Amigos do jazz + bossa

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DINAMITE PURA!




Em meados do século XIX, o jovem químico Alfred Nobel estava inquieto. Acreditava que a nitroglicerina, explosivo líquido inventado pelo italiano Ascanio Sobrero em 1847, poderia ser de grande utilidade nas obras tocadas pelo pai, o engenheiro sueco Immanuel Nobel. O problema era a enorme instabilidade do produto. Seu transporte e manuseio eram extremamente perigosos. Qualquer oscilação mais brusca poderia redundar em uma terrível explosão – em 1964 ele perdeu o irmão, Emil, em uma explosão causada pelo uso inadequado do explosivo.

O químico, então, passou a pesquisar um modo de tornar mais seguro o uso da nitroglicerina. E conseguiu, usando um estratagema bastante simples: misturando o líquido explosivo a um pouco de terra diatomácea (dióxido de silício em pó) e colocando essa mistura em um recipiente, tinha-se um produto mais seguro e de mais fácil manuseio, transporte e armazenamento. O recipiente era um cilindro de plástico, hermeticamente vedado, com um pequeno furo por onde passava um rastilho ou um cabo elétrico.

O resto da história todo mundo conhece. A dinamite foi um retumbante – sem trocadilhos – sucesso comercial, e tornou Nobel um dos homens mais ricos do planeta. Criada para ser aplicada na construção civil, a dinamite passou a ser usada em larga escala na indústria bélica e nas guerras que, no final do século XIX, conflagravam a Europa. Influenciado pela condessa Bertha Von Suttner, grande amiga e pacifista renhida, Nobel deixou expresso em seu testamento que parte da sua fortuna deveria ser usada para premiar, anualmente aqueles que tivessem empreendido grandes esforços para promover a paz mundial.

O Prêmio Nobel foi, posteriormente, estendido a diversas áreas das artes e do conhecimento humano, como a química, a física, a medicina, a economia e a literatura. A dinamite, que era um explosivo ainda bastante perigoso, por conta da possibilidade de vazamento da nitroglicerina, viu seu uso diminuir consideravelmente com a popularização dos modernos explosivos plásticos, como o C4 e o Semtex, bem mais seguros e de mais fácil manuseio. Não obstante, a dinamite continua fazendo parte do imaginário popular, especialmente por conta do seu hilariante uso em desenhos animados como Pernalonga ou Tom & Jerry.

Na música, costuma-se designar que um determinado artista é “dinamite pura” quando consegue conjugar excepcional qualidade técnica e energia criativa. Bateristas, como Art Blakey ou Elvin Jones, costumam ser comparados ao célebre explosivo patenteado por Nobel. No Brasil, terra de bateristas fabulosos como Dom Um Romão, Airto Moreira, Robertinho Silva, Wilson das Neves, Pascoal Meireles ou Milton Banana, há um que merece, mais que qualquer outro, o título de Mr. Dinamite: o espetacular Edison Machado.

Nascido em 1934 no bairro do Engenho Novo, na zona norte do Rio de Janeiro, o carioca Edison Machado pode ser considerado um revolucionário, um pioneiro, um verdadeiro criador em seu instrumento. Inventou uma nova maneira de tocar o velho samba – a qual chamou de “samba no prato” – e, não menos importante, deu à bateria, geralmente relegada a um plano secundário, o nobilíssimo papel de protagonista. Sobre a invenção do samba no prato, reza a lenda que durante uma apresentação em um baile, no início dos anos 50, o bumbo furou e o baterista teve que improvisar, tocando apenas com os pratos e os tambores.

O superbaterista André Tandeta explica, do ponto de vista técnico, a importância dessa descoberta: “Até então o baterista reproduzia uma batucada de samba usando os tambores do instrumento – nisso o grande Luciano Perrone era mestre. Machado passou a tocar a batida de samba com a mão direita no prato, em semicolcheias. É uma nova atitude na bateria, muito mais parecida com a dos bateristas de jazz, interagindo mais com a musica ao invés de ser somente um acompanhante fornecendo o suporte rítmico. Foi com certeza um dos criadores do samba-jazz, ao lado de Dom Um Romão e Milton Banana”.

Munido de doses igualmente cavalares de coragem e talento, o inconformado Edison “Maluco”, como era carinhosamente conhecido nos meios musicais, não aceitava que a música brasileira, essencialmente rítmica em sua estrutura, reservasse ao baterista o papel de mero coadjuvante. Sua vida e carreira mostram um homem determinado a romper esse paradigma – e não é preciso conhecer a fundo a música brasileira moderna, surgida no final dos anos 50 e consolidada nas décadas seguintes, para saber que sua luta não foi em vão.

Como observou o contrabaixista Marcos Paiva, “numa época em que baterista era um “quase não músico”, ou apenas o ritmista do grupo, Edison teve uma capacidade única (e artística) de liderança ao lançar seus próprios trabalhos solos. Ao liderar seus grupos, criou uma forma de tocar com tanta energia e personalidade que até hoje é difícil de ver alguém superá-lo. Não é tocar rápido e não passa pela técnica. Passa, a meu ver, pela capacidade que poucos músicos conseguem obter na sua trajetória musical, a personalidade. Quando você ouve um disco, basta 5 compassos para saber se é ele tocando ou não. E isso é muito, muito difícil de se conseguir”.

