, em breve, dará as caras aqui no barzinho. Todos os discos da Telarc (Uptown e After Hours, ambos com outro guitarrista de peso, o Mundell Lowe, como bem mencionou o Mestre Apóstolo) são ótimos, mas adoro a fase da Conteporary dos anos 50.
Mr. Predador, trocentos guitarristas antes do Joe Pass? Tá de brincadeira, não é? Mas pelo menos todos os citados são "feras"!!!!
Sobre o Wofford, Mestre, vou dar uma pesquisada - acho que só tenho esse disco (talvez tenha outros, mas tenho que procurar - como líder não tenho nada).
Grande abraço aos três!!!!

pituco disse...

érico san,

joe pass and ella fitzgerald...my old flame...foi o disco que tocava na vitrola sem parar em minha aborrescência...agora há uns vídeos bacanudos dos dois e tem também outro com várias performances de mr.pass...(não me recordo o título, mas tá entre meus guardados...rs)

é isso aí,
valeô o post e sonzaço

abraçsonoros

José Domingos Raffaelli disse...

Caros Érico e companheiros,

"The man who never sleep" - em vista da sua inacreditável capacidade da produção incessante de suas resenhas, assim caracteriso nosso mentor Érico por sua profícua atividade.
Estou devorando seu livro "Confesso que li" sequioso por suas críticas e observações pertinentes que investigam até mesmo os menores detalhes das respectivas análises.

Tive a felicidade de tornar-me amigo de Joe Pass a partir da sua primeira vinda ao Rio em janeiro de 1978, ao lado de Oscar Peterson.
A partir daí ficamos sempre em contato e todas as vezes que ele voltou nos encontramos para demorados jantares e papos intermináveis.
Numa de suas vindas, ele afirmou que "nem daqui a 50 anos aparecerá um baixista como Niels-Henning Orsted Pedersen" - a quem chamava de "verdadeiro monstro".

Quando ele soube que meu filho estava aprendendo guitarra, aconselhou-o: "Não se afobe, vá aprendendo aos poucos, mas deve iniciar tocando as melodias mais simples para depois enveredar pelos intrincados caminhos da improvisação".

Apóstolo e Predador,

Mike Wofford tocou no Rio com o trio de Sarah Vaughan, em 1979. Ele impressionou a todos por sua capacidade de improvisador, bom gosto e versatidade. Nessa ocasião, Bill Evans estava no Rio e disse-me que Wofford "era um tremendo pianista que logo seria reconhecido como um dos melhores da nova geração", o que, infelizmente, não ocorreu.

Abraço a todos e keep swinging.

Raffaelli

José Domingos Raffaelli disse...

Caros Érico e companheiros,

Correção: caracterizo e não "caracteriso".
Sorry.

Keep swinging,

Raffaelli

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais companheiros,

Desculpem a intromissão insistente, mas, como sou um renitente incorrigível, não resisto à tentação de relatar um curioso episódio ocorrido durante a temporada de Peterson e Pass em janeiro de 1978.

Estávamos em pleno verão de 40 graus e Peterson, que morava no Canadá, de onde saira com 25 graus negativos, derretia-se de tanto suar - era uma fonte inesgotável de suor, especialmente enquanto tocava.

No fim do primeiro set, ele deixou o palco do João Caetano derretendo-se e foi direto para o chuveiro com roupa, relógio de ouro, sapatos, etc.

Saindo do chuveiro, Peterson disse a Norman Granz: "Agora sei que o inferno existe. É aqui no Rio"...

Do Rio o duo foi para São Paulo, mas, ao chegarem lá, houve um tremendo bafafá entre Granz e o empresário brasileiro porque este, simplesmente, não reservara o local para as apresentações da dupla, caracterizando a quebra de contrato. Segundo testemunhas, Norman Granz deu uns muito bem aplicados sopapos na referido empresário, que, aliás, era conhecido por suas trampolinagens.

Keep swinging,
Raffaelli

APÓSTOLO disse...

Mestre RAFFAELLI completou com a habitual precisão o "ciclo" de WOFFORD, lembrando muito bem a apresentação da Divina SARAH no Rio de Janeiro.
Gravações em que WOFFORD atua como líder ou "sideman:
1966 - The Steeplechase;
1967 - Summer Night;
1967 - Sweets (liderado por Shelly Manne);
1975 - We Will Trust You As Our Leader;
1978 - Afterthoughts;
1980 - Sure Thing;
1981 - Won't Dance.
Desses conseguí apenas os da década de 70, suficientes para saber que o depoimento de BILL EVANS foi mais que perfeito.

