Quem tem mais de 30 anos, certamente se lembra d'O Fantasma. Criado por Lee Falk em 1936, e desenhado por Ray Moore, o personagem vivia inesquecíveis aventuras nas selvas de Bengala, sempre ajudado pelos leais Capeto, um pastor alemão, e Herói, um imponente cavalo banco. O Fantasma morava na Caverna da Caveira, e tinha em Guran, chefe da tribo dos pigmeus, o seu melhor amigo e confidente. Embora vivesse isolado, o herói não desprezava os avanços da tecnologia – rádio comunicador e avião, por exemplo, eram o que havia de mais novo na época – e de vez em quando dava um pulinho em Nova Iorque, a fim de se encontrar com a namorada Diana Palmer, funcionária da ONU.
Seus grandes inimigos eram os Piratas de Singh, uma organização criminosa que se dedicava a atividades pouco lícitas, como assassinato, roubo, extorsão, agiotagem e que tais. No Brasil, suas aventuras eram publicadas pela Rio Gráfica e Editora, a saudosa RGE, que publicava também as histórias do Recruta Zero. Curiosamente, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos, onde o seu uniforme era roxo, aqui o uniforme d’O Fantasma era vermelho. Máscara, duas pistolas automáticas e o terrível anel da caveira, compunham a identidade visual que aterrorizava os malfeitores.
Considerado imortal – daí ser conhecido como O-Espírito-Que-Anda – a longevidade d’O Fantasma tem uma explicação prosaica. Na verdade, trata-se de uma verdadeira dinastia de heróis, onde a tradição e os segredos – bem como os incontáveis tesouros acumulados na Caverna da Caveira – são transmitidos de pai para filho, atravessando gerações e mantendo viva a mística. Bom, mas o que mesmo O Fantasma tem a ver com o jazz?
É simples: em suas viagens a Nova Iorque, nos anos 40, Mr. Walker costumava freqüentar os clubes da Rua 52 e era amigo de caras como Charlie Parker, Bud Powell, Thelonous Monk e Max Roach. Reza a lenda que Art Blakey incluiu um poderoso dinamismo à sua percussão após visitar os pigmeus Bandar, a convite do amigo mascarado. Outro que teria passado dias agradabilíssimos nas selvas de Bengala foi Dizzy Gillespie (estudiosos têm poucas dúvidas de que “Con Alma” tenha sido composta ali), que ainda por cima namorou com um monte de garotas da tribo Wambesi.
Brincadeira! Na verdade, lembrei d’O Fantasma por causa de um músico especial e bastante querido por todos os jazzófilos, com a provável exceção d’O Predador (sinto que serei detonado por esta resenha): o soberbo Joe Henderson. Por causa do seu hábito de desaparecer de cena por longos períodos, o saxofonista era conhecido no meio musical como “The Phantom” – nome original do justiceiro mascarado.
Nascido em 24 de abril de 1937, na pequena cidade de Lima, no estado de Ohio, em uma numerosa família – ao todo, eram 15 irmãos – o saxofonista e compositor Joe Henderson foi um dos mais importantes saxofonistas surgidos nos anos 60. Desde muito cedo, demonstrou um enorme apreço pela música, em especial pelo jazz, que um dos seus irmãos mais velhos, James, ouvia com devoção.
Foi graças à alentada discoteca do irmão – que ouvia compulsivamente álbuns de Duke Ellington, Woody Herman, Illinois Jacquet, Coleman Hawkins, Stan Kenton, Wardell Gray e Charlie Parker – que o jovem Joe decidiu enveredar pelos maravilhosos caminhos da música. Seu primeiro instrumento foi o piano e Joe, então com oito anos, chegou a estudar com dois pianistas locais, Don Hurles e Richard Patterson, ambos amigos de seus irmãos mais velhos.
Pouco tempo depois, trocou o teclado pelo saxofone tenor, quando tinha apenas nove anos de idade, e encontrou ali o instrumento ideal para expressar as suas idéias musicais. Influenciado, primeiramente, pela sonoridade aveludada de Lester Young e Stan Getz, o garoto levava tão a sério as aulas de saxofone – estas a cargo de Hubert Murphy – que em pouco tempo já estava compondo temas para a orquestra da escola, da qual fazia parte.
Embora o jazz fosse a parte mais importante em sua formação musical, Joe também gostava bastante da música country de Johnny Cash, do rhythm and blues de James Brown e do então bom e novo rock’n roll de Chuck Berry. Seu passatempo favorito era assistir aos grandes artistas que se apresentavam nas cidades próximas – Daytona e Toledo, por exemplo. Assim, foram marcantes em sua vida os concertos das orquestras de James Moody e de Gene Ammons. Outro show que lhe marcou bastante foi o da banda de Earl Bostic, que assistiu quando tinha 14 anos, especialmente por causa da memorável performance de um jovem saxofonista chamado John Coltrane.
Após a conclusão do ensino médio, matriculou-se no curso de música do Kentucky State College, onde passou pouco tempo. Logo em seguida, transferiu o curso para a badalada Wayne State University, em Detroit. Ali, teve a oportunidade de conhecer alguns dos mais importantes membros da agitada cena jazzística local, como Yusef Lateef, Curtis Fuller, Hugh Lawson, Barry Harris e Donald Byrd, seus colegas na universidade. Também foi naquela época que Joe passou a conhecer e a estudar a música dos grandes compositores eruditos contemporâneos, como Béla Bartok, Igor Stravinsky e Paul Hindemith.
Na Cidade dos Motores, Henderson se dedicou ao estudo de composição, teoria musical e harmonia com Larry Teal na “Teal School of Music” e também recebeu aulas de flauta e contrabaixo. Além disso, costumava participar de gigs em clubes locais, tocando com alguns dos grandes nomes do jazz que se apresentavam na região de Detroit, como John Coltrane e Sonny Rollins, seus ídolos e que acabaram por se tornar as suas principais referências estético-musicais. Como bem observa Luiz Orlando Carneiro, “o músico digeriu as influências de Sonny Rollins ( improvisação mais direta do que por sobre os acordes de base da melodia) e John Coltrane (sonoridade e efeitos de timbre, embora sem os radicalismos do Coltrane dos anos 60)”.
Em 1959, já liderando seu próprio grupo, Henderson foi contratado pela firma de advocacia UNAC, ligada à defesa dos direitos civis, para compor uma suíte chamada “Swing And Strings”, em homenagem à contribuição afro-americana para a cultura dos Estados Unidos, que seria executada por uma orquestra integrada por diversos membros da prestigiosa Detroit Symphony Orchestra. Naquele ano, tocou por algum tempo com o saxofonista Sonny Stitt e integrou o conjunto do amigo Barry Harris.