Machado começou a carreira profissional muito cedo e antes de completar 18 anos já era respeitado no circuito das gafieiras. Em meados da década de 50, integrou o grupo A Turma da Gafieira, que tinha em seus quadros sumidades como Altamiro Carrilho, Baden Powell, Zé Bodega, Raul de Barros e Sivuca. Durante algum tempo foi um dos destaques da banda do cantor Miltinho, então na crista da onda com o sucesso “Mulher de trinta”.

Nos anos 60, quando o eixo da boemia carioca se deslocou para o Beco das Garrafas, em Copacabana, o baterista era uma das mais luminosas presenças nas casas noturnas ali estabelecidas: Little Club, Bottle’s e Bacarat. Rodeado de grandes músicos que tocavam ali, como Raul de Souza, Antônio Adolfo, Paulo Moura, Tenório Júnior, Victor Assis Brasil, Sérgio Mendes, Baden Powell, Durval Ferreira, Luiz Eça e muitos outros, Edison pôde depurar o seu gigantesco talento e incluir em suas referências generosas pitadas de jazz.

Não é à toa que a bossa-nova turbinada que essa turma fazia foi logo apelidada de samba-jazz. A música que saía dos palcos das boates do Beco era uma poderosa conjugação do ritmo contagiante do samba com doses anabolizadas de improvisação, típicas do jazz. Machado integrou um dos melhores trios formados naquele período, o Bossa Três, juntamente com Luís Carlos Vinhas ao piano e Tião Neto ao contrabaixo.

Em 1962, o grupo excursionou nos Estados Unidos, onde se apresentou em clubes renomados, como o Village Vanguard, e em programa de TV como o Ed Sullivan Show, de enorme audiência por lá. O trio gravou alguns discos nos EUA, incluindo “Os Bossa Três e Seus Amigos”, que contava com a participação de Sonny Simmons (sax alto), Clifford Jordan (sax tenor e flauta) e Prince Lasha (flauta).

Ao falar do amigo, Tião Neto relembra aqueles tempos heróicos: “Edison foi o maior baterista de samba de todos os tempos. O tempo dele no samba no prato e no pé direito é irreprodutível. Ele tinha um suíngue fantástico, e quem quisesse que fosse atrás. Foi, sem dúvida, uma figura de proa na MPB. A música brasileira atual, principalmente o samba, deve muito a Edison. Fui com ele para os Estados Unidos, na década de 60, com o Bossa Três. Foi uma grande aventura”.

Os concertos e gravações foram proveitosos para firmar o nome do baterista no disputado mercado norte-americano. Tanto é que no ano seguinte – 1963 – Edison retornou à terra de Tio Sam, para participar do fabuloso “The Composer Of Desafinado Plays”, de Tom Jobim, com arranjos do maestro Claus Ogerman. Naquele mesmo ano, participou das gravações do disco “Stan Getz With Guest Artist Laurindo Almeida” (Verve), integrando uma banda all-star que, além dos líderes, incluía o baixista George Duvivier e o pianista Steve Kuhn.

Em 1964, Edison integrou o Sérgio Mendes Trio, complementado pelo baixista Tião Neto, com quem gravaria os álbuns “The swinger from Rio” e “Brasil' 65”. Também fez parte do Sexteto Bossa Rio, capitaneado pelo mesmo Sérgio Mendes, tendo participado das gravações do antológico “Você ainda não ouviu nada!”. No final daquele ano o sexteto embarcaria para uma turnê nos Estados Unidos, que acabaria rendendo a participação no álbum “Bossa Nova”, do saxofonista Cannonball Adderley. Contudo, Machado deixou o grupo antes da viagem e foi substituído pelo não menos talentoso Dom Um Romão.

No ano seguinte, fundou, ao lado do pianista Dom Salvador e do contrabaixista Sérgio Barroso o Rio 65 Trio, que chegou a gravar dois álbuns: “Rio 65 Trio” (que traz alguns clássicos da bossa nova como “Desafinado”, de Tom Jobim e Newton Mendonça ou “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e versões de temas jazzísticos, como “Sonnymoon for Two (Blues em Samba)”, de Sonny Rollins, e “Mau, Mau”, de Quincy Jones) e “A hora e a vez da MPM” (que traz músicas conhecidas, como “Apelo”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes e “Upa, Neguinho”, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, e canções obscuras como “Ponte Aérea”, de Zé Ketti, e “Seu Encanto”, de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle). Ambos os discos foram lançados pela Philips e, apesar de bastante elogiados pela crítica, tiveram vendas bastante abaixo do esperado.

Edison era um dos mais respeitados e requisitados músicos do período, com trabalhos em discos de gente como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi, Agostinho dos Santos, Victor Assis Brasil, Paulo Moura, Elis Regina, Hector Costita, Edu Lobo, Maria Bethânia, Dick Farney, Hélio Delmiro, Rosinha de Valença, Eumir Deodato, Pery Ribeiro, Wanda Sá, Johnny Alf, Nara Leão, Milton Nascimento e muitos outros. Boa parte de sua reputação havia sido firmada graças ao álbum “É Samba Novo”, petardo sonoro gravado em 1964, para a CBS.

Liderando um grupo que reunia a nata da música instrumental de então, Machado fez um disco que sintetiza, como poucos, os rumos que a moderna música brasileira tomava na primeira metade dos anos 60. Com arranjo do maestro Moacir Santos, os acompanhantes são de primeira grandeza: Paulo Moura e J. T. Meirelles nos saxofones, Maciel “Maluco” e Raul de Souza nos trombones, Tenório Júnior no piano, Tião Neto no contrabaixo e Pedro Paulo no trompete.