Érico Cordeiro disse...

Caros Pituco, Raffaelli e Apóstolo,
Estivesse eu em uma mesa de pôquer e teria um jogo imbatível nas mãos: uma verdadeira trinca de ases!
Sejam muito bem-vindos!
Encontrei um disco do Mike Wofford que me pareceu interessante: Live At Athenaeum Jazz, a um preço razoável (há pouca coisa dele à disposição no Amazon). Brevemente, estará na estante!
Quanto às histórias do Mestre Raffaelli, pergunto: que seria do jazzbarzinho sem elas? Muito obrigado, Mestre - você ajuda a humanizar esses grandes artistas e suas histórias, colhidas ao longo de sua extraordinária carreira jornalística - os tornam mais próximos de nós e fazem com que nos sintamos um pouco amigos dessas feras todas.
Seu Pituco, o bom gosto inenarrável - Ella e Pass, mais luxuoso que isso é quase impossível!!!!
Abraços frateernos aos três!

Paul Constantinides disse...

Graaaaaaaaaaaaaaande Erico.
vida super corrida por estes dias, mas sempre é bom passar aqui...dar uma passada pra ouvir Joe Pass...
como nao?
abs
paul

Érico Cordeiro disse...

Grande Paul,
Estava com saudades de você - embora também esteja em falta lá no Muza!
Mas são coisas da vida - a correria nossa de todos os dias e a pressa do cotidiano.
Sempre muito bom tê-lo no barzinho, ainda mais com a trilha magistral de Pass!!!
Abração!

José Domingos Raffaelli disse...

Érico,

As historinhas colhidas ao longo da minha vida acumularam-se através dos anos.

Quando a orquestra de Dizzy Gillespie tocou aqui, em agosto de 1956, lá pelo terceiro ou quarto dia, mais entrosado com os músicos, convidei Quincy Jones e Benny Golson para ouvirem discos lá em casa. Eles aceitaram prazerosamente e lá ouviram o extraordinário LP "Opus de Jazz", de Frank Wess, que foi uma revelação, pois não sabiam ter sido editado.

Na ocasião, dei uma de Leonard Feather montando um blindfold test para Quincy Jones, que aceitou na hora e matou quase todos os discos que toquei.

Após aquele encontro, ao levá-los de volta ao hotel, para grande surpresa minha, pois nada perguntara a respeito, Quincy disse que metade dos músicos da banda eram viciados em marijuana, por isso usavam óculos escuros para amenizar o forte clarão da iluminação de palco. Foi um tremendo choque para mim, mas....

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Precisamos recolher essas verdadeiras gemas e editar em um livro - acho que ia fazer muito sucesso :)
A velha máxima de Raul Seixas - quem não tem colírio usa óculos escuros - parece que se aplicava à perfeição a essa rapaziada :)
Pena que muitos músicos do jazz tenham ido por caminhos mais sombrios e chegado à heroína, cujos efeitos são muito mais nocivos que os da marijuana - li há pouco tempo que o Chano Pozo, autor de Tin Tin Deo, foi assassinado por um traficante, após uma briga causada por uma partilha de drogas!!!
De qualquer forma, quantas pessoas podem se orgulhar de terem recebido em sua casa os grandes Quincy Jones e Benny Golson?!?!
Só você, Mestre!
Um fraterno abraço!

O Pescador disse...

É uma "joy" ouvir o Joe. ;-)
Saudações jazzófilas.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Fisherman!
Saudades de você, meu caro amigo lusitano!
E assino embaixo de sua afirmativa: é sempre uma "joy" ouvir o Joe, ainda mais quando o barzinho está repleto de tantos amigos!
Abraços ultramarinos!

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais correligionários,

A lembrança da vinda da big band de Dizzy Gillespie em agosto de 1956 trouxe-me à realidade: foi há 54 anos! A maioria de vocês não havia nascido! O que comprova como sou velho! Parece que foi ontem, mas passou mais de meio século!!!!

Um adendo ao comentário anterior: naquela ocasião, Quincy Jones era um jovem entusiasmado de 23 anos que tocava trompete na banda e jamais poderia imaginar que viria a ser um dos mais consagrados músicos e produtores da música americana. Na ocasião, disse-me que, excetuando Dizzy, nenhum outro trompetista comparava-se a Clifford Brown.

Quanto a Golson, simpático e muito inteligente, estava começando a projetar-se no jazz, principalmente como compositor. Disse que foi bastante influenciado por Lucky Thompson e Don Byas, mas admirava considerava Ben Webster o maior baladista do jazz.