Já tendo firmado seu nome como um dos mais criativos músicos da cidade, Henderson afastou-se do mainstream entre 1960 e 1962, a fim de cumprir o serviço militar obrigatório. Destacado para servir em Fort Benning, na Geórgia, não demorou muito para montar um quarteto que, posteriormente, se tornaria atração em diversas bases do exército, não apenas dentro dos estados Unidos, mas também em outros países. Graças ao trabalho com o grupo, o saxofonista pôde se apresentar para tropas norte-americanas estacionadas na Inglaterra, na Itália, no Panamá, na França, no Japão e na Coréia do Sul.
Quando esteve na França, Henderson teve a oportunidade de tocar com o legendário baterista Kenny Clarke, que na época residia em Paris. Findas as obrigações militares, em gosto de 1962, decidiu se estabelecer em Nova Iorque, onde chegou cercado das maiores expectativas. Reza a lenda que numa das primeiras noites em Nova Iorque, Henderson foi assistir a um concerto de Dexter Gordon no Birdland. Convidado por Dex para subir ao palco, Henderson deixou a platéia hipnotizada com seu ataque furioso e extremamente imaginativo e quase eclipsou o anfitrião. Imediatamente, foi contratado pelo organista “Brother” Jack McDuff, com quem tocou por poucos meses. Pouco depois, juntou-se ao grupo do trompetista Kenny Dorham, permanecendo ali até 1964.
Como acompanhante de Dorham, o saxofonista participou de sua primeira gravação para a Blue Note, no álbum “Una Mas”, de 1963. Não demorou muito e Henderson já era um dos mais disputados músicos de Nova Iorque, participando de gravações ao lado de Andrew Hill, Johnny Coles, Grant Green, Lee Morgan, Duke Pearson, Pete La Roca, Larry Young, Nat Adderley, McCoy Tyner, Herbie Hancock, Freddie Hubbard, Blue Mitchell, J. J. Johnson, Chick Corea, Joe Zawinul, Bobby Hutcherson, Lee Konitz e muitos outros.
Alfred Lion, incansável farejador de novos talentos, contratou Henderson para o cast da Blue Note, por onde lançou seus primeiros discos como líder. Todos eles – “Page One” e “Our Thing” (1963), “In’n Out” e “Inner Urge” (1964) e “Mode For Joe” (1966) – mereceram rasgados elogios por parte da crítica especializada e são reputados como alguns dos melhores momentos do sax tenor dos anos 60.
Em 1964, deixou Dorham para se juntar ao quinteto de Horace Silver, ocupando o lugar de Junior Cook, e ali pode ser ouvido no seminal “Song For My Father”, gravado em outubro daquele mesmo ano. Outro disco fundamental dos anos 60 e que conta com a preciosa colaboração de Henderson, é “The Sidewinder”, obra-prima de Lee Morgan, também gravado naquele ano mágico – pelo menos para o jazz – de 1964. O saxofonista permaneceu com Silver até 1966, quando decidiu priorizar a carreira solo e o trabalho como freelancer.
Co-liderou uma big band com o antigo patrão Kenny Dorham, mas o empreendimento não teve o sucesso esperado. Todavia, seus arranjos para a orquestra – que permaneceriam inéditos por quase trinta anos – seriam aproveitados no álbum “Joe Henderson Big Band”, gravado para a Verve em 1996. O disco conta com as participações de gente do calibre de Marcus Belgrave, Joe Chambers, Chick Corea, Jon Faddis, Slide Hampton, Freddie Hubbard, Ronnie Mathews, Christian McBride, Michael Mossman, Lewis Nash, Nicholas Payton e Idrees Sulieman, além dos brasileiros Helio Alves, Paulinho Braga e Nilson Matta.
Em 1967, tocou por um brevíssimo período com o grupo de Miles Davis, que incluía os fabulosos Herbie Hancock, Wayne Shorter, Ron Carter e Tony Williams, mas não existe nenhum registro gravado dessa formação. No mesmo ano, foi contratado por Orrin Keepnews para ser um dos destaques do cast da Milestone. Seus álbuns desse período, como “Power To The People”, “In Pursuit Of Blackness” ou “Black Narcissus”, demonstravam uma forte influência do fusion, com a inclusão de instrumentos eletrificados e elementos do pop, do rock, do funk e da música eletrônica. Além disso, revelam uma outra faceta de Joe: o músico engajado, preocupado em denunciar a situação do negro nos Estados Unidos e o preconceito racial.
Henderson criou o “Jazz Communicators”, juntamente com seu amigo Freddie Hubbard, mas o grupo teve vida curta, durando pouco mais de um ano, entre 1967 e 1968. O saxofonista atuou no álbum “Fat Albert Rotunda” (Warner Bros., 1969), de Herbie Hancock, onde o pianista inicia o seu duradouro envolvimento com o fusion e usa, pela primeira vez, o sintetizador. Esse álbum tornou-se um enorme sucesso comercial e influenciou enormemente a onda fusion que dominaria o cenário jazzístico dos anos 70.
O flerte com o rock acabaria em casamento – bastante breve, diga-se de passagem – com a união de Henderson ao grupo Blood, Sweat & Tears, em 1971. Nesse período, o saxofonista mudou-se para San Francisco e passou a lecionar, optando por priorizar a carreira de educador musical. Não obstante, participou da all-star band “The Griffith Park Band”, integrada por Freddie Hubbard, Chick Corea, Stanley Clarke e Lenny White.
Praticamente toda a década de 70 foi direcionada ao magistério, tendo lançado poucos álbuns durante esse período, com destaque para o ótimo “Joe Henderson In Japan”, de 1971, no qual está acompanhado por uma sessão rítmica composta por três músicos japoneses, e para “The Elements”, de 1973, onde flerta com aquilo que futuramente iria se chamar World Music e que conta com a participação da pianista e harpista Alice Coltrane. Como músico de apoio, participou de álbuns de Flora Purim, Kenny Burrell, Ron Carter, Woody Shaw e da banda de rock progressivo Jethro Tull.
Em 1980 Henderson decidiu retomar a carreira musical com todo o gás. Logo naquele ano lançou um disco verdadeiramente antológico: “Relaxin’ At Camarillo”, gravado em dezembro de 1979. Contando com a participação de Chick Corea no piano e de feras como Tony Dumas ou Richard Davis no contrabaixo e Peter Erskine ou Tony Williams na bateria, o álbum foi muito bem recebido pela crítica e marcou a volta do saxofonista às boas veredas do bebop e do hard bop mais ortodoxos.