O disco abre com uma poderosa versão de “Nanã”, de Moacir Santos e Mário Telles – irmão da cantora Sylvia Telles e que, na versão original, teve seu nome, inexplicavelmente, trocado para Clóvis Mello. As características rítmicas de Machado podem ser ouvidas com muita clareza nesta faixa, na qual brilha o trompete assurdinado de Pedro Paulo.

A dupla Baden Powell/Vinícius de Moraes comparece com a vibrante “Só por amor”, cuja cadência evoca os gloriosos tempos das gafieiras. Aqui os trombonistas Maciel e Raul de Souza se desafiam ferozmente e apresentam alguns dos melhores solos do disco. Paulo Moura dá uma aula de sensibilidade e bom gosto e o líder mostra, na prática, o que significa o termo “samba no prato”.

“Aboio”, de J. T. Meireles, tem uma atmosfera agreste, agregando em seu núcleo melódico elementos da música nordestina. O trombonista Maciel é talvez o maior destaque individual, mas a percussão de machado, elétrica, também deve ser ouvida atentamente. “Tristeza vai embora” tem uma atmosfera nostálgica, flertando com o samba-canção, mas sem a mesma carga de tristeza que caracteriza o estilo. Mais uma vez, a performance de Pedro Paulo merece todos os encômios.

Meireles emenda dois temas seguidos. “Miragem” é um samba dolente, cadenciado, no qual o trombone de Raul transporta o ouvinte às estrelas. Tenório não é apenas um soberbo acompanhante, mas um solista notável, capaz de improvisar com fluidez de idéias e muito swing. “Quintessência” é, com o perdão do trocadilho, a quintessência do próprio samba-jazz. Percussão atordoante, improvisos endiabrados, diálogos alucinados entre os instrumentos e muita energia. De tirar o fôlego.

Moacir Santos e Vinícius compuseram a preciosa “Se você disser que sim”, na qual a bateria sincopada de Machado puxa o ritmo e os demais integrantes do sexteto seguem, euforicamente, a trilha aberta pelo líder. A ousada “Coisa nº 1”, também do maestro Moacir Santos e, desta feita, de Clóvis Mello, corretamente creditado, é uma complexa releitura do samba, com elementos do choro e do jazz. O solo de Paulo Moura é inacreditável – embora breve – e a atmosfera de jam session é contagiante.

Mais uma vez, o incansável Meireles exibe os seus dotes composicionais, agora com “Solo”, provavelmente a mais jazzística do álbum e veículo mais que perfeito para que Tenório exiba a sua técnica fabulosa. Machado desce a mão sobre a bateria, sem pena ou remorso. O compositor e Raul de Souza travam um duelo eletrizante, escoltados pela condução segura do competente Tião Neto.

Com pouco mais de 2 minutos, a vibrante “Você”, de Rildo Hora e Clóvis Mello, é um dos momentos mais intensos do disco e permite ao líder uma exibição de gala, com solos estonteantes. Os metais incandescentes acrescentam o molho, mas o destaque absoluto vai para o líder, soberano em seu instrumento e capaz de incendiar os companheiros com a energia típica de um Elvin Jones.

“Menino travesso”, de Moacir Santos e Vinícius de Moraes, encerra o disco com a mesma energia vulcânica das demais faixas. Um disco que redefiniu a música instrumental brasileira e influenciou gerações e mais gerações de músicos. Como disse, com bastante propriedade, o crítico Tárik de Sousa: “a riqueza da combinação de timbres e as ardilosas harmonizações deste disco só fazem pensar que nem sempre o tempo anda pra frente. Em relação a tanto atraso lançado depois, o Edison Machado deste disco é que continua mandando o verdadeiro samba novo”.

Os anos 70 começaram de maneira difícil para Edison e para muitos músicos que despontaram no Beco das Garrafas. A infantilização da música popular, o avanço da música pop norte-americana e a exclusão da música instrumental das rádios conspiravam para tornar a sobrevivência dos músicos profissionais uma tarefa inglória.

O baterista chegou a gravar , em 1970, o álbum “Obras”, ao lado de Ion Muniz (sax tenor e flauta), Alfredo Cardim (piano) e Ricardo dos Santos (baixo). No ano seguinte, mais uma aventura fonográfica: “O Pulo do Gato”, novamente secundado por Ion Muniz e por Ricardo Santos, com destaque para o jovem pianista Haroldo Mauro Jr. Contudo, a repercussão de ambos os discos, lançados pela pequena gravadora Stylo, foi mínima.

O baterista trabalhou na trilha sonora do filme “Terra em Transe”, dirigido por Glauber Rocha, e excursionou com Agostinho dos Santos por alguns países da América do Sul, mas a união durou pouco tempo. Em 1972, uma entrevista publicada no jornal O Globo trazia, como chamada, o texto a seguir, um diagnóstico irônico – porém realista – da situação dos músicos no país: “O melhor baterista do Brasil aceita emprego em espetáculo de qualquer natureza. Ligar para 224-1151 ou procurar Edison Machado na Rua Benjamim Constant 10, quarto 107”.