Seu principal objetivo era progredir como músico, compositor e arranjador, além de formar seu próprio conjunto, se possível com Art Farmer no trompete - o que, por coincidência do destino, ocorreu três anos depois com o Jazztet.

A vida deu muitas voltas e ambos projetaram-se como músicos importantes, cada qual na sua maior especialidade.

Tanto Quincy como Golson sabiam o que buscavam nas suas carreiras e conseguiram graças ao seu talento, perseverança, determinação e muito trabalho. Ambos são exemplos de vida!

Keep swinging,

Raffaelli

Gustavo Cunha disse...

Histórias sensacionais. Este espaço é um verdadeira enciclopedia !

E o disco em foco é um dos melhores do Joe Pass, para mim um dos melhores guitarristas surgidos na história do instrumento.
Como sou um apaixonado por guitarras, tive a ousadia de estudar seus inúmeros livros e tirar os seus blues em guitarra solo, aliás, esses blues são verdadeiros tesouros e era uma tremenda terapia reservar algumas horas por dia para dissecá-los, temas que encontram-se nos seus 4 volumes da obra Virtuoso.
Dizem que esses blues foram compostos quando retirou-se em prisão, não sei a história é verídica.
Um mestre, como atestado aqui.

Abs,

Érico Cordeiro disse...

Caros Raffaelli e Guzz (grande fã dos guitarristas, sabia que você ia curtir o Pass),
As histórias do Mestre Raffaelli são sempre um charme à parte. O blog fica enriquecido e os amigos podem desfrutar um pouco mais da intimidade desses grandes músicos.
O Quincy praticamente abandonou o jazz para ser produtor de música pop (um dos mais bem sucedidos) mas o Golson ainda está aí, firme e forte.
Quanto á história de que os blues incluídos nos álbuns da série Virtuoso foram compostos na prisão, só os Mestres raffa e Apóstolo para esclarecer - eu também não sei se a história é verídica.
Abraços fraternos aos dois!

APÓSTOLO disse...

Prezados ÉRICO e GUZZ:
Desconheço a versão quanto às composições dos "blues" após a saída de PASS de clínica de recuperação (03 anos até 1961 na "Synanon Foundation" em Santa Mônica, de onde saiu para seu primeiro LP, "Sounds Of Synanon" pela Pacific Jazz, 1962).
A propósito, PASS faleceu numa 2ª feira, 25/maio/1994, recebendo no jornal "O Globo" da mesma semana 03 colunas assinadas por RAFFAELLI, "Inventividade harmônica foi a marca de Joe Pass", em que JDR traça perfil de PASS. Com o artigo, foto de PASS com sua frase: "só tento ser melódico".

PREDADOR.- disse...

Melhor do que o jazz ou igualmente tão bom quanto ele(o jazz)só as estórias do mestre Raffaelli. A sugestão de mr.Cordeiro para a edição de um livro é bastante pertinente, inclusive sugiro desde já o título: "Os bastidores do Jazz" by José Domingos Raffaelli.

Érico Cordeiro disse...

Caros Apóstolo e Predador,
Sejam mais que bem vindos aqui no barzinho.
Tentei procurar a rsenha no site do Globo mas não encontrei. Deve ser um texto bastante emocionado, já que o Mestre raffaelli era amigo pessoal do Pass.
Quanto à sugestão, Mr. Predador, assino embaixo: "Os bastidores do Jazz" já!!!!!

Sergio disse...

Belo texto sobre outro gênio do jazz, seu Érico. Pena q meu computador tá com a placa de áudio muda. Não ouvi ainda o álbum indicado, mas como o gravador de CD tá intacto, farei algo que não costumo fazer, gravarei no escuro (escuro iluminadíssimo já q o disco mereceu sua escolha entre tantos grandes discos do Pass'ado - essa não foi de todo horrível).
Anfã. Tou recuperando as aulas perdidas.

Abraços!

John Lester disse...

Bem, o que eu poderia acrescentar à resenha? Isso sem falar nos comentários...

Excelente também a seleção: nota 10.

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

Caríssimos Sérgio e Lester,
Sejam mais que bem-vindos a bordo.
Seu San, pode gravar sem susto - tomara que a placa de áudio deixe de ser temperamental e volte a funcionar, porque o homem é fera!
Mr. Lestar, sua presença complementa a modesta resenha - 0,5 pelo trabalho do blogueiro e 9,5 pela sua vinda ao jazzbarzinho!
Abraços aos dois!

osvjor disse...