Em 1985, lançou o elogiadíssimo “The State Of The Tenor: Live At The Village Vanguard”, que marcou seu breve retorno à Blue Note. Repetindo, vinte anos depois, o tour de force empreendido pelo ídolo Sonny Rollins naquele mesmo clube e usando a mesma formação – sax tenor, bateria (pilotada por Al Foster) e contrabaixo (a cargo de Ron Carter) – Henderson interpreta com enorme maestria standards como “Stella By Starlight” e composições próprias como “Isotope”. Naquele mesmo ano, participaria do show comemorativo dos 40 anos da Blue Note, ao lado de gente como Herbie Hancock, Stanley Jordan, Art Blakey e outros, no Town Hall, em Nova Iorque.
O sucesso do disco entre a crítica despertou o interesse da Verve, que o contratou no início dos anos 90. Na nova gravadora, Henderson conseguiu conjugar sucesso de crítica e público, especialmente por conta de seus discos tributos. Vieram então homenagens a Billy Strayhorn (em “Lush Life”, de 1992) e a Antônio Carlos Jobim (em “Double Rainbow”, de 1995), que venderam mais de 100.000 cópias só nos Estados Unidos e que mereceram prêmios Grammy, colocando o saxofonista como um dos nomes mais reverenciados e solicitados dos anos 90.
Outro disco tributo desse período, mas que não repetiu o sucesso comercial dos outros já mencionados, é o espetacular “So Near, So Far”. Aqui o homenageado é o controvertido Miles Davis, com quem Henderson tocou por um brevíssimo período no final dos anos 60, e o repertório traz apenas composições suas, com exceção da faixa título, de autoria de Tony Crombie e Benny Green. Gravado entre os dias 12 e 14 de outubro de 1992, no estúdio Power Station, em Nova Iorque, o disco traz Henderson acompanhado pelo guitarrista John Scofield, pelo baixista Dave Holland e pelo baterista Al Foster. Como se não bastassse, o álbum abiscoitou dois prêmios Grammy: Best Jazz Instrumental e Best Solo.
Um dos muitos méritos do álbum é revelar o compositor inventivo e extremamente fértil que foi Davis. Lamentavelmente, o aspecto composicional de sua obra, muitas vezes, é relegado a um segundo plano, pois alguns detratores preferem abordar o seu lado, digamos, folclórico – “Ah! Miles roubou uma música do Hermeto!” – ou a sua suposta inaptidão como trompetista – “Ah! Miles não consegue tocar uma escala corretamente!”.
Ouça-se, por exemplo, “Miles Ahead”, que abre o disco. O tema é de uma sutileza e uma cadência emocionantes. O quarteto a executa com tamanha delicadeza, costurando os acordes de forma sutil, que é impossível ao ouvinte ficar indiferente. Henderson é um dos mais completos improvisadores de toda a história do jazz, conseguindo se expressar com fluência em qualquer contexto. Scofield, um guitarrista dos mais incensados do cenário atual, mantém-se contido e apresenta um fraseado melodioso e delicado, na linha de um Jim Hall ou de um Jimmy Raney.
Em seguida, entra a feérica “Joshua”, com sua pegada vigorosa, com destaque para a percussão vulcânica de Foster e para a guitarra de Scofield, cuja abordagem aqui é energética e altamente swingante. A atuação de Henderson, nada menos que soberba, rivaliza com a impressionante performance de George Coleman na gravação original, no álbum “Seven Steps To Heaven” (Columbia, 1963).
“Pfranccing (No Blues)” e “Teo” foram lançadas no álbum “Someday My Prince Will Come”, de 1961 e também da Columbia. A primeira é um blues heterodoxo, com um diálogo devastador entre Henderson e Scofield, no estilo pergunta-e-resposta típico dos spirituals, com direito a um fabuloso solo de Holland. A segunda é uma instigante viagem pelas sinuosas águas do jazz modal, na qual paira, soberano, o saxofone quase sombrio do líder. Detalhe: na gravação original quem tocava o sax tenor era ninguém menos que o ídolo John Coltrane.
“Milestones” é a composição mais antiga do álbum – foi gravada no álbum “Miles Davis All-Stars”, para a Savoy, em 1947, com a presença do genial Charlie Parker no sax alto. A versão de Henderson e seus parceiros não renega as origens bop do tema mas lhe dá uma roupagem mais contemporânea, assemelhando-se mais aos trabalhos do quinteto de Davis da segunda metade dos anos 60.
Falando no “quinteto mágico” dos anos 60, temos “Circle” e “Side Car”, duas das mais complexas composições de Davis e veículos perfeitos para os arabescos sonoros do seu então saxofonista, Wayne Shorter. Henderson também trafega pelas mesmas veredas oblíquas de Shorter e sua abordagem mescla influências da música latina e do jazz avant-garde.
Um dos momentos mais emocionantes do disco é “Flamenco Sketches”, extraída do clássico “Kind Of Blue”, de 1959. São quase dez minutos de magia em forma de música, numa construção etérea. As sutilezas dos arranjos vão sendo enredadas pela guitarra de Scofield e pelo saxofone de Henderson, e a sonoridade flutuante encontra dos dois em Foster e Holland um delicado anteparo.
“Swing Spring” foi gravada em 1954, no álbum “Modern Jazz Giants”, que trazia a participação dos gigantes Thelonious Monk e Milt Jackson. Mais uma vez, a releitura incorpora ao bebop original elementos do jazz contemporâneo, mostrando que a grande música jamais envelhece. Destaque para a performance de Scofield, criativa e intensa, e para os solos do líder, nada menos que cativantes.
O álbum é completado com a faixa título, única que não foi composta por Davis. É outro momento assombrosamente belo, climático, com uma atuação mais do que competente de Foster e o sopro de Henderson, que se mantém, primorosamente, nos registros mais agudos do instrumento, lembrando a sonoridade de um sax alto. Um dos álbuns verdadeiramente fundamentais dos anos 90.
Henderson se manteve regularmente ativo até 1997, quando gravou seu último álbum – “Porgy And Bess”, também para a Verve. Depois disso, foi obrigado a se afastar dos palcos e estúdios, por conta de um enfisema pulmonar que lhe dificultava a respiração e praticamente o impedia de tocar. A doença acabou por minar-lhe as forças e no dia 30 de junho de 2001 o saxofonista faleceu, em decorrência de um ataque cardíaco, na cidade de San Francisco. Todavia, sua herança está presente e mais forte do que nunca, na obra de monstros como Joshua Redman, Joe Lovano e Brandford Marsalis, para citar apenas alguns dos saxofonistas que ele influenciou.