Desiludido com a situação, em 1976 ele tomou uma decisão radical: vendeu a bateria e se mandou, com a cara e a coragem, para a Europa. Fixou-se em Copenhagen, na Dinamarca, onde muitos músicos norte-americanos haviam se exilado nas décadas de 60 e 70. Certa feita, ao se apresentar no clube Bilboquet, em Paris, Machado viu na platéia três dos mais influentes e respeitados bateristas do jazz, que tinham ido ao local especialmente para vê-lo: Kenny Clarke, Max Roach e Sam Woodyard.

Pouco depois, nova mudança, desta vez para os Estados Unidos, onde trabalhou ao lado de grande nomes do jazz, como Ron Carter e Chet Baker. Fundou um quarteto, que se apresentava com bastante sucesso em festivais ao redor do globo e nas casas mais badaladas de Nova Iorque, como o Village Vanguard, o Blue Note e o Birdland. Um dos integrantes do conjunto era o pianista Harold Danko, então em início de carreira.

Após quase 15 anos longe do Brasil, Machado regressou ao país no início de 1990, disposto a retomar a carreira por aqui. Para celebrar o retorno, montou uma banda que incendiou as noites da Boite People, em uma temporada de enorme sucesso de público e crítica, que relembrava os melhores momentos do Beco das Garrafas. Além do próprio baterista, integravam o Edison Machado Sexteto o trombonista Edson Maciel “Maluco”, o saxofonista Macaé, o trompetista Paulo Roberto de Oliveira, o pianista Luís Paiva e o baixista Luiz Alves.

Este último, grande amigo de Machado, resume a importância do baterista no cenário da música brasileira: “Ele foi o papa da bateria moderna no Brasil, da bateria de samba. Era um gênio mesmo. Para mim a bateria brasileira pode ser classificada em antes de Edison Machado e depois de Edison Machado. Pessoalmente ele era muito agitado. Antes dele, praticamente não se usava prato para tocar samba, era só tambor e bumbo, ele foi mesmo um precursor da bateria moderna”.

Infelizmente, Edison Machado teve pouco tempo para usufruir o reconhecimento que aquela temporada prenunciara: no dia 15 de setembro daquele ano, em Niterói, um enfarte fulminante o retiraria do nosso convívio. Sobre seu estilo vigoroso e dinâmico, dizia: “minha bateria diz o que vejo e vivo, então sou barulhento”. Quem teve a honra de ouvi-lo tocar ao vivo vai confirmar a veracidade de suas palavras.

Pascoal Meirelles, outro dos nossos mais importantes bateristas, dá o seguinte depoimento: “Fui muito influenciado pelo Edison no começo da minha carreira, ele era um dos bateristas que eu mais ouvia. Basicamente, ele mudou a forma de se tocar a música brasileira na bateria. O samba no prato foi só uma das coisas em que ele inovou, mas nem acho que tenha sido a mais importante. Acho até um pouco redutor que as pessoas se lembrem dele só por causa disso. A meu ver, a importância dele é maior, é a concepção moderna que ele deu para a bateria”.

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31 comentários:

pituco disse...

érico san,

sou o primeiro...evoé, amigos

resenha pra lá de piramidal...um monumento textual ao grande édison machado...parabéns mais uma vez, inclusive pela escolha do álbum bacanudo.

abraçsonros

John Lester disse...

Edson era, por assim dizer, trinitrotolueno puro! Grande resenha Mr. Cordeiro.

Aguardamos seus novos bombardeios no front Jazzseen.

Grande abraço, JL.

Érico Cordeiro disse...

Caros Pituco e Lester (grande fã das baterias, timbales, pratos e bumbos),
Sejam muito bem vindos. Viram como o barzinho está chique, com depoimento exclusivo do Mestre André Tandeta?
Pois é, a casa agradece penhoradamente a participação desse grande amigo e parceiro.
Quanto ao Edison, realmente era uma fera - trinitrotolueno puro!!!
Abraços aos dois!

Andre Tandeta disse...

Erico,
excelente texto,diria ate' que e' de excepcional qualidade.
Recomendo tambem os discos com Salvador Trio onde temos algumas das melhores performances de Machado,ao lado do grande Dom Salvador e de meu querido amigo e companheiro Sergio Barrozo.
E meu tambem grande amigo e Mestre Pascoal Meireles simplesmente disse tudo.Em poucas palavras da pra ver porque eu sou o aluno e ele o Mestre. Tenho muito orgulho de ter sido aluno dele por 3 anos,dai se originou nossa amizade . 3 anos de trabalho duro, exigencias de alto nivel e de aprendizado total. Pascoal me mostrou o que era realmente ser musico tocando bateria. Ele e' uma das pessoas mais importantes em minha vida,devo muito a esse grande musico , um abnegado batalhador da musica instrumental no Brasil.

Érico Cordeiro disse...

Grande Mestre tandeta,
Parece que as aulas deram um ótimo resultado, porque você agora também já é um mestre!
Em breve, deve pintar algo aqui do Pascoal - provavelmente o Ostinato.
Falando nisso, onde será que posso achar o "Tributo a Art Blakey", que tá fora de catálogo há um bom tempo?
PS.: Valeu pela força no post - você enriqueceu e muito o texto com sua preciosa contribuição!
PS2.: Fala pro Pascoal dar uma passada por aqui qualquer hora dessas, ok?
Abração e muito obrigado!

Salsa disse...

esse disco é uma das melhores coisas por aqui editadas que eu ouvi. Excelente.

Érico Cordeiro disse...

Grande Salsa,
Sabia que você ia gostar!
Em breve este modesto blogueiro pinta por aí prá lançar o Confesso - conto com você, meu chapa!!!!
Abração!