Érico, há tempos não passava por aqui e fiquei contente de ter me deparado com a resenha sobre o Joe Pass. Que história de vida bonita: o pai humilde que incentiva o filho a seguir o caminho da arte, a volta por cima depois de anos internados por causa da porcaria da heróina... Parabéns. Vou confessar um pecado mortal: apesar de tocar violão desde novo, nunca fui muito fã de guitarra no jazz. Sempre gostei muito do som sujo das guitarras do rock, aquela coisa na linha Jimi Hendrix, Steve Ray Vaughn, Johnny Winter etc. Então achava a guitarra do jazz um tanto enfadonha: aquele som limpinho não me cativava. Ultimamente, no entanto, comecei a mudar de idéia. Talvez só agora tenha começado a compreender a sutileza desse instrumento no jazz. E agora ouvindo o Joe Pass tocando de forma aparentemente tão simples a música complicada do Clifford Brown, vejo que perdi muito tempo ao longo de todos esses anos desprezando os guitarristas de jazz. Vou ter que correr atrás do prejuízo.

Não sabia que vc tinha lançado um livro. Vou encomendar o meu. Parabéns mais uma vez, obrigado pela generosidade de partilhar essas informações com os estranhos da internet e abraços.

PS: Essas histórias do Rafaelli são sensacionais.

Andre Tandeta disse...

Erico,
como disse Mr. Lester acima ,nada ha para ser acrescentado. Estimulante para uma segunda de manhã. Parabens por seu texto ,seleção musical e por trazer esses grandes conhecedores do jazz para enriquecer esse ja tão ilustre espaço.
Abraço

Érico Cordeiro disse...

Caros osvjor e Tandeta,
Sejam muito bem-vindos.
Particularmente, sempre gostei dos guitarristas (Barney Kessel, Wes Montgomery, Joe Pass, etc. ). Essa limpidez era, justamente, o que me atraía, pois fazia o contraponto entre o jazz e o som mais "sujo" do rock de um Jimmy Page ou Keith Richards.
Daí eu não gostar tanto de guitarristas de jazz que têm esse som mais pesado, como o Mike Stern, o Bill Frisell ou o John Abercrombie, embora tenha alguns discos desses caras. Aqui no J+B publiquei posts sobre o Pass, o Montgomery, o Jimmy Raney, o Grant Green e o Jim Hall.
Mestre Tandeta, sua presença aqui é sempre um ótimo presságio!
Obrigado pelas palavras gentis e um grande abraço aos dois!

Sergio disse...

Seu sam o Frisell é monstro sagrado pra mim. O estilo dele é o mais interessante. Mesmo no fusion, ele tem um disco, um ao menos, q merece uma atenção especial: "Gone, Just Like a Train" de 1998. A coisa folk com jazz q o frisell inventa, acho bem interessante, tbm.

Mudando prum assunto mais desagradável, mas não menos comentável: o q foi o vasquitin ontem seu san? O 1º tempo era pra fazer, miseravelmente, uns 3!

Érico Cordeiro disse...

Mr. Seu San,
Não sei o que aconteceu - os caras ontem abusaram de perder gol. Dentro da pequena área e com o goleiro batido, Mr. San.
Tá ruin! Aliás, esses 14 jogos de invencibnilidade redundaram em 5 vitórias e 9 empates! Como diria o ex-presidente FHC: "assim não dá, assim não pode"!
O Frisel tá nos discos "On Boradway", do Paul Motian (tenho os volumes 1, 2 e 3) - e ali dá show!

José Domingos Raffaelli disse...

Caríssimos PREDADOR e ÉRICO,

Sou-lhes imensamente grato pela sugestão de lançar um livro com o títuto "Os bastidores do jazz".

Há alguns anos procurei duas editoras pensando em relatar num livro esses "causos & coisas" oriundos de encontros, entrevistas com músicos e/ou fatos que apenas presenciei sem estar envolvido nos fatos.

Numa editora, de uma ex-colega do Globo, ela desculpou-se, mas a linha editorial dela era inteiramente diferente do que eu propús.

Na outra editora (das mais renomadas e baladíssima em nosso país), após ouvir minha explanação, foi curto e grosso:

- Não tenho interesse porque aqui não publicamos besteirol nem fofocas.

Diante disso, resolvi recolher-me à minha ignorância de fofoqueiro e redator de besteirol.

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Como são inteligentes e perspicazes os nossos editores, não é mesmo?
Imagina-se que Nat Hentoff ou Leonard Feather tenham passado coisa semelhante para publicar suas histórias nos States.
Mas Quintana está aí para nos acudir: eles, Mestre, passarão - e você, passarinho!!!!
O Jazzbarzinho se orgulha muito em tê-lo aqui e em ouvir os seus deliciosos causos - que venham muitos e muitos mais!!!!

osvjor disse...