Em uma entrevista ao jornalista Martin Mel, Henderson sintetizou as suas ambições e anseios dentro da carreira musical: “Estou em constante busca de novas informações e idéias, e quero fazer o melhor durante este curto período de tempo em que estiver neste planeta, vivendo esta coisa nebulosa chamada vida. E também quero plantar algumas árvores ao longo do caminho, conquistar algumas mentes e vê-las crescer, como algumas pessoas fizeram comigo”.
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43 comentários:
Parabéns pela excelente postagem sobre Joe Hendersen e pela bela escolha das músicas.
Bjs, Ianê.
Gosto desse disco. Henderson, no entanto, não faz a minha cabeça.
Eu gosto do som do Fantasma.
Bela postagem! (Que novidade...)
Estimado ÉRICO:
Bela resenha, bela escolha de gravação, com HENDERSON em plena forma (1992).
Creio que logo após citar a magnífica faixa "Stella By Starlight" do "The State Of The Tenor", você queria indicar uma das 03 composições dele na gravação ("Isotope", "Y Ya La Quiero" ou "The Bead Game"), mas repetiu o "Stella".
O som na radiola está ótimo ! ! !
Grato pela música.
Caros Ianê, Salsa, Fig e Apóstolo (puxa, Mestre, só você sacou a pegadinha? :) - brincadeira! foi errinho de digitação mesmo, já já sendo corrigido),
Sejam muito bem vindos! O Joe Henderson tinha um jeito muito bacana de ser, parecia uma pessoa zen, sempre de bem com a vida. Seu talento era extraordinário e seus discos na Blue Note são obrigatórios. Quis pegar um disco não muito badalado, mas de que gosto muito - acho que os amigos gostaram da escolha.
Um fraterno abraço aos três e obrigado por pintarem aqui no jazzbarzinho!
grande Erico
beleza de disco e a presença de John Scofield
alias, Scofield teve (e tem) esse privilégio de estar junto dos grandes; assim foi com Miles, Chet Baker, Mulligan, Lovano e é um guitarrista que possui um timbre muito particular, sempre abraçado a sua Ibanez AS-200, modelo 335desenhado especialmente pra ele.
joga em todas, na linha do jazz, do fusion, do groove e do som do moderno trio Medeski
valeu!
abs,
Grande Guzz,
Seja muito bem vindo.
O cara realmente é pra lá de versátil. Gosto do Scofield nos contextos mais "ortodoxos" - meu disco preferido é o "Works For Me", onde ele está acompanhado dos extraordinários with Billy Higgins, Kenny Garrett, Brad Mehldau e Christian McBride. Discaço (olha aí - uma boa sugestão de postagem!).
Abração!
O-Espírito-que-anda e desanda. Como disse mr.Salsa, Joe Handerson também não faz a minha cabeça e.... nada mais. Abstenho-me de fazer qualquer comentário para não ter que usar o detonador atômico.
Como diria aquela mocicletinha do desenho "Carangos & Motocas": - Eu te disse, eu te disse, eu te disse...
Ainda bem que você me poupou do detonador atômico!
Abração!
Érico e demais amigos,
Joe Henderson foi um dos mais amáveis e mais educados jazzmen que tive a alegria de conhecer e entrevistar.
Como acontecia às vésperas do extinto Free Jazz Festival, uma entrevista preliminar era feita por telefone antecedendo à sua vinda para ser publicada no dia em que ele se apresentaria.
Ele estava muito preocupado porque ninguém o orientara a respeito do clima do Rio, ficando sem saber que roupas deveria trazer. Tranquilizei-o porque ele viria em setembro, quando a temperatura aqui beirava os 60 graus Farenheidt. Mais calmo com a informação, perguntou como poderia conhecer a Praia de Ipanema, e, com muito bom humor, acrescentou que àquela altura a garota da canção deveria ser avõ e perdera seu encanto.... Disse-lhe que o levaria em meu carro para conhecer Ipanema.
Dias depois, já no Rio, contou que estava muito feliz com o sucesso dos seus tributos em discos a Billy Strayhorn e Miles Davis (acima referidos por Érico), dizendo:
- José. não é irônico que somente alcancei o sucesso aos 56 anos ?
A certa altura, disse-me que originalmente sua conhecida composição "Recorda-me" era um bolero, mas depois transformou-a em bossa nova.
Sobre sua fugaz passagem pelo Blood, Sweat and Tears, contou que foi catastrófica em termos artísticos porque eles passaram dois meses no estúdio para gravar um disco, refazendo exaustivamente um monte de erros e outras passagens dezenas e dezenas de vezes. Cansado por essa demora, não agüentou tanta perda de tempo e deixou o conjunto, pois tudo que queria era voltar a tocar jazz.
Quando levei-o a Ipanema, ele confessou estar realizando um antigo desejo em conhecer a famosa praia. Lá tirou um monte de fotos. No regresso ao Hotel Nacional, contou que dias antes tocara na Casa Branca com o Presidente Clinton e acrescentou rindo muito: "Ele poderia ser músico profissional porque toca muito bem. Sabe lá se no seu luhgar eu poderia ser o presidente?"
Seu quarteto que se apresentou aqui foi completado por Mike Stern (guitarra), George Mraz (baixo) e Al Foster (bateria).
Perguntem-me se foi bom.
Bom coisa nenhuma. Foi um autêntico arrasa-quarteirão!!! O teatro veio abaixo com o público querendo muito mais. Encantado com a reação da platéia, com sua voz embargada pela emoção Joe Henderson despediu-se: "Obrigado a vocês, gostaria de continuar tocando, mas uma hora a música tem que acabar. Não esquecerei de vocês e guardarei esta noite fantástica no meu coração".
Na coxia, onde eu o aguardava para jantarmos, duas lágrimas escorriam pela sua face espelhando a emoção que sentiu. Até eu fiquei contagiado pela sua emoção.
Keep swinging,
Raffaelli
érico san,
mr.joe henderson tocando com sr.oscar castro neves, once I love (a.c.jobim/v.moraes)...mamma mia...piramidal
valeô o post
abraçsons
Mestres Raffaelli e Pituco,
Sejam bem-vindos ao jazzbarzinho.
O primeiro confirma a impressão que tinha acerca do Henderson - de uma pessoa muito bem resolvida e de bem com a vida, avesso a estrelismos e capaz de se emocionar com as coisas simples - como um passeio em Ipanema - e com uma platéia entusiasmada.