APÓSTOLO disse...

Estimado ÉRICO:

Nos intervalos das viagens para acompanhar o grande A.C.JOBIM, dizia nosso bom amigo e infelizmente já falecido TIÃO NETO (frequentador habitual do programa "O Assunto É Jazz", produzido e apresentado por Mestre LULA - o do bem), "seu Machado sabia das coisas".
Estupenda resenha, citações de músicos que conhecem e praticam o instrumento, soberba gravação escolhida.
Vão de vento em popa, como diriam os antigos, as resenhas.

Érico Cordeiro disse...

Mestre Apóstolo,
É sempre muito bom contar com sua presença - parafraseando o Tião Neto, você "sabe das coisas" - e como sabe!
Imagino que as noites do Beco das garrafas tenham sido inesquecíveis, com tantos talentos juntos, tocando, aprendendo uns com os outros, desafiando-se, alargando as fronteiras da nossa música.
Nesse processo, o Edison Machado foi um desbravador e deixou um legado fantástico.
Um fraterno abraço!

Anônimo disse...

Assolutamente d'accordo con lei. Ottima idea, sono d'accordo con lei.
E 'vero! Ottima idea, condivido.

Paul Constantinides disse...

erico
edson machado é tudo tudo de bom mesmo.
tudo que tenho dele gravado é exemplar. sem duvido um dos expoentes de sua geração e sua trajetória demonstra bem a sua inquietude criaiva e busca qualitativa.
abs
paul

pituco disse...

érico san,

há uma ferramenta do blog em que podemos compartilhar postagens no facebook, orkut e similares...o que pensas sobre?

de qualquer maneira,
entrarei no facebook daqui a pouco e deixarei link pra jazzbossabaratooutros...tá legal

abraçsonoros
ps.baixei o cd do bebeto castilho e tô curtindo o som...ele cantando bacanudamente, entre outras tarefas...rs

Érico Cordeiro disse...

Caros "anônimo", Paul e Pituco,
Sejam muito bem-vindos!
Ao primeiro, agradeço as palavras gentis - embora meu italiano seja precário, deu prá entender alguma coisinha.
Mestre Paul, o MUza tá cada vez melhor - dei uma passada ainda há pouco e vou voltar lá prá deixar o comentário. Assino embaixo do que você falou - inquietude criaiva e busca qualitativa são características muito caras ao Edison!
Seu Pituco, tenho Facebook, mas quase não uso, passo meses sem abrir - só fiz porque precisava entrar em contato com um amigo e o único local em que consegui achá-lo foi no Facebook.
É uma ferramente legal, prá quem sabe usar - o que não é o meu caso.
Não tenho orkut e nem tweeter (esse eu sinceramente não sei como usar - é uma confusão maluca).
Mas obrigado pela lembrança - quanto mais gente falar do jazzbarzinho melhor :)
Grande abraço aos três!

Sergio disse...

Uma das coisas que mais me chamam a atenção para determinar se o escritor é digno de pena - digo (rs), da pena com a qual escreve -, é a capacidade de associação de idéias. Dessa vez, seu Sam se superou. Deu aula! Pra começar, se não sabia, certamente não me lembrava que o fator explosivo da dinamite era a nitro, muito menos, mas muito, muito menos mesmo!, que a matéria prima, terra diatomácea (dióxido de silício em pó), era o que estabilizava o poder explosivo da nitroglicerina. Por falar nela, sem querer babar a cultura que nem tenho, os desenho animados são evidentemente o que nos faz lembrar, de imediato da dinamite, mas o que me faz recordar, de prima, a nitroglicerina, é o maravilhoso filme (se não me engano, de diretor francês), “O Salário do medo”. E é incrível q muitas cenas daquele filme não me saiam da cabeça, porque, eu devia ter pouco mais de 10 anos quando o vi pela primeira e única vez!

Acho q quem viu deve ter a mesma impressão. Continuarei lendo, seu Érico, só não podia deixar de dar crédito ao que seu texto suscitou: em minha modestíssima opinião O Salário do medo, entra fácil na minha lista dos 10 melhores filmes de todos os tempos.

Érico Cordeiro disse...

Grande Mr. San,
Seja mais que bem-vindo no brazinho!
Grande lembrança - li o livro há uns 20 e tantos anos, de Georges Arnaud, numa edição da Abril Cultural que era vendida em banca.
O livro é muito bacana.
Do filme só lembro trechos - o ator principal era o Yves Montand (que também era um ótimo cantor) - pois só assisti em uma dessas sessões coruja da vida e tava mais dormindo que acordado :)
Valeu pela presença - o samba-rock do sonicbarzinho me inspirou a postar um clássico do samba-jazz.
Abração!

PREDADOR.- disse...

Dinamite. O que é dinamite??? Uso muito material atômico para explosões. Mas, o Edison Machado era realmente explosão pura. Muito boa lembrança e bela resenha, coadjuvado por mr.Tandeta, em sua matéria sôbre um dos melhores bateristas, senão o melhor do Brasil ou, como dizia o coronel Odorico Paraguaçú, quiça do Mundo. Falar de Edison Machado é "chover no molhado". Tudo já foi dito aqui e muito bem. Parabéns mr.Cordeiro, e já que você deu o "pontapé" inicial iremos aguardar publicações dos musicos Dom Um Romao ("Dom Um"),Tenório Jr.("Embalo"), Milton Banana (Vê), Rio Trio 65, Raul de Souza ("A vontade mesmo"), Sergio Mendes ("Você ainda nao ouviu nada")............bons tempos!
Aguardarei também a sua vinda em nossa Cidade, para conhecê-lo e adquirir seu livro, que, com dedicatória de corpo presente, terá muito mais valor. A sua possível vinda foi-me informada pelo comandante Lester. Estaremos aguardando.