Rafaelli, só posso dizer que esses editores são uma vergonha.

José Domingos Raffaelli disse...

Caros confrades,

A vocês, que suportam heroicamente meus insistentes posts, reconheço que extrapolei, pois muitos não se coadunam com os comentários aqui inseridos. Não continuarei intupindo este blog com tais "aventuras & desventuras". Refletindo sobre isso, decidi colocar-me em meu lugar. Todavia, apenas como despedida, permitam-me narrar um hilariante epísódio que presenciei por volta dos anos 70, que nada tem a ver com música e nem com posts de vocês.

Num evento no ginásio da Associação Atlética Banco do Brasil, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, foi realizada uma noitada com música e lutas de box (combinação prá lá de esdrúxula!).

Na primeira parte, alguns conjuntos instrumentais tocaranm para gaudio da platéia, inclusive o sexteto de João Donato.

Na segunda parte, numa das lutas, um dos contendores foi literalmente massacrado por seu adversãrio, deixando o ringue bastante ensagüentado amparado por seu treinador e um segundo. Seu rosto desfigurado refletia a tremenda surra que levou.
Cambaleando, ele voltava para o camarim, quando nosso querido Donato, com aquela candura infantil de sempre ficou na frente dele dizendo: "Você tem um bom coração, não deu um soco no seu adversário".

O lutador, mesmo entregue às traças, ficou furiosíssimo, sendo contido a força pelo treinador e o segundo, enquanto todos caímos numa gargalhada interminávbel.

Keep swinging,

Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Caro osvjor, depois de uma história dessas será que a gente vai permitir que o Mestre Raffaelli deixe de contar os seus inúmeros causos e histórias dos bastidores do jazz e da música? Na-na-ni-na-não!
Mestre, pode ir esvaziando as gavetas da memória, porque suas histórias são - juntamente com as presenças de tantos amigos - os pontos altos do jazzbarzinho!
Chopp grátis prá tido mundo - por conta do João Donato, é claro :)

José Domingos Raffaelli disse...

Érico, osvjor, Predador, Apóstolo Tandeta e demais amigos,


Meu post anterior foi motivado por considerar que as historinhas tinham muito pouco a ver com os assuntos musicais em pauta e poderiam deixar alguns amigos entediados com essas intervenções. Caso assim tenha sido, peço desculpas aos que não gostaram.

Em vista do comentário anterior do nosso anfitrião Érico, decidi voltar atrás e inserir um episódio impagável ocorrido quando o pianista Duke Pearson veio ao Rio integrando o trio da cantora Nancy Wilson, nos anos 60.

Durante sua estada carioca, vários músicos brasileiros o assediaram (bem como ao baixista Reginald Workman e ao baterista Ben Riley).

Certo dia, um grupo de brazucas programou uma visita do trio ao centro da cidade. Pearson ficou fascinado pelos Arcos da Lapa e o bondinho amarelo que corria nos trilhos lá no alto, dizendo que gostaria de viajar nele, o que aconteceu com toda a turma irmanada.

Na volta, após tirar um monte de fotos, Duke Pearson solicitou ao baterista Eloir de Moraes (apelidado de Pica-Pau porque falava como o conhecido personagem do desenho animado) que escrevesse em português a grafia do bondinho. Conhecido por suas piadas e brincadeiras, Eloir não se fez de rogado, escrevendo em letras maiusculas "BUNDA AMARELA".

Após seu regresso a NY, Pearson gravou o LP "The Phantom" (Blue Note) incluindo sua nova composição inspirada pelo bondinho carioca: "BUNDA AMERELA".

É só procurarem na internet as informações sobre esse disco e encontrarão esse título entre as faixas do mesmo.

Desnecsssário acrescentar que todos os jazzófilos cariocas compraram o LP fando homéricas gargalhadas com a grafia dessa composição.

Na mesma ocasião, num disco do trompetista Donard Byrd, foi gravada a composição "Cristo Redentor", de Duke Pearson, influenciada pelo que viu no Rio.

Keep swinging,
Raffaelli

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
É por isso que suas histórias são imprescindíveis. "Cristo Redentor" está no álbum A New Perspective, que não é lá dos meus preferidos, mas a música é bem legal.
Quanto a esse história da BUNDA AMARELA, é realmente ótima. Já tinha ouvido falar dessa música, mas não conhecia os detalhes - imagino se o Pearson um dia chegou a conhecer tradução dessa expressão :)
Abraços!

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