Henderson e Oscar castro Neves é uma dobradinha de peso, Mr. Pituco.
Um fraterno abraço aos dois!
José Domingos Rafaelli sempre com ótimas histórias. O episódio com o Joe Henderson só confirma a idéia de que quem se garante não precisa de estrelismos.
Érico, sou suspeito pra falar do Joe Henderson, porque sempre gostei do cara. Todos os discos que eu tenho da Blue Note, aqueles dos anos 60, são ótimos, na minha opinião. Mas eu destaco o "Page one", que agora fiquei sabendo que foi a estréia dele como líder de grupo. Adoro "Blue bossa", por exemplo, uma obra-prima de simplicidade do Dorham, um trompetista fabuloso e compositor de mão cheia. Aliás, o Dorham merece um capítulo à parte, porque, se vc pega as gravações que ele fez no tempo em que ainda era um be-boper e as dos anos 60, vê como ele evoluiu em busca da sua própria voz no instrumento. Acredito - mas isso é puro chute - que foi influenciado por Miles Davis e outros caras que passaram a tocar trompete de um jeito mais cool depois da explosão do be bop. Mas isso é outra história, né?
E você acerta mais uma vez quando destaca o papel do Miles como compositor. Aliás, eu me arriscaria a dizer que, na evolução do jazz, ele é tão importante como intérprete quanto como compositor. Basta ver a montanha de temas seus que se tornaram clássicos do jazz (isso sem contar aquelas músicas de outros compositores que ele colocou em seu repertório e que passaram a ser clássicos do jazz também, fortemente identificados com o Miles).
Em tempo: minha música favorita do Miles é "Nardis".
Abraços
Prezado correligionário Osvjor,
Estou de pleno acordo com tudo que você escreveu sobre Kenny Dorham. Em minha opinião, ele foi o maior underrated de todos os trompetistas surgidos na era do bebop. KD possuia sua própria sonoridade, suas improvisações eram recheadas de idéias alinhavadas com coerência suprema inventividade numa sucessão de frases em que a lógica do seu desenvolvimento era evidenciada a cada chorus.
Com relação à sua opinião de que ele teria sido influenciado por Miles Davis, o saudoso crítico Whitney Balliet escreveu que "o estilo de Kenny Dorham é uma feliz amálgama de Dizzy Gillespie com Miles Davis". Portanto, meu caro, sua valiosa opinião é respaldada pela de Balliet, cujo conhecimento enciclopédico sempre foi exaltado pelos verdadeiros conhecedores da nossa mui amada música dos músicos.
A propósito de KD, ele também foi um compositor e arranjador brilhante, deixando em seus discos a comprovação dessa assertiva.
Outro ponto do seu post sobre o Miles compositor: no livro de memórias memórias do crítico Ira Gitler que será lançado até o final do ano há um capítulo intitulado "As composições que Miles Davis dizia serem dele, mas eram de outros".
Não discutirei esse ponto altamente polêmico, porém o saxofonista-cantor Eddie Vinson declarou reiteradamente que "Four" e "Tune Up" eram composições suas que Miles apoderou-se por registrá-las após ouví-lo tocar uma noite em Kansas City.
John Lewis também afirmou que "Milestones", gravada numa sessão para a Savoy, em 1948 (na qual Charlie Parker tocou sax-tenor), era de sua autoria, mas Miles (que participou da gravação) registou-a em nome dele no dia seguinte.
Verdade ou não, não entro em divagações, mas tais declarações deixaram dúvidas quanto ao carater de Miles.
Voltando a Kenny Dorham, quando ele tocou aqui em 1961 com o fabuloso grupo American Jazz Festival (a gravadora Imagem lançou dois CDs gravados ao vivo no Teatro Municipal do Rio), impressionou por seus solos marcados pela notável invenção melódico-harmônica. Como pessoa, era simpático e super atencioso, ficando surpreso quando pedi seu autógrafo em seis LPs dele porque pensava que aqui ninguém o conhecia.
E ouça sua maravilhosa interpretação de "Like Someone in Love" com os Jazz Messengers no Café Bohemia (Blue Note) e sua superlativa investigação em "Autumn in New York" (também Blue Note, ao vivo com seu conjunto). Lirismo é isso aí, nem precisa procurar discos de outros intérpretes.
Keep swinging,
Raffaelli
Prezado correligionário Osvjor,
Estou de pleno acordo com tudo que você escreveu sobre Kenny Dorham. Em minha opinião, ele foi o maior underrated de todos os trompetistas surgidos na era do bebop. KD possuia sua própria sonoridade, suas improvisações eram recheadas de idéias alinhavadas com coerência suprema inventividade numa sucessão de frases em que a lógica do seu desenvolvimento era evidenciada a cada chorus.
Com relação à sua opinião de que ele teria sido influenciado por Miles Davis, o saudoso crítico Whitney Balliet escreveu que "o estilo de Kenny Dorham é uma feliz amálgama de Dizzy Gillespie com Miles Davis". Portanto, meu caro, sua valiosa opinião é respaldada pela de Balliet, cujo conhecimento enciclopédico sempre foi exaltado pelos verdadeiros conhecedores da nossa mui amada música dos músicos.
A propósito de KD, ele também foi um compositor e arranjador brilhante, deixando em seus discos a comprovação dessa assertiva.
Outro ponto do seu post sobre o Miles compositor: no livro de memórias memórias do crítico Ira Gitler que será lançado até o final do ano há um capítulo intitulado "As composições que Miles Davis dizia serem dele, mas eram de outros".
Não discutirei esse ponto altamente polêmico, porém o saxofonista-cantor Eddie Vinson declarou reiteradamente que "Four" e "Tune Up" eram composições suas que Miles apoderou-se por registrá-las após ouví-lo tocar uma noite em Kansas City.
John Lewis também afirmou que "Milestones", gravada numa sessão para a Savoy, em 1948 (na qual Charlie Parker tocou sax-tenor), era de sua autoria, mas Miles (que participou da gravação) registou-a em nome dele no dia seguinte.
Verdade ou não, não entro em divagações, mas tais declarações deixaram dúvidas quanto ao carater de Miles.
Voltando a Kenny Dorham, quando ele tocou aqui em 1961 com o fabuloso grupo American Jazz Festival (a gravadora Imagem lançou dois CDs gravados ao vivo no Teatro Municipal do Rio), impressionou por seus solos marcados pela notável invenção melódico-harmônica. Como pessoa, era simpático e super atencioso, ficando surpreso quando pedi seu autógrafo em seis LPs dele porque pensava que aqui ninguém o conhecia.