Érico Cordeiro disse...

Mr. Predador,
Obrigado pela força - se tudo der certo, no final de outubro eu apareço por aí.
O Sérgio Mendes e o Tenório Jr. já foram objeto de postagem aqui no barzinho - dá uma conferida nos marcadores.
Abração!

Celijon Ramos disse...

Érico, bom dia!
Parabéns por recolocar em evidência o grande músico Edson Machado. Dele há que se falar sempre... Minha torcida é para que sua resenha associe muitos outros ouvidos ao som maravinhoso que Machado consegue nos dá. Falar e ouvir sempre para que muitos mais conheçam. Que bom que agora vamos de sambajazz... Sinto que muitas resenhas em homenagens a esses verdadeiros titãs da música instrumental brasileira aportarão no seu barcobar virtual.
Um abraço de coração!

Érico Cordeiro disse...

Valeu, compadre!
E agora, parece que teremos um bbarzinho não-virtual, aconchegante e pertinho de casa prá contar e ouvir histórias com os amigos. tomar aquela cervejinha gelada e ouvir boa música, não é mesmo?
E em breve pinta por aqui outro monstro: Raul de Souza!
Já tô pesquisando!
Beijo grande em todos!!!

figbatera disse...

Que beleza! Me transportei mentalmente pra uma tarde/noite de domingo em que fui ao Beco das Garrafas assistir a uma daquelas memoráveis sessões de samba-jazz que lá aconteciam, reunindo a nata da música instrumental brasileira.
Foi a primeira e única vez que ouvi "ao vivo" o fabuloso Edison Maluco.
Inesquecível!

Érico Cordeiro disse...

Grande Fig,
Você, amigo e aluno do Mestre Pascoal Meireles, certamente é grande fã do nosso Edison Maluco.
E que inveja - poder assistir ao vivo aquelas feras todas. Inesquecível mesmo!
Um grande abraço, meu embaixador nas Terras d'El Rey!

MARIO JORGE JACQUES disse...

Grande baterista e uma figuraça, tive a oportunidade de conhecê-lo no programa O Assunto É Jazz em Niterói e era das 22h as 24h e depois havia o encontro na pizzaria. Edson tinha ido de barca e então levei-o de volta ao Rio até Copacabana, contou um monte de estórias ótimas, foi uma noite / madrugada inesquecível. Veio a falecer logo depois, aliás fumava desbragadamente ...
Érico ótima e explosiva introdução, gostei da bombástica aula de química, um grande abraço

Érico Cordeiro disse...

Meu querido Mario Jorge,
Prazer em tê-lo a bordo.
Seja muito bem vindo e que legal que você o tenha conhecido - realmente era uma figuraça e teve um papel muito importante para a modernização do samba e para o próprio desenvolvimento do samba-jazz.
De certa forma, você e seu maravilhoso podcast resgatam a trajetória histórica do Mestre Lulla e do seu importantíssimo programa O Assunto É Jazz.
Abração!

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais companheiros,

Conheci Edison Machado muito bem, especialmente nos gloriosos tempos do lendário Beco das Garrafas. Como escrevi num artigo especial para o Globo, o Beco foi o equivalente da Rua 52, de New York, que o ex-prefeito Rudolfi Giuliano crismou de "Swing Street" (por sinal, tenho foto minha na esquina da Swing Street com a 46th, embaixo da placa com o nome das suas vias.

As noites do Beco das Garrafas eram um manancial interminável de surpresas; ora um músico levava uma nova composição que atraia a atenção dos freqüentadores ou alguém descobria um músico novato desconhecido que extasiava as platéias dos clubes do local, ora um músico de jazz que estava na cidade aderia à alguma jam session (dentre os que vi isso ocorreu com Horace Silver, Jim Hall, Kenny Dorham, Herbie Mann, Curtis Fuller (cuja performance sensacional acabou com o cartaz do trombonista João Luiz Maciel), Jean-Louis Chautemps (numa breve passagem pelo Rio), Sacha Distel (quando não cantava era um excelente guitarrista), Bud Shank (que tocou com Tenório Jr, de quem foi grande amigo em sua vinda da Argentina, e Tenório gravou "Sambinha", de Shank (que aprendeu com ele no Beco em seu CD) e muitos outros.
O Beco fervilhava das primeiras horas da noite à alta madrugada, quando os moradores dos edifícios circunvizinhos arremessavam garrafas vazias nos últimos espectadores protestando contra a algazarra que lhes tirava o sono.
Lenny Andrade, que era menor de idade, todas as noites ia com o pai, começando a dar canjas com os conjuntos que lá tocavam, mostrando que tinha grande futuro.
Por sinal, Leny gravou no Bottle's o disco "A Música Irresistível de Leny Andrade" com o trio de Tenório Jr., hoje uma peça de colecionadores.
Mas, o assunto é Edison Machado, que tocava no sexteto de Sérgio Mendes. Penso que sua presença na bateria intimidava outros bateristas da época, pois o que ele fazia era inimaginável, levando as platéias à loucura. Em certa época, Edison teve um caso com a comediante Consuelo Leandro, que todas as noites ia vigiá-lo para impedir qualquer concorrência amorosa....
Enfim, são recordações de uma época em que o Rio de Janeiro era realmente uma cidade maravilhosa e podíamos caminhar pelo calçadão de Copacabana a qualquer hora do dia ou da noite sem qualquer perigo.
Sem dúvida, sem ser nostálgico, mas realista por ter vivenciado aquele período, era uma época muito mais feliz e a música que ouvíamos no Beco também destilava alegria e felicidade.

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais companheiros,

Conheci Edison Machado muito bem, especialmente nos gloriosos tempos do lendário Beco das Garrafas. Como escrevi num artigo especial para o Globo, o Beco foi o equivalente da Rua 52, de New York, que o ex-prefeito Rudolfi Giuliano crismou de "Swing Street" (por sinal, tenho foto minha na esquina da Swing Street com a 46th, embaixo da placa com o nome das suas vias.

As noites do Beco das Garrafas eram um manancial interminável de surpresas; ora um músico levava uma nova composição que atraia a atenção dos freqüentadores ou alguém descobria um músico novato desconhecido que extasiava as platéias dos clubes do local, ora um músico de jazz que estava na cidade aderia à alguma jam session (dentre os que vi isso ocorreu com Horace Silver, Jim Hall, Kenny Dorham, Herbie Mann, Curtis Fuller (cuja performance sensacional acabou com o cartaz do trombonista João Luiz Maciel), Jean-Louis Chautemps (numa breve passagem pelo Rio), Sacha Distel (quando não cantava era um excelente guitarrista), Bud Shank (que tocou com Tenório Jr, de quem foi grande amigo em sua vinda da Argentina, e Tenório gravou "Sambinha", de Shank (que aprendeu com ele no Beco em seu CD) e muitos outros.
O Beco fervilhava das primeiras horas da noite à alta madrugada, quando os moradores dos edifícios circunvizinhos arremessavam garrafas vazias nos últimos espectadores protestando contra a algazarra que lhes tirava o sono.
Lenny Andrade, que era menor de idade, todas as noites ia com o pai, começando a dar canjas com os conjuntos que lá tocavam, mostrando que tinha grande futuro.
Por sinal, Leny gravou no Bottle's o disco "A Música Irresistível de Leny Andrade" com o trio de Tenório Jr., hoje uma peça de colecionadores.
Mas, o assunto é Edison Machado, que tocava no sexteto de Sérgio Mendes. Penso que sua presença na bateria intimidava outros bateristas da época, pois o que ele fazia era inimaginável, levando as platéias à loucura. Em certa época, Edison teve um caso com a comediante Consuelo Leandro, que todas as noites ia vigiá-lo para impedir qualquer concorrência amorosa....
Enfim, são recordações de uma época em que o Rio de Janeiro era realmente uma cidade maravilhosa e podíamos caminhar pelo calçadão de Copacabana a qualquer hora do dia ou da noite sem qualquer perigo.
Sem dúvida, sem ser nostálgico, mas realista por ter vivenciado aquele período, era uma época muito mais feliz e a música que ouvíamos no Beco também destilava alegria e felicidade.

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais companheiros,

Conheci Edison Machado muito bem, especialmente nos gloriosos tempos do lendário Beco das Garrafas. Como escrevi num artigo especial para o Globo, o Beco foi o equivalente da Rua 52, de New York, que o ex-prefeito Rudolfi Giuliano crismou de "Swing Street" (por sinal, tenho foto minha tirada na esquina da Swing Street com a 46th bem embaixo da placa com o nome das suas vias.

As noites do Beco das Garrafas eram um mancial de surpresas, ora um músico levava uma nova composição que atraia a atenção dos freqüentadores ou alguém descobria um músico novato desconhecida que extasiava os ouvintes de um dos quatro clubes do loca, ora um músico de jazz que estava na cidade aderia à alguma jam session (dentre os que vi isso ocorreu com Horace Silver, Jim Hall, Kenny Dorham, Herbie Mann, Curtis Fuller (cuja performance sensacional acabou com o cartaz do trombonista João Luiz Maciel), Jean-Louis Chautemps (numa breve passagem pelo Rio), Sacha Distel (quando não cantava era um excelente guitarrista), Bud Shank (que tocou com Tenório Jr, em sua vinda da Argentina, de quem foi grande amigo e o nosso Tenório gravou "Sambinha", de Shank (que aprendeu com ele no Beco) em seu CD) e muitos outros.
O Beco fervilhava das primeiras horas da noite à alta madrugada, quando os moradores dos edifícios circunvizinhos arremessavam garrafas varias nos últimos espectadores protestando contra a algazarra que lhes tirava o sono.
Lenny Andrade, que era menor de idade, todas as notes ia com o pai, começando a dar canjas com os conjuntos que lá tocavam e mostrando que tinha grande futuro.

Mas, o assunto é Edison Machado, que tocava no sexteto de Sérgio Mendes. Penso que sua presença na bateria intimidava outros bateristas da época, pois o que ele fazia era inimaginável, levando as platéias à loucura. Em certa época, Edison tinha um caso com a comediante Consuelo Leandro, que ia vigiá-lo todas as noites para evitar concorrência.