E ouça sua maravilhosa interpretação de "Like Someone in Love" com os Jazz Messengers no Café Bohemia (Blue Note) e sua superlativa investigação em "Autumn in New York" (também Blue Note, ao vivo com seu conjunto). Lirismo é isso aí, nem precisa procurar discos de outros intérpretes.
Keep swinging,
Raffaelli
Osvjor e demais amigos,
Desculpem a duplicidade do post.
Osvjor,
Com relação a "Nardis", sua composição favorita de Miles, o pianista-cantor Ben Sidran sempre declarou que Miles homenageou-o porque "Nardis" é seu sobrenome ao contrário (SIDRAN).
Keep swinging,
Raffaelli
Caros osvjor e Raffaelli,
Bem-vindos a bordo.
Depois dessa verdadeira aula sobre o Dorham (também está entre os meus preferidos e eu concordo com tudo o que foi dito), só me resta ouvi-lo. Rolando na vitrola o fantástico "Round About Midnight At The Cafe Bohemia", disco 2, com a pérola "My Heart Stood Still".
Quanto ao compositor Miles, em que pesem várias acusações de "apropriação indébita", realmente ele tem muita coisa maravilhosa - Freddie Freeloader, So What, Four, Milestones, Miles Ahead, Nardis.
Um dos grandes nomes do jazz de todos os tempos, realmente - apesar, ou talvez até mesmo por causa, de suas imperfeições de caráter.
Um fraterno abraço aos dois.
Osvjor,
Como vocè é admirador de Kenny Dorham, embora não precisa de sugestões, permita-me listar alguns excelentes CDs do grande trompetista:
* Afro-Cuban
* Jazz Contemporary
* Jazz Contrasts
* Osmosis (excepcional - gravado em companhia de alguns cobras que vieram com ele em 1961)
* Quiet Kenny 1959 (50 estrelas!)
* The Art of Ballad
* The Complete 'Round About Midnight at the Café Bohemia (citado por Érico anteriormente)
* Una Mas (citado por você)
* West 42nd Street
* Whistle Stop (Obra-prima com um quinteto de cobras)
* KD Quintet with Jackie Mclean Complete Recordings
* Trompeta toccata (já citado)
* Max Roach plus four with Sonny Rollins
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Érico,
Como você conhece tudo, não mencionei seu nome na abertura deste post.
Keep swinging both of you,
Raffaelli
Prezado Mestre, foram iniciados os trabalhos do Desafio Jazzseen 2010.
Conto com sua participação.
Grande abraço, JL.
Nota: Pode, e deve, ser defeito meu, mas Joe nunca agradou meus ouvidos. Realmente não me convence. Contudo, resenha de alto nível para um importante músico do jazz.
Mestre Raffaelli,
Obrigado pelas preciosas dicas, mas acho que você exagera bastante ao dizer que "conheço tudo" :)
Do Dorham até que tenho alguns dos discos indicados, mas alguns realmente não conheço - Osmosis, por exemplo, eu não conheço.
Sugiro também os ótimos 2 Horns, 2 Rythm (com Ernie Henry) e Blue Spring (delicioso), da fase dos anos 50.
Mr. Lester, dentro em breve "vou estar participando" do desafio. Mas tá difícil!!!!
Abração!
Caríssimo mestre Rafaelli, você realmente deu uma aula de Kenny Dorham. Até ler seu comment, eu apenas gostava do Kenny, não tinha qualquer informação sobre ele. Já contei alhures, mas talvez não aqui: eu comecei a gostar de jazz já adulto, quando vi um LP em promoção num supermercado, com um "velhinho" todo enrugado na capa. Eu só comprei o disco porque estava muito barato e achei a capa bonita. Bom, o LP era "Candy" e o "velhinho" era o Chet Baker. Eu nunca tinha ouvido falar dele, não sabia nada de jazz. E fiquei apaixonado. A partir daí, desenvolvi um gosto particular pelo trompete no universo do jazz e em especial pelo jeito cool de tocar o instrumento. Aí, naturalmente, virei fã de Chet, Miles e KD, cujo primeiro disco que adquiri foi o sensacional "Quiet Kenny".
Agradeço muitíssimo suas indicações. Com certeza vou usar sua lista pra adquirir mais CDs do Dorham. Minha coleção é muito modesta. Só senti falta daquele disco que tem aquela música do Villa-Lobos, acho que "Prelúdio". É uma interpretação maravilhosa. Acho que o nome do disco é "El matador". Mas talvez não esteja entre os melhores trabalhos do KD. Minha "obsessão" mesmo é pela interpretação da música do Villa.
Eu já tinha lido sobre essas acusações de plágio contra o Miles Davis, talvez naquele livro do Jack Chambers. Mas, mesmo tirando essas pirateadas, ainda sobram umas muito boas, né? Incluindo a "Nardis", que eu não tinha idéia de que pode ser uma homenagem ao tal músico.
Abraços. E reforço os pedidos dos colegas do blog pra que você lance seu livro com as excelentes histórias do universo musical.
Caro Osvjor,
Uma coincidência, a propósito de sua primeira aquisição ter sido "Candy", do Chet Baker.
A gravadora Biscoito Fino lançou há uns meses um DVD intitulado "Candy", de Chet Baker, gravado na biblioteca da gravadora Sonet, em Estocolmo. Entre os papos dele com o baixista Red Mitchell, que faz uma participação em duo com Chet, este menciona que estava de malas prontas para tocar no Brasil - corria o ano de 1985.
Por coincidência, eu redigi o texto desse DVD.
Bati um longo papo com Chet quando ele tocou no Free Jazz de 85 (papo informal, não foi entrevista). Além de simpático, foi bastante loquaz contando várias passagens da sua carreira. Na ocasião, eu estava perambulando pelas cercanias do Hotel Nacional com meu filho Flavio e levava comigo um LP dele gravado na Itália, cujo autografo deu-me dizendo que lá tocou com grandes músicos locais.
Depois de uns 30 ou 40 minutos de papo, a esposa dele chamou-o para irem a Ipanema fazer compras.
Nunca esquecerei o que Chet disse a meu filho antes de despedir-se:
- Flavio, nunca ponha um cigarro na sua boca.
Confesso que senti um forte nó na garganta.....
Keep swinging,
Raffaelli
Todos nós ficariamos bastante atentos ao conselho de Chet Baker ao filho do Raffaelli, sabedores do malefício do cigarro e por tudo o que passou Baker com "fumos e drogas". Quanto ao DVD Candy lançado pela Biscoito Fino é excelente, principalmente o duo musical entre Baker ao trumpete e Red Mitchell ao piano, tocando a inesquecível "My Romance". Confiram que vale a pena.