Sem ser nostálgico, sem dúvida o Rio de Janeiro era uma cidade realmente maravilhosa. Podíamos caminhar com a namorada no calçadão de Copacabana a qualquer hora do dia ou da noite sem qualquer perigo.
Viviamos uma época muito mais feliz, sem assaltos, sequestros, assassinatos, pivetes, arrastões, tiroteios, balas perdidas, roubos na saída dos bancos, etc. A música que ouvíamos no Beco também nos trazia felicidade, era infinitamente superior que a das famigeradas duplas sertanejas prá lá de desafinadas, do bate-estaca dos bailes funk que azucrina nossos ouvidos, dos DJs promovidos à categoria de "músicos" que fazem o impossível para alcançar o máximo de barulho, sas Eguinhas Pocotó, dos pagodeiros, dos É o Tcham, Claudia Leite, Ivete Sangalo e outras aberrações que andam por aí.

José Domingos Raffaelli disse...

Érico e demais companheiros,

Conheci Edison Machado muito bem, especialmente nos gloriosos tempos do lendário Beco das Garrafas. Como escrevi num artigo especial para o Globo, o Beco foi o equivalente da Rua 52, de New York, que o ex-prefeito Rudolfi Giuliano crismou de "Swing Street" (por sinal, tenho foto minha tirada na esquina da Swing Street com a 46th bem embaixo da placa com o nome das suas vias.

As noites do Beco das Garrafas eram um mancial de surpresas, ora um músico levava uma nova composição que atraia a atenção dos freqüentadores ou alguém descobria um músico novato desconhecida que extasiava os ouvintes de um dos quatro clubes do loca, ora um músico de jazz que estava na cidade aderia à alguma jam session (dentre os que vi isso ocorreu com Horace Silver, Jim Hall, Kenny Dorham, Herbie Mann, Curtis Fuller (cuja performance sensacional acabou com o cartaz do trombonista João Luiz Maciel), Jean-Louis Chautemps (numa breve passagem pelo Rio), Sacha Distel (quando não cantava era um excelente guitarrista), Bud Shank (que tocou com Tenório Jr, em sua vinda da Argentina, de quem foi grande amigo e o nosso Tenório gravou "Sambinha", de Shank (que aprendeu com ele no Beco) em seu CD) e muitos outros.
O Beco fervilhava das primeiras horas da noite à alta madrugada, quando os moradores dos edifícios circunvizinhos arremessavam garrafas varias nos últimos espectadores protestando contra a algazarra que lhes tirava o sono.
Lenny Andrade, que era menor de idade, todas as notes ia com o pai, começando a dar canjas com os conjuntos que lá tocavam e mostrando que tinha grande futuro.

Mas, o assunto é Edison Machado, que tocava no sexteto de Sérgio Mendes. Penso que sua presença na bateria intimidava outros bateristas da época, pois o que ele fazia era inimaginável, levando as platéias à loucura. Em certa época, Edison tinha um caso com a comediante Consuelo Leandro, que ia vigiá-lo todas as noites para evitar concorrência.

Sem ser nostálgico, sem dúvida o Rio de Janeiro era uma cidade realmente maravilhosa. Podíamos caminhar com a namorada no calçadão de Copacabana a qualquer hora do dia ou da noite sem qualquer perigo.
Viviamos uma época muito mais feliz, sem assaltos, sequestros, assassinatos, pivetes, arrastões, tiroteios, balas perdidas, roubos na saída dos bancos, etc. A música que ouvíamos no Beco também nos trazia felicidade, era infinitamente superior que a das famigeradas duplas sertanejas prá lá de desafinadas, do bate-estaca dos bailes funk que azucrina nossos ouvidos, dos DJs promovidos à categoria de "músicos" que fazem o impossível para alcançar o máximo de barulho, sas Eguinhas Pocotó, dos pagodeiros, dos É o Tcham, Claudia Leite, Ivete Sangalo e outras aberrações que andam por aí.

Érico Cordeiro disse...

Mestre Raffaelli,
Seu depoimento dá a dimensão da importância do Beco das Garrafas para a evolução da nossa música.
Quantos momentos maravilhosos não foram presenciados por você, ali no meio de tantas feras do Brasil e de outros países!
O jazzbarzinho se orgulha muito de tê-lo em nossa confraria, e o resgate da música de qualidade - contraponto à grotesca e escatológica "música" que se faz nos dias de hoje - é o nosso maior compromisso.
Viva o Beco das Garrafas, a nossa Rua 52!!!!!!!

mojica mirim disse...

se você quiser uma dica para entrar na música brasileira de olhos fechados, é simples: basta pegar um disco qualquer do Edison Machado, o maior de todos!... B-D

Érico Cordeiro disse...

Caro Mojica Mirim,
Seja muito bem vindo! Pois é, na opinião de muita gente boa, o Machado é o nosso mais importante baterista (e olha que a concorrência tem carras fenomenais como Dom Um Romão e Milton Banana, por exemplo).
Das gravações que conheço dele, o nível é sempre muito elevado - um cracaço mesmo!
Obrigado pela visita e comentário - volte sempre ao jazzbarzinho, ok?

Anônimo disse...

Senhores comentarstas,

Com relação ao CD "Tributo a Art Blakey", do grande baterista Pascoal Meirelles, uma pequena observação:

O CD é excelente, porém os solos do trompetista Jessé Sadoc em Caravan e, principalmente, em Blue Moon são de uma mediocridade inaceitável. Ele titubeia "n" vezes e sua sonoridade deixa muito a desejar.

Sempre ouvi referências elogiosas a esse músico, mas nesses dois temas ele se perdeu completamente.

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