Caríssimo confrade PREDADOR,
Realmente, MY ROMANCE é um momento mmágico de lirismo, beleza e encantamento.
Considerei genial o momento que antecede a essa maravilha em que Red Mitchell demonstra no piano os acordes alterados que ele utilizava ao tocar essa pérola.
A propósito, nos anos anos 50 Red Mitchell gravou para a Pacific Jazz o maravilhoso LP "Modest Jazz Trio" como pianista. Caso haja sido editado em CD, vale a pena comprar.
Keep swinging,
Raffaelli
Caro PREDADOR (adendo),
Desculpe, esqueci de mencionar que o Modest Jazz Trio era foi formado por Red Mitchell (piano), Jim Hall (guitarra) e o gozadíssimo Red Kelly (baixo, que nas horas vagas era comediante nos cassinos de Las Vegas)
Keep swinging,
Raffaelli
Prezado osvjor (adendo)
"Prelúdio", a música de Villa-Lobos gravada por Kenny Dorham faz parte do CD "KD Quintet with Jackie Mclean Complete Recordings".
É uma faixa em torno de 1 minuto.
Keep swinging,
Raffaelli
Caro Érico, eu tenho vários álbuns de Joe Henderson, um deles com música de Antonio Carlos Jobim. Henderson era um grande saxofonista um som potente e muita técnica.
Cumprimentos
érico san,
à guisa de curiosidade...percebeste que a antiga radiola está com o site desativado?...uma pena...retirei as minhas do blog.
tenho acompanhado o desafio lá no jazzseen...eu não participo por motivos óbvios, mas já tem resposta correta por lá...hehehe
mestre raffaelli,
tenho o discaço bacanudo 'good friday blues'...e mr. red mitchell toca piano, mas também tocava contrabaixo, não é isso?
sr.osvjor,
também sou fãzão de mr.miles davis...por tudo que contribuiu com a música, pela música e para a música...e também aproximei-me da música do v.a.brasil, por causa da capa do disco...os temas jobinianos...a mídia a favor, nesse caso...rs
abraçsonoros
Caros osvjor, Raffaelli, Predador e Hector,
Sejam muito bem vindos a bordo!
Como os papos aqui no barzinho são interessantes e super informativos - saímos de Henderson, falamos de Dorham, Red Mitchell, Chet Baker e tantas outras feras. O disco do Modest Jazz Trio, presente do amigo Pituco, realmente é sensacional!
Mas todos os músicos aqui enfocados, incluindo Chet Baker (tudo bem que no final da carreira ele já não conseguia tocar como nos discos dos anos 50 e 60, por causa da vida louquíssima) são de primeiríssima grandeza e ajudaram a escrever o grande livro do jazz.
Como o Henderson, cujo álbum sobre a obra de Jobim, como bem lembrou o Hector, é fabuloso!
Um fraterno abraço aos quatro!
Mr. Pituco,
Acabei de falar em você no meu comentário - sobre o disco que você me mandou, do Modest Jazz Trio.
Pois é, o desafio está pegando fogo - você participando é covardia, né? Mas ajuda aí, dá pelo menos um toque :)
Grande abraço e saudações do lado de cá do mundo!
Erico,como sempre escelente escolha, texto e musica.E como sempre ,tambem, historias imperdiveis do Raffaelli.
Joe Henderson tocou no Free Jazz de 1993 eu tambem estava la e a apresentação foi simplesmente antologica e inesquecivel.
Joe Henderson e' ,com toda a certeza, um dos Mestres do sax tenor no jazz.
Concordo que existem discos dele gravados na decada de 70 que são bem chatos e nnao estão a altura do talento e da importancia dele. Mas na sua grande maioria e' uma discografia de responsa, com discos excelentes e algumas obras primas.
OPS!!! e' excelente,perdoem a agressão ao idioma.
Grato.
Mestre Tandeta,
Bem-vindo ao barzinho - assino embaixo do seu parecer!
E estou aguardando o texto sobre aquele nosso amigo!!!!
Aração!
Érico:
A respeito da citada (má) fama do Miles Davis, o incensado "So What" é uma cópia de uma música do Ahmad Jamal ("Pavanne", se não me falha a memória).
Grande abraço,
Takechi
Caro Rafaelli, sobre o disco "Candy", do Chet Baker, a princípio achei que meu LP fosse uma gravação diferente da que está no DVD a que você se referiu, apesar de também ter sido gravado na tal biblioteca de Estocolmo. Isso porque o Red Mitchel não toca no LP. Eu tenho em vídeo também algumas músicas dessa sessão e comprovei: o baixista é outro. Além disso, o LP não tem "My romance". Aí fui pesquisar e vi que o CD dessa sessão de gravação de fato tem, como bônus, "My romance", além de um papo do Red Mitchell com o Chet. Fiquei curioso de ouvir essa versão de "My romance", que você e o implacável Predador citam como destaque no disco. Pra mim, tirando a "Candy", em que o Chet canta mal, todos os outros temas são sensacionais. A "Love for sale" ganhou um lirismo que a gente não encontra nem mesmo na interpretação do Miles. E "Nardis" é uma belezura só, embora eu seja suspeito pra falar, já que adoro o tema. Vou atrás desse DVD...
Acho que o disco "Candy" é uma prova de uma tese em que eu acredito: que, ao contrário da crença geral, a produção madura do Chet, embora irregular, também é muito boa. Ou talvez seja mais acurado dizer: se a gente tirar as porcarias e considerar as coisas boas, elas serão tão boas ou ainda melhores que as coisas boas do Chet jovem. Eu não tô tirando essa ideia do nada, nem querendo levantar polêmica inútil. O Jeroen de Valk, biógrafo holandês do Chet, também defende isso, e ainda considera que o "Live in Tokyo", gravado já na idade madura do músico, é o melhor disco da carreira dele. Eu sei que o trabalho do Chet jovem é muito bom e deu fama a ele. Mas também sei que ele fez muitas coisas boas na idade madura. O próprio Chet dizia algo do gênero: "não sei por que falam tanto do passado, quando hoje eu toco bem melhor". Pra mim, de fato, o som que o Chet conseguia tirar do trompete já na idade madura (em seus melhores dias, claro) era muito mais bonito que o dos anos 50. Basta a gente ouvir, por exemplo, a interpretação de "If I should lose you" do disco "Diane", por exemplo, ou várias versões de "My funny Valentine", ou "Retrato em branco e preto", ou "Love for sale" etc e comparar com o som do Chet jovem. Me incomoda um pouco, porque acho injusta, a idéia de que o Chet só manteve o interesse dos fãs até o fim dos seus dias porque eles seriam nostálgicos daqueles anos 50 e dariam um "desconto" pro cara. Não estou dizendo que li isso aqui neste blog. Mas já li algo nessa linha em outros lugares. Agora, eu mesmo virei fã do Chet Baker ouvindo a sua produção da idade madura, só depois tive acesso às coisas mais antigas e, de modo geral, prefiro o material mais atual. Sei lá, não acho que seja só questão de opinião, algo puramente subjetivo: meu professor de trompete (outra consequencia de conhecer o músico: tive a idéia louca de tentar aprender o instrumento), mas, como dizia, meu professor, que era das antigas, que metia o pau no Chet, saltou da poltrona quando eu mostrei a ele um vídeo do cara: "Caramba, mas o Chet Baker tá tocando muito!!". O vídeo era justamente dessa sessão de gravação na biblioteca em Estocolmo, quando o trompetista já era um "velhinho" todo enrugado...
Érico, sei que esta é a sua casa e peço perdão pela extensão do comment. Fique certo de que ele não foi escrito como forma de desabafo. Eu quis apenas apresentar um argumento, já que o Chet foi citado. Espero não ter sido muito enfadonho.
Rafaelli, mais uma vez você nos brinda com suas reminiscências sobre os grandes músicos de jazz. Outra pessoa poderia interpretar o conselho que o Chet deu ao seu filho como algum tipo de ironia, mas você deixou claro que ele falava sério. Talvez, afinal de contas, ele não fosse o monstro de indiferença que emerge da biografia escrita sobre ele pelo Gavin.
takechi san,
deixei commentário prati lá no jazzseen...
segundamente...rs...creio que o tema 'pavanne' não seja de mr.ahmad jamal não...que eu saiba é um peça erudita de ms.gabriel fauré, amplamente executada por alguns jazzístas, como é o caso de mr.bill evans...
não sou enciclopédia nem nada, mas há que se corrigir alguns desvios de informação em detrimento à imagem de mr.miles davis...aliás, mr.davis era admirador do piano de mr.jamal...li certa feita, que na gravação de freddie freeloader, o líder pediu a w.kelly que executasse um piano próximo ao de mr.jamal...e inclusive, dedicou um tema a ele...ahmad's blues.
é isso aí,
desculpe o desvio de foco, érico san...e se minhas informações estiverem equuivocadas, por favor, peço aos amigos jazzófilos que as corrijam
obrigatô
abraçsonoros
Caros Takechi, osvjor e Pituco,
O barzinho fica muito mais alegre com as presenças de vocês!
Ao primeiro, parece que o Mr. Pituco já prestou os esclarecimentos - eu também nunca tinha ouvido falar que "So What" fosse plágio de alguma música. Há controvérsia sobre a autoria de "Blue in Green", pois no "Kind Of Blue" consta como sendo apenas de Miles, mas Bill Evans reivindica a co-autoria (inclusive no disco "Blue In Green", do Evans, consta como se a música fosse dos dois).
osvjor, concordo em parte com você. Acho que não não há dúvidas de que Baker foi um músico excepcional, mas alguns dos seus últimos discos não tinham a mesma pegada dos anos 50 e 60. Acho que o público ia vê-lo porque mesmo com todas as dificuldades ele ainda era um trompetista muito acima da média.
Várias pessoas que o viram tocar ao vivo, nos anos 80, dizem que ele parecia, em vários momentos do show, fazer um esforço tremendo para tocar.
O Nélson Mota, naquele livro Noites Tropicais, chegou a vê-lo num clube de Roma e relata que o show, apesar de alguns ótimos momentos, mostrava um Chet hesitante, com passagens pouco inspiradas - nada que possa empanar o brilho de sua obra genial!
Quanto a Mr. Pituco, também li em algum lugar que o Miles, realmente muito fã do Jamal, queria que o Kelly soasse parecido com ele nas gravações de Kind Of Blue - ele e Bill Evans se revezavam ao piano.
Um fraterno abraço aos três!
Pituco e Érico:
Seguem os endereços d "So what", com o Steve Khun, "Pavanne", com o Ahmad Jamal, e "Impressions",com o Kenny Garrett/Joshua Redman, que eu fiz no hotFile:
http://hotfile.com/dl/71460671/07e4da1/04_-_So_what.mp3.html
http://hotfile.com/dl/71458420/92f1c4f/06_-_pavanne.mp3.html
http://hotfile.com/dl/71457358/899fe8e/kenny_garrett__joshua_redman_-_impressions.mp3.html
Comparem e vejam se não são muito parecidos (ouçam a guitarra a partir do minuto 1:25 do "Pavanne").
Pituco: os créditos para "Pavanne" no disco do Ahmad Jamal ("Piano Scene") vão para Gould/Shelley. Pode ser mesmo que seja do Fauré, e o termo cópia que empreguei talvez tenha sido muito forte. Teria sido melhor "fortemente inspirado na execução de 'Pavanne' de Ahmad Jamal..."
Pois é, sobrou também para o John Coltrane e seu "Impressions"...
Grande abraço,
Takechi
takechi san,
obrigado pelos aúdios...acabei de baixá-los e pavanne não é do fauré...é do compositor e pianista canadense, glenn gould...tá explicado.
qto à semelhança...na verdade é uma passagem apenas, dentro do tema principal...e pode ter sido uma citação...já que mr.jamal e mr.miles admiravam-se...e ambos os álbuns são de 59...não é isso.
vale lembrar que so what é o tema que marca o nascimento do chamado jazz modal...impressions é outro exemplo.
bom,
creio que pra esses impasses enciclopédicos, melhor os jazzófilos veteranos aqui da confraria, não achas?
abraçsonoros e obrigadão pela atenção...tô curtindo o som...rs
Eu, como não sou músico, fico aqui só me deleitando!
Valeu Mr. Takechi! Valeu, Mr. Pituco!
O barzinho agradece!!!!!!!
Prezado Sr. Pituco,
Sobre seu comentário abaixo:
>,
com o devido respeito, sem desejar magoá-lo ou muito menos provocá-lo, So What não marcou o nascimento do jazz modal.
O jazz modal nasceu com as cmnposições de George Russell nos anos 50, conforme provam seus discos da época.
A propósito, So What É PLÁGIO de SOFT WINDS, de Benny Goodman e Lionel Hampton, gravado nos anos 40
Peço sua compreensão, rogando que não receba estas informações como ofensas à sua pessoa e muito menos ao seu conhecimento de jazz.
que não se ofenda com estas informações.